Nada
mais revelador da visão que a elite impõe à classe média do que aquilo com que
a tucanérrima apresentadora do Roda Viva, Vera Magalhães, procurou
desqualificar as propostas de Guilherme Boulos, ontem, no Roda Viva, dizendo
que parecia “muito utópico” – no que, aliás, foi muito bem rebatida pelo
candidato, que ironizou a São Paulo “perfeita” da propaganda de Bruno Covas.
É
que eles fazem assim: desqualificam os sonhos, os desejos, a grandeza dos
sentimentos humanos de fraternidade, dizendo que são irreais e que o importante
é a “gestão”, o ser prático, mesmo que essa praticidade seja miséria, pobreza,
juventude atirada ao descaminho, pobres para sempre pobres e a convivência
humana eternamente conflituosa.
E,
tal como a Terra gira e é redonda, não importa a quantas vezes quem o dizia foi
posto à fogueira por querê-la plana e fixa, o sonho sobrevive e teima em virar
realidade.
Nada
como os sonhos para gerar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã,
escreveu Victor Hugo, há 250 anos, em seu Os miseráveis, e isso é
algo que a mais escura noite da estupidez e da brutalidade que se abateu sobre
o Brasil não consegue eclipsar para sempre.
O
crescimento de Boulos nas pesquisas, como no Datafolha que o aproxima de Bruno
Covas (agora é um +4/-4%, ante um +6,5/-6,5% de cinco dias atrás) é isso, o
rebrotar inesperado de uma necessária utopia e em que a maior e mais rica
cidade do país compreenda – e compreende, já se vê – a lição do carioca Tom
Jobim: é impossível ser feliz sozinho.
E
é mesmo, porque pobreza, miséria, abandono, violência, descaso com o ser humano
são fonte de infelicidade para todos, inclusive para os privilegiados.
A
pesquisa dá um novo gás à campanha de Boulos nos cinco dias que separam os
paulistanos das urnas. Sua vitória não é mais uma utopia, é uma realidade,
ainda que possa não acontecer na frieza dos números.
Mas
no calor da política, ela é um fato e há um vitorioso.
São
Paulo tem – e o Brasil tem – um novo e importante personagem político, ideologicamente
sólido, pessoalmente gentil, de raciocínio rápido e abrangente e que sabe fazer
sonhar, primeiro e necessário passo para todos que nasceram para fazer.
Do Tijolaço
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