terça-feira, 25 de agosto de 2020

PARA ONDE VAI A LIBERAÇÃO DE ARMAS DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Como é que as Forças Armadas - que deveriam ter o monopólio da força no país - e a Polícia Federal compactuam com essa loucura? Bom, aí a explicação é sobre o caráter dos homens públicos brasileiros à frente das instituições nacionais.
Os dados abaixo são das investigações da Polícia Civil do Rio
 “As investigações concluíram que a maior parte dos roubos é patrocinada por traficantes de drogas e milicianos. Eles emprestam armas para os assaltantes.  De acordo com um levantamento da Polícia Civil, tráfico e milícia são responsáveis por cerca de 79% dos roubos de veículos praticados na capital; 73% em municípios da Baixada Fluminense; e 84% em Niterói e São Gonçalo, na Região Metropolitana. Em relação aos roubos de cargas, as facções criminosas e os paramilitares têm participação em pelo menos 65% dos roubos na capital, 64% na Baixada e 62% em Niterói e São Gonçalo”. Segundo O Globo de hoje.
Nem a hipocrisia nacional resiste a essa lógica.  Bolsonaro é ligado às milícias. A posse e o comércio de armas é uma das principais atividades da milícia. Em termos de grupos, a flexibilização da compra de armas beneficia especialmente as milícias e os clubes de tiro – ambos os setores estreitamente ligados ao bolsonarismo.
Como é que as Forças Armadas – que deveriam ter o monopólio da força no país – e a Polícia Federal compactuam com essa loucura? Bom, aí a explicação é sobre o caráter dos homens públicos brasileiros à frente das instituições nacionais.
Não honram nem sua história nem sua responsabilidade institucional.
Do GGN

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

FRENTE ÚNICA CONTRA BOLSONARO COMEÇA A SE CONSOLIDAR NA INTERNET, DIZ FABIO MALINI

Para Fabio Malini, Bolsonaro perde batalha nas redes sociais com união de forças e catarse coletiva depois de ameaçar repórter com “porrada”.
"Minha vontade é encher tua boca na porrada", disse presidente a repórter, com seu linguajar conhecido
A gigantesca repercussão, nas redes sociais, desencadeada pela ameaça de Bolsonaro a um jornalista reverbera insatisfação de amplo espectro social e representa significativa derrota dos “combatentes” bolsonaristas, embora em uma batalha apenas, na guerra da comunicação. “O presidente subiu o tom como forma de tentar manter o discurso de força e enfrentamento que ele sabe que dá retorno. Mas esse retorno, no caso, se deu nos seus canais de redes sociais, administrados por ele, e a questão é que ele não está conseguindo administrar na ‘casa’ dele. Ele não está jogando na casa do adversário, está jogando em casa e está perdendo muito”, diz Fabio Malini, professor e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A pergunta e sua repercussão chegou a atingir mil reproduções no Twitter a cada 40 segundos.
“Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil do Queiroz?”, perguntou um jornalista de O Globo, neste domingo (23) durante uma visita de Bolsonaro à Catedral de Brasília. “Eu vou encher a boca desse cara na porrada”, respondeu Bolsonaro. Em seguida, o presidente acrescentou: “Minha vontade é encher tua boca na porrada”. A resposta nas redes sociais de internautas chegou a 1.035.521 de mensagens nas redes sociais, terreno onde o grupo que governa o país domina a técnica e a capacidade de disseminação de informações, falsas ou não.
“O governo tem uma característica de comunicação que dá ideia de combate. Eles não têm militantes, têm combatentes. Há uma guerra da informação que precisam ganhar. E a batalha de ontem foi perdida. Mas haverá novas”, diz Malini. “Porém, esse conceito de comunicação de combate tem um limite, dada a própria lógica do governo, que precisa entregar resultado, porque a taxa de desemprego está subindo, a crise fiscal instalada, problemas muito grandes.”
MEMES SE ALASTRAM
Para Malini, essa repercussão inesperada para Bolsonaro decorre de uma agregação de forças que transcende o terreno da oposição. “O que é interessante desse movimento de ontem é que, se não há frente única institucionalmente (contra Bolsonaro), na internet ela já está se consolidando. No mesmo campo, juntou-se a turma do PT com a turma do partido Novo”, avalia.
Na opinião do analista, as diferentes forças sociais e políticas que se agregaram nesse movimento midiático se valeram de um gatilho, “para expressar dores, esperanças, desilusão, desamparo, e também abandono, que é próprio da pandemia: foi a oportunidade para expressar a catarse coletiva de uma parte da população”.
Outro ponto destacado por Malini é que, para ele, a “memetização” (o fato transformado em “memes” na internet), que ocorreu a partir de ontem, é tão forte que fez com que os alvos, sobretudo a primeira dama, “se tornassem objetos de formas e mensagens que saíram do limite do politicamente correto, normalmente muito mais no campo da esquerda”.
Ao começar a ler os comentários que se alastraram pelas redes, observa Malini, Bolsonaro e seu grupo estavam perdendo a capacidade de controlar o espaço de suas próprias redes, em função da quantidade enorme de falas com a mesma pergunta. “Notei um número muito grande de pessoas desesperadas, solicitando, por exemplo, mais tempo para o auxilio emergencial. Passa a ser um segundo movimento acontecendo ao mesmo tempo. E esses  elementos têm a ver com pessoas que entraram na internet apenas para reivindicar isso (no caso, o auxílio emergencial)”.
DISCURSO DE FORÇA E ENFRENTAMENTO
Na esteira desse movimento crescente, surgiu também, entre outros, o assunto da deputada Flordelis (PSD-RJ), acusada de ser mandante do assassinato do marido, segundo o delegado Allan Duarte, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói.  
“Umas coisas vão contaminando outras. Criaram-se memes com o indiciamento da deputada. Ou seja, as coisas não acabam, existe uma dimensão homeopática. O presidente subiu o tom como forma de tentar manter o discurso de força e enfrentamento que ele sabe que dá retorno. Mas, quando esse retorno se dá nos seus canais de redes sociais, normalmente são administrados por ele”, diz Malini.  Mas neste fim de semana o problema de Bolsonaro foi que o movimento após a pergunta sobre os R$ 89 mil ultrapassou a capacidade de o clã administrar.
O analista também destaca que um dos elementos que balizam o discurso de Bolsonaro, a questão do combate à corrupção, sofreu um grande desgaste. “Quando ele começa a se calar ou radicalizar para não responder um fato que tem relação direta com esse valor da defesa do combate à corrupção, que já ficou fragilizado com a saída de Moro, vai se fragilizando ainda mais. Então, esse eleitorado sensível a esses temas fica ainda mais irritado com esse posicionamento do presidente”, na opinião do professor da UFES.
Do RBA

