quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

SÓ A GLOBO CHORA O FIM INGLÓRIO DA ‘FRANQUIA’ LAVA JATO, POR FERNANDO BRITO

Não é o fim das investigações, como canta o chororô das viúvas de Sérgio Moro, porque elas seguem com os mesmos promotores.

Mas o início do fim de uma ‘franquia’, nascida em Curitiba, que passou a designar a atuação do Ministério Público e do Judiciário na contramão do “não haverá juízo ou tribunal de exceção” inscrito no Art 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal.

Isso quer dizer que não se julgará – e nem se processará exclusivamente com um grupo de procuradores – possíveis crimes em razão da natureza de seus supostos autores.

Esta é a raiz de tudo o que aconteceu nos últimos sete anos.

Um diretor corrupto da Petrobras – Paulo Roberto Costa – operando através de um informante de Sérgio Moro, Alberto Youssef, libertado por ele em troca de delações no caso do Banestado, e seu ex-sócio, o deputado federal José Janene – daria início a um processo que, desde o início, tinha alvos definidos: o governo, o PT e o grande prêmio, o ex-presidente Lula.

Claro: em governo algum – naquele, neste e em outros, por toda a parte do mundo, não hão de faltar corruptos, gente que encara a função pública como um bilhete premiado de uma loteria secreta. E corrupção de todos os tipos, porque muitas vezes ela é indireta, vem das vantagens políticas e econômicas que lhe dá exercer cargos com notoriedade.

O tribunal de Curitiba, chamando a si tudo o que dizia ter respeito à Petrobras deu origem a inacreditável frase de um dos procuradores, nas mensagens agora reveladas: “Se o avião usou combustível da Petrobras [o caso] é nosso!”, na falta de competência para investigar informações oferecidas pelo próprio Moro que seriam “a pá de cal no 9”. O 9 – o “Nine”ou 9 dedos, como se referiam a Lula.

O nome Lava Jato se tornou símbolo de um processo político que nos levaria a Temer e, depois a Bolsonaro. Mas a ambição pessoal que movia Sergio Moro acabou sendo o veneno que o mataria, deixando viva e ameaçadora a sua criatura, Jair Bolsonaro, com seus 28 anos de inserção nos ambientes mais corrompidos e desclassificados da política e do Congresso.

Repita-se, foi no útero do ódio político que se gestou o Frankenstein que nos preside, mas não contava que este fosse voltar-se contra ele para ser o único dono da histeria e do fanatismo.

Este útero foi a Globo e foi lá que o embrião inseminado por Moro cresceu e pariu-se nas eleições de 2018.

Nem o Império dos Marinho, nem o ex-juiz decaído podem, porém, confessar que ele é seu fruto.

Agora, e nisto o chororô está certo, a Lava Jato judicial está morta e precisa ter, como diria a turma do Deltan, a sua “pá de cal” com a declaração judicial da suspeição de Moro.

Este será o primeiro passo para que nos livremos da histeria irracional que a defunta deixa como espólio e que vai exigir-nos muita dor para dissipar.

Tijolaço.

CASO DO AVIÃO DA FAB COM COCAÍNA POUCO AVANÇA, APÓS UM ANO E MEIO DO OCORRIDO

 

Os 39 kg de cocaína apreendidas com militar da FAB preso na Espanha, em junho de 2019 - Foto: Guarda Civil de Sevilla.

O caso do avião da FAB apreendido com 39 kg de cocaína na Espanha, que integrava comitiva presidencial e que deveria estar aos olhos da Abin (Associação Brasileira de Inteligência) e do próprio GSI (Gabinete de Segurança Institucional), caminha a passos lentos.

A investigação começou em janeiro do ano passado e a última movimentação ocorreu em agosto, informou Andreia Sadi, em sua coluna para o G1. Após quase 6 meses, a apuração segue paralisada por um embate entre a Justiça, o Ministério Público Militar e os advogados.

Segundo a reportagem de Sadi, a Justiça Militar ouviu, até agora, 37 pessoas no inquérito sobre o tráfico por um sargento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, Manoel Silva Rodrigues, que foi preso na Espanha, em junho de 2019.

Os membros da FAB participaram tanto da Operação deflagrada nesta terça (02), quanto do andamento da apuração na Justiça. Um dos alvos ontem, o tenente coronel Piovesan de testemunha passou a ser também investigado.

Segundo a colunista, com todo o material coletado, os depoimentos e a investigação já escancaram “várias falhas na fiscalização e no controle de bagagens”, mas até agora nenhum militar de alta patente foi responsabilizado.

O coronel Piovesan, por exemplo, chegou a ser investigado, mas ao apresentar a denúncia, o Ministério público pediu o arquivamento da apuração contra ele, sendo somente exonerado do GSI. Para a Polícia Federal, contudo, ele segue suspeito. Ainda, para as autoridades, é claro o vínculo do sargento preso na Espanha, Manoel, com Piovesan.

Uma das testemunhas ouvidas chegou a afirmar que o sargento Manoel era amigo do tenente e que acreditava que ele entregava os briefings [informações prévias ao voo] “sobre inteligência”, com “as vulnerabilidades dos destinos dos voos, inclusive sobre drogas”.

Enquanto isso, Piovesan afirma ser inocente e que sua “função na Presidência da República era institucional e não política” e que cumpria a função desde o governo de Michel Temer.

Outra testemunha disse ser responsabilidade de “alguém da Presidência” dentro do GSI ter que conferir o peso das bagagens.

A colunista cita, ainda, que as testemunhas relatam ter sido uma “bagunça” o embarque de tal viagem e que as investigações internas da FAB, “ao que se tem notícia”, não responsabilizaram nenhum militar de alta patente pelas falhas administrativas.

