segunda-feira, 5 de julho de 2021

EX-CUNHADA DE BOLSONARO DIZ QUE ELE DEMITIU SEU IRMÃO POR RECUSA EM ENTREGAR SALÁRIO

 Andrea Siqueira Valle aponta envolvimento direto de Jair Bolsonaro na “rachadinha”. Foto: Reprodução.

Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Jair Bolsonaro, afirmou em gravação que ele demitiu seu irmão, André Siqueira Valle, após ele se recusar a entregar a maior parte de seu salário como assessor.

À época deputado federal, Jair exigia grande parte dos salários dos parentes da ex-esposa, Ana Cristina Siqueira Valle, que trabalhavam em seu gabinete.

Ele é apontado como envolvido direto no esquema da “rachadinha”.

Segundo Andrea, o irmão foi retirado do cargo por não entregar o valor combinado, cerca de 90% do salário.

A ex-cunhada foi a primeira de 18 parentes de Ana Cristina nomeada nos gabinetes da família Bolsonaro.

“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, relata.

André Valle foi assessor do deputado Jair entre 2006 e 2007.

Andrea relata que sabe de “muita coisa” que pode “ferrar a vida” de Jair, Flávio e Ana Cristina, sua irmã.

A ex-cunhada do presidente ainda disse, sem citar nomes, que mandam ela ficar “quietinha”.

Ela ainda implicou Guilherme Hudson no esquema, tio dela e da irmã, Ana Cristina.

Ele é coronel da reserva do Exército e, segundo Andrea, recolhia o dinheiro dos salários.

“O tio Hudson também já até tirou o corpo fora porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e me buscava no banco era ele”.

Andrea confessou que participou do esquema e tentou fazer contato com a irmã, Ana Cristina, Flávio Bolsonaro e o tio, coronel Hudson, mas ninguém quis atendê-la.

“Porque assim, eu procurei a Cristina, o tio, liguei para o gabinete do Flávio para saber o que tinha que fazer, fiquei com medo de complicar as coisas para eles, ainda pensei neles”.

“Na hora que eu estava aí fornecendo também e ele estava me ajudando porque eu ficava com mil e pouco e ele ficava com sete mil reais, então assim, certo ou errado agora já foi, não tem jeito de voltar atrás”, finaliza. Veja o vídeo:

DCM.

CELULAR DE DOMINGHETTI REVELA “MÁFIA DA VACINA”, POR FERNANDO BRITO

Os fragmentos de conversas de Whatsapp já retirados do aparelho celular do cabo da PM mineira Luiz Paulo Dominghetti, que foi apreendido em seu depoimento à CPI da Covid e que o Fantástico revelou esta noite não deixam qualquer sombra de dúvidas de que havia um esquema mafioso de venda de vacinas no qual a transação sugerida com o Ministério da Saúde seria a “jóia da coroa”, senão da venda de imunizantes, pelo menos dos golpes realizados a este pretexto.

Há várias vendas, preços e comissões discutidos no pequeno lote de mensagens já extraídas do total de 900 pastas de diálogos no aparelho. E nelas surge um novo militar envolvido, de nome Guerra que cuida de “alinhar” algum esquema para negócios.

O tal Coronel Guerra está identificado e é um coronel reformado que exercia cargo em outro ministério civil.

O conteúdo do telefone de Dominghetti, nesta segunda feira, vai vazar feito água em cano furado.

Cano de esgoto.

Tijolaço.

domingo, 4 de julho de 2021

A 3ª VIA VIROU UM BECO SEM SAÍDA, POR FERNANDO BRITO

Folha analisa hoje a situação da tal ‘3ª via’, três meses depois do documento que a pretendeu colocá-la no mapa da sucessão, estar capenga e definhante como alternativa eleitoral para 2022.

Dos seis presidenciáveis que a compunham, dois – Luciano Huck e João Amoedo – pularam fora do barco, alegando razões pessoais. João Doria segue no seu voo baixo, planando nos 5% de intenções de voto – tanto quanto teve Geraldo Alckmin em 2018. Eduardo Leite, que afinal descobriu uma “não-questão” sexual – sem o menor jeito para ser “candidato identitário”- que lhe deu espaço nacional, porque os 11,7% com que aparece entre os eleitores de seu estado, o RS, certamente não o credenciam como administrador de sucesso.

Melhor que Doria, porém, que teria, na mesma pesquisa, apenas 6,3% dos votos dos paulistas para presidente.

Luiz Mandetta, que poderia surfar na onda da CPI, sai dela com uma imagem “meia-boca”, na qual consegue apenas o perdão por ter se afastado do negacionismo, mas jamais teve a coragem de enfrentá-lo. Sua situação eleitoral é um problema: não tem fôlego nacional e nem estadual, onde tem o obstáculo de seus patronos eleitorais (a família Trad) e nenhum protagonismo próprio.