domingo, 23 de agosto de 2020

O FIM DO MUNDO E O BIG BANG BOLSONARISTA DE PAULO GUEDES, POR FERNANDO BRITO

Creia ou não o respeitável público, teremos amanhã o festim do “”Encontro Brasil vencendo a Covid–19“, direto do Palácio do Planato, quem sabe para comemorar, na base do “tem de manter isso” as mil vidas que são ceifadas todos os dias e as 115 mil que, naquele dia, já se foram.
No dia seguinte, no mesmo Pátio dos Milagres, comemorar-se-á o “Big Bang Day“, a recriação do mundo econômico do social por Paulo Guedes, que fará emprego e dinheiro jorrarem como um chafariz: a água é a mesma, não entra um litro sequer, mas os esguichos, certamente iluminados por feéricas luzes verdes e amarelas darão a impressão de que agora, cairá do céu o maná que a todos salvará da fome e do caos.
E não há problema em que seja uma ampliação – sabe-se lá de quanto – nos auxílios que antes Bolsonaro maldizia como combustíveis da preguiça e da vagabundagem. É que este Messias não se envergonha de arrogar-se Jesus e dizer: “Seus antepassados comeram o maná no deserto, no entanto morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo aquele que comer dele não morra’. (João, 6: 49,50).
Eu não vejo nenhum problema com milagres, desde que eles acontecessem. os homens da ciência econômica, harvardianos, surpreendentemente levam a sério esta patacoada imprudente que se está gestando e que será partejada pelo presidente que, orgulhosamente, diz que “não entende nada de economia”.
O que se vai fazer não é a clássica solução keynesiana – Guedes leu Keynes seis vezes no original e não entendeu lhufas – de executar uma política antirrecessiva com instrumentos estatais, mas o uso do estado para promover uma prestidigitação de programas sociais que tiram do trabalho formal, desestimulam o vínculo laboral e vão gerar zero emprego, porque a grande maioria das atividades que já existem não tem nenhuma razão – pela demanda deprimida – para contratar mais, com ou sem desoneração da folha.
Como o “Renda Brasil” depende da retirada de direitos constitucionais, como o abono salarial e o salário-família, é muito difícil que isso aconteça, pelo menos totalmente. Ainda que o consigam, representará injeção zero de recursos na economia, que só se vem mantendo em pé por conta dos R$ 50 bilhões – mais até – que estão sendo despejados pelo auxílio emergencial a mais de 60 milhões de pessoas.
E, ainda assim, basta sair às ruas e ver a situação que, aí em cima, o Jean Galvão mostra que só “aparece” por conta do frio no clima, não o dos corações, este permanente.
Tudo tem riscos e sérios: a desoneração patronal para empregos com valor de um salário-mínimo vai sacralizar o “por fora” para os trabalhadores menos aquinhoados. O “plus” do Renda Brasil por boas notas escolares é a melhor maneira de fraudar as avaliações pedagógicas: quer dizer que vão jogar nas costas dos professores “tirar” de uma família pobre vinte ou trinta reais por mês porque seu filho tem as dificuldades óbvias de aprendizado das crianças humildes?
Desculpem, vá ser meritocrata assim num lugar que a boa educação me impede de dizer.
Do tojolaço

SE FACHIN AGORA VÊ, NÃO PODE FINGIR NÃO VER, DIZ JANIO DE FREITAS, POR FERNANDO BRITO

Janio de Freitas, em seu artigo dominical na Folha, trata das recentes falas dos ministros Luiz Edson Fachin e Cármem Lúcia, do STF, sobre a “escalada do autoritarismo no Brasil após as eleições de 2018” e o retorno a situações que se pensava estarem sepultados com “uma fase mais negra da nossa História”.
Sem perdoar o fato de que se tratam de pretensões a colocar trincos em portas que deixaram arrombar, Janio afirma que estão obrigados a deixar de lado a omissão com que, diante do que estavam vendo, fingiam não estar vendo.
A repercussão negada pelos jornalistas não nega ao exame da atualidade pelo ministro Edson Fachin, do Supremo, a condição de mais importante pronunciamento de um integrante das altas instituições brasileiras, ao menos desde iniciado o governo Bolsonaro, se não desde a queda de Dilma Rousseff.
A “recessão democrática” ainda não recebera nada no nível adotado por Fachin, exceto em parte pelo ministro Celso de Mello.
Objetivo como os magistrados evitam ser, claro e simples como os magistrados detestam ser, franco e lúcido como deveriam ser as considerações necessárias dos magistrados, Fachin advertiu que “as eleições de 2022 [as presidenciais] podem ser comprometidas se não se proteger o consenso em torno das instituições democráticas”. Proteger de quê ou de quem?
O diagnóstico é forte e destemido: há “uma escalada do autoritarismo no Brasil após as eleições de 2018”, gerada pela existência de “um cavalo de Troia dentro da legalidade constitucional” do país.
“Esse cavalo de Troia apresenta laços com milícias e organizações envolvidas com atividades ilícitas. Conduta de quem elogia ou se recusa a condenar ato de violência política no passado”. O que inflama o presente com “surtos arrogantes e ameaças de intervenção”.
No Supremo, a ministra Cármen Lúcia pareceu dar eco às palavras de Fachin no Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral. Considerou triste a volta forçada do tribunal, diante do dossiê do Ministério da Justiça contra antifascistas, “a este assunto quando já se acreditava ser apenas”, ou ter sido, “uma fase mais negra da nossa História”. Nada a ver com o dito por Fachin, se até agora Cármen Lúcia tinha tal crença. Mesmo a tristeza soa irrealista.
Não faltaram ocasiões em que o Supremo e o TSE foram chamados a sustar a candidatura que atacou a democracia com a defesa da ditadura e da tortura, atacou as instituições constitucionais, prometeu acabar com os petistas e outros, anunciou uma população armada, transpirou ódios preconceituosos e vocação homicida. Isso tudo expelido por uma perturbação mental indisfarçável e com histórico comprovado.
Hoje não faltam crimes de responsabilidade acumulados. Como não faltam mortes pela Covid, não combatida de fato e inocentada para os incautos. E nem é só o figurante principal que continua inatingível pela defesa da ordem constitucional e do devido à população.
Flávio Bolsonaro não precisa controlar as revelações que se sucedem sobre sua delinquência, porque controla a passividade do Senado e o vagar dos seus inquéritos. Carlos Bolsonaro nem interesse demonstrou pelas revelações que o atingem. Fabrício Queiroz e seus contatos milicianos estão protegidos.
A instauração e a ameaçadora continuidade do descrito por Edson Fachin, como ninguém ousou fazer nas altas instituições, têm corresponsabilidades no Judiciário e no Congresso. Mas aí mesmo, na impossibilidade de negar o exposto pelo ministro, ficará mais difícil não ver o que está vendo, para não fazer o que deve.
Do aTijolaço