Um celular Iphone apreendido com o sargento Manoel até agora não foi enviado ao Brasil, ainda que já passado mais de um ano e meio do caso. O sargento, por sua vez, pouco informou sobre o que sabe do tráfico.

E a GSI afirma “não ter qualquer participação no fato investigado, não ter sido o responsável pela instauração e, muito menos, pela condução do inquérito sobre o tema.”

GGN.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DE OLGA BENÁRIO E LULA, A MALDIÇÃO QUE ACOMPANHA OS QUE TERGIVERSAM, POR LUIS NASSIF

A divulgação, pela revista Veja, de parte da peça de defesa de Lula, nos primeiros levantamentos nos arquivos da Vazajato, já basta para implodir definitivamente não a operação em si, suficientemente desmoralizada, mas o próprio sistema penal brasileiro.

Segundo a peça, foram analisados apenas 10% do material recebido – liberado por autorização expressa do Ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal. Pela página exposta, houve uma busca pelo nome de Lula. Ou seja, o material corresponde a 10% dos trechos identificados com o nome de Lula. Obviamente, no conjunto da obra haverá muito mais a ser revelado.

O  trecho mais revelador é o diálogo de 23 de fevereiro de 2016, no qual o procurador Deltan Dallagnol combina com Sérgio Moro como montaria uma das denúncias contra Lula. É uma das peças mais vergonhosas do sistema criminal brasileiro – apesar de amplamente intuída pelos críticos da Lava Jato.

1.   Na conversa, Dallagnol mostra sua receita de criminalização de Lula.

2.   No mensalão havia o sistema de cooptação dos partidos aliados, manejados por José Dirceu. Como o sistema continuou após a saída de Dirceu, só poderia estar sendo comandado por Lula.

3.   Conta a Moro o trabalho que estavam fazendo com Pedro Corrêa “que dirá que Lula sabia da arrecadação via PRC (Paulo Roberto da Costa)”.

4.   Definida a lógica da acusação, diz que vai procurar antecedentes para justificar os benefícios – que iam de palestras contratadas à mera colocação de uma antena de celular pela Oi, perto do sítio frequentado por Lula.

Foi uma das manobras mais primárias e recorrentes da Lava Jato. E, por primária, desmoralizante para o sistema de justiça. Levantavam as palestras de Lula – que foi um dos palestrantes mais requisitados depois que deixou o governo -, ou uma antena de celular instalada pela operadora, ou uma reforma no sítio a ser frequentado por Lula. Identificavam entre os contratantes alguma empresa envolvida com a Lava Jato. Em seguida, pressionavam o executivo preso para que dissesse que a palestra ou a doação foi contrapartida ao contrato recebido. Era o que bastava. Nenhuma prova, nenhum documento, apenas a prova testemunhal, a prostituta de todas as provas.

Pouco importava se até a Globonews, da arquiinimiga Globo, contratou palestras de Lula, comprovando a demanda que recebia como palestrante.

Que juiz e procuradores provincianos tenham recorrido a essas manobras processuais não surpreende. O desmoralizante foi o endosso recebido de desembargadores do TRF-4, de ministros do Superior Tribunal de Justiça e dos ministros Luiz Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.

Entrarão para a história assim como o presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos do Brasil, Ministro Edmundo Lins e o relator Bento de Farias, que, nos anos 30, autorizaram a entrega de Olga Benário aos nazistas.

A história costuma ser implacável com esses personagens, mais até do que com os assumidamente vilões.

Terá a condená-los, inicialmente, o calvário de Lula, jogada em uma cela, sendo impedido de velar o irmão morto, perdendo a esposa – assassinada pelas sucessivas humilhações impostas pela Lava Jato – tudo isso depois de ter se tornado uma das referências da paz mundial, no nível de um Mandela, de um Ghandi, e de ter ajudado a civilizar as disputas políticas no Brasil. Serão debitados na conta dos Minstros a invasão do quarto do casal Lula-Letícia, os colchões revirados, o notepad do neto carregado por policiais truculentos, a exposição impiedosa à máquina de moer reputações da mídia. Esqueçam Sérgio Moro, um juiz da província. Ele já era sobejamente conhecido por Barroso e Fachin, pelo amplo histórico de abusos processuais pré-Lava Jato. Ainda assim, endossaram todos seus abusos mesmo tendo conhecimento amplo do seu passado de juiz da Vara Especial da Justiça Federal de Curitiba.

Não apenas isso. No futuro haverá um balanço da destruição do país, visando submetê-lo à financeirização mais deletéria, concentradora de renda, destruidora de direitos sociais básicos, destruidora de empregos e empresas, em parceria com um genocida que ainda será julgado e preso em um tribunal internacional. Já começa uma avaliação mundial sobre os desatinos da financeirização selvagem. Em algum ponto do futuro, a opinião pública será lembrada dos Ministros que, do alto de seus cargos, endossaram a selvageria, estimularam os linchamentos, permitiram a destruição de empresas e de instituições sabendo que a Lava Jato não passava de uma grande encenação destinada a escancarar o país para os negócios da privatização.

Ainda em vida sentirão a vergonha nos filhos e netos, se é que incutiram nos descendentes um mínimo de valores e de pudor cívico. Entenderão, posto que filhos e netos de pais intelectualmente preparados, que os elogios virão da parte mais superficial e interesseira da opinião pública, da parte menos republicana do Judiciário. E saberão avaliar o mal que seus parentes fizeram ao país.

Se não entenderem, é porque jamais terão a dimensão que se espera dos grandes homens.

