segunda-feira, 10 de agosto de 2020

O INVENTÁRIO DA MÍDIA DO ÓDIO E O CASO CNN COM ALEXANDRE GARCIA E OS LIMITES DA OPINIÃO TUPINIQUIM. POR LUIS NASSIF

Um dos grandes problemas da chamada mídia de opinião brasileira é ser pró-cíclica. Isto é, estimular e surfar nas ondas dos movimentos de opinião pública. Se o leitor quiser sangue, entrega sangue; se quiser ódio, ódio terá. Se quiser solidariedade, criança esperança.
Chamo de mídia de opinião aquela que aborda e influencia temas nacionais. As demais classificações são de mídia sensacionalista, regional, alternativa etc.
O período de ódio que vai de 2005 até a eleição de Bolsonaro se deveu a dois vetores. O primeiro, as estratégias da mídia para ganhar relevância política e eleger aliados que barrassem os avanços dos grupos globais. Usaram as FARCs de álibi para barrar o Google e o Facebook.
O segundo, a percepção de que estava se formando um bom mercado de grupos de direita. Ambos os fatores foram inspirado em Rupert Murdoch, o australiano que saiu pelo mundo valendo-se da ampla liquidez existente para adquirir jornais em vários países e, nos Estados Unidos, tornou a Fox News o porta-voz da direita.
Esse mesmo fenômeno ocorreu no Brasil. Veja inaugurou o modelo, mas o novo mercado se esparramou por outros meios. Houve uma parceria entre a Editora Record e a revista para lançamento de autores de ódio. E emissoras de rádio, como a Jovem Pan, entenderam o potencial de mercado do discurso de ódio.
Assim como os gabinetes de ódio de agora, os primeiros porta-vozes do ódio – como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi – foram beber direto na fonte Olavo de Carvalho. Emularam o estilo, a adjetivação pesada (“canalhas”), as implicâncias (Marilena Chauí), as citações filosóficas (Schopenhauer), as preferências literárias e a delação em larga escala.
Duas professoras da psicologia da Universidade de São Paulo foram acusadas por Azevedo de estimular o tráfico, por seus estudos sobre redução de danos. O anauê jornalístico ecoava tanto essas delações que a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) quase cedeu às pressões e cortou as bolsas de estudos de ambas. Outras delações motivaram inquéritos que, até hoje, correm contra professores do Colégio Pedro Segundo, no Rio de Janeiro. Apenas dois exemplos, em um oceano de macarthismo.
O ovo da serpente foi gerado ali. E o macarthismo foi utilizado para toda sorte de jogadas comerciais, para afastar editoras de livros didáticos das competições, para inviabilizar concorrentes da Abril na área de cursos apostilados. Enfim, um enorme acervo de chantagens que transformaram Veja na maior máquina de assassinar reputações da história do jornalismo brasileiro, liquidando com o maior fenômeno jornalistico pós anos-70, ao lado do Jornal Nacional.
Em países de mídia desenvolvida, há uma diversidade de mercado. Nos EUA, o advento da Fox News fortaleceu o contraponto da CNN. E os jornais tradicionais, como New York Times e Washington Post, mantiveram-se na defesa das informações e de uma concepção mais liberal de política.
No Brasil, isso não ocorreu. Períodos de grandes transformações políticas ou econômicas são espaços abertos para estratégias inovadoras. Mas a crise da mídia a partir de 1999, a ascensão de uma nova geração de proprietários, temerosos, inseguros, e a falta de conhecimento sobre as novas mídias que surgiam, provocaram uma movimentação em massa em direção ao mesmo discurso de ódio. Não apareceu nenhum veículo com coragem e discernimento para fazer o contraponto – como a Folha dos anos 80 apostando nas diretas. Todas as mídias entraram na onda do discurso de ódio.
O jornalismo da Globo, por exemplo, não sujava as mãos. Mas toda 5a feira o Jornal Nacional divulgava o esgoto que Veja lançaria na sua próxima capa. E, no final de semana, os jornais diários davam a devida repercussão, na vã tentativa de que, apenas repercutindo a revista, não sujariam suas mãos de lama. Ledo engano!
As consequências estão aí. A estratégia das fake news como estilo jornalístico, inaugurada pela Veja e repetida pelos demais veículos, encontrou nas redes sociais seu melhor meio de expressão. E, com o bolsonarismo e o lavajatismo ganhou vida própria, deixou de depender dos veículos-mães, cortou o cordão umbilical. As hostes do ódio, criadas e alimentadas pela mídia tradicional, ganharam autonomia e ao delenda PT vieram se somar, agora, o delenda Globo, delenda Folha, em um desdobramento natural dos períodos carbonários.
Dou essa volta enorme para chegar ao quadro atual.
A mídia de opinião tenta o duro reencontro com o jornalismo. Nesses tempos de informações online, ela levou 15 anos para perceber o óbvio: a única forma de diferenciação com as redes de ódio é a prática do jornalismo, o respeito à informação, e a defesa dos valores fundamentais da civilização,
É nesse contexto que surge a CNN Brasil reinaugurando o óbvio e trazendo seu estilo de colocar a equipe inteira para levantar informações contextualizados, peças de um quebra cabeças que vai sendo organizando em tempo real. Em muitos anos, é o fato novo no jornalismo brasileiro.
Junto, traz um valor totalmente abandonado pela mídia nos últimos anos: a diversidade de opiniões, com algumas restrições. Nesse sentido, criou um quadro que, segundo a publicidade do canal, é o maior sucesso nos Estados Unidos.
O modelo consiste em pegar um comentarista de direita e outro de centro. Um comentarista consistente de cada lado proporcionaria um debate enriquecedor. Mas optou-se por contrapor o discurso fake news e o discurso racional e a emissora ficando de fora.
Com isso, abriu-se espaço para discursos totalmente irresponsáveis, como o deputado Osmar Terra, o homem que propagou a “gripezinha” e as 800 mortes pelo COVID.
Ocorre que a discussão pela TV é tão rápida e quase tão superficial quanto a discussão pelas redes sociais. O espectador se prende muito mais aos bordões de ambos os lados, e não à consistência dos argumentos. É por isso que a praga do opinionismo grassa pelo jornalismo televisivo.
Ao colocar um Osmar Terra no ar, ou contrapor as afirmações vazias de um Caio Coppola aos argumentos técnicos de um contendor qualificado, a CNN iguala a ambos. E cada espectador sai com a mesma convicção com que entrou. Isso significa abandonar todos os filtros do jornalismo.
Essa mesma confusão é utilizada pelos gabinetes do ódio para tratar fake news como direito à opinião, ou por juízes de 1a instância, ideológicos, para punir opinião como se fosse fake news.
É nesse contexto que ganha relevância o aparte do âncora Rafael Colombo ao comentarista Alexandre Garcia, quando este passou a fazer a apologia da cloroquina. Foi apartado por Colombo que lembrou o óbvio: “Se a cloroquina funciona, é barata, e serviu como você falou na Amazônia para lúpus, malária e outros tipos de doença, por que o mundo teria deixado tanta gente morrer se tem um remédio barato à disposição? A troco de que tanta gente morreria se a cloroquina funciona?”.
Em um país em que a mídia pratica a invisibilidade em larga escala, criando um Brasil irreal e deixando de lado uma ampla gama de opiniões diversas, é meio paradoxal pedir critérios para expor o contraditório. Especialmente porque o instituto do âncora foi criado especialmente para refletir o pensamento médio do leitor comum.
De qualquer modo, que o gesto corajoso de Colombo sirva de exemplo.
Do DCM/GGN

