Segundo
Roubini, não se espera de Biden grandes movimentos radicais. Mas um conjunto
consistente de políticas fiscais direcionado às famílias, trabalhadores e
pequenas empresas, gastos com infraestrutura, geradoras de empregos, e
investimentos na economia verde.
Ontem,
à noite, as três redes nacionais de televisão dos Estados Unidos protagonizaram
episódio histórico: interromperam uma transmissão de coletiva de Donald Trump e
informaram seus telespectadores que o presidente estava mentindo.
A
política sempre foi um terreno caro para a hipocrisia. Nem se pense em visões
depreciativas do exercício da política. Há acordos que só se fazem em privado,
promessas jamais cumpridas, que só valem para efeito eleitoral.
Mas
de alguns anos para cá, estimulada pela desestruturação da informação pelas
redes sociais, a mentira explícita passou a ser instrumento político. Antes, um
político flagrado em mentira explícita (não confundir com promessas
impossíveis) estava destruído. A estratégia desenvolvida pela
ultradireita americana, e disseminada pelo mundo, normalizou a mentira
explícita.
Quando
se trata da economia, o jogo é mais disseminado, pela defasagem temporal entre
medidas e consequências facilitando narrativas falsas.
É
o caso do apregoado sucesso econômico de Trump no período pré-pandemia. Ele
herdou uma economia pujante, preparada no governo Barack Obama na resposta à
crise de 2008. E deixou inúmeras bombas de efeito retardado.
A
maneira imediatista como atuou, respondendo às demandas de empresas amigas ou
do eleitorado, desestruturou o equilíbrio herdado de Barack Obama.
Segundo
o Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, sob Trump cerca de 30 milhões de
residentes dos EUA passaram a viver em famílias sem alimentos suficientes. A
maioria dos que estão na metade inferior da pirâmide de renda vive de salário
em salário, em um momento em que Trump não apenas cortou os impostos
corporativos mas também implementou políticas que recairão sobre os mais
vulneráveis. O número de americanos sem seguro de saúde aumentou em milhões,
depois de cair na administração Obama. Com isso, a expectativa média de vida
caiu abaixo do nível de meados da década de 2010.
Uma
outra frente de destruição foram os ataques sistemáticos às instituições
norte-americanas – comportamento em tudo similar ao seu clone, Jair Bolsonaro.
Atacou o FBI, o Centro Para Controle e Prevenção das Doenças. No plano
internacional, estimulou o aparecimento de lideranças fascistas.
Seu
pior ato foi a tentativa de eliminar o programa DACA, para estrangeiros que
foram trazidos para os EUA quando crianças e ainda não obtiveram documentos.
Mesmo criados nos EUA, enfrentam as ameaças da deportação.
Na
outra ponta, implementou cortes agressivos de impostos corporativos sob a falsa
promessa de que geraria mais investimento, crescimento e emprego. Trouxe apenas
mais concentração de renda e o aumento do déficit fiscal, a um custo de US$ 1,5
trilhão. Foram criados menos empregos do que nos últimos três anos do governo
Obama.
Um
segundo abuso foram os favores prestados a grupos econômicos de amigos e
aliados. Especialistas apontaram nesse tipo de política um desestímulo ao
empreendedorismo e à inovação.
Para
reduzir o déficit comercial, promoveu terremotos no comércio mundial e um
aumento das tensões com a China. E em apenas três anos, o déficit comercial
aumentou em mais de 12%. E não se concretizou a promessa de criação de
empregos.
Como
anotou o cientista Michael Lewis, o país agora está sofrendo de
umapandemia e permanece totalmente à mercê de uma iminente crise climática,
crises socioeconômicas e crises de democracia e justiça racial, sem mencionar
as divisões emergentes entre urbano e rural, litoral e interior, jovens e
velho.
A
partir desse histórico terrível, alguns economistas mais progressistas apostam
as fichas em Biden. Julgam que combaterá a desigualdade crescente de renda,
encarará as ameaças ambientais, retornará ao Acordo do Clima – do qual os EUA
se afastaram nos últimos dias.
Mas
o ponto central é a economia. Diz o Nobel de Economia, Edmund Phelps que desde
os anos 70 os EUA convivem com a estagnação virtual da economia . Aumenta a
frustração dos assalariados, a falta de perspectivas das famílias.
Essa
mesma visão sobre o marketing dos republicanos, de serem melhores
administradores da economia, foi criticada também por Noriel Roubini, que se
tornou conhecido ao prever a crise de 2008. Constatou ele que as
piores recessões dos EUA quase sempre ocorreram em governos republicanos .
A
razão é simples: movimentos especulativos estimulados por políticas regulatórias
frouxas promovendo crises financeiras.
Barack
Obama herdou de George W. Bush a pior recessão desde a Grande Depressão, diz
ele,. No início de 2009 a taxa de desemprego estava em 10% e o mercado de ações
caía quase 60%. Situação totalmente distinta do início de 2017, quando o bastão
foi passado para Trump.
Segundo
Roubini, não se espera de Biden grandes movimentos radicais. Mas um conjunto
consistente de políticas fiscais direcionado às famílias, trabalhadores e
pequenas empresas, gastos com infraestrutura, geradoras de empregos, e
investimentos na economia verde.
Há
uma demanda dos democratas por salários mínimo mais altas, para aumentar a
renda do trabalho e o consumo. Defendem também proteção para os poupadores
vítimas de instituições financeiras predatórias.
Em
relação à China, diz Roubini, haveria uma política de “coopetição”, de uma
cooperação competitiva.
Do GGN
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