Na realidade a “Escola
de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende
de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem
ser.
“Eles são as trevas do pensamento econômico”, Paul Krugman.
“Chicago economics” ou Escola de Economia da Universidade de
Chicago é uma linha de pensamento econômico que acredita que os mercados são
resultado da “competição perfeita” e, portanto, é o “mercado” deixado operar
livremente o melhor modelo de gestão da economia em qualquer lugar. Acreditam
também no rígido controle da moeda, quanto menos moeda em circulação melhor
será para o funcionamento da economia. Mercados livres e moeda escassa são os
mandamentos da Escola de Chicago, o resto se encaixa como consequência.
A História econômica se encarregou de derrubar essa ficção que
é obra de fé, mas os adoradores desse modelo insistem em considerá-lo sagrado,
não importa em que lugar, país, região, sob que condições ou estágio, como se o
modelo fosse algo cientifico, da física.
Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma
teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos
apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, da Universidade de
Princeton, é um dos maiores críticos atuais do “Chicago economics”, a quem
denominou de “Era das Trevas” do pensamento econômico.
Nos próprios Estados Unidos a Escola de Chicago nunca foi uma
unanimidade, as escolas de economia da Costa Leste como Harvard, MIT, Columbia,
Yale, Princeton tem visão e angulações bem diferenciadas de Chicago, sem falar
na New School de Nova York, que é a antítese de Chicago. Hoje, o Institute of
New Economic Thinking de Nova York, onde estão Paul Krugman e Joseph Stiglitz,
contestam frontalmente toda a filosofia de Chicago.
Os “new keyneisians”, corrente moderna de seguidores da visão
de Lord Keynes, em economia, abominam os pressupostos da Escola de Chicago. Na
Universidade da Califórnia em Berkeley, Brad DeLong, diz que a escola de
Chicago chegou a um colapso intelectual, significando que parou no tempo e nada
mais tem a contribuir no pensamento econômico.
O que restou de crença na Escola de Chicago desabou por
completo na crise financeira de 2008, quando o capitalismo americano do
“mercado perfeito” ruiu e implodiu, sendo salvo nada mais, nada menos pelo
execrado ESTADO. O Tesouro dos EUA despejou US$ 708 bilhões em dinheiro público
para salvar o coração desse capitalismo, tanto financeiro, quanto industrial.
Salvou o CITIGROUP, a seguradora AIG, maior do mundo, e a GENERAL MOTORS, maior
empresa industrial dos EUA e mais outra 200 empresas e bancos.
Foi a segunda vez que o ESTADO salvou a economia americana. A
primeira foi em 1933 quando a Reconstruction Finance Corporation, estatal
criada por Roosevelt, emprestou dinheiro para resgatar 8.000 bancos e empresas
na esteira da Grande Depressão, quando o “crash” da Bolsa de Nova York quase
liquidou para sempre a economia americana e mundial.
Em 1929 e 2008 o ESTADO mostrou que é infinitamente maior
como instrumento da economia do que o “mercado perfeito”, mas nem isso mudou as
mentes dos fanáticos de Chicago.
O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO
Financiado desde seu início pelo magnata do petróleo John
Rockefeller, em torno de 1890, a escola de economia da Universidade de Chicago tem
longa história baseada em dois eixos: a competição perfeita que vem dos
mercados livres do Estado e o rígido controle do fluxo de moeda, teoria que
teve duas fases. A primeira, de Irving Fisher, desaparecida com a crise de 29,
quando Fisher, um economista de reputação nacional disse em entrevista que a
“economia americana nunca esteve tão sólida”, isso duas semanas antes da
implosão da Bolsa em 24 de outubro de 1929. Com essa profecia furada foi-se
embora também o monetarismo de Fisher que renasceu nos anos 60 com Milton
Friedman, nova onda nascida nos cofres do CITIBANK, que financiou as palestras
e a revista de Friedman, história que descrevo com detalhes em vários capítulos
de meu livro de 2005, MOEDA E PROSPERIDADE, edição Top Books, 900 paginas, hoje
esgotado, é um romance, como se constrói uma teoria econômica de interesses.
No livro de Lanny Eberstein, uma monografia sobre a Escola de
Chicago, de 2015, ele destaca um fenômeno muito perceptível, a “apropriação”
que economistas medíocres formados em Chicago fazem de seu credo que NÃO é
exatamente o neoliberalismo político que se prega em alguns países. Friedman,
por exemplo, inventou o conceito de “bolsa família”, ele achava que os muito
pobres tinham sim que ser amparados pelo Estado, algo que os seguidores
preferem esquecer. No livro, Eberstein fala das preocupações sociais de
Friedman e Hayek, esquecidas pelos seus seguidores, que selecionam na teoria o
que lhes interessa.