sábado, 22 de agosto de 2020

SUPREMO FARÁ DELTAN SER JULGADO OU ELE ESTÁ ACIMA DA LEI?, FERNANDO BRITO


O ministro Luiz Edson Fachin, ao determinar que o Conselho Nacional do Ministério Público preste, até segunda-feira, informações sobre as razões dos intermináveis (já são 42) adiamentos do julgamento da ação que o ex-presidente Lula move contra Deltan Dallagnol pelo “powerpoint” em que o acusava de chefe de uma organização criminosa, está agindo a sério ou preparando mais uma chicana jurídica?
Aquela acusação, afinal, foi objeto de um processo perante a Justiça Federal e, em última instância, considerada improcedente.
Foi, porém, exibida por Deltan Dallagnoll, ao vivo, em rede nacional.
Só que, no próximo dia 13 de setembro, sua eventual culpa prescreverá e, assim, garantirá a impunidade ao procurador “intocável”.
Seria, afinal, a consagração do “Aha-Uhu, o Fachin é nosso” da Vaza Jato do The Intercept.
Aliás, o Supremo não tem economizado em proteções ao enfant terrible da Lava Jato
É uma última e precária esperança de que aquele espetáculo midiático mereça castigo, ainda que quatro anos depois de ter sido realizado e produzido os efeitos político-eleitorais que pretendia.
Do Tijolaço

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

FLÁVIO DINO LANÇA PLANO DE INVESTIMENTO NO VALOR DE R$ 558 MILHÕES EM EMPREGOS NO MARANHÃO


O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), lançou, na manhã desta quinta-feira (20), o Plano Emergencial de Empregos (PEE) Celso Furtado, que prevê R$ 558 milhões de novos investimentos públicos no estado até dezembro. Em anúncio transmitido pelas redes sociais, Dino declarou que, ao estimular a economia maranhense, sua gestão visa “zerar o efeito recessivo da pandemia”.
Em termos numéricos, o PPE tem uma meta: repetir o número de empregos gerados no período de agosto a dezembro de 2019 – quase 63 mil vagas, conforme o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Para Dino, é possível que, nos cinco meses finais de 2020, o Maranhão se aproxime dessa marca, vencendo a crise econômica e continuando a gerar postos de trabalho. “É a defesa do Maranhão, das empresas e dos empregos, do trabalho e dos empreendedores do nosso estado.”
O PPE terá várias fases. Nesta primeira, de agosto a dezembro, haverá injeção de recursos públicos em novas obras e compras, distribuídas em 11 eixos: obras em infraestrutura (R$ 218 milhões); obras educacionais (R$ 144 milhões); saúde (R$ 31 milhões); cultura, esporte e lazer (R$ 78 milhões); meio ambiente (R$ 36 milhões); habitação (R$ 10 milhões); segurança (R$ 20 milhões); agricultura familiar (R$ 6 milhões); agricultura e pesca (R$ 6 milhões); desenvolvimento social (R$ 4,4 milhões); e economia solidária (R$ 3,5 milhões).
Entre os projetos, estão obras de ampliação e recuperação de rodovias estaduais, a modernização porto do Itaqui, o campus Balsas da Uema (Universidade Estadual do Maranhão), policlínicas em Açailândia, Santa Inês e Presidente Dutra, o novo Socorrão de Imperatriz, um hospital em São Luís, editais para o setor cultural e para o programa Maranhão verde, parques ambientais e mais recursos para o cheque Minha Casa. Haverá também investimentos no sistema penitenciário. “São Luís saiu da lista das 50 cidades mais violentas do mundo. Não vamos parar isso”, afirmou Dino.
A essas medidas se soma uma série de isenções fiscais, anistias e renegociações que o governo Flávio Dino já decretou para minimizar os impactos da crise no Maranhão. Na opinião do governador, o Estado, como indutor econômico, deve buscar a convergência com a iniciativa privada, sem cair na política ultraliberal do governo Jair Bolsonaro.
O patrono do PPE, o economista nordestino Celso Furtado, foi o idealizador, em 1959, da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). No lançamento do PPE, Dino citou um célebre máxima de Furtado: “Pensar que o mercado vai substituir o Estado é uma ilusão”.
Com o anúncio, Dino também frisou a importância de “sinalizar o caminho da retomada, que certamente não é essa agenda equivocada, depressiva, desesperançada, antinacional e antipopular”. Segundo o governador, “os arautos da contração fiscal expansionista” propagam “ideologia, mistificação”. Essa política “não está sendo feita nos Estados Unidos, não está sendo feita na União Europeia, não pode ser feita no Brasil”.
Flávio Dino renovou o convite ao presidente Jair Bolsonaro por uma parceria nacional entre Presidência, governos estaduais, empresários e trabalhadores. “Pacto Nacional pelo Emprego – esta é a agenda do Brasil”, ressaltou o governador do PCdoB. “Os governos servem para liderar. Quem não sabe liderar, que não atrapalhe.”
Do PCdoB