Do GGN

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

LULA FORA DE ELEIÇÃO ERA “ORGASMO MÚLTIPLO”, ESCREVEU PROCURADORA, POR FERNANDO BRITO

 

O site jurídico Conjur revelou mais alguns trechos do conjunto de transcrições de diálogos em grupos de chat do Ministério Público e um deles, enviado a procuradores pela procuradora Lívia Tinôco, no dia da prisão de Lula, espanta pela sinceridade quase pornográfica com que escreve a José Robalinho, presidente da Associação Nacional de Procuradores da República, com quem discutia os termos de uma nota de apoio à Força Tarefa de Curitiba:

“TRF, Moro, Lava Jato e Globo tem (sic) um sonho: que Lula não seja candidato em 2018. Não querem Lula de volta porque pobre não pode ter direito. E o outro sonho de consumo deles é ter uma fotografia dele [Lula] preso para terem um orgasmo múltiplo, para ter tesão”.

Mais tarde, quando um avião transporta Lula de São Paulo para a PF de Curitiba, o procurador Robalinho “brinca” de dizer que a aeronave que o leva “é igual ao do teori” [Teori Zavaski, ministro do Supremo que morreu num desastre aéreo], insinuando a possibilidade de queda do aparelho.

É nisto em que se transformaram funcionários públicos, muito bem pagos e cheio de privilégios: em moleques que tratam assim a liberdade e a vida de um ser humano. E de um ex-presidente da República, pior ainda, porque dá a ideia do que seriam capazes de fazer a um cidadão sem os meios de defesa que Lula tem.

A dona Lívia, que gosta tanto de aparecer que foi levar um arco e flechas para Rodrigo Janot, em sua despedida da PGR, para fazer graça com aquele famoso “enquanto houve bambu tem flecha”, e o senhor Robalinho mostram a face asquerosa do Ministério Público, que se ocultou, para ter seus orgasmos múltiplos, do segredinho de mensagens sórdidas que os cidadãos não podiam ver.

Tijolaço.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

MORO E DALLAGNOL, AS PROVAS DA PROMISCUIDADE DE CURITIBA, POR FERNANDO BRITO

 

Os diálogos revelados ontem à noite pela revista Veja não prova apenas o que todos já sabem sobre a parcialidade de Sergio Moro nos processos movidos contra o ex-presidente Lula em razão da Operação Lava Jato.

Atesta que ele e os procuradores chefiados por Deltan Dallagnol agiam em absoluta promiscuidade, numa associação para delinquir contra o sistema judicial.

Você pode ver aqui os diálogos que a revista transcreve, todos já periciados e dados como verdadeiros.

Moro orienta e combina pedidos de perícia, encomenda manifestações do MP, define o que os delatores podem ou não tratar em depoimentos, cobra a anexação de documentos, interfere nas articulações com agentes suíços e norte-americano para que estes produzam provas.

E tudo isso em apenas 10% dos 740 gigabytes de dados que registram as mensagens obtidas pelo hacker Walter Delgatti Neto e em parte divulgadas pelo The Intercept.

Os documentos foram obtidos um dia antes de tudo ser colocado sob “absoluto” segredo de Justiça, o que é incompreensível, pois não há investigações em curso que possam ser prejudicadas, não se trata de intimidades de Moro e dos procuradores, mas de diálogos relativos às suas funções públicas e é assunto, pela sua repercussão política, sobre o qual cada brasileiro tem o direito de estar informado: afinal, foi algo que levou à prisão, por 580 dias, um presidente desta república.

Por serem provas obtidas de maneira ilegal, além do mais, não se cuida de dar ao ex-juiz e aos procuradores punição por seus atos ilegais, mas tão somente fazer com que eles parem de produzir efeitos sobre terceiros, porque praticados ilegalmente e em desrespeito ao princípio constitucional de que todos possam ser julgados com imparcialidade.

Já não há mais explicações ou justificativas para que se adie o julgamento sobre a suspeição de Sergio Moro nos processos contra Lula, tanto quanto já há muitas provas de que ele mancomunou-se ao Ministério Público para conduzir um julgamento que já tinha um resultado pronto antes de começar.

É impossível que o STF se mantenha silente, do contrário, cada juiz do Brasil se sentirá livre para “combinar” resultados de processos com promotores, combinando os passos até pelo zap e transformando os autos judiciais em simples cenários destes conchavos.

E esta abjeção é a maior das corrupções, porque, além de negociar a liberdade de indivíduos, pode levar às mais tenebrosas transações, todas acobertadas pelo “sigilo” e “privacidade” a que não tem direito quem exerce função pública.

Tijolaço.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O BRASIL FOI O PIOR DO MUNDO NA LIDE COM A PANDEMIA, VEJA A LISTA


Tome seis critérios – casos de contaminação confirmados, mortes, casos e mortes por milhão de habitantes, diagnósticos em relação à proporção de testes e exames feitos a cada mil pessoas e meça-os durante perto de nove meses para que se faça um ranking de como os países lidaram com a pandemia.

Foi o que fez o Lowy Institute, um centro de estudos criado por Frank Lowy, um dos maiores empresários da Austrália e o resultado é terrível para o Brasil: entre 98 países, ficamos na 98ª posição. Último lugar.

Está na manchete do site da Folha.

“Mais uma que o Jair ganhou”.

Tijolaço.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

XADREZ DOS NEGÓCIOS DA PANDEMIA E O AVAL DA CGU, POR LUIS NASSIF

Se houvesse uma Controladoria Geral da República séria, que não se limitasse a investir contra reitores de universidades públicas, a esta altura estaria exigindo o contrato firmado entre as empresas e a Block Rock para levantar como se daria a repartição do butim.

