A
divulgação, pela revista Veja, de parte da peça de defesa de Lula, nos
primeiros levantamentos nos arquivos da Vazajato, já basta para implodir
definitivamente não a operação em si, suficientemente desmoralizada, mas o
próprio sistema penal brasileiro.
Segundo
a peça, foram analisados apenas 10% do material recebido – liberado por
autorização expressa do Ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal
Federal. Pela página exposta, houve uma busca pelo nome de Lula. Ou seja, o
material corresponde a 10% dos trechos identificados com o nome de Lula.
Obviamente, no conjunto da obra haverá muito mais a ser revelado.
O
trecho mais revelador é o diálogo de 23 de fevereiro de 2016, no qual o
procurador Deltan Dallagnol combina com Sérgio Moro como montaria uma das
denúncias contra Lula. É uma das peças mais vergonhosas do sistema criminal
brasileiro – apesar de amplamente intuída pelos críticos da Lava Jato.
1. Na
conversa, Dallagnol mostra sua receita de criminalização de Lula.
2. No
mensalão havia o sistema de cooptação dos partidos aliados, manejados por José
Dirceu. Como o sistema continuou após a saída de Dirceu, só poderia estar sendo
comandado por Lula.
3. Conta
a Moro o trabalho que estavam fazendo com Pedro Corrêa “que dirá que Lula sabia
da arrecadação via PRC (Paulo Roberto da Costa)”.
4. Definida
a lógica da acusação, diz que vai procurar antecedentes para justificar os
benefícios – que iam de palestras contratadas à mera colocação de uma antena de
celular pela Oi, perto do sítio frequentado por Lula.
Foi
uma das manobras mais primárias e recorrentes da Lava Jato. E, por primária,
desmoralizante para o sistema de justiça. Levantavam as palestras de Lula – que
foi um dos palestrantes mais requisitados depois que deixou o governo -, ou uma
antena de celular instalada pela operadora, ou uma reforma no sítio a ser
frequentado por Lula. Identificavam entre os contratantes alguma empresa
envolvida com a Lava Jato. Em seguida, pressionavam o executivo preso para que
dissesse que a palestra ou a doação foi contrapartida ao contrato recebido. Era
o que bastava. Nenhuma prova, nenhum documento, apenas a prova testemunhal, a
prostituta de todas as provas.
Pouco
importava se até a Globonews, da arquiinimiga Globo, contratou palestras de
Lula, comprovando a demanda que recebia como palestrante.
Que
juiz e procuradores provincianos tenham recorrido a essas manobras processuais
não surpreende. O desmoralizante foi o endosso recebido de desembargadores do
TRF-4, de ministros do Superior Tribunal de Justiça e dos ministros Luiz Edson
Fachin e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.
Entrarão
para a história assim como o presidente da Corte Suprema dos Estados Unidos do
Brasil, Ministro Edmundo Lins e o relator Bento de Farias, que, nos anos 30,
autorizaram a entrega de Olga Benário aos nazistas.
A
história costuma ser implacável com esses personagens, mais até do que com os
assumidamente vilões.
Terá
a condená-los, inicialmente, o calvário de Lula, jogada em uma cela, sendo
impedido de velar o irmão morto, perdendo a esposa – assassinada pelas
sucessivas humilhações impostas pela Lava Jato – tudo isso depois de ter se
tornado uma das referências da paz mundial, no nível de um Mandela, de um
Ghandi, e de ter ajudado a civilizar as disputas políticas no Brasil. Serão
debitados na conta dos Minstros a invasão do quarto do casal Lula-Letícia, os
colchões revirados, o notepad do neto carregado por policiais truculentos, a
exposição impiedosa à máquina de moer reputações da mídia. Esqueçam Sérgio
Moro, um juiz da província. Ele já era sobejamente conhecido por Barroso e
Fachin, pelo amplo histórico de abusos processuais pré-Lava Jato. Ainda assim,
endossaram todos seus abusos mesmo tendo conhecimento amplo do seu passado de
juiz da Vara Especial da Justiça Federal de Curitiba.
Não
apenas isso. No futuro haverá um balanço da destruição do país, visando
submetê-lo à financeirização mais deletéria, concentradora de renda,
destruidora de direitos sociais básicos, destruidora de empregos e empresas, em
parceria com um genocida que ainda será julgado e preso em um tribunal
internacional. Já começa uma avaliação mundial sobre os desatinos da
financeirização selvagem. Em algum ponto do futuro, a opinião pública será
lembrada dos Ministros que, do alto de seus cargos, endossaram a selvageria,
estimularam os linchamentos, permitiram a destruição de empresas e de
instituições sabendo que a Lava Jato não passava de uma grande encenação
destinada a escancarar o país para os negócios da privatização.
Ainda
em vida sentirão a vergonha nos filhos e netos, se é que incutiram nos
descendentes um mínimo de valores e de pudor cívico. Entenderão, posto que
filhos e netos de pais intelectualmente preparados, que os elogios virão da
parte mais superficial e interesseira da opinião pública, da parte menos
republicana do Judiciário. E saberão avaliar o mal que seus parentes fizeram ao
país.
Se
não entenderem, é porque jamais terão a dimensão que se espera dos grandes
homens.
Do GGN
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