O livro é “CHICAGO ECONOMICS : THE EVOLUTION OF CHICAGO FREE
MARKET ECONOMCS”.
O fato é que a “escola de Chicago” criou uma visão de
economia para o mundo anglo-americano, inaplicável para países de estrutura
econômica onde o Estado historicamente tem um papel muito maior do que na
Inglaterra e Estados Unidos. Países de raiz mercantilista, como França e
Alemanha e mais ainda países com outras culturas econômicas como Rússia, Índia
e China. A loucura é pretender, como alguns sectários, aplicar o
“Chicagonomics” em países de outra tradição, sociedade e formação, como o
Brasil, onde desde o nascimento do País, o Estado tem um papel central na
economia, que nunca teve na Inglaterra ou nos EUA.
Mas mesmo no seu berço de origem, o modelo de Chicago já foi
sepultado. No último enterro o coveiro foi o banco Lehman Brothers. O estranho
é que, com todos esses resultados à vista de qualquer indivíduo de mediana
inteligência, ainda há fanáticos da privatização e da moeda escassa, mesmo
depois de tantos desmontes desse modelo fracassado. Como muito bem expõe o
livro de Eberstein, o “quantitative easing” acabou com o monetarismo na Europa
e nos EUA, ele sobrevive apenas no Banco Central do Brasil, tão atual como
Templo Positivista de São Lourenço, em Minas Gerais, onde a filosofia
Positivista desaparecida da França há cem anos ainda é cultivada com carinho.
Os saudosos do monetarismo de Friedman são convidados a visitar o museu do
Banco Central em Brasília, onde se lembrarão do mestre e reverenciarão o único
lugar do mundo onde se pratica o culto à moeda escassa como religião.
Os visitantes aproveitarão a viagem para conhecer o país do
mundo onde se pratica o “monetarismo” religioso de Friedman, sob a regência do
Banco Central. É isso que garante aos bancos brasileiros o maior lucro do
planeta sobre ativos, graças exatamente à escassez de moeda que, ao mesmo
tempo, garante os lucros extraordinários do sistema financeiro e proporciona
uma recessão que dura quatro anos e uma monumental taxa de desocupação de um
terço da população economicamente ativa, maior índice desde a Grande Depressão
de 1929 na Europa e os EUA. No Brasil, a Grande Depressão mundial provocou
muito menos desemprego do que a recessão de 2014, sob a regência de Joaquim
Levy.
Desocupação, desemprego e recessão não preocupam minimamente
os seguidores de Chicago nos Estados Unidos e muito menos no Brasil. Esses
fenômenos nem fazem parte de seus manuais. Milton Friedman teria mais
sensibilidade do que seus alunos, era um monetarista com algumas preocupações
sociais, de visão mais ampla que seus seguidores e com a capacidade da
verdadeira inteligência, a de reconhecer erros e voltar atrás, fez isso no fim
da vida em conversas com Alan Greenspan, seu amigo mas adversário intelectual.
Como é comum em tantas filosofias, ideologias, religiões,
crenças e teorias, os seguidores fora de seu berço são mais fanáticos e
radicais, enquanto no ninho original a crença morre ou se recicla, na sua
projeção para fora a seita se estratifica, se mumifica no túmulo do fracasso.
Hoje nos EUA, até na própria Universidade de Chicago, os
preceitos do “Chicagonomics” têm menor fidelidade. O legado de Friedman foi
desmoralizado pela crise de 2008 e se mudou para a Universidade Carnegie Mellon
de Pittsburgh, onde seu herdeiro intelectual Alan Meltzler, falecido no ano
passado, lecionava. Agora o Brasil pode ser a nova rampa de re-relançamento do
“Chicagonomics” embalsamado, o único dos grandes países emergentes outrora
conhecidos como BRICS onde essa seita pode caminhar fora do merecido túmulo,
enquanto Rússia, Índia e China crescem longe de teorias anglo-americanas e
praticando o dia a dia da politica econômica de circunstância, sem metas de
inflação, privatizações, preocupação com dívida em moeda nacional e com bancos
centrais a serviço do crescimento e não da estagnação. O Brasil sai dos BRICS e
vira área de serviço de Washington, é a História.
GGN
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