É simples entender a operação desastrada de quem organizou o grupo de empresas para adquirir vacinas na AstraZeneca para vacinar seus funcionários, doando metade para o Sistema Único de Saúde.

Avalie a lógica da compra.

1. A AstraZeneca tem toda sua produção comprometida com países, especialmente da Europa, e Organização Mundial da Saúde. Não há oferta suficiente e a empresa enfrenta pressões pesadas, especialmente de países da União Europeia, devido aos atrasos na entrega. Na 6a feira passada, a Astra Zeneca anunciou um corte de suprimentos para a União Europeia no primeiro trimestre. Alto funcionário da UE estimou uma redução de 60%, para 31 milhões de doses para o bloco.

2. Obviamente, para vender para empresas privadas, a AstraZeneca teria que tirar das encomendas já efetuadas por outros países.

3. São expressivos os lucros para o setor privado. Nas vendas para países, as vacinas são menos de US$ 6 a dose. Para as empresas privadas brasileiras, o valor foi definido em US$ 23,79.

É uma história extremamente mal contada. Consultada, a Astra Zeneca negou peremptoriamente qualquer venda ao setor privado. Se negou, de onde saiu o valor de US$ 23,79, o aval do governo brasileiro e até a quantidade de doses a serem adquiridas?

É por aí que se entende o papel de Paulo Guedes.

A nota oficial o governo brasileiro, avalizando a operação de compra de 33 milhões de doses de vacina pelas das empresas, foi assinada pelos Ministros Wagner Rosário (Controladoria Geral da União), José Levi (Advocacia Geral da União) e Élcio Franco (Secretário Executivo do Ministério da Saúde).

Surpreendentemente, a nota foi copiada para o fundo de investimento Black Rock e para uma firma de exportação chamada BRZ.

Qual a justificativa? O Black Rock detém 8% do capital da Astra Zeneca, mas não dispõe de nenhuma influência sobre a gestão da empresa.

Para entender o Xadrez, é necessário juntar algumas peças.

PEÇA 1 – GUEDES E O NEGÓCIO DO COVID

No dia 4 de abril de 2.020, início da pandemia do Covid no Brasil, Paulo Guedes anunciou bombasticamente – como é de seu feitio – que estava negociando testes em massa para criar um “passaporte da imunidade”. A negociação estava sendo feita com um conhecido de Guedes na Inglaterra.

Percebeu-se a tempo o potencial de escândalo, e a operação foi abortada.

Há tempos, Guedes já tinha percebido o potencial da saúde. Dirigindo o Bozzano Investimentos, antes de assumir o Ministério, investiu em 8 empresas na área de private equity, cinco na área de saúde e educação.

Matéria do The Intercept desbastava os investimentos de Guedes e trazia uma informação adicional: sua participação da Estapar, a empresa de estacionamento que conseguiu o monopólio na venda de Zona Azul em São Paulo – operação denunciada pelo GGN.

Outro setor prioritário foi o da energia, confiando na privatização do setor. Ao lado da Black Rock, o fundo Bozzano – dirigido por Guedes – participava do capital da Equatorial, a principal candidata à compra da Eletrobras.

Em princípio, nada de suspeição. Apenas elementos para mostrar que Guedes compartilhava da mesma lógica de negócios da Black Rock.

PEÇA 2 – A BLACK ROCK

Trata-se da maior gestora de investimentos do planeta. Assim que foi confirmada a nomeação de Guedes para a Economia, houve uma entusiasmada reação de Will Sanders, diretor de mercados emergentes do fundo.

“A equipe econômica sendo formada pelo novo governo está seguindo o que esperávamos – atraindo pessoas respeitadas, comprometidas com o plano do futuro ministro Paulo Guedes, e ao mesmo tempo mantendo aqueles que já vinham desempenhando esse papel no governo atual”, declarou em entrevista ao Money Times.

Assim como o amigo londrino de Paulo Guedes, a Black Rock percebeu rapidamente o potencial de negócios trazido pela pandemia. No dia 5 de fevereiro de 2020 adquiriu 8% do capital da Astra Zeneca, confiando em uma tacada, a fusão com a Pfizer. Os controladores da empresa se negaram a fundir.

PEÇA 3 – A OPERAÇÃO DE GUEDES

A operação montada pelo governo Bolsonaro – com o inacreditável aval da CGU, da AGU e do Ministério da Saúde – foi claramente direcionado para a Block Rock Brasil. Não haveria outro motivo para a nota ser encaminhada a ela e à empresa importadora.

A venda foi negada pela Astra Zeneca por razões óbvias:

“No momento todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado”, diz a farmacêutica.

Era evidente que o excesso de demanda não conseguiria ser atendida pelo laboratório. Essa informação obviamente estava disponível para a Black Rock, um de seus principais investidores privados.

Ora, o aval do governo brasileiro era para uma quantidade definida de 33 milhões de doses. Qual a lógica?  O documento não visava liberar as empresas brasileiras para adquirir as vacinas, mas permitir à Black Rock pressionar e ter argumentos para convencer a Astra Zeneca para separar uma parte dos estoques vendidos para uma operação coordenada diretamente pelo fundo.

Ora, a Astra Zeneca iria desviar encomendas dos países europeus ou da Organização Mundial da Saúde? É evidente que não. Qual o único país propenso a facilitar a compra de vacinas pelo setor privado? Obviamente o Brasil.

Se houvesse uma Controladoria Geral da União séria, que não se limitasse a investir contra reitores de universidades públicas, a esta altura estaria exigindo o contrato firmado entre as empresas e a Block Rock para levantar como se daria a repartição do butim.