domingo, 9 de agosto de 2020

BOLSONARO FOGE DA CULPA QUE ELE TEM, POR FERNANDO BRITO


O fascismo tem como regra a criação, sempre, do “inimigo interno”.
Bolsonaro usa e abusa disso.
O fiasco de seu governo é “explicado” pela decisão do STF que reconheceu competência concorrente a Estados e Municípios para ditar normas de isolamento social.
Claro, o Governo Federal não determinava norma alguma, esperava o quê?
Hoje, ele investe contra a Globo, que, segundo ele, “de forma covarde e desrespeitosa aos 100 mil brasileiros mortos, essa TV festejou essa data no dia de ontem, como uma verdadeira final da Copa do Mundo, culpando o presidente da República por todos os óbitos”.
Ao que se saiba, ontem, a única comemoração esportiva foi a do próprio Bolsonaro, festejando o título paulista do Palmeiras, mas silente sobre o número de mortos que alcançava a centena de milhar de mortos. “tocando a vida”.
Jair Bolsonaro não é, na verdade, culpado por todas as mortes, mas seu governo é, certamente, responsável por termos um número de vítimas muito superior ao da maioria dos países.
Temos 2,77% da população mundial e 15% dos casos e quase 14% das mortes registradas no planeta.
O STF e a Globo, se são culpados, são culpados da cumplicidade que tiveram com a ascensão de Bolsonaro ao poder, com todos os avisos do que ele poderia ser.
Inclusive o que é, um instrumento da divisão da sociedade no momento em que ela deveria se unir para combater uma ameaça sanitária com esta da Covid-19.
Essa é a culpa que tem Jair Bolsonaro, a de ter transformado a Covid-19 numa “pandemia com partido”, onde a seriedade e o risco dependiam de ser de “direita-cloroquina” ou de “esquerda-tubaína” e na qual o presidente da Republica transformou-se num negacionista, que agitava caixinhas de remédios milagrosos.
Por isso é que a história registrará a culpa de Bolsonaro – como também a de Trump, nos EUA, por terem levado o desastre às proporções de hecatombe.
Do Tijolaço

sábado, 8 de agosto de 2020

LUTO: MORTOS PELO VÍRUS CHEGAM AOS 100 MIL, E BOLSONARO SEGUE INDIFERENTE À TRAGÉDIA

Túmulos no cemitério Vila Formosa, em local de concentração de vítimas da Covid-19 - Lalo de Almeida/Folhapress
Aos poucos o país vai voltando ao normal —um normal de incúria diante do sofrimento da população. Alcançamos a marca de 100 mil mortos por Covid-19, e porto da parte se vê o abandono progressivo do distanciamento social.
Cem mil mortos em cinco meses. Nessa marcha, o novo coronavírus terminará 2020 como terceira maior causa de morte no país, atrás somente das doenças cardiovasculares e do câncer.
Governadores e prefeitos que se jactavam de sucesso, a exemplo de estados da região Sul, assistem impotentes à alta descontrolada de casos, já nos 3 milhões, e óbitos.
O Brasil ocupa a segunda posição em número absoluto de contaminados e mortos, após os EUA, que chegam a 160 mil falecimentos (em proporção populacional, já os alcançamos). Não é improvável que os ultrapassemos, pois aqui ainda se testa pouco e mal, e a epidemia segue fora de controle em várias localidades.
A cada sete mortos no mundo, um é brasileiro. A média diária de mais de mil mortos por dia se repete por dois meses inteiros. Não é, não deveria ser normal.
O péssimo desempenho do poder público no enfrentamento da pandemia se mostra tanto mais revoltante por evitável. Afinal, o primeiro caso no país se registrou dois meses após o vírus começar a grassar na China; na primeira morte, em meados de março, a Covid-19 já tinha prostrado a Itália.
Os governos tiveram tempo e tinham o Sistema Único de Saúde a postos para uma reação coordenada. Não foi tampouco falta de recursos, em que pese a crise orçamentária, porque agora se despejam dezenas de bilhões em ajuda emergencial sem que se tenha visto prevenção mais eficiente.
O maior responsável pela tragédia se chama Jair Bolsonaro. Em vez de liderar uma ação nacional, negou a gravidade da emergência de saúde pública, promoveu aglomerações e falsas terapias, como a cloroquina, e colheu oito casos de ministros infectados (outro provável recorde mundial), além de si próprio e da primeira-dama.
Alguns comemoram, no presente, o suposto advento de uma imunidade coletiva como chamado para arrebanhar clientes desgarrados de bares, restaurantes, academias e centros de compras —não das escolas, paradoxalmente. Epidemiologistas, entretanto, descartam que se tenha alcançado tal limiar.
Não há panaceia nem vacina por ora. Infeliz a nação que tem necessidade de heróis, disse Bertolt Brecht; mais que infelicidade, a desdita do Brasil é nem mesmo poder contar com um presidente e um ministro da Saúde efetivo neste momento de luto.
D Folha