Resta Ciro Gomes que, neste momento, acusa ter a metade dos votos obtidos em 2018, quando atingiu 12% e escolheu o caminho suicida de ser o “antipetista”, onde impera Jair Bolsonaro, com quatro vezes mais intenções de voto que ele, com seus 7%. Não lhe rendeu nada, nestes meses e dificilmente renderá. Sua candidatura não mostrou força para “puxar” a adesão da direita, com a qual conta para estar no confronto de 2° turno com Lula que, espertamente, recusa-se a polarizar com seu ex-ministro.

Os três meses de busca pela ‘3ª via’, portanto, só viram seus pretendentes retrocederem. Nem mesmo as perdas de Jair Bolsonaro, neste período, os beneficiaram.

Entre outras razões, porque adotaram a tática do “qualquer um serve desde que não seja o Lula”.

E é justamente por isso que não são vistos como o antibolsonaro que deseja o povão.

Tijolaço.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

DEU NO TIJOLAÇO, “MISTER M” DA PRECISA FAZ ‘DEPOIMENTO’ VIA SBT

Depois de obter um habeas corpus para calar diante da CPI, Francisco Maximiano, o dono da Precisa Medicamentos fez um “depoimento” unilateral em vídeo, e o enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito e ao SBT, emissora de TV do quintal bolsonarista, ainda mais depois que foi colocado à testa do Ministério das Comunicações o deputado Fábio Faria, genro de Silvio Santos.

Nele, acusa de mentirosos os irmãos Miranda, que dizem ter denunciado a Jair Bolsonaro as suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.

O argumento é o de que seriam apenas “erros formais” na fatura de pagamento do primeiro lote da vacina, embora seja incompreensível que uma fatura de US$ 45 milhões pudesse ser feita com tanta distração que exigisse duas correções.

O ponto central de sua defesa, porem, é a alegação de que a “invoice” malandreada com um “pagamento antecipado” e em nome de uma empresa que não constava no contrato como vendedora, só teria sua primeira versão entregue no dia 22 de março ao Ministério. Dois dias depois, portanto, do encontro entre Luís e Luís Ricardo com o presidente da República.

O documento, não se sabe a razão, não teria sido incluído no “pacote” de downloads enviado via Dropbox, um site de envios público na internet.

Tecnicamente, se houver perícia, é possível verificar se esta versão é consistente, inclusive porque uma pasta de documentos enviados por este meio pode ser alterada e ter arquivos excluídos, temporária ou definitivamente.

Além do mais, ao baixar arquivos por esta via, os computadores do Ministério da Saúde vão gerar data e horário da criação de arquivo-cópia e isto pode ser auditado.

Mesmo sem perícia, porém, um detalhe chama a atenção.

Além de provar que o arquivo – anteriormente apontado como falso pelo Planalto, via Onyx Lorenzoni e Élcio Franco – é verdadeiro, confirma que foi criado pela Madison (que iria receber o dinheiro em nome da Bharat Biotech) produziu a fatura “errada” no dia 19, enviou-se por e-mail e, por tratar-se de uma sexta-feira, a Precisa só encaminhou o documento dia 22, sendo, portanto, impossível que Miranda a tivesse no dia 20, para mostrar ao presidente.

Bem, supondo que a fatura fosse enviada da Bharat Biontech, na Índia, ou da “portinha” que é a Madison, em Cingapura, no “final do expediente” preguiçoso de uma sexta feira, às 17 horas, hora local, isso corresponderia a 8:30 da manhã, no caso da Índia, ou a 6 horas da manhã, no caso de Cingapura. No próprio ‘depovídeo” Maximiniano mostra que lhes chegou no mesmo dia 19, às 4:26 da manhã, o que aquele fuso horário explica.

O que faria uma empresa reter da manhã de sexta-feira até segunda às 10:21 um documento que era só encaminhar para fazer o processo andar e olhe que era um processo de US$ 45 milhões? Preguiça da Precisa diante do necessário para receber a “bolada” de sua comissão na compra?

Como diz Omar Aziz, “chapéu de otário é marreta”.

E se não havia a “invoice”, que indícios poderiam ter sido levados a Bolsonaro a ponto de lhe provocar o explosivo “rolo do Ricardo Barros” dito aos irmãos Miranda que mantém há uma semana a família presidencial morrendo de medo de que esteja gravado?

Além do mais, a “invoice” enviada neste e-mail fala em “Proforma Invoice” com a expressão “requested”, o que é “solicitada”, solicitação indica correção de uma primeira versão inadequada, até porque uma empresa de exportação sabe perfeitamente que uma fatura seria necessária desde o início. E, notem na reportagem de O Globo, no dia 24 de junho, que há TRÊS e não duas “invoices” no processo, indicando que houve, portanto, uma original, errada, e duas correções.