Quanto muito, para comprovar que entraram nesse negócio por ignorância, não por cumplicidade.

GGN.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

BOLSONARO NÃO É SÓ MENTIROSO, ELE DESPREZA A VIDA, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro tem a compulsão da mentira e a frieza da insensibilidade.

Hoje disse “já somos o sexto país que mais vacinou no mundo” e que “brevemente estaremos nos primeiros lugares, para dar mais conforto à população e segurança a todos, de modo que a nossa economia não deixe de funcionar”.

Além da mentira (porque somos apenas o 50° país em percentagem da população vacinada. como você vê na tabela interativa do site Our World in Data, ao final do post), há, mesta frase, crueldade.

Então a importância da vacina que pode impedir a morte de mais de mil brasileiros por dia é “que a nossa economia não deixe de funcionar”?

As quase 220 mil mortes, para ele, não são dramáticas, não emocionam, não precisam ser as últimas que vão ceifar pais, mães, irmãos, companheiros, mas apenas um prejuízo dos negócios?

Um homem assim não tem a menor condição de liderar um país, menos ainda numa situação de guerra sanitária como a que nos encontramos.

Os generais brasileiros estão tendo todos os avisos possíveis de que passaram a servir a um genocida, a um organizador de milícias fundamentalistas, a quem é desperdício pedir moderação e foco na saúde da população, pois tudo o que concede dizer – “lamento, mas fiz o que era possível” – é mero cinismo e hipocrisia.

Sangue frio, uma virtude, não é o mesmo que alma fria, uma abominação que retirar a humanidade do comando, para o qual a vida dos comandados é apenas um mero detalhe, desprezível, em seus objetivos.

É ela que produz os monstros.

GGN.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

XADREZ DO FATOR CIRO GOMES, POR LUIS NASSIF

Sem um fato novo, de coordenação ampla da resistência a Bolsonaro, é possível que, na perda de rumo atual que caracteriza a oposição, a estrela de Ciro comece a brilhar com mais intensidade.

PEÇA 1 – A RESISTÊNCIA SEM LIDERANÇA

Espocam resistências em todas as partes do país contra os desmandos de Bolsonaro e seu grupo. Hoje em dia, há juízes pela democracia, economistas, procuradores, uma classe média indignada,  resistência no Judiciário, no mundo político, entre prefeitos e governadores, mas de forma difusa. 

A prova maior é a falta de rumo da oposição em relação às eleições no Congresso. Há apoios a Baleia Rossi, críticas ao apoios a Baleia Rossi, defesa de chapa pura, defesa de alianças, em uma perda de rumo que não perdoa nem esquerda nem centro-direita.

Não há ponto de coordenação.

Há um sentimento difuso de que o país está sendo destruído, as instituições arrebentadas, que os hunos de Bolsonaro não poupam educação, saúde, ciência e tecnologia, movimentos sociais, indústria nacional, mercado, empregos. E, a partir da tragédia de Manaus, a constatação de que o país está completamente à deriva no combate à pandemia.

Enfim, um sentimento de urgência generalizado, pronto para explodir, mas com o calor se dispersando no ar pela entropia, de defeitos nos fios condutores da eletricidade.

PEÇA 2 – AS AMEAÇAS DO BOLSONARISMO

Não se trata de um problema exclusivo de destruição das instituições, mas de um risco iminente de controle do país pelo crime organizado.

Há sinais nítidos no ar de que Bolsonaro irá tentar o golpe, mais cedo ou mais tarde. Mais cedo, se conseguir juntar massa crítica em favor do golpe. Mais tarde, com a perspectiva de ser derrotado nas eleições de 2022.

Desde já coloca em dúvida as eleições.

Há dois anos estimula o armamento para a população, de um lado facilitando a importação de armas e reduzindo o controle da Polícia Federal sobre munição. De outro, atuando diretamente contra policiais e fiscais da Receita que atuavam no combate ao contrabando de armas no porto de Itaguai – o ponto central do contrabando de armas no país.

Além das milícias, há uma ligação umbilical dos Bolsonaro com os Clubes e Tiro e Caça e com grupos muralistas armados espalhados por todo o país.

A aproximação com sindicatos das Polícias Militares estaduais e a corte às bases das Forças Armadas.

Todos esses fatores aumentam a eletricidade na política e estimulam o antibolsonarismo. Mais uma vez, a falta de coordenação provoca dispersão do calor.

PEÇA 3 – A PERDA DE RUMO DAS INSTITUIÇÕES

Some-se a desorganização das instituições com o desmanche constitucional que permitiu o impeachment. O vale-tudo do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Lava Jato contaminaram praticamente todas as instituições de controle do país.

Hoje em dia, a ameaça maior é Bolsonaro. No pós-Bolsonaro, o desafio maior será preservar a governabilidade, no caos que se instalou em todas as instituições da República.

Hoje se tem o seguinte quadro:

Judiciário – o ativismo se espalhou por todos os poros do Judiciário. Não há mais obediência aos fatores intangíveis de controle – jurisprudência, respeito aos códigos, razoabilidade nas sentenças. Jogam-se com prazos ou com a condescendência das corregedorias e dos tribunais superiores para uma militância política desmoralizante para a Justiça. É um poder que caminha rapidamente para a desmoralização. Só que, nessa trajetória, deixará muitas vítimas pelo caminho. Para evitar ameaças futuras ao Judiciário (e à democracia) há a necessidade de uma freada de arrumação. Mas o corporativismo do Judiciário, e a ação imprudente de Ministros do Supremo, como Luis Roberto Barroso, estimulando o protagonismo dos juízes, coloca muita resistência a qualquer forma de coordenação.