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

KAYAPÓS LUTAM POR CUMPRIMENTO DE REGRAS PARA SALVAR SEU ECOSSISTEMA


Indígenas pedem que Funai siga protocolos legais, para se protegerem de empreendimentos no Pará e afirmam que se não houver diálogo eles farão, novamente, o bloqueio total da BR-163.
(Foto: Mydjere Kayapo Mekrangnotire)
 Brasil de Fato - Uma reunião realizada na tarde desta quarta-feira (19), com lideranças Kayapó Mekrangnotire e representantes do Ministério Público Federal (MPF) buscou soluções para resolver os problemas que levaram os indígenas a realizar o bloqueio na BR-163, no sudeste do Pará, na última segunda-feira (17). Depois de uma reunião dos caciques, parte da via foi liberada, mas os indígenas afirmam que se não houver diálogo eles farão, novamente, o bloqueio total da rodovia. A região, como um todo, é ameaçada por um conglomerado de empreendimentos econômicos.
A liderança Mydjere Kayapo Mekrangnotire explica que, até o momento, nenhum órgão foi dialogar com os indígenas, apenas, o MPF, que apoia as suas reivindicações. 
"Tivemos a BR-163 bloqueada até que uma autoridade, o pessoal da Funai, ou da Saúde, Cesai, Ibama, DNIT, possa vir conversar com a gente. Hoje (quarta) tivemos uma reunião com o pessoal do MPF e eles vão nos ajudar a cobrar o pessoal da FUNAI. Os caciques decidiram abrir um pouco a BR, mas sem resposta da FUNAI vamos voltar a fechar, de novo", diz o indígena Mydjere Kayapo Mekrangnotire. 
Procurada pelo Brasil de Fato, a Funai disse, em nota, que "está no local e acompanha, junto à Polícia Rodoviária Federal, as negociações para desobstrução da BR-163".
O órgão disse ainda que "cabe ressaltar que já foi expedido pela Justiça Federal um mandado para liberação da rodovia".
Na quarta (19), o MPF entrou com recurso no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, contra a ordem de reintegração de posse concedida pela Justiça Federal de Itaituba, no Pará na última segunda-feira (17). A decisão prevê a retirada, com força policial, dos indígenas que protestam na rodovia.
Segundo o MPF, a ordem judicial foi pedida pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e emitida pela Justiça sem aviso ao órgão, que tem o dever constitucional de proteger os direitos indígenas e deveria ter sido intimada sobre o pedido para poder se manifestar.
A ordem de liberar a estrada fixou multa diária de R$ 10 mil aos indígenas. O MPF classifica a decisão como "afronta aos princípios e valores do ordenamento jurídico-constitucional".
O problema
As reivindicações são por melhorias da saúde indígena e também contra as invasões de madeireiros, mineradores, garimpeiros. Até o momento, Os Kayapó Mekragnotire totalizam 403 casos da covid-19 e apenas um médico atende toda a etnia.
Nas duas terras indígenas onde vivem os manifestantes, Baú e Mekragnoti, a Secretaria de Saúde Indígena não tem motoristas, nem carros para remover pacientes que necessitem de hospitalização, segundo o MPF.
Além da desassistência na saúde, em dezembro de 2017 a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) assinou uma ata de compromissos na qual garantia que o projeto da empresa interessada na área, Ferrogrão, não seria encaminhado para o Tribunal de Contas da União (TCU) sem a realização do processo de Consulta, Livre, Prévia e Informada com os Kayapó.
Progresso?
O projeto prevê a construção de uma ferrovia de 932km destinada ao escoamento de grãos como soja e milho que liga Sinop, no Mato Grosso, até Mirituba, no Pará.
Mas Johny Fernandes Giffoni, pesquisador, mestrando em direitos humanos e defensor público do estado do Pará explica que a Fundação Nacional do Índio (Funai) deveria auxiliar os indígenas no processo de consulta prévia, livre e informada e isso não foi feito. 
"Um dos papeis que a Funai descumpriu foi a realização do processo administrativo de consulta e consentimento livre, prévio e informado tomando como base o protocolo de consulta Kayapó e Munduruku. E qual vai ser o impacto dessa rodovia? Essa rodovia precisa ser olhada em um contexto de mais de 30 empreendimentos e mais de 30 políticas públicas que estão sendo executadas no território paraense em toda a Amazônia Legal", diz ele. 
Em junho deste ano, o governo federal protocolou o Plano de Outorga da ferrovia no TCU sem a realização da consulta. Em julho, o Observatório De Olho no Xingu da Rede Xingu+ encaminhou uma Nota Técnica sobre o descumprimento do direito de Consulta aos povos indígenas no momento em que a ANTT e o Ministério da Infraestrutura encaminharam o Plano de Outorga para concessão.
Questionada por que não fez a consulta, a Funai não respondeu à reportagem. 
O mestrando em direitos humanos diz ainda que esses projetos afetam diversas comunidades em nome de um discurso do desenvolvimento.
"A Ferrogrão não é um empreendimento isolado. Ela está dentro de um conjunto de empreendimentos que está atacando todas as terras indígenas do estado do Pará e também outras comunidades. Quando eu falo de Ferrogrão, falo do complexo logístico naquela região com os portos, por exemplo, a hidrelétrica, o aumento da área para cultivo. É o que a gente chama de corredor logístico neodesenvolvimentista", resume.
Se não houve diálogo com as comunidades, alerta ele, as perdas são inúmeras, seja para as comunidades tradicionais assim como para o meio ambiente e a sobrevivência do ecossistema da Amazônia. 
"Várias espécies de animais que estão em risco de extinção que ser colocadas em risco pelo desmatamento. Vai ser um impacto que a longo prazo coloca em risco além da sobrevivência desses povos, mas também todo o ecossistema ambiental no qual estamos inseridos." 
Do 247/BdeF