O vídeo do sr. Francisco Maximiano tem toda a pinta de virar um “áudio do Dominguetti”, desfazendo-se por suas próprias contradições. Talvez por isso, em momento nenhum ele mostra seu rosto, o que já, de cara, é motivo para que se desconsidere os argumentos de um covarde. Mas isso não vai acontecer e é possível que e tenha consumado aquilo do que o HC do Supremo protegia Francisco Maxmiano: produzir provas contra si mesmo.

O piada é pronta: Maximiano, o “Mister M” da Precisa.

PGR NÃO PODE SER ‘SALTITANTE’, DIZ WEBER SOBRE CASO DA PREVARICAÇÃO DE BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

A ministra Rosa Weber, do STF, recusou a proposição da Procuradoria Geral da República para deixar para após as conclusões da CPI a investigação sobre possível prevaricação de Jair Bolsonaro diante das denúncias levadas a ele pelo deputado Luís Miranda sobre irregularidades na compra das vacinas indianas Covaxin.

O adiamento havia sido sugerido pela PGR em posicionamento perante a notícia crime apresentada pelos senadores Randolfe Rodrigues, Fabiano Kontarato e Jorge Kajuru, pelo fato de não ter o presidente mandado abrir uma apuração sobre o caso.

A posição da Procuradoria – ou de Augusto Aras, ainda que camuflada pela assinatura de seu subprocurador geral, Humberto Jacques – foi duramente questionada por Weber, que a chamou de “saltitante”. Isto é: dúbia e escapista:

(…)não há no texto constitucional ou na legislação de regência qualquer disposição prevendo a suspensão temporária de procedimentos investigatórios correlatos ao objeto da CPI. Portanto, a previsão de que as conclusões dos trabalhos parlamentares devam ser remetidas aos órgãos de controle não limita, em absoluto, sua atuação independente e autônoma.

A ministra diz que a circunstância de que a notícia crime ter surgido quando o mesmo fato está sendo investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito não tira da PGR ” sua atribuição
de formar opinião sobre o delito noticiado, para o que pode se valer de investigações preliminares ou, a depender do acervo indiciário que lhe aporta, rumar diretamente para sua conclusão a respeito da natureza criminosa dos fatos (seja ela negativa, com o arquivamento das peças; seja positiva, com o oferecimento de denúncia)”.

E devolveu o processo a Aras com uma ordem: decida que vai investigar, se vai denunciar ou se vai mandar arquivar, que depois falo eu o que será feito.

Tijolaço.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

BANDIDOS X BANDIDOS, PICARETAGEM E ESPERTALHÕES ESTE GOVERNO ESTÁ CHEIO, POR FERNANDO BRITO

A CPI da Covid, diante da possibilidade de uma nova sessão de “cinema mudo”, como a exibida ontem com o “depoimento” silencioso do sr. Carlos Martins – Wizard não é parte de seu nome, mas a marca dos cursos de inglês que vendeu há sete anos, o que provocou protestos da marca – antecipou para hoje o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira, policial militar mineiro que diz ter recebido um pedido de Roberto Ferreira Dias, diretor exonerado do Departamento e Logística do Ministério da Saúde, para acrescentar um dólar de propina numa suposta compra de 400 milhões de doses da vacina Astrazêneca numa oferta paralela à do laboratório anglo-sueco.

No cronograma anterior, seria a vez de Francisco Maximiano, dono da também suspeitíssima Precisa Medicamentos, intermediária da frustrada compra de 20 milhões de doses – e com mais 60 milhões delas planejadas -, mas este provavelmente ficaria em absoluto silêncio, com o habeas corpus concedido ontem pela ministra Rosa Weber.

A esta altura – e sobretudo depois do surgimento da “bomba” Luís Miranda – está claro que se está mergulhando num submundo imundo que tenho comparado a um esparramo de baratas quando se abre uma tampa de esgotos.

É preciso cuidado redobrado, porque o mercado “paralelo” de vacinas, aquele mesmo que era buscado para “iniciativa privada”, alegando que isso era para “ajudar o Brasil” é um antro de picaretagem e de espertalhões.

Sim, é preciso expô-lo, ainda mais quando se trata de evidenciar o que faz um governo bandido a ponto de não se importar com a vida de centenas de milhares de brasileiros. E, como no velho latinismo Simila Similibus Curantur, também só se descortina a bandidagem com as brigas entre ela.

Daqui a pouco vamos ver como isso acontece, numa sessão da CPI que tem tudo para ser explosiva.

Tijolaço.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

UM DIA DE CÃO PARA O GOVERNO BOLSONARO QUE SE DIZIA INCORRUPTÍVEL, POR FERNANDO BRITO

O governo Jair Bolsonaro está feito barata-tonta desde o final da semana passada, quando o deputado Luís Miranda e seu irmão denunciaram irregularidades na compra das vacinas indianas Covaxin e que delas estaria ciente Jair Bolsonaro.

Para um presidente desastroso e crescentemente rejeitado, foi atingir sua alegação remanescente de legitimidade, ironicamente comemorada há dez dias, em meio a manifestações por todo o país com aquele “900 dias sem corrupção” em que se auto-louvava.