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O CONTRA-ATAQUE DO EX-JUIZ DE MORO DE CURITIBA, POR FERNANDO BRITO


Sérgio Moro, acuado, partiu para o ataque.
Ou alguém acredita que o “vazamento” dos pelo menos 21 cheques de Fabrício Queiroz para a conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro, direto para a capa do site que era conhecido antes como O Bolsonarista e, agora, é Omorista, último bastião de defesa do ex-santo da Lava Jato.
Os cheques representam um total de R$ 72 mil entre 2011 e 2018. Não é quantia e frequência que se possa chamar de “eventualidade”, mas que revela um grau de intimidade com o casal que vai além do simples “conhecido”.
O caso, porém, mostra que o ex-juiz de Curitiba manobra para destruir Bolsonaro, sem o que suas chances eleitorais são praticamente nulas.
Portanto, é hora de tocar reunir para o que lhes resta de tropas: na polícia, no Ministério Público e na mídia.
Do Tijolaço

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

BOLSONARO E AS QUASE 100 MIL MORTES: TRAPALHADAS, OMISSÃO E DESPREZO ÀS VÍTIMAS


Desde o início da pandemia, presidente nunca tomou um posicionamento efetivo contra a doença. Esse vírus trouxe uma certa histeria", afirmou o presidente, logo após o Brasil registrar o primeiro óbito por covid-19.
Fernando Crispim / Fotos Públicas
Desde que a pandemia de covid-19 começou, matando centenas de pessoas na China, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já dava sinais de que a negligência seria a tônica de sua conduta quando a doença chegasse no Brasil. No dia 9 de março, ele afirmou a situação estava superdimensionada. 
"Existe o perigo, mas está havendo um superdimensionamento nesta questão. Nós não podemos parar a economia. E eu tenho que dar o exemplo em todos os momentos. E fui, realmente, apertei a mão de muita gente em frente ao Palácio, aqui na Presidência da República, para demonstrar que estou com o povo." Dois dias depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia.
primeira medida normativa para enfrentar o desafio do coronavírus veio somente depois de dois meses e 11 dias após a descoberta da nova doença pelos médicos na China. Foi no dia 11 de março, quando o Ministério da Saúde publicou a portaria 356, tratando do isolamento de pacientes, exames compulsórios e análises laboratoriais. 
DA “HISTERIA” À “GRIPEZINHA”
A postura do presidente também foi verbalizada quando três dias após o Brasil registrar o primeiro óbito, no dia 17 de março, o presidente afirmou que “depois da facada”, não seria uma “gripezinha” que iria derrubá-lo, novamente minimizando o risco da doença. Pouco antes, Bolsonaro disse que “obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo".
Em 17 de março, Bolsonaro disse que havia uma “histeria” em torno da crise pandêmica e que comemoraria seu aniversário de 65 anos com uma “festinha tradicional”, ofendendo todos os familiares brasileiros que perderam entes queridos para a doença. "Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia", declarou.
O mesmo posicionamento ocorreu no dia 22 de março: quando o Brasil registrou 1.546 e 25 óbitos, Bolsonaro afirmou que o número de mortes por covid-19 não ultrapassaria a quantidade de vítimas fatais causada por H1N1, que, segundo ele foram 800. A declaração, em entrevista ao Domingo Espetacular, da TV Record, não especificava o período de análise. 
No dia 8 de abril, duas semanas após a fala do presidente, o Brasil registrou 814 óbitos, ultrapassando o número estipulado por Bolsonaro. Ainda assim, dois dias depois ele afirmou: “tá com medinho de pegar vírus? Tá de brincadeira. O vírus é uma coisa que 60% vai ter ou 70%. Não vai fugir disso”. Até às 18h30 deste sábado (1), foram 2.707.877 milhões de casos e 93.563 mortes, ultrapassando em 116 vezes o estipulado pelo presidente no início da pandemia.
Ainda no começo de abril, um dia após o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defender a importância de medidas de isolamento para combater o coronavírus, em rede nacional, em uma coletiva de imprensa, o presidente fez o contrário: ignorou as recomendações do próprio ministro, bem como da OMS, e visitou diversos comércios em Brasília, na manhã o dia 29 de março. Em vídeos postados em suas redes sociais, é possível ver Bolsonaro cercado de pessoas, causando expressivas aglomerações.
O movimento continuou a ser o mesmo conforme o passar dos dias. Cerca de um mês depois o presidente afirmou: “E daí? Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, em resposta à observação de um jornalista sobre a marca de aproximadamente 5 mil mortes. 
CLOROQUINA
Durante toda a pandemia, Bolsonaro insistiu e ainda insiste na campanha pelo uso indiscriminado da cloroquina, mesmo sem evidência científica provando eficácia contra a covid-19. Ele chegou a defender o uso da medicação em rede nacional e obrigou o Ministério da Saúde a incluí-la no tratamento de pacientes. Seu esforço para propagandear se deu ainda quando ele contraiu o vírus. Mesmo ao reconhecer que teve febre de 38 graus e dores no corpo, Bolsonaro tentou manter a postura de que a covid-19, por mais que já tenha matado mais de 65 mil brasileiros, não é tão grave assim.
A OMS não recomenda que as substâncias sejam usadas para pacientes infectados pelo coronavírus, a não ser em testes controlados, uma vez que podem ocorrer efeitos colaterais cardíacos e outros como acidente vascular cerebral (AVC).
Em Manaus, um estudo foi foi interrompido após a morte de pacientes que receberam doses altas de cloroquina e a verificação de que a substância - usada para tratar a malária e outra doenças autoimunes - causava arritmia cardíaca em um número elevado de pessoas. Ainda assim, no dia 24 de julho, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, durante entrevista coletiva, mostrou que o governo federal distribuiu 100.500 comprimidos de cloroquina para indígenas. 
Paralelamente, Bolsonaro sancionou com 16 vetos a lei que cria o Plano Emergencial para Enfrentamento à Covid-19 nos territórios indígenas, que estabelece medidas para prevenir a disseminação da doença entre povos tradicionais. 
Entre os trechos vetados pelo presidente, estão a obrigação de o governo oferecer acesso à água potável e a distribuição de produtos de higiene e limpeza. Bolsonaro também vetou a elaboração de ações específicas para ampliar os leitos hospitalares, a liberação de verba emergencial para a saúde indígena, projetos de instalação de internet nas aldeias, distribuição de cestas básicas e o acesso facilitado ao auxílio emergencial. 
TROCA DE MINISTROS
Os dois ministros da Saúde ligados diretamente à área, os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, não resistiram às ordens de Bolsonaro na pasta. Desde o dia 15 de maio, quando Teich pediu demissão, o Brasil não tem um ministro da Saúde. Quem está no cargo é o ministro interino e general Eduardo Pazuello. 
Mandetta foi demitido em 16 de abril, após uma série de embates com o presidente sobre isolamento social. Segundo o mandatário, o então ministro defendeu só o interesse médico em meio à pandemia e "não entendeu a questão do emprego". Teich não ficou nem um mês no cargo. Ele discordou de Bolsonaro sobre o uso indiscriminado da cloroquina e, sem espaço para trabalhar, pediu demissão em 15 de maio.
Dos mais de R$ 500 bilhões liberados pelo Congresso para os gastos com a pandemia no Brasil, o governo Bolsonaro executou apenas R$ 216 bilhões, que correspondem a menos de 43% do total. A constatação é do Siga Brasil, plataforma do Senado que acompanha o percurso de gastos da União. 
Se mantiver a curva de mortes por covid-19 dos últimos dias, o Brasil chegará a 100 mil mortes entre sexta-feira (7) e sábado (8).
Do Brasil de Fato