Mídia – em anos 2.010, a mídia brasileira cometeu o mais imprudente dos pecados da arrogância, articulando diretamente o impeachment de Dilma Rousseff e se apresentando como a verdadeira oposição ao país. É um trem sem rumo. O modelo de negócio faz água, não conseguiu viabilizar o grande motivo da conspiração – a blindagem contra as grandes redes sociais – e, hoje em dia, atua como um peru bêbado. Depois de ter gastado toda a credibilidade em um anticomunismo de guerra fria, não tem como desenvolver um discurso eficaz contra o direitismo de Bolsonaro. Limita-se a praticar a inviabilização dos adversários pré-Bolsonaro, a imprecar contra o bolsonarismo, a enaltecer Luciano Huck e a endossar cegamente o negócio da privatização.

É incapaz de pensar fora da caixinha ou no dia seguinte.

Governos estaduais – espremidos pela pandemia e pela crise fiscal, não conseguem esboçar reação mais sólida ao bolsonarismo. 

Legislativo – como em todo caso de governo enfraquecido, aumentam as demandas por cargos e verbas. E têm sido regiamente atendido por Bolsonaro. Só agirá quando o movimento de opinião pública pelo impeachment se tornar irresistível.

PEÇA 4 – AS FORÇAS POLÍTICAS

Nesse quadro confuso, há dois desafios para as forças políticas remanescentes da destruição imposta pela Lava Jato. Primeiro, como derrubar Bolsonaro. Depois, como garantir a governabilidade pós-Bolsonaro. São justamente as duvidas em relação ao pós-Bolsonaro que travam a batalha final pelo impeachment, a direita temendo um ressurgimento das esquerdas nas eleições; as esquerdas temerosas do que seria um governo Hamilton Mourão.

Em qualquer país racional haveria um pacto entre as forças democráticas, em cima de regras claras. Primeiro, entender o pacto como uma trégua para a disputa política. Ou seja, dá-se um prazo para a reconstrução da democracia, cada lado abre mão de suas demandas mais relevantes e, depois, abre-se novamente a disputa política.

Mas não há nenhum caminho claro pela frente.

O centro-direita continua se escudando nas tolices da mídia em pretender transformar Luciano Huck em estadista e em inviabilizar os adversários. Hoje em dia suas manifestações se resumem a generalidades de bom mocismo, a favor da redução da miséria, da desigualdade, do racismo etc., mas sem apresentar uma proposta concreta sequer para viabilizar os princípios,. Fica-se nisso: bom mocismo apenas. Mesmo as manifestações de boas intenções  são soterradas pelo interesse imediato nos negócios da privatização e do desmonte do Estado.

Do lado da esquerda, há a mesma perda de rumo. Não foi capaz sequer de definir uma ação conjunta em relação às eleições no Congresso. 

A partir do governo Temer houve uma ação sistemática de quebra das pernas dos sindicatos. O PT foi engolfado por uma polarização maliciosa conduzida pela mídia, apresentando-o como a outra face da moeda do bolsonarismo e até agora não conseguiu escapar da armadilha. E Lula já não tem o mesmo pique do passado, compreensível depois da perseguição infame. a que foi submetido na última década. Aliás, o maior crime cometido pelo movimento mídia-Supremo-Lava Jato contra o país foi a inviabilização política de Lula. Em qualquer país civilizado, ex-presidentes são ativos nacionais, essenciais para os grandes pactos de governabilidade.

PEÇA 5 – O FATOR CIRO GOMES

É por aí que se deve analisar o fator Ciro Gomes. Ciro tem algumas características que certamente o farão crescer nos próximos meses.

* Tem diagnósticos claros sobre os problemas centrais do país, não apenas econômicos, como institucionais. 

* Tem personalidade forte e determinação, qualidades que fortalecem em períodos de perda de rumo e de comando. As atitudes do irmão Cid Gomes em Fortaleza, enfrentando o motim da Polícia Militar, apesar da imprudência pessoal, mostrou um grau de determinação à altura do desafio de enfrentar o crime organizado que se apossou do comando do país.

* Tem boa penetração no Nordeste e capacidade de articular com os governadores.

* Ajudou a desenvolver boas políticas públicas no Ceará

* É reconhecidamente honesto. Enquanto Ministro do Interior, conduziu a transposição do São Francisco com pequenas e médias empreiteiras. Assim que saiu, e assumiu Fernando Bezerra Coelho – do centrão – voltou-se ao esquema anterior das grandes empreiteiras. Entende-se, aí, parte de sua bronca com o PT.

* Seu desenvolvimentismo vem alicerçado em argumentos racionais.

* Enfrenta menos resistências que o lulismo em redutos do centro-direita.

* Tem sinceridade suficiente para desmascarar as ilusões políticas alimentadas pela direita, como Huck e João Dória.

 Não são poucos os defeitos:

* A capacidade de criar conflitos dentro do seu próprio campo.

* Um ego monumental, que o fez abrir mão da possibilidade de ter sido presidente em 2018, ao recusar a proposta feita pelo PT – através de Fernando Haddad – de ser o vice-presidente na chapa de Lula, para assumir a candidatura a presidente quando Lula fosse impedido pelo STF. E sua viagem a Paris, para não se posicionar em relação ao seguro turno das eleições.

* A dificuldade em dialogar com movimentos e sindicatos, comprometendo um dos pilares da modernização do país: o aprofundamento da democracia através de modelos de participação. 

* A demonização de quem ousar apontar erros em suas estratégias.

* A ojeriza aos acordos políticos. Mas que pode ser uma vantagem na quadra política atual, para arregimentar seguidores.