Ainda assim, a noite de ontem só foi comparável à de sexta-feira, na qual os Miranda entregaram o nome do líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros, como dono do “rolo” das vacinas superfaturadas.

Vale repassar o que ocorreu.

Até à tarde, havia danos, mas limitados.

O único fato novo era a terceira versão oficial sobre a reação oficial à denúncia. Agora, se dizia que Bolsonaro teria mandado Eduardo Pazuello apurar o que se passava e este teria repassado a missão a seu Secretário Executivo, o coronel Élcio Franco, que teria, em 24 horas, concluído que tudo estava correto. Isolada, a história já estaria mal contada e fica absolutamente inverossímil depois que o próprio Élcio, ao lado de Onyx Lorenzoni, disse que tudo era uma invenção dos Miranda, a partir de um documento falso que, em seguida, provar-se-ia verdadeiro e presente no sistema eletrônico do Ministério.

À tardinha, mais uma confissão de culpa: a ordem para suspender a compra da Covaxin, dada por Bolsonaro, através do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e pelo chefe da Controladoria Geral da União, Wagner do Rosário.

Logo a seguir, a aparente “boa notícia”, com a manifestação da Procuradoria Geral da República para que se deixasse em “banho maria” a notícia crime apresentada contra o presidente por senadores, sugerindo que se esperasse o fim das investigações da CPI para investigar a ocorrência de prevaricação nas atitudes de omissão diante da denúncia de irregularidades. A questão é que há um conteúdo não escrito, mas perceptível: O Procurador Augusto Aras deixou uma espada pendurada sobre Bolsonaro, para ser indicado ministro do STF.

Veio, então, a bomba na reportagem de Constança Rezende, na Folha, uma história que vai abrir novas galerias nos esgotos abertos da compra de vacinas, na qual o representante de uma empresa comercializadora de medicamentos teria ouvido o pedido de “um dólar por dose” feito pelo Diretor de Logística do MS, Roberto Dias, um indicado pelo PP de Ricardo Barros, para alimentar o bolso do “grupo”.

A demissão imediata de Dias, em outras circunstâncias uma rejeição a desonestidades, veio apenas carimbar a realidade de que havia um esquema de coleta de vantagens nas compras de medicamentos, que sobrevive e se amplia desde que Barros foi ministro de Michel Temer e, depois, passou a ser homem forte de Bolsonaro.

Daqui a pouco, começa a sessão da CPI e será votado o requerimento da presença do vendedor que teria sido achacado por Dias na sexta-feira, que será outra cena dantesca. A seguir, outro espetáculo de horrores, com o depoimento do cínico empresário bolsonarista Carlos Wizard, que está diretamente envolvido com os negócios de compra de vacinas por empresas privadas, da qual Ricardo Barros foi um dos grandes agentes.

Tijolaço.

terça-feira, 29 de junho de 2021

AS ESPERTEZAS DE PAULO GUEDES COM O IMPOSTO DE RENDA, POR LUIS NASSIF

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Paulo Guedes é malaca – expressão que o mercado emprega para os muitos espertos.

Prometeu uma reforma tributária. Em uma ponta, aumentaria as faixas de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física. Na outra, reduziria a tributação nas Pessoas Jurídicas.

Onde está a malandragem? Em uma esperteza matemática primária.

As faixas da tabelado imposto de renda são um valor nominal; ao contrário das alíquotas, que são percentuais fixos.

Explico.

1. Na tabela do IRPF, a primeira faixa corresponde a R$ 1,164,01.

2. Se a inflação for de 10% no ano, por exemplo, as faixas precisam ser corrigidas pelo mesmo percentual, para preservar o valor real da isenção. Se não é reajustado, o reajuste da renda, visando apenas manter o mesmo poder aquisitivo, passa a ser tratado como aumento real, sendo tributado. O que Paulo Guedes propõe é aumentar a faixa de isenção de R$ 1.903,98 para R$ 2.500,00, um reajuste de 31%.

Confira, abaixo, estudo feito pelo Sindifisco. A faixa de isenção deveria estar em R$ 4.022,89, para manter o valor real. Ou seja, muito acima do que o reajuste proposto por Guedes.

A tabela em seguida permite algumas leituras.

1. O que se paga a mais de Imposto de Renda, devido ao não reajuste da tabela do Imposto de Renda. Uma renda de R$ 5 mil mensais paga R$ 432,36 a mais.

2. Veja na última coluna, o que representa esse valor a mais sobre a renda do contribuinte. O sub-reajuste afeta mais a renda média de R$ 5.000,00. A partir daí, vai caindo o percentual sobre a renda. A partir de valores maiores, o aumento é percentualmente ínfimo. Se se quisesse justiça fiscal, teria que se criar alíquotas maiores para as últimas faixas de renda.