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

O QUE OS ”INTOCÁVEIS” DA LAVA JATO QUEREM ESCONDER DOS BRASILEIROS MAS JÁ PASSARAM AO FBI? DIZ PAULO PIMENTA

A democracia brasileira já sofreu violações suficientes para compreender que um Ministério Público sem controle externo pode ser tentado ao arbítrio, vindo a se converter “em um monstro”, para repetir a expressão de Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal.
O conflito entre o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, e os procuradores da Operação Lava-Jato de Curitiba em torno do acesso às informações recolhidas ao longo de seis anos de atividades dos “Intocáveis”, tem desdobramentos.
Lança as primeiras luzes oficiais — tardias, porque apontadas há meses pelo “The Intercept” — sobre os porões de um dos principais projetos políticos da extrema-direita no Brasil.
A SERVIÇO DOS EUA
Um projeto a serviço dos interesses geopolíticos dos Estados Unidos e do capital financeiro internacional, com fortes vínculos com a mídia corporativa, setores empresariais que incluem notórios sonegadores de impostos, o agronegócio e grandes bancos.
Esse projeto foi capaz de aparelhar setores do Ministério Público e do Judiciário para golpear a Constituição de 88.
Fazia parte dessa estratégia de poder a derrubada da presidenta legítima Dilma Rousseff e a prisão da maior liderança popular da história do País, o ex-presidente Lula, visando impedi-lo de concorrer às eleições de 2018 e, por fim, abrir caminho para eleger um representante que pudesse cumprir um papel de subserviência a este conjunto de interesses.
Foi assim que o ex-capitão Jair Bolsonaro acabou sendo eleito.
GOVERNO NEOFASCISTA
O passo seguinte, como sabemos, foi incorporar seu líder, o ex-juiz Sérgio Moro, aos quadros do governo neofascista de Jair Bolsonaro como “super-ministro” da Justiça.
Aos olhos de Bolsonaro, uma retribuição aos serviços prestados durante a campanha.
Para os objetivos de Moro, um passo na estratégia de disputa da Presidência da República, em 2022.
Durou 16 meses sua permanência no governo em cuja eleição ele teve papel-chave.
Sua atuação no cargo foi pontilhada por tentativas de institucionalizar, por meio do Congresso, um Estado Policial, legitimar os métodos que utilizou quando comandava a Operação Lava-Jato e preparar o Estado Brasileiro para sua pretendida chegada ao poder.
TRAIDOR
Escolheu o momento adequado para trair o homem que ajudou a eleger, se afastar do Ministério, produzir algum desgaste na imagem do ex-capitão diante dos seus seguidores e habilitar-se com a ajuda dos aliados de sempre, particularmente a Rede Globo de Televisão, como opção da extrema direita no próximo pleito presidencial.
A proteção da mídia corporativa, a leniência de cúmplices no Judiciário e a segurança da impunidade afrouxaram a vigilância dos rapazes de Curitiba e eles foram deixando rastros de violações e crimes pelo caminho:
— conluio entre a acusação e juízo;
— campanha publicitária em favor deles próprios;
— pretensão inconstitucional, flagrada em pleno voo, de constituir um Fundo com recursos oriundos da Petrobrás, negociados com o sistema judiciário dos Estados Unidos, que somariam R$ 1,3 bilhão, a ser gerido por quem deveria fiscalizá-lo;
— montagem de um sistema privativo de informações que agora se revela um sistema policial de espionagem e controle capaz de mapear 38 mil cidadãos e cidadãs brasileiras e levantar cerca de 50 mil documentos.
Neste momento os líderes da operação disputam no STF a pretensão de não partilhar com a própria Procuradoria-Geral da República, as informações em seu poder, embora elas já sejam do domínio do FBI. Agem como se constituíssem em Curitiba um Estado paralelo.
Qual o medo da Lava-Jato?
Cabe perguntar:
O que os “Intocáveis” da Lava-Jato desejam esconder da sociedade brasileira?
Sob que argumento o órgão instituidor – a Procuradoria-Geral da República – tem bloqueado seu acesso às informações obtidas por uma força-tarefa por ele instituída?
Por que o ministro do STF Edson Fachin — aquele saudado por Dallagnol em 5 de julho de 2019 (Intercep/Veja), “Caros, conversei 45 minutos com Fachin. Aha, uhu, o Fachin é nosso!” — tenta blindar os procuradores suspendendo a decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, de franquear os arquivos da Lava-Jato à PGR?
É necessário, mais do que nunca, reafirmar a direta e irrefutável formulação do governador maranhense Flávio Dino: Não podemos aceitar que em nome do suposto combate à corrupção, se corrompa a legalidade democrática.”
Não é recomendável nutrir otimismos exagerados expressos em réquiens prematuros da Operação Lava-Jato.
Ela segue sendo o mais consistente projeto de um Estado Policial em construção no Brasil, alicerçado na quebra da democracia, da soberania e dos interesses nacionais.
É necessário cobrar a imediata instalação da CPI da Lava-Jato como um instrumento para se contrapor, com o auxílio da sociedade à consolidação do Estado Policial que nos ameaça.
*Paulo Pimenta é deputado federal e presidente do PT do Rio Grande do Sul.
Do Viomundo