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

ARAS E ANDRÉ MENDONÇA SAEM DERROTADOS NO CASO DO “DOSSIÊ ARAPONGA”, POR FERNANDO BRITO

O voto de Carmem Lúcia, primeiro e único dado hoje na ação que pede a suspensão do dossiê feito pelo Ministério da Justiça contra integrantes de movimentos antifascista, deu por vencido o que seria o primeiro e mais difícil obstáculo para a responsabilização do Ministro André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”.
Ao reconhecer o direito de interromper lesão de direito iniciada, embora não consumada em atos oficiais de persecução penal, a ministra bloqueou o que poderia parecer uma “saída honrosa” para votos que, recusando-se a examinar a matéria, tratariam o “dossiê dos antifascistas” como mera peça de informação, não um ato de espionagem sobre cidadãos.
Era o caminho apontado por Augusto Aras, que atuou não como procurador geral da República, mas como advogado do governo, vergonhosamente.
No seu conceito, voltar as lentes dos órgãos públicos sobre quem quer que seja, sem que haja indícios de algum crime, praticado ou iminente, é direito do Estado, o que é evidente absurdo, porque seria estabelecer previamente e por motivos políticos, quem seriam os “perigosos”.
A votação continua amanhã e é possível que até seja concluída, porque o seu acolhimento já, praticamente, define o resultado, talvez com um único voto contrário, o de Luís Fux, uma péssima “estreia” do novo presidente do STF, a partir do mês que vem.
Mas talvez por isso, talvez nem Fux vote contrariamente.
O “mico”, afinal, ficará para Augusto Aras, que vai se mostrando, ainda que “pau para toda obra” do governo Bolsonaro, outro que vai ficando, como André Mendonça, mais longe da cadeira do Supremo que vai se abrir com a aposentadoria de Celso de Mello.
Este, aliás, vai aumentando o seu “coeficiente de incógnita”, ao pedir licença médica a apenas três meses de sua aposentadoria, e de ser o voto decisivo no julgamento da suspeição de Sergio Moro.
Ou é para ter uma reentrada triunfal ou uma saída providencial.
Se tivesse de apostar, ponho as fichas na primeira hipótese.
Do Tijolaço

terça-feira, 18 de agosto de 2020

CELSO DE MELLO SUSPENDE JULGAMENTO E DEIXA DELTAN “PENDURADO”, POR FERNANDO BRITO

Como o Brasil se tornou um país onde a política é ditada não pelos partidos e pelo Congresso, mas pelos tribunais, quem escreve sobre política parece ter perdido o direito de descansar, mesmo depois das dez da noite.
Foi o que aconteceu ontem, quando já bem tarde se divulgou a decisão de Celso de Mello suspendendo o julgamento das reclamações disciplinares contra Deltan Dallagnol que, rolando há mais de um ano e depois de sucessivos adiamentos, iriam ser decididas hoje no Conselho Nacional do Ministério Público.
É uma reviravolta que coloca Deltan a depender da decisão sobre a suspeição de Moro, como antes se via o destino do procurador comoavant-première do que aconteceria ao ex-juiz.
Claro que – como lembra o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, no DCM – Deltan tem direitos a serem preservados, inclusive o de se valer dos recursos judiciais para enfrentar as acusações de desvios funcionais, como é o caso, os mesmo direitos que, quando se tratava de suas “vítimas” ele ele dizia que verem defendidos pelo Supremo indicava uma “leniência” do STF com a corrupção.
Aplicado o mesmo raciocínio, seria agora uma “leniência” com o abuso de poder, com o atropelo das garantias individuais e com o abandono da constitucional presunção de inocência.
Alguns acham que Celso de Mello agiu para deixar o caso Moro em suspenso, para que seja seu grande momento , ao sair do STF. Talvez, mas é de dar meldo que as “soluções corporativas” continuem a ser a “grande lei” da Justiça brasileira.
Do Tijolaço