3. Confira que, a partir de R$de 20.000,00 o aumento de tributação é fixo, em R$ 967,50. Ou seja, quanto maior o salário, menor será o impacto do aumento de tributação devido ao sub-reajuste da tabela.

Portanto, o tal plano Paulo Guedes para Pessoa Física é uma miragem. Bastaria segurar o reajuste por alguns anos, com inflação média, para o presente ser devorado.


GGN.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

CLIMA DE VALE-TUDO TOMA CONTA DO GOVERNO, POR FERNANDO BRITO

O Brasil supera a capacidade criativa de qualquer ficcionista.

Nos jornais de segunda-feira, tem-se a impressão que se deve trazer para a cobertura o ‘jornalismo de celebridades’, porque a CPI da Covid abriu as cortinas para situações constrangedoras de toda a espécie, no melhor (ou pior) coquetel de séries de TV: sexo, dinheiro e poder.

O Globo sai na frente, com a história de que as ameaças da ex-mulher de Eduardo Pazuello de depor na CPI seriam provocadas pelo relacionamento que teria com uma jovem tenente-médica do Exército, a qual teria nomeado para alto cargo na Saúde. Seria, diz a jornalista Malu Gaspar, a redatora da nota do Ministério que prescreve cloroquina para Covid.

Já Ricardo Noblat diz que arquivos dos processos do Ministério estão sendo furiosamente apagados por temor de que, logo, logo, baixem por lá policiais federais para operação de busca e apreensão de documentos relativos a compra de vacinas, e não só as indianas.

Em todos os jornais, fecha-se o cerco sobre Ricardo Barros – figura cuja trajetória é um sumário de culpa – e assume-se que o deputado Luís Miranda tem nas mãos uma gravação da conversa em que o presidente aponta Barros como o autor de “rolos” na Saúde. Tenha ou não o áudio, só o fato de usar a ameaça de sua existência como “salvo conduto” diante das ameaças bolsonaristas mostra que, gravado ou não, o teor da conversa era aquele.

Do contrário, o estilo Bolsonaro seria o de desafiar a que se mostrasse o áudio.

Mas ele está, ainda, imóvel, diante de um mecanismo que não controla e que o espreme pela perda do poder e eternizar-se no comando do país. E que percebe estar dirigido para usar a sua deposição como fórmula desesperada de criar uma alternativa eleitoral ao favoritismo de Lula

Não ficará assim, é claro.

É preciso deixar os fatos se sucederem sem que isso nos leve para o meio deles.

Tijolaço.

domingo, 27 de junho de 2021

“CABOS” ELEITORAIS. E SOLDADOS, SARGENTOS, OFICIAIS… HIERARQUIA PARALELA, POR FERNANDO BRITO

“Isenção de IPI na compra de automóveis, crédito imobiliário e promessas de uma nova lei orgânica da Polícia Militar e da Polícia Civil para esvaziar o poder dos governadores. Essas são medidas com as quais o presidente Jair Bolsonaro busca garantir apoio dos policiais para sua campanha à reeleição em 2022 (…). Bolsonaro também nutre planos de politizar e aumentar a representatividade das forças estaduais no Congresso”.

A chamada de capa do Estadão elenca o que sempre foi um sonho deste governo: a manipulação política das forças de segurança, um terreno fértil não apenas para conseguir-se cabos eleitorais, mas, literalmente, além deles, soldados, sargentos e oficiais que sigam uma hierarquia paralela, onde os interesses mútuos – deles e do presidente – se sobreponham aos seus deveres e cadeias de comando regulares.

Numa palavra: pronto a agirem como um partido político e a amotinarem-se em defesa do que acham serem direitos – e também privilégios – devidos em razão de seus “méritos”.

Bolsonaro, acenando com vantagens, estimula o mesmo comportamento que o caracterizou quando era um simples tenente que planejava explodir bombas em latrinas de quartéis para conseguir aumentos de soldo. Fora, claro, dos aumentos “informais” que acha legítimo, com as atuações paralelas em organizações de segurança e esquemas milicianos.

Mas não é só: a reportagem de Vinícius Valfré e Felipe Frazão escancara a distribuição de cargos a policiais para usá-los como trampolins para futuros mandatos parlamentares e o uso das próprias instalações policiais para a “pré-campanha” presidencial. Não existiu nenhum governo no Brasil, mesmo no final do regime militar, que praticasse aquilo que o atual vice-presidente, general Hamilton Mourão: que, nos quartéis, “se entra política pela porta da frente, a disciplina e a hierarquia saem pelos fundos”.

Com um detalhe deprimente: já nem são os quartéis do Exército, Marinha e Aeronáutica, mas nos da PM e delegacias de polícia, que se espraiam pelas ruas permanentemente, ao contrários dos

Ao se reerguer a democracia brasileira – contra os perigos e ameaças que isso tem trazido – será obrigatório lançar mão de freios à ocupação da política pelos servidores públicos que, em nome do Estado, dispõe dos poderes de repressão, sejam juízes, promotores, militares ou policiais.