ESTADOS INFORMAM SALTO NAS MORTES, PARA 1.469 EM 24 HORAS, POR FERNANDO BRITO


Os números de hoje do Consórcio Nacional de Secretarias de Saúde recolocam o número de mortes pela Covid-19 no patamar onde de fato estão: bem acima das mil mortes diárias. Roram registrados, nas últimas 24 horas, 1.469 óbitos, bem acima das 1.159 anotadas ontem.
A razão foi uma falha nos registros referentes a Minas Gerais, que está em níveis recorde para o Estado, na ordem de 150 mortes por dia.
Com isso, o país chegou a 97.288 vidas perdidas desde o início da pandemia e, no sábado, atingirá a macabra marca de 100 mil óbitos.
Na mesma data, teremos, também, alcançado os 3 milhões de casos confirmados de contaminação pelo vírus Sars-Cov 2.

Do Tijolaço

terça-feira, 4 de agosto de 2020

CORREGEDORIA DO MPF VAI APURAR IRREGULARIDADES NA DISTRIBUIÇÃO DE INVESTIGAÇÕES DA LAVA JATO


A corregedoria quer saber se foram respeitados os critérios para designar o chefe de cada investigação.
A Corregedoria-Geral do MPF determinou a abertura de sindicância para apurar se houve irregularidade na distribuição de investigações conduzidas pela força-tarefa da Lava Jato em SP. A corregedoria quer saber se foram respeitados os critérios para designar o chefe de cada investigação.
A portaria 54/20, publicada no Diário Oficial do MPF nesta terça-feira, 4, determina que a apuração tem o objetivo de averiguar se as forças-tarefas cumpriram regras internas para a escolha dos responsáveis pela condução de inquéritos e outros procedimentos, como delações premiadas.
Se considerar que houve algum tipo de irregularidade, a procuradora regional da República Raquel Branquinho pode pedir instauração de inquérito. O prazo para conclusão da sindicância é de 30 dias.
Veja a íntegra portaria:
PORTARIA Nº 54, DE 30 DE JULHO DE 2020
Instauração de Sindicância.
A CORREGEDORA-GERAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, no uso das atribuições legais que lhe são conferidas pela Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, art. 65, II, e pelo art. 3º, V, do Regimento da Corregedoria do Ministério Público Federal (Resolução CSMPF nº 100, de 3 de novembro de 2009),
RESOLVE
Art. 1º Instaurar SINDICÂNCIA CMPF, autuada sob o nº 1.00.002.000060/2020-17, para apuração do estrito cumprimento das regras gerais de distribuição de procedimentos derivados de Forças-Tarefa da Operação Lava Jato.
Art. 2º Designar a Procuradora Regional da República RAQUEL BRANQUINHO PIMENTA MAMEDE NASCIMENTO, como autoridade sindicante, para cumprir os encargos desta designação, objetivando a realização das ações administrativas adequadas à apuração dos fatos descritos na Decisão nº 56/2020-ER, para ao final, oferecer relatório circunstanciado com proposição de arquivamento ou de instauração de inquérito administrativo disciplinar, se caso constatada falta funcional na espécie - considerada as disposições do artigo 236,da Lei Complementar nº 75/93.
Art. 3º Fixar o prazo de 30 (trinta) dias para a conclusão da apuração, a contar da data de instalação dos trabalhos, consideradas as eventuais prorrogações de lei.
Art. 4º Após a finalização dos trabalhos e a elaboração do respectivo relatório circunstanciado, a Sindicante deverá encaminhar os autos à Corregedoria do Ministério Público Federal.
Art. 5º A Sindicante tem sua sede na Procuradoria Regional da República da 1ª Região, Setor de Autarquia Sul, Quadra 5, Lote 8, Bloco "E" - Brasília-DF, CEP: 70.070-911.
Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data da sua assinatura.
Publique-se no Diário do Ministério Público.
ELIZETA MARIA DE PAIVA RAMOS
Do Migalhas

FAZER QUEIROZ “ASSINAR” RACHADINHA É PLANO QUE NÃO CONVENCE, POR FERNANDO BRITO

Nos presídios, quando um grupo criminoso resolve “apagar” algum detento que violou as regras da “irmandade”, é comum que se escolha alguém, já com muitas condenações e nenhuma esperança de liberdade, para “assinar o 121”, referência ao crime de homicídio do dito cujo.
Parece que esta foi a tática definida para Fabrício Queiroz assumir, sozinho, a responsabilidade da “rachadinha” do gabinete do então deputado estadual e agora senador Flávio Bolsonaro na Assembléia Legisltativa.
Se foi, é preciso que se conte com muita hipocrisia para que tenha o mínimo de veracidade para que alguém se convença disso.
Vejam o que diz o amigo da família há décadas, sob o juramento de testemunha:
Eu tive um contato com o senador — ele não era senador, era deputado, mas já estava eleito. Eu dei satisfação a ele do que aconteceu. Ele estava muito chateado, revoltado. Ele falou: ‘Não acredito que tu tenha feito isso, não acredito’.
Todos se recordam que Flávio, nesta época, deu uma versão do encontro que em que não parece em nada “revoltado” com o ex-assessor:
– Hoje o Fabrício Queiroz veio conversar comigo. Fui cobrar esclarecimentos dele sobre o que estava acontecendo. Ele me relatou uma história bastante plausível. Me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações – disse ao sair da casa do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no Rio.
Logo em seguida, apareceu a história que, segundo o filho presidencial, seria “bastante plausível”: que a dinheirama que circulava pela conta de Queiroz se devia a “rolos” que ele faria com a compra e venda de automóveis.
O relato desfia um rosário de contradições:
  • Por que Queiroz depositava dinheiro na conta da mulher de Flávio, na conta de Michele Bolsonaro e o usava para pagar mensalidades escolares e plano de saúde da família do chefe?
  • Por que, se pretendia ir para Brasília, com Flávio ou com Jair, foi afastado – bem como sua filha, que era do gabinete do futuro presidente, no dia 15 de outubro, se não houve o tal “vazamento” de que estava na mira do Ministério Público?
  • Por que, se estavam “revoltados” com ele, recebeu auxílio do advogado de Flávio (e de Jair) Frederick Wassef para ocultar-se em Atibaia?
  • De onde vieram os recursos em espécie para pagar um valor altíssimo de seu tratamento no Hospital Albert Einstein se ele não movimentou contas bancárias e não usou “rachadinhas” em proveito próprio?
E mais: como é que Flávio, se tratando de Queiroz, um amigo de décadas de seu pai – alguém íntimo a ponto de pedir-lhe “um empréstimo de R$ 40 mil – como é que não deu ciência ao então presidente eleito da gravíssima irregularidade que o havia “revoltado” ao ser narrada a ele não deu ciência disso a Jair Bolsonaro?
Queiroz pode tentar “assinar” o crime, mas as evidências mostram que ele não agiu por conta e proveito próprios.
Não vai funcionar e acaba por complicar Flávio e Jair que, no mínimo, sabiam de tudo e mentiram fingindo que nada conheciam do caso.
Do Tijolaço