Em quem está na oposição, voluntarismo é qualidade. No poder, pode ser ameaça. Mas, em preparativos para a guerra – como ocorre agora, na resistência a Bolsonaro – pode ser a única alternativa de resistência.

É possível que a perda de rumo atual faça com que seus defeitos sejam minimizados e que a impulsividade atraia cidadãos desiludidos com a ideia de que será possível reconstruir o país e as instituições com bons modos. 

No cenário político atual, o governador do Maranhão, Flávio Dino, tem entendimento muito mais apurado sobre os instrumentos de democratização, de políticas sociais. E tem pulso para enfrentar desafios pesados. Seria o nome ideal para a construção na paz com bons modos, mas não necessariamente em períodos de guerra. E Fernando Haddad – provavelmente o melhor Ministro da história do país, pelo conjunto de políticas que implementou – não tem mostrado disposição para assumir um protagonismo maior no jogo político.

Por tudo isso, sem um fato novo, de coordenação ampla da resistência a Bolsonaro, é possível que, na perda de rumo atual que caracteriza a oposição, a estrela de Ciro comece a brilhar com mais intensidade.

GGN.

domingo, 24 de janeiro de 2021

BILIONÁRIOS RECUPERAM-SE EM TEMPO RECORDE NA PANDEMIA ENQUANTO POBRES LEVARÃO ANOS

 Relatório da Oxfam mostra que as mil pessoas mais ricas do mundo recuperaram todas suas perdas financeiras em 9 meses.

População mais pobre do planeta irá levar ao menos 14 anos para conseguir repor as perdas econômicas em razão da pandemia - Foto: Dibyangshu Sarkar/AFP

Enquanto as mil pessoas mais ricas do mundo recuperaram todas as perdas financeiras causadas pela pandemia do novo coronavírus em apenas nove meses, entre fevereiro e novembro do ano passado, a população mais pobre do planeta irá levar ao menos 14 anos para conseguir repor as perdas econômicas em razão da proliferação da covid-19. 

O dado é revelado pelo relatório O Vìrus da Desigualdade, que será lançado pela Oxfam nesta segunda-feira (25) no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

Formulado a partir de índices da Forbes e do Banco Mundial, entre outras fontes, o documento escancara como a pandemia impacta a população em condição de vulnerabilidade de maneira muito mais perversa.

A exemplo de como aconteceu no Brasil, com a chegada do vírus, a fome e o desemprego retornaram com força aos lares dos mais pobres em diversos países.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que cerca de meio bilhão de pessoas estão atualmente subempregadas ou sem emprego em todo o mundo.

:: "Não há país que dê certo com esse grau de desigualdade", diz conselheiro da Oxfam ::

Do outro lado, os mais ricos retornam a patamares anteriores a covid em tempo recorde. Considerando 100% da riqueza acumulada em fevereiro, houve uma queda para 70% em março, com retorno a 100% já em novembro de 2020.  

Para fins de comparação, no que tange a velocidade dessa recuperação, a Oxfam aponta que os mais ricos do planeta levaram cinco anos para recuperarem o que perderam durante a crise financeira de 2008. 

Não só os super-ricos recuperaram-se rapidamente durante a pandemia como aumentaram sua fortuna: entre março e dezembro do ano passado, os dez maiores bilionários do planeta acumularam US$ 540 bilhões.

A organização estima que o valor é suficiente para pagar pela vacina contra a covid-19 para toda a população global, assim como para garantir que nenhum cidadão entre na linha da pobreza em decorrência da pandemia.

Ainda de acordo com o relatório, os bilionários acumularam US$ 3,9 trilhões entre no mesmo período, apresentando atualmente a riqueza total de US$ 11,95 trilhões. A cifra é equivalente ao que os governos do G20 gastaram para combater o coronavírus. 

Outro mundo é possível?

relatório da Oxfam enfatiza que a crise sanitária e econômica explicitou todas as limitações da vigente lógica econômica, e, ao mesmo tempo, reforçou a importância das ações governamentais para assegurar os direitos humanos.

A organização endossa o peso da escolha política dos gestores públicos e argumenta que a pandemia expôs como a implementação de medidas transformadoras é possível, como, por exemplo, a garantia de renda.

:: Bilionários têm mais riqueza que 60% da população mundial, indica relatório da Oxfam ::

Frente aos índices que serão apresentados em Davos nesta segunda (25), a Oxfam sugere a definição de metas concretas e com prazos para a redução da desigualdade e não apenas a busca pelo retorno aos níveis anteriores ao coronavírus. 

“É necessário ir além do Produto Interno Bruto (PIB) e começar a valorizar o que realmente importa. O combate à desigualdade deve estar no centro dos esforços de resgate e recuperação econômica. Isso deve incluir igualdade de gênero e raça. Países como Coréia do Sul, Serra Leoa e Nova Zelândia se comprometeram a reduzir a desigualdade como prioridade nacional, mostrando que isso é possível”, diz o relatório.

Sendo as políticas de distribuição da riqueza elementos essenciais para uma recuperação econômica rápida, o documento cita outras medidas emergenciais que podem ser adotadas.

:: Na pandemia, 42 brasileiros lucraram mais do que todo o custo do auxílio emergencial :: 

Um imposto temporário sobre os excessivos lucros obtidos pelas 32 corporações globais que mais lucraram durante a pandemia, por exemplo, poderia ter arrecadado US$ 104 bilhões em 2020.

“Isso é o suficiente para providenciar auxílios desemprego para todos os trabalhadores e trabalhadoras afetados durante a pandemia e também para dar apoio financeiro para todas as crianças e idosos em países de renda baixa ou média”, frisa o documento. 