Não se trata de retirar-lhes os direitos políticos, inclusive os de serem votados. Mas de estabelecer, como a todos que usufruem de poderes acima do que tem qualquer cidadão, quarentenas até que possam separar o que fazem em nome da sociedade do que significa representá-la.

Até algum tempo atrás, a autocontenção de seus atos era o sugiciente para fazer disso uma questão menor. Já não é mais, a menos que queiramos, em pleno século 21, viver sob um estado policial.

Tijolaço.

sábado, 26 de junho de 2021

BOLSONARO EM PERIGO PODE RESULTAR EM STF COM DEZ MINISTROS, POR FERNANDO BRITO

Mais do que nunca, Jair Bolsonaro precisa manter o controle da Procuradoria Geral da República, garantindo que ela continue neste sua configuração sonolenta e que não se atreva a pretender instaurar apurações em que ele figure como investigado e que, portanto, possam vir a resultar em pedidos a que a Câmara dos Deputados decida se aceita ou não denúncia para processarr o presidente da República.

Para quem se esqueceu, foi o que Michel Temer, com centrão e com tudo, teve de enfrentar em duas ocasiões pelos fatos que surgiram com a gravação e as delações de Joesley Batista. Foram votações apertadas : 263 a 227 na primeira votação e 251 votos a 233, na segunda, ambas em 2017.

E é claro que terá muito peso a ambição pública do Procurador Geral Augusto Aras em ocupar uma cadeira no Supremo conduzir o Caso Covaxin com muito cuidado para não expor Bolsonaro a, pelo menos, um “mini-impeachment”: os 180 dias legais para a apuração, no caso de o STF aceitar a denúncia, depois de autorizada pela Câmara, em caso de crimes comuns (artigo 86 da Constituição).

E seria Aras quem poderia denunciá-lo. Substitui-lo, fosse por quem fosse, seria um risco adicional.

Mantê-lo, porém, nomeando outro para a cadeira que Marco Aurélio Mello deixará vazia logo, é quase o mesmo que fazer Aras dizer adeus à cadeira que almeja no STF e o recalque, todos sabem, é conselheiro de traições.

Pode ser, assim, que Bolsonaro atrase a indicação ao Senado do novo ministro, deixando que os apetites continuem a estimular fidelidades.

Mas, para isso, é preciso que creiam que ele pode ganhar as eleições e que, por isso, o Senado aceite um nome “terrivelmente terrível” para a Suprema Corte. Ou três, porque com o segundo mandato Bolsonaro teria a chance de encher de nulidades a Suprema Corte.

Tijolaço.

XADREZ DOS JOGOS DE PODER EM TORNO DO IMPEACHMENT DE BOLSONARO, POR LUÍS NASSIFF

Dois episódios recentes, fundamentais, ditarão os cenários políticos futuros: as últimas pesquisas, mostrando a probabilidade de Lula ser eleito no 1o turno; o escândalo Biontech-Covaxim, expondo as relações políticas e de negócios entre a família Bolsonaro (representada por Flávio) e o Centrão (representado pelo líder do governo Ricardo Barros.

Entenda.

PEÇA 1 – A ECONOMIA, O MOMENTO E O FUTURO

A pesquisa reflete o momento, os desastres continuados de Bolsonaro no combate à pandemia, seus arroubos e a permanência da crise econômica.

Há um conjunto de fatores pela frente, com vistas a 2022, cujos desdobramentos são de difícil aferição:

Recuperação relativa da economia – aumento das commodities, recuperação relativa da ociosidade da indústria poderão melhorar os indicadores de PIB. Por outro lado, permanece o enorme exército de desempregados.

Inflação em alta – a inflação está sendo pressionada pela soma de alta internacional das commodities e desvalorização cambial. Os últimos movimentos, de apreciação do câmbio poderá reduzir um pouco a pressão. Mas a elevação dos preços comprimiu as margens das empresas. Por isso, é pouco provável que a apreciação do câmbio se reflita sobre os preços.

Alta nos juros – a irracionalidade da política de metas inflacionárias levou o Banco Central a promover nova rodada de alta de juros, com impacto na recuperação da economia .

Efeitos da vacinação – em tese, deveria reduzir a incidência do Covid-19. Mas há sinais claros de entrada da terceira onda da pandemia, em um momento em que parcela pequena da população foi completamente vacinada.

Crise energética – a partir do segundo semestre haverá racionamento de energia ou, nos dizeres do governo, racionalização do consumo da energia. Haverá impacto óbvio nas tarifas de luz, impactando o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado e, também, o custo de produção das empresas.

Há uma probabilidade menor de recuperação da economia. Mas há que se considerar que qualquer melhoria, por mais discreta que seja, muda relativamente os humores do eleitorado.