XADREZ DE DELTAN, O BOI DE PIRANHA DA HIPOCRISIA NACIONAL, POR NASSIF

Hoje em dia, Deltan Dallagnol está reduzido à sua verdadeira dimensão: um jovem procurador choramingando pelas cantos do Twitter e clamando por apoio. A cada dia que passa, mais Sérgio Moro vai sendo trazido de volta para seu próprio tamanho.
MOVIMENTO 1 – O APOGEU DA LAVA JATO
Primeiro, houve o impacto da dimensão da corrupção instalada na Petrobras. Em cima desse impacto, o efeito manada com claras intenções políticas. Todos os abusos foram permitidos, de invasão de escritórios de advocacia à tortura moral para arrancar delações; narrativas sem evidências, sem provas, sem verossimilhança aceitas e transformadas em armas políticas. E um partidarismo amplo, acelerando as investigações contra o PT e poupando o PSDB.
Tinha-se um Supremo Tribunal Federal (STF) totalmente submisso à onda. Votos dissidentes só eram apresentados quando havia maioria consolidada em favor das investigações. Os dissidentes tentavam salvar sua biografia graças ao voto majoritário, dos que não se importavam nem com a Constituição nem com a imagem de defensores da lei.
MOVIMENTO 2 – O OCASO DA LAVA JATO
A Lava Jato começou a decair quando o STF, corretamente, passou a encaminhar a outros estados processos que não se referiam diretamente à Petrobras. O enorme esforço da Lava Jato Curitiba – e do juiz Sérgio Moro – para assumir todos os processos era uma questão de preservação de poder.
À medida que os casos iniciais iam se encerrando, a estrela da Lava Jato foi se apagando, obrigando-a a avançar, com enorme relutância, sobre partidos aliados.
Quando o STF se deu conta de que delações, inquéritos e processos  eram carta marcada, e direcionadas, resolveu diluir o poder da Lava Jato Curitiba permitindo à Polícia Federal negociar delações. Apenas não lhe deu o poder de definir penas. A votação, no plenário, foi de 10 x 1 em favor da PF.
Consequência: espalhou gasolina para outros poderes. O grande problema das delações não era a definição de penas – embora os acordos de leniência fossem obscuros, espalhando suspeitas sobre as relações da força com advogados de delação -, mas a exploração política.
O episódio da delação de Antonio Palocci é a demonstração do erro crasso do STF e conta pontos para a Lava Jato Curitiba, que não aceitou o acordo, dada a fragilidade das denúncias. No Vaza Jato, aliás, uma procuradora séria se espanta com a fragilidade da delação de Pallocci.
Agora, um delegado  da PF desmonta a delação, mostrando que foi montada, em grande parte, em cima de pesquisas no Google.
Como sempre ocorreu em toda Lava Jato, algumas verdades aparecem, mas só apenas depois que o mal está feito. E o mal foi o uso político da delação na véspera das eleições de 2018.
Aliás, é mais provável que a retificação da PF tenha por objetivo livrar o banco BTG, de André Esteves, do que tratar Lula com isenção.
MOVIMENTO 3 – OS MOVIMENTOS ERRÁTICOS DO SUPREMO
Ontem, o principal agente da Lava Jato no Supremo, Ministro Luiz Edson Fachin, cometeu a primeira e curiosa alta-crítica (com L mesmo, uma modalidade de autocrítica em que se critica o crime que se cometeu como se fosse de responsabilidade de terceiros).
Disse que a inabilitação de Lula para as eleições foi o pior erro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que ele, Fachin, foi voto vencido.
A decisão que tirou Lula do jogo foi a votação para a prisão de 2a instância. O voto decisivo foi da Ministra Rosa Weber, lendo um voto extenso que, por todos os indícios, tinham sido preparado pelo próprio Fachin – que votou também pela prisão em 2a instância com o objetivo precípuo de impedir a saída de Lula da prisão.
Além das declarações de Fachin, há um movimento dos Ministros de maior visibilidade, cada qual se valendo da sua própria dimensão política.
Por exemplo, Gilmar aproxima-se de grupos democráticos de advogados e até do MST (Movimento dos Sem Terra) e, ao mesmo tempo, fortalece o inquérito das fake news e, na outra ponta, alisa Bolsonaro domado, autorizando a volta de Fabrício Queiroz para a casa. Enquanto isto,  Luís Roberto Barroso se torna mediador de debates de youtubers terraplanistas. Cada qual com um desafio à altura da sua dimensão política.
Próximo presidente do STF, Luiz Fux impede que o Conselho Nacional do Ministério Público julgue Deltan Dallagnol, mantendo a tradição horrorosa do Supremo, da imposição de decisões monocráticas.
O STF cresceu, quando se interpôs à ofensiva do ódio de Bolsonaro. Contida a besta, volta às indecisões anteriores.
MOVIMENTO 4 – A OFENSIVA SOBRE OS PROCURADORES
A decisão de Fux interrompeu o que parecia ser a primeira decisão do CNMP superando o corporativismo das decisões. Parecia que, pela primeira vez, haveria uma censura pública aos abusos cometidos pela Lava Jato Curitiba, a manipulação das delações, o exibicionismo, os ganhos financeiros com o trabalho, as vinculações políticas.
Mas, ao mesmo tempo, trata-se de uma situação complexa.
Deslumbrado, inexperiente, Dallagnol foi ocupando os espaços que lhe eram oferecidos. Recebeu aval  do Procurador Geral Rodrigo Janot, que nada fez para definir limites, mesmo sabendo do risco de imagem para todo o MPF. Teve o apoio maciço de seus colegas e da Associação Nacional do Ministério Público (ANPR), julgando que tinham sido erigidos a 5o poder. Contou com o apoio caloroso do Ministro Luís Roberto Barroso, encantado com o marketing juvenil anti-corrupção. Foi cortejado por jornalistas para quem, tê-lo como fonte contava pontos profissionais. Aceitou-se acriticamente o ridículo de seu salvacionismo, suas orações em templos religiosos e, claro, suas palavras altamente remuneradas em templos financeiros. Sem eles, Dallagnol seria apenas um rapaz latino-americano, incrustado em Curitiba, indo muito além das suas chinelas.
Lembro-me de uma conversa com a economista de um desses bancos, espantada com as exigências de cachê de Dallagnol.
Hoje em dia, Deltan Dallagnol está reduzido à sua verdadeira dimensão: um jovem procurador choramingando pelos cantos do Twitter e clamando por apoio. A cada dia que passa, mais Sérgio Moro vai sendo trazido de volta para seu próprio tamanho. E se tornam – especialmente Dallagnol – o boi de piranha preferencial para medidas de contenção do poder dos procuradores em geral em um momento em que a Lava Jato acabou.
Quando procuradores lavajatistas deslumbrados invadiram o Twitter, houve um movimento para o CNMP censurar os ativistas.
Quase todas as sanções se voltaram contra procuradores independentes.
Agora se pretende avançar sobre as prerrogativas dos procuradores, tendo como pressuposto a necessidade imperiosa de usar Dallagno, como exemplo, inclusive a possibilidade de afastamento dele da operação.
Não se leva em conta que, aberta a exceção, os alvos preferenciais serão os procuradores que não se ligam a panelas, aqueles que exercem seu trabalho individual sem se curvar a influências políticas, financeiras ou de grupo e sem faturar financeiramente com seu trabalho.
Esse é o ponto que deveria acordar os que batalham por um MPF independente: a aplicação das penas estará nas mãos “deles”.
Do GGN