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

XADREZ DA LAVA JATO COMO BODE EXPIATÓRIO DA HIPOCRISIA NACIONAL, POR LUIS NASSIF

A Justiça de Transição que o país necessita não é a a execração pública de pessoas, não é ajoelhar no milho nem se vergastar em público. É uma desafio institucional, um pacto entre poderes, especialmente aqueles que mais responsáveis pelo macarthismo do período anterior, assumindo as culpas institucionais.
PEÇA 1 – A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO
Justiça de Transição é o sistema de julgamentos que sucede a cada período ditatorial. Consiste, de um lado, no levantamento da memória do período, de expor as chagas dos crimes cometidos, dentro do lema “para que não se esqueça, não se repita”. Depois, na reparação dos crimes cometidos. No caso das famílias de desaparecidos, em indenização financeira e pedidos oficiais de desculpas em nome do Estado que acobertou ou comandou os crimes. Depois, no financiamento de iniciativas que ajudem a lembrar os crimes – como, por exemplo, restauração de locais onde se praticava a tortura, construção de museus de memórias etc.
A lógica da Justiça de Transição é deixar claro para o país – e, especialmente, para quem praticou ou foi omisso em relação aos crimes – que tais crimes não podem passar impunes e não podem se repetir. No mínimo, há que se ter uma condenação moral e pública para constranger os que tentarem, no futuro, repeti-los.
No caso da ditadura brasileira, não houve a justiça de transição. Na Constituinte, alguns juristas   negociaram o esquecimento com as Forças Armadas, com o entendimento de que a Lei da Anistia absolvia todos os crimes, mesmo aqueles considerados crimes contra a humanidade.
Foi um acordo tão hipócrita que foram englobados nesse pacto até crimes cometidos após a promulgação da lei – como o atentado do Rio Centro e o assassinato da secretária da Ordem dos Advogados no Rio de Janeiro, assim como os atentados a bancas de revistas e tentativas de jogar bombas no centro do Rio.
Os responsáveis por esse pacto foram basicamente Sepulveda Pertence e Nelson Jobim que, mais tarde, tornaram-se Ministros do Supremo Tribunal Federal.
Nas Forças Amadas, o pacto resultou em um processo de afastamento dos homens dos porões – os militares que estiveram na linha de frente da guerra suja, matando, torturando. Houve recompensas, para que pudessem iniciar a vida civil. Alguns ganharam garimpos, como foi o caso do Major Curió. Outros tornaram-se seguranças de bicheiros. Muitos criaram esquadrões da morte em vários estados. Grande parte ajudou a criar as milícias, que passaram a ocupar territórios inteiros em alguns estados.
A falta da Justiça de Transição permitiu, finalmente, que as milícias e os subterrâneos ganhassem o poder, através da eleição de Jair Bolsonaro.
A revisão da Lei da Anistia repousa há anos na gaveta do Ministro Luiz Fux, do STF, dentro da obscuridade que marca os pedidos de vista da casa.
PEÇA 2 – A DITADURA CIVIL INSTALADA
Há enormes semelhanças entre a ditadura atual e o período pós 64, e entre os porões da ditadura e a Lava Jato.
Digo ditadura atual porque, desde que começou a campanha pelo impeachment, os direitos foram suprimidos no país – bem antes da chegada de Bolsonaro e preparando o terreno para ele. No período pós 2013, o discurso de ódio foi mais radicalizado ainda na mídia. Os Tribunais, especialmente de primeira instância, se envolveram no jogo político e toda forma de arbitrariedades foi cometida.
O Ministério Público Federal, em função da irresponsabilidade e exibicionismo dos procuradores da Lava Jato Curitiba e do Distrito Federal, tornou-se o bode expiatório responsável pelo estado de exceção. Mas o clima de exceção perpassou todos os poderes.
Algumas exemplos desse estado de exceção:
1. A humilhação dos funcionários do BNDES, submetidos em bloco a conduções coercitivas com acompanhamento de toda a mídia, por denúncia do Ministério Público Federal do Distrito Federal.
2. Julgamentos midiáticos em cima de denúncias falsas, como as acusações contra o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e operações contra o ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel, posteriormente arquivadas, mas que alimentaram as manchetes durante meses.
3. Procurador entrando em presídios e humilhando políticos presos, no episódio envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral Filho. Condução de Cabral algemado nas mãos e nos pés pelo delegado federal Igor de Paula.
4. Juíza intimando o cientista Elisando Carlini, por ter participado de um evento para discutir as propriedades medicinais da maconha.
5. Invasão da Escola Florestan Fernandes, com policiais civis paulistas arrombando janelas e intimidando idosos e alunos da escola.
6. O caso Rafael Braga, o catador de recicláveis preso em 2013 durante ato público do qual sequer participava, com suspeita de flagrante forjado. Contraiu tuberculose na prisão.
7. Jovens presos em uma operação em que houve espionagem por parte de um militar. Indiciados em um caso claro de flagrante forjado. Procuradores da República correram ao local, para impedir abusos contra a moçada. Foram denunciados ao Conselho Nacional do Ministério Público por colegas do MP de São Paulo, por se intrometer no trabalho dos colegas paulistas – que não compareceram ao local.
8. Juiz de Brasilia que quase matou José Genoino, ao proibir que recebesse atendimento fora da prisão, mesmo depois de ter sido submetido a uma cirurgia cardíaca de alta complexidade.
9. Prisão de lideranças da Frente de Luta pela Moradia em São Paulo, com falso flagrante imputando a elas práticas cometidas pelo tráfico.
10. Manipulação da sentença contra Lula pelo TRF4, com os três desembargadores majorando a sentença na mesma proporção, para impedir qualquer recurso, depois de constatado que a sentença inicial de Sérgio Moro, por engano, permitiria colocar Lula em liberdade.