Os próximos movimentos políticos se darão em torno desse jogo de dados sobre o potencial eleitoral de Bolsonaro.

PEÇA 2 – A CRISE DA BHARAT BIOTECH

A sucessão de escândalos em torno da vacina, obrigará as instituições a tomarem posição. Bolsonaro está se tornando insustentável. O que o mantém são apenas os cálculos em relação a 2022, pela dificuldade de se avaliar os desdobramentos do que vier a acontecer.

1. Se Bolsonaro é mantido no cargo, chegará a 2022 como uma ameaça de continuidade. Essa perspectiva reforçará a ideia do pacto em torno de Lula, afastando a viabilidade da terceira via.

Pelo contrário, se Bolsonaro cai, há dois movimentos subsequentes.

2. O primeiro, a tentativa do Partido Militar de se recompor em torno do vice-presidente Hamilton Mourão. Impressiona pelo eventual potencial golpistas, jamais por fôlego político.

3. A segunda, a tentativa de empinar a candidatura de um terceira via, da centro-direita autoritária, com probabilidade de ser Ciro Gomes.

Uma terceira possibilidade – menor – seria o bom senso baixar em um país e se manter a ideia de um pacto mais amplo, ensaiado a partir do encontro de Fernando Henrique Cardoso e Lula.

PEÇA 3 – AS DISPUTAS POLÍTICAS

Nos últimos meses, esvaíram-se os últimos ecos da Lava Jato. Sérgio Moro foi jogado no lixo da história sem choro nem vela. Deltan Dallagnol, que um dia julgou se tornar mais popular que Lula, não provoca comoção nem em seu antigo exército de robôs vingadores. No TRF-3, as últimas eleições afastaram de cargos de comando os principais desembargadores avalistas de Sérgio Moro. No Supremo, Luiz Edson Fachin queda e Luis Roberto Barroso se cala, esboçando alguma ação apenas na defesa do voto eletrônico. Mas o Supremo, como um todo, avança para segurar os esbirros autoritários de Bolsonaro.

Em todo esse movimento, foi mantido incólume a espinha dorsal da corrupção brasileira, o Centrão, a mais espúria força política do período pós-Constituinte. O grupo assumiu postos relevantes no governo FHC, quando houve a crise da energia, no governo Lula, depois do “mensalão”. E, quando extirpado do governo Dilma, promoveu o impeachment. 

Ontem, a CPI confirmou o que o GGN vem antecipando há semanas: o papel do Centrão e do líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR) no caso Covaxin-Biotech, talvez o maior escândalo da história da República, devido ao envolvimento direto do presidente da República no episódio.

O oportunismo da Lava Jato e Sérgio Moro de atuarem como atores políticos, acabou poupando o Centrão, com exceção do breve interregno da prisão de Michel Temer e da condenação de Eduardo Cunha. Nada aconteceu com Eliseu Padilha, Wellington Moreira Franco, Fernando Bezerra, Ricardo Barros.

Agora, o episódio liga o Centrão, articulado por Ricardo Barros, diretamente ao esquema Bolsonaro, representado por seu filho Flávio Bolsonaro. Ontem, a revista Veja mostrou que Flávio teve reunião virtual com o presidente do BNDES para interceder pelos donos da Precisa, a distribuidora de medicamentos por trás do escândalo Covaxim-Biontech.

O episódio pega a centro da corrupção política brasileira, com desdobramentos imprevisíveis. De qualquer modo, acendeu uma luz para iluminar o futuro. Daqui para frente, o desmanche do Centrão entra no foco de qualquer reforma política futura. E será peça central para a disputa em torno do impeachment de Bolsonaro.

PEÇA 4 – AS DISPUTAS ECONÔMICAS

O ponto central, para o pós-Bolsonaro, é a disputa econômica. O extraordinário poder acumulado pelo lobby financeiro levou  à tragédia atual. Valeram-se da crise do governo Dilma para impor o início do desmanche do Estado brasileiro, com a “ponte para o futuro”, a destruição de qualquer veleidade de estado social, com Lei do Teto, reforma da Previdência e reforma trabalhista e os obscuros negócios da privatização. E mantiveram intocado o controle do mercado sobre a política econômica

Nos próximos meses, no embalo das novas formações políticas, visando o pós-bolsonarismo, ficarão mais nítidas as diferenças entre a centro-esquerda progressista e a centro-direita liberal. Ambas tratarão de avançar em discursos sociais. A diferença é que a centro-direita se limitará a demonstrações de bom mocismo, preservando a extraordinária concentração de renda no país, a continuação do desmanche do Estado e a privatização de estatais estratégicas.

Haverá consenso apenas em relação às políticas de saúde, educacional e de renda básica.

PEÇA 5 – OS PROVÁVEIS ATORES POLÍTICOS

O próximo tempo político provavelmente será ocupado por Lula e Ciro Gomes. O restante é perfumaria, Mandetta, Sérgio Moro, Dória, Huck.