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

MILITARES, STF E AS ELITES: DO “KIT GAY” À PIROCA AZUL TURQUESA, POR ARMANDO COELHO NETO

O inquérito sobre fake news é uma focinheira para o Bozo e a pretensa cassação da chapa Bozo/Morão é a focinheira para esquerda.
Leprocracia. Até segunda ordem, inventei esse termo para me referir à sociedade regida por Moros, Marinhos, Malafaias, maçons e militares. Para não ficar só na letra M, incluo Ratinhos e outros sobrenomes ditos “nobres” que dão suporte à miséria do povo. São leprosos morais que norteiam a democracia necrosada de que falo.
Moro simboliza a excrescência do judiciário. Marinhos e Ratinhos formadores de opinião das elites, classe média e pobres. São produtores das cabeças aptas a definirem uma eleição. A miséria e a corrupção são a galinha dos ovos de ouro da “leprocaracia sejumoriana”. Vive do crime social e com ele se potencializa.
Das trevas, por meios de seus TFA (Tríplice Abraço Fraterno), maçons (salvo exceções) glorificam valores morais que (não) regem a leprocracia. Possui tentáculos em qualquer microesfera de poder da leprosa República. Aliás, o vice Mourão (tecla SAP do Bozo) é “príncipe do real segredo” e ostenta o grau 33.
Já os militares. Ah, os militares (!), com baionetas apontadas para o povo e o fiofó para a mira dos EUA (exceções silentes), são braços armados que garantem que a leprocracia avance, se preserve, se recicle e se eternize. O importante é a hierarquia, pois democracia é um cachorro livre para andar no limite da coleira.
Eis os tentáculos de nossa sociedade meritocrática, parte dela enfiada até o pescoço em vários escândalos, entre quais o Caso Banestado – agora sabor laranja Folha de S. Paulo. No centro, Dario Messer – o doleiro dos doleiros e mito da Farsa Jato. Denunciou sem provas (mas com convicção) o líder do “Grupo Januário” e a Globo.
A leprocracia precisa críticos eloquentes para ter ares civilizados. Sob complexo de Haiti, teme parecer Coréia, Cuba ou Venezuela. Daí precisar de Moro (herói Zé Roela da Globo), Joice – que manda seus críticos à merda em francês – igualzinho ao desembargador elitista e truculento de Santos (cloroquinista antipandêmico).
– E o que a piroca azul turquesa tem a ver com tudo isso?
No Brasil os debates políticos não são feitos para conhecer as soluções que os políticos têm para determinados problemas ou apresentarem propostas para serem examinada pelo eleitor, que escolherá a melhor. Exemplo: pode o Brasil ser uma sociedade com direitos ou sem direitos? Mais justa e igual? Como? Qual o custo?
Mas, os candidatos são chamados para se defenderem das acusações que a imprensa, Moros, procuradores da República e outros convictos fizeram contra eles, pouco importando se mais tarde seriam absolvidos ou não. Os debates existem para desqualificar os candidatos, assim como a Globo fazia com Lula, Dilma…
Foi num debate assim na Inglaterra, só para detonar político, que um ursinho de nome Waldo participou como debatedor só para avacalhar o outro convidado, o qual reagiu dizendo: você nada propõe, só agride, envergonha a política. E ele respondeu: “eu sou apenas um ursinho com a piroca azul turquesa” (1).
A história da piroca azul viralizou igualzinho ao “Kit gay” do pilantra que ainda ocupa a Presidência da República no Brasil, o qual sem propostas concretas, só agredindo adversários e prometendo “acabar com tudo isso que está aí”, exibiu seu “Kit gay”. Se pudesse, teria dito ser um ursinho fascista que tem uma piroca azul turquesa.
Pois bem. Há tempos um mineirinho andava sumido, mas apareceu adoentado em São Paulo, perto da fraude eleitoral de 2018, só para votar no Bozo, “pois um voto a menos poderia fazer a diferença”. Enfático e esclarecido como um espectador do Ratinho, disse: “Não quero ter um filho gay. Meu voto é a salvação de meu filho”…
O mineirinho não viu “mamadeira com formato de piroca”, mas estava lá no “kit gay” (que não viu). Mas, Bozo “teve a coragem” de mostrar no Jornal Nacional, na edição que não assistiu, e na qual Bozo teria exibido o kit. “Aqui não é Holanda, Cuba nem Venezuela”, disse cheio de convicções sem prova no melhor estilo Moro/Globo/Veja.
É duvidoso que nem os apresentadores do Jornal Nacional, nem a equipe de produção tenham visto o Bozo acessar à bancada do JN com o tal kit, de forma que repreender o então candidato soou falso. Só recentemente, para atacar Bozo, o JN insinuou que o tal kit não existiu numa matéria sobre fake news. Tarde, não?
Eleição da mentira, o Tribunal Superior Eleitoral reconheceu ter havido invasão da página “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”. Mas, disse que isso não teve “o condão de desequilibrar o pleito”. Velho truque: desqualifica acusações no varejo e desconsidera o conjunto da obra. Ponto para a leprocracia sejumoriana.
Também há pouco, parte da Corte Suprema sentenciou que Moro errou ao juntar e divulgar delação premiada de Palocci, há seis dias das eleições. Tal delação, aliás, fora rejeitada pelos savonarolas da Farsa Jato. Mas, o “Espírito do Tempo” aceitou, e, não se sabe se o TSE vai achar se isso teve “o condão de desequilibrar o pleito”.
Pelo critério do TSE é difícil saber se o fato A ou B foi determinante para desequilibrar a fraude eleitoral de 2018. Por exemplo, a agência Enviawhatsapps teria sido contratada por “empresas, açougues, lavadoras de carros e fábricas” para fazer disparos para o candidato Bozo. Teria isso desequilibrado o pleito? Foi legal?
Pensemos. Golpe eleitoral de 2016. Aceitação e redenção de Michel Temer. Controle da prisão e soltura de Lula, agenda do STF sob influência militar. Tentativa de destruição do PT. Tudo isso faz parte de um mesmo caldo, enquanto a Justiça das elites é o poder da República que mais falta às causas populares. Ah ah hurru!
O caudilhismo das elites é o suporte da leprocracia como tal conhecida. O inquérito sobre fake news é uma focinheira para o Bozo e a pretensa cassação da chapa Bozo/Morão é a focinheira para esquerda. A vitória de Lula no STF e o julgamento da parcialidade de Moro não passam de refrescos para o romantismo petista.
Dos militares ao STF, desses às elites, ninguém precisa propor ou explicar nada, basta dizer que tem uma piroca azul turquesa e provocar gargalhadas. “Vocês são todos iguais, e é culpa de vocês se a democracia virou uma piada e ninguém sabe mais para que ser”, disse o ursinho Waldo…
1 – Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. Giuliano Da Empoli – Ee. Vestígio
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal ex-integrante da Interpol em São Paulo.
Do GGN

