Nos presídios, quando um grupo criminoso
resolve “apagar” algum detento que violou as regras da “irmandade”, é comum que
se escolha alguém, já com muitas condenações e nenhuma esperança de liberdade,
para “assinar o 121”, referência ao crime de homicídio do dito cujo.
Parece que esta foi a tática definida para
Fabrício Queiroz assumir, sozinho, a responsabilidade da “rachadinha” do
gabinete do então deputado estadual e agora senador Flávio Bolsonaro na
Assembléia Legisltativa.
Se foi, é preciso que se conte com muita
hipocrisia para que tenha o mínimo de veracidade para que alguém se convença
disso.
Vejam o que diz o amigo da família há
décadas, sob o juramento de testemunha:
Eu tive um contato com o senador — ele não era
senador, era deputado, mas já estava eleito. Eu dei satisfação a ele do que
aconteceu. Ele estava muito chateado, revoltado. Ele falou: ‘Não acredito que
tu tenha feito isso, não acredito’.
Todos
se recordam que Flávio, nesta época, deu uma versão do encontro que em que não parece
em nada “revoltado” com o ex-assessor:
–
Hoje o Fabrício Queiroz veio conversar comigo. Fui cobrar esclarecimentos dele
sobre o que estava acontecendo. Ele me relatou uma história bastante plausível.
Me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações – disse ao
sair da casa do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no Rio.
Logo
em seguida, apareceu a história que, segundo o filho presidencial, seria
“bastante plausível”: que a dinheirama que circulava pela conta de Queiroz se
devia a “rolos” que ele faria com a compra e
venda de automóveis.
O
relato desfia um rosário de contradições:
- Por que Queiroz depositava dinheiro na conta da mulher de Flávio, na conta de Michele Bolsonaro e o usava para pagar mensalidades escolares e plano de saúde da família do chefe?
- Por que, se pretendia ir para Brasília, com Flávio ou com Jair, foi afastado – bem como sua filha, que era do gabinete do futuro presidente, no dia 15 de outubro, se não houve o tal “vazamento” de que estava na mira do Ministério Público?
- Por que, se estavam “revoltados” com ele, recebeu auxílio do advogado de Flávio (e de Jair) Frederick Wassef para ocultar-se em Atibaia?
- De onde vieram os recursos em espécie para pagar um valor altíssimo de seu tratamento no Hospital Albert Einstein se ele não movimentou contas bancárias e não usou “rachadinhas” em proveito próprio?
E
mais: como é que Flávio, se tratando de Queiroz, um amigo de décadas de seu pai
– alguém íntimo a ponto de pedir-lhe “um empréstimo de R$ 40 mil – como é que
não deu ciência ao então presidente eleito da gravíssima irregularidade que o
havia “revoltado” ao ser narrada a ele não deu ciência disso a Jair Bolsonaro?
Queiroz
pode tentar “assinar” o crime, mas as evidências mostram que ele não agiu por
conta e proveito próprios.
Não
vai funcionar e acaba por complicar Flávio e Jair que, no mínimo, sabiam de
tudo e mentiram fingindo que nada conheciam do caso.
Do
Tijolaço
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