11. Busca e apreensão na casa de um dos filhos do Lula pela Policia Civil paulista, tendo como justificativa um telefonema anônimo.
12. Grampo no Palácio do Planalto, a pretexto de controlar os celulares da Papuda.
13. Operação Carne Fraca, que comprometeu a carne brasileira nos mercados mundiais, transformando um problema de corrupção de fiscais sanitários em uma crise do setor.
14. Proibição para que diversas universidades ministrassem cursos sobre o golpe militar de 1964.
15. Ação concatenada de Tribunais Regionais Eleitorais, autorizando invasão de diversos campus universitários pela Polícia na véspera das eleições de 2014.
16. Ação coordenada da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União permitindo invasão de campus universitários e humilhação de professores, levando ao suicídio o reitor Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina.
17. O jornalista mineiro premiado, jogado na cadeia pela polícia civil de Minas Gerais, por críticas a Aécio Neves.
Nenhum desses abusos foi denunciado como tal pela mídia na época. Sequer provocou um respiro de indignação democrática. Nenhum dos responsáveis respondeu a qualquer processo por crime de abuso de autoridade e sequer a uma condenação pela mídia. Convalidou-se o Estado de Exceção com a mídia praticando o jornalismo de guerra e os tribunais aplicando o direito penal do inimigo.
Agora, depois que o furacão Bolsonaro mostrou um perigo concreto, há um aggiornamento rápido e oportunista dos principais agentes do período de trevas, na mídia e nos tribunais superiores, assumindo a função de arautos da democracia e dos direitos. Pode-se criticar a Lava Jato sem risco.
Os crimes contra a democracia foram esquecidos e, como tal, estão sujeitos a serem repetidos.
PEÇA 3 – O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Assim como a mídia, desde o mensalão o STF avalizou as arbitrariedades e ilegalidades da Lava Jato e convalidou aquelas politicamente mais relevantes, todas – repito TODAS – as que tinham implicações diretas em favor do impeachment e da prisão de Lula.
1. A votação da prisão após 2a instância, que poderia abrir espaço para a libertação de Lula antes das eleições. A Ministra Rosa Weber, originalmente contra a prisão em 2a instância, mudou seu voto em nome da “colegialidade” – isto é, para não ficar contra a maioria. Seu voto, por ser de desempate, definiria a maioria. Ou seja, antes de ser proferido, não havia maioria e, portanto, nenhuma razão para a tal colegialidade. Seu voto foi recheado de citações de juristas internacionais. Um repórter da Folha, na época, consultou a jurisprudência do STF e constatou que a maioria dos juristas citados constavam de votos do Ministro Luiz Edson Fachin, jamais de Rosa Weber.
2. Os algoritmos do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral, com os sorteios dos casos mais sensíveis sempre caindo com Ministros dos quais já se sabia de antemão a posição  – os de Lula e Dilma com Ministros anti-PT; os de Aécio Neves e José Serra com Ministros pró-PSDB, em ambos os casos os mesmos.
3. A autorização para a prisão de um senador da República, com base em uma grampo induzindo a uma informação falsa – a de que Lula e André Esteves, do BTG Pactual, teriam proposto uma fuga a um dos delatores da Petrobras. Notícia falsa, mas que permitiu novas prisões preventivas.
4. Impedimento de Lula assumir a Casa Civil de Dilma com base em um grampo triplamente falso: fora do prazo permitido; envolvendo conversa com a presidente da República, portanto fora da alçada da 1a instância; por não dizer respeito aos fatos investigados, não poderia ter sido divulgado. Mesmo assim, foi acatado pelo STF.
É canhestra a tentativa de atribuir os recuos do STF a um mero Twitter do general Villas Boas. Ou mencionar algumas discordâncias do STF em relação à Lava Jato, em episódios de menor relevância, como álibi para apagar a história do período. A opinião militar ganhou peso porque, antes disso, o jornalismo de guerra convalidou o vale-tudo contra os adversários políticos, transformados em inimigos.
Desde o mensalão, o fuzilamento moral pela mídia impôs o discurso de ódio, o primado de que os fins justificam os meios, promovendo  escrachos em aeroportos contra qualquer Ministro que ousasse conceder o reconhecimento dos direitos dos réus, por mais inexpressivos que fossem seus gestos – meramente acatando um embargo de declaração, por exemplo.
PEÇA 4 – O NOVO PACTO DA ANISTIA
Assim como no fim da ditadura, esboça-se atualmente um novo pacto de anistia.  É relevante por duas coisas: por explicitar a ansiedade dos pactuadores em superar rapidamente o clima irrespirável do momento; mas por se saber claramente, hoje em dia, os resultados de sair dos períodos de exceção sem uma justiça de transição, sem punição – ainda que meramente moral -, uma autocrítica, um pedido público de desculpas pelo mal que causaram, abrindo espaço para a ascensão das bestas do Apocalipse na condução do país.
A falta de punição permite a instrumentalização dos princípios e a reiteração dos abusos. O sujeito, jornalista, político, homem público, Ministro, pula de um barco para outro e pode voltar para o barco inicial sem risco de ser exposto e podendo retornar daqui a pouco ao barco do golpismo.
A força desses homens-bambus (que acompanham o movimento dos ventos) reside em sua exposição pública. A imagem pública de alguém deveria ser a síntese dos atos que pratica. E um dos atributos é a coerência em torno de princípios claros. Bolsonaro é coerente, no alinhamento com a barbárie. Mas os novos campeões da democracia, não são. Nós sabemos o que eles fizeram nos últimos verões.
Não se trata de revanchismo, de criminalizar pessoas, mesmo porque o grande pacto nacional tem que se dar em torno de um amplo processo de pacificação. Mas se trata de expor e condenar as práticas nas quais incorreram.