sábado, 15 de agosto de 2020

ZEMA PRETENDIA EXTERMINAR QUILOMBO. PERDEU, DIZ MARCELO AULER

O governador Romeu Zema (Novo) não impediu que a Polícia Militar de Minas Gerais aterrorizasse por mais de três dias as cerca de 450 famílias de agricultores assentadas no Quilombo Campo Grande.
Os apelos vieram de todos os lados, de pessoas e autoridades das mais diversas tendências políticas, mas contrariando suas promessas feitas no início da semana, o governador Romeu Zema (Novo) não impediu que a Polícia Militar de Minas Gerais aterrorizasse por mais de três dias as cerca de 450 famílias de agricultores assentadas no Quilombo Campo Grande, no município de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. São famílias ali instaladas há 22 anos que transformaram a área de uma usina de açúcar falida em campo de produção de alimentos orgânicos.  A violência contra elas aumentou na tarde de sexta-feira (14/08). A repercussão negativa foi tamanha que no final do dia o Batalhão de Choque se retirou do local dando por encerrada a operação. Os ânimos serenaram.
Ao final da operação policial seis famílias foram desalojadas, a Escola Popular Eduardo Galeano, que oferecia educação popular aos jovens, crianças e adultos, foi totalmente destruída e um galpão que atendia aos agricultores foi esvaziado. A mobilização dos agricultores e o apoio que receberam de diversos setores da sociedade, porém, impediram que a ameaça maior – o desalojamento de todos – fosse concretizada. Apenas um pedaço da área – ainda que superior ao previsto – foi oficialmente reintegrada.
Em uma atitude inédita de espetacularização da operação, a ação da polícia militar mineira contou até com transmissão on line  (veja aqui). Nela, os oficiais alegavam que apenas cumpriam uma ordem judicial. Ordem que não se preocupou com a pandemia. Por isso, o despejo foi considerado “como um grave desrespeito e uma ameaça à vida em meio ao caos estabelecido pela pandemia, e torna-se um verdadeiro crime contra estas famílias” pelos bispos da Regional Leste 2 da CNBB. Como afirmaram em nota assinada por dom José Carlos de Souza Campos (da diocese de Divinópolis/MG) e dom Otacílio Ferreira Lacerda (da diocese de Guanhães/MG), respectivamente, presidente e bispo referencial da Comissão para Ação Social Transformadora da Regional Leste 2 da CNBB.
O tamanho da operação montada – mais de 250 policiais, incluindo o batalhão de choque com caminhão blindado (tipo brucutu), caminhões do corpo de bombeiro e até helicóptero, cujos voos visavam atemorizar as pessoas – transformou-se também em um sinal claro que o objetivo não era cumprir apenas a ordem judicial.
O plano do governo era maior”
A determinação, inicialmente, falava em reintegração de 26 hectares. Depois, o próprio juízo aumentou para 52 hectares. Segundo nota do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a operação policial foi além do que ordenava a liminar. Ainda destruíram casas e lavouras. Mas, na realidade, o aparato policial faz supor que a pretensão do governo Zema seria de exterminar o quilombo. Foi impedido pela resistência dos agricultores.
Isto explica, inclusive, o fato de terem isolado a área de tal forma que até deputados tiveram o acesso impedido, como denunciou a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT): “fomos impedidos pelo Comando Militar da operação na área de entrar pela via pública de acesso para nos encontrarmos com as pessoas. Questionado, afirmou que a operação de reintegração de posse não tinha terminado e que ele tinha protocolos a seguir. Informei que, como deputada estadual, tinha a prerrogativa de entrar, que os protocolos da Polícia Militar não são superiores a Constituição do Estado. Obtive como resposta de um Major voz de prisão se insistisse. Depois da ameaça do Comandante, dois sargentos começaram a filmar”.
A avaliação da deputada, que esteve no quilombo na sexta-feira em companhia dos deputados federais Rogério Correia e Odair Cunha e seus colegas na assembléia de Minas André Quintão e Ulysses Gomes, é de que o governo pretendia ir além do que mandou o juízo:
“Após analisar toda a operação montada, não resta dúvidas: Zema aparelhou o governo, gastou dinheiro público para fazer uma disputa ideológica e política, além de autorizar a prática de violência contra a população. Nada teve a ver com cumprimento de decisão judicial (…) três dias de operações, fora o tempo de deslocamento, diárias, hospedagens, alimentação. Tudo pago com dinheiro público para retirarem e destruírem a casa de 6 famílias, além da escola. O plano do governo era maior”.
Os policiais militares – “agindo dentro da lei e em cumprimento às ordens”, como definiu o oficial no vídeo – na quarta-feira, 12 de agosto, não impediram a destruição da escola feita, segundo dizem os policiais, por familiares do dono do terreno. O ato foi recriminado pelo bispo-auxiliar de Belo Horizonte, dom Vicente Ferreira: “De lamentar que a escola já está destruída. Infelizmente, em um tempo em que a gente precisa de mais educação”, protestou, na quinta-feira.
Nota do Tribunal de Justiça abria espaço para um adiamento da reintegração a partir da avaliação da Polícia Militar.
Desde o início da semana o governador Zema prometia suspender o despejo. Também o prefeito de Campo do Meio, Robson Machado de Sá (PSDB), dizia que apenas uma pequena área seria reintegrada. As promessas do governador, feitas pela rede social, falavam em deixar tudo para o pós-pandemia. Isso não parecia impossível. Afinal, o próprio Tribunal de Justiça, em nota (leia na ilustração ao lado), esclareceu que a ordem de despejo, datada do ano passado, teria que ser cumprida,  “entretanto, a avaliação a respeito da segurança do despejo está sendo feita pela Polícia Militar.”
Ou seja, havia margem para o governo do estado adiar o despejo. Inclusive atenderia às recomendações de infectologistas que se posicionaram contrários ao desabrigo de pessoas em plena pandemia. Mas Zema não apenas desrespeitou o prometido como deixou a polícia militar fazer uma verdadeira guerra psicológica contra os moradores por três dias seguidos – de quarta-feira (12/08) até sexta-feira no final da tarde.
“Despejar não é atividade essencial”, diz o bispo.
A promessa do prefeito foi feita ao bispo da diocese de Campanha (que engloba a região do acampamento), dom Pedro Cunha Cruz. Em pronunciamento por áudio aos demais bispos do país, dom Pedro, da ala conservadora da igreja, relatou sua conversa com o prefeito, na manhã de quinta-feira, quando ouviu que a operação já tinha ocorrido. O que não correspondeu à verdade:
“Em conversa com o prefeito Robson, de Campo do Meio, o mesmo assegurou que o despejo foi realizado ontem (12/08) somente nas residências de seis famílias que ocupavam uma área de propriedade privada, mas que não têm nenhuma relação com as 450 famílias que ocupam a área da antiga usina. A prefeitura de Campo do Meio já acolheu as três famílias despejadas deste terreno. Portanto, as 450 famílias da área da usina ainda permanecem no local e provavelmente sofrerão alguma ação judicial no pós pandemia”.
Dom Pedro terminou sua mensagem aos irmãos do episcopado prometendo genericamente seguir “rezando por estas famílias dentro do espírito do Pacto pela Vida e da ética do cuidado, como pede o nosso querido Papa Francisco”.
Do GGN