O combate ao colapso do clima por meio de uma economia sustentável, que também reconheça e repare as desigualdades históricas de gênero e raça, são elementos outros elementos apontados como imprescindíveis

Ainda segundo a Oxfam, a receita de austeridade deve ser abandonada e substituída pela garantia de renda, independente de gênero ou raça, acompanhado do investimento contínuo em serviços públicos universais, “a base de sociedades livres e justas com um poder incomparável para reduzir a desigualdade.” 

A busca por uma “vacina popular” para combater a covid também deve ser urgente. Para isso, os governos “devem enfrentar as empresas farmacêuticas e insistir no acesso aberto a todas as patentes e tecnologias relevantes para permitir vacinas e tratamentos seguros e eficazes para todos”.

:: Compra de vacinas por setor privado compromete imunidade de rebanho, dizem médicos :: 

A tributação de grandes fortunas e corporações também figuram entre as propostas da organização, incluindo o aumento de impostos sobre transações financeiras e o fim da evasão fiscal.

“A tributação progressiva dos estratos mais ricos da sociedade é a pedra angular de qualquer recuperação equitativa da crise, pois permitirá o investimento em um futuro sustentável e equitativo”, destaca o texto.

Confira a íntegra do relatório.

BdeF.

sábado, 23 de janeiro de 2021

PGR ABRE INQUÉRITO CONTRA PAZUELLO. PARABÉNS, GENERAIS! POR FERNANDO BRITO

O Procurador Geral da República, Augusto Aras, não resistiu à pressão da corporação – e do que é seu dever, afinal – e pediu a abertura de inquérito sobre as responsabilidades do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na catástrofe de Manaus.

Vai ser um espetáculo de nudez na praça, onde se vão mesclar omissão, desídia, charlatanismo e todas as vergonhas que marcaram e marcam o arrogante e infeliz papel de um ministro que só tem como programa a obediência canina às loucuras de seu chefe, Jair Bolsonaro.

Acolhido o pedido pelo Supremo Tribunal Federal, o passo inicial será a devassa das operações do Ministério pela Polícia Federal – inclusive na “Missão Cloroquina” enviada à capital amazonense e sobre os avisos – formais e documentados – de que o desastre e as mortes de pacientes por sufocamento viriam.

Por exemplo, como explicar que oxigênio não veio, mas chegaram 120 mil caixas de cloroquina e hidroxicloroquina para serem despejadas goela abaixo dos doentes.

E é inevitável, pela mobilização de meios que seria necessária das três Forças, que sejam os militares que se vejam arrastados para dentro deste episódio trágico por permitirem que Jair Bolsonaro se servisse de um general da ativa para impor às estruturas de Saúde do país alguém que estivesse disposto a seguir sua política genocida, pró-morte e charlatã.

Por falta de aviso não foi e, agora, estão todos metidos numa sinuca de bico.

Bolsonaro não pode trocar de ministro nem Pazuello pode passar à reserva sem que qualquer dos dois atos se configure como, antes mesmo de uma confissão de culpa, uma demonstração de covardia.

E os generais, que elevaram um louco, sedento de poder, à Presidência da República e que agarraram-se, como carrapatos, às oportunidades políticas que ganharam com isso.

Era mais que avisado e aqui mesmo se disse que Pazuello apodrecia na praça e levava o Exército com ele.

A omissão dos comandantes militares – afinal, o ministro é um general da ativa – e a apropriação das Forças Armadas como ferramenta de poder, mesmo que isso significasse deixar o país entregue aos delírios negacionistas e desumanos de um sujeito que, afinal, nem para tenente do Exército servia.

Ou será que, em lugar de adminitir as baixas que sue mau comando está causando, irão investir contra o poder civil, pela audácia de achar que um general está, como qualquer um, sujeito a leis e à Constituição?

Ou vão querer que o general que ignorou o sufocar agônico de brasileiros é bom demais para sentar num banco da polícia e dar explicações?

Tijolaço.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

APOIO A BOLSONARO DESPENCA. E VAI CAIR AINDA MAIS, POR FERNANDO BRITO

Manaus, o fim do auxílio-emergencial e a novela das vacinas fizeram a aprovação a Jair Bolsonaro despencar, diz a pesquisa feita pelo Instituto Ideia por encomenda da revista Exame.

Em uma semana, de 14 a 21 de janeiro, o presidente perdeu onze pontos de aprovação ( queda de 37% para 26%) e ganhou sete em reprovação, passando de 37% para 45%.

Ninguém procure outra razão para a aparente conversão do governo à preocupação com vacinar a população.

Nos próximos dias, outras pesquisas devem confirmar agravar este quadro negativo para o bolsonarismo. E, agravar muito, a confirmarem-se as perspectivas de agravamento da pandemia, as interrupções no programa de vacinação e com o inevitável declínio das atividades econômicas.

A pesquisa também dissipa a ilusão de que João Doria, por conta da inegável vitória que obteve com a Coronavac, única em condições de atender, ainda que embrionariamente, as necessidades. De acordo com o levantamento, 8% atribuem a ele o mérito pela vacinação, mesmo percentual que o atribuem, somados, a Bolsonaro (3%) e a Eduardo Pazuello (5%).

59% dão este mérito a quem o merece: a comunidade científica (32%), ao Butantan e Fiocruz (24%) e ao povo brasileiro (13%).

A situação do governo, em franca deterioração, certamente não vai deixar acomodados os agentes políticos.

Bolsonaro está espremido e covardes e loucos, nesta situação, costumam afundar quando o mar fica revolto.

Tijolaço.