Juristas progressistas, que avalizaram o impeachment, precisam admitir que transformar um problema contábil em crime de responsabilidade é uma violência contra a democracia. Ministros do STF que aceitaram o estupro da Constituição, sob o argumento de que a presidente tinha perdido condições de governabilidade, tem que assumir que seu papel é defender a Constituição. Imprensa que praticou, e ainda pratica, o jornalismo de guerra, tem que buzinar aos quatro cantos que os princípios legitimadores do jornalismo são a defesa dos direitos e a diversidade de opiniões. O PT tem que admitir que o excesso de pragmatismo político comprometeu todo um projeto popular e expôs aos inimigos a Petrobras.
Sem essa purgação dos pecados, tudo será como antes. Ou seja, se os fins procurados exigem garantismo, tornam-se garantistas; se os fins exigem punitivismo, punitivistas se tornam, sem a menor preocupação com a coerência. Voam da intolerância mais abjeta para o legalismo mais defensável sem serem cobrados. Qual a garantia de que, passado o fantasma Bolsonaro, não retomem o discurso de ódio do período anterior, sabendo que a memória publicada e televisada tem prazo de validade, não quer saber os pecados que foram cometidos.
É esse país de hipócritas que se deseja legar para as próximas gerações?
Há um pacto em andamento, similar ao pacto da anistia, que consiste dos seguintes passos:
* Atribuam-se todos os abusos do período à Lava Jato Curitiba, ao brilho inexcedível de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, que conseguiram ludibriar mídia, Supremo, tribunais superiores.
* Considerem-se todos os escorregões do STF como fruto da ação incomparavelmente maliciosa de Moro explorando a boa fé de Ministros ingênuos (levante alguns casos irrelevantes, em que decisões de Moro foram reformadas, para defender a ação isenta do Supremo no período).
* Atribua a adesão incondicional da mídia à Lava Jato como reflexo legítimo da indignação com a corrupção, mesmo que tenha feito a divisão entre os corruptos do lado de lá e os do lado de cá, e poupado os amigos.
* Esqueça que todos os abusos da Lava Jato foram testemunhados por repórteres setoristas, alocados em tempo integral da operação e que esconderam as torturas inflingidas a presos, as retaliações contra delegados que reagiram contra as ilegalidades. Diga que foi a astúcia incomparável de Moro que permitiu levar a mídia no bico e todos se beneficiaram profissionalmente da parceria por idealismo desprendido.
PEÇA 5 – MORO E A LAVA JATO
A figura pública de Sérgio Moro foi exposta pela primeira vez como Ministro da Justiça. Na Lava Jato era apenas o juiz monossilábico que se manifestava através de sentenças mas que, nas audiências, mostrava uma timidez surpreendente para o personagem criado pela mídia.
Conhecendo, agora, ele, Deltan Dallagnol e seus colegas, dá para apostar na narrativa dos seres cerebrais, que manipularam STF, mídia, tribunais superiores? É evidente que não. Foram apenas instrumentos de um jogo muito maior. Aliás, ambos, juiz e procuradores, foram a parte mais viciada da aliança nacional pelo impeachment, pelo excesso de pequenas ambições, pelo discurso salvacionista e pelo deslumbramento tipicamente provinciano.
Na Vazajato, juiz e procuradores, que se tornaram a principal peça para derrubar uma presidente da República, se encantavam com o mercado de palestras, com os convites para salões grã-finos, com os cachês recebidos, em fazer bonito para a sua Igreja e para seu banco de investimento de predileção, ou em exibir fotografias de viagens internacionais em seus perfis, em uma demonstração típica de agentes políticos microscópicos, que agiam apenas como bactérias oportunistas sobre o tecido social e político do país.
Transformá-los em bodes expiatórios não melhorará em nada a democracia brasileira. Apenas mudará a guarda para as próximas aventuras antidemocráticas, para as quais serão convocados novos personagens dos porões.
PEÇA 6 – O NOVO ARREGLO DA ANISTIA 
A Justiça de Transição que o país necessita não é a a execração pública de pessoas, não é ajoelhar no milho nem se vergastar em público. É uma desafio institucional, um pacto entre poderes, especialmente aqueles mais responsáveis pelo macarthismo do período anterior, assumindo as culpas institucionais.
Um primeiro ensaio de autocrítica seria a defesa intransigente de um aprofundamento da democracia e não apenas da perna penal da Lava Jato. Por exemplo, cobrar do Procurador Geral da República Augusto Aras a recomposição da área de direitos humanos que tem em cargo chave, hoje em dia, um procurador terraplanista de ultra-direita. As áreas de direitos humanos têm sido desmontadas no âmbito da Procuradoria Geral da República, sem um centésimo da repercussão dos temas da Lava Jato. Apoiar o PGR sem exigir a contrapartida da recuperação da defesa dos direitos difusos e das minorias, é hipocrisia.
Um segundo ensaio seriam manifestações de Ministros do Supremo – especialmente os que mais se lambuzaram com o clima da Lava Jato – de afirmação dos princípios constitucionais e o fim da manipulação das eleições com suas decisões. E uma defesa firme dos direitos daqueles que eram e continuam sendo tratados como “inimigos’.
Um terceiro ensaio seria a mídia ir além das meras manifestações de fé na democracia e assumir a defesa intransigente das vítimas do outro lado – lideranças rurais e indígenas assassinadas, jornalistas independentes massacrados por ondas de processos, o genocídio na periferia etc.
Principalmente, o reconhecimento que foi essa guerra política irresponsável, essa exploração do ódio, do direito penal do inimigo que levou o Brasil ao ponto mais baixo da degradação moral, com a eleição e, mais do que isso, a contemporização com a presidência de Jair Bolsonaro.
Do GGN