Lula é o negociador nato, com todas as vantagens e desvantagens dessa posição. No grande pacto que pretende montar, como ficariam as relações com o mercado? Mudaria as políticas de câmbio e juros? Conseguiria implementar suas bandeiras de desenvolvimento social com as restrições monetárias e fiscais? A necessidade de manter a governabilidade permitiria reconstruir parte do estado social destruído? 

Tem a vantagem de um acervo de experiências bem sucedidas, e de experimentos mal sucedidos – com as lições de como corrigir erros. E, certamente, conseguirá reverter os maiores exageros do período Paulo Guedes, fortalecendo novamente as representações de trabalhadores, da indústria e do setor real.

Mas o grande pacto do passado – PT e PSDB – hoje é apenas simbólico, representado pelo encontro FHC-Lula, depois que o PSDB derivou irremediavelmente para a direita.

Ciro Gomes é um camaleão político de viés autoritário. Com exceção da idoneidade e do melhor preparo intelectual, é parecido com José Serra. Fareja determinadas bandeiras, de nicho ou mais amplas, e incorpora em seu discurso, sem se preocupar muito com a coerência.

Por exemplo, no auge dos abusos da Lava Jato, chegou a afirmar que, se sua casa fosse invadida, como foram as de tantas outras vítimas – inocentes ou não – da Lava Jato, receberia Moro à mala. Agora, vendo a bandeira do punitivismo sem dono, incorpora o moralismo exacerbado da Lava Jato, pretendendo herdar os lavajatistas órfãos.

No início do Real, tornou-se um defensor ultra-radical das políticas de câmbio e juros. Depois, se tornou um crítico visceral da política de câmbio e juros. Nos últimos tempos, de crítico severo de FHC tornou-se admirador.

Percebeu que o desenvolvimentismo estava órfão de candidatos e se aproximou dos principais pensadores. Depois, se tocou que a Terceira Via estava sem candidato e tratou de empinar seu papagaio em direção a ela e ao mercado. E, agora, soma seu caráter bélico a João Santana, marqueteiro especializado em destruir adversários e responsável pelos momentos mais ilegítimos da campanha de Dilma Rousseff e radicaliza um antipetismo anacrônico e iracundo.

O que seria o presidente Ciro? Em relação à economia manteria o desenvolvimentismo ou negociaria com o mercado? Qual seria reação teria se medidas suas fossem contidas pelo Supremo? A única certeza é que, pelo seu temperamento, jamais se abriria para a sociedade civil, movimentos sociais, associações empresariais, corporações públicas, fórum de prefeitos e governadores, já que é dono de convicções mutantes, porém inabaláveis em cada etapa da mudança.

Em suma, mesmo após o pesadelo Bolsonaro, há um longo caminho para a conquista da democracia e do pacto em torno de um projeto de desenvolvimento social.

GGN.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

SEGUNDO PESQUISA IPEC LULA VENCERIA NO 1° TURNO; RESTA BOLSONARO ESPERNEAR PARA NÃO SE DISSOLVER

Estava evidente e foi assinalado aqui, ontem à tarde que se a pesquisa de aprovação (e, sobretudo, de reprovação) do governo, se tivesse um capítulo sobre intenções de voto, não há dúvida que revelará um cenário onde o favoritismo de Lula vai esboçando uma decisão em primeiro turno.

E, de madrugada, vieram os números do Ipec, o ex-Ibope, devastadores tanto para Bolsonaro quando para os crentes da “Terceira Via”, apontando uma vitória, folgada, de Lula no 1° turno.

Os 49% que ele registra, convertidos em percentagens sobre os votos válidos, equivale a 59% para o ex-presidente, mais do que qualquer candidato petista teve em quaisquer das eleições presidenciais em toda a história.

E em tendência forte de alta, enquanto Bolsonaro mingua em todas as áreas do eleitorado. Mesmo nos recortes onde se sai melhor, não chega a um terço do eleitorado.

Ciro e Dória, como mostra a ilustração, continuam encruado em índices miúdos e, pior, ver mesmo isso se dissolver no crescente antibolsonarismo do eleitor, ansioso por dar fim a esta experiência malograda para o país.

Mandetta, o lanterninha entre os cinco nomes medidos na pesquisa, segue firme na sua cruzada para ser candidato a vice ou garantir uma eleição à Câmara ou Senado como campeão de votos, e talvez fora do Mato Grosso do Sul, onde enfrentaria problemas de espaço com seus sempre patrocinadores, a família Trad.

A pesquisa vai levar Bolsonaro a uma nova onda de agressividade antilulista, a forma que tem de segurar seus decrescentes eleitores.

E Lula?

Lula sabe que ainda não é hora de sacudir o seu favoritismo em praça pública, embora sinta-se cada vez mais atraído por mergulhar no rio Estige, aquele onde Aquiles foi banhado para tornar-se invulnerável.

Sabe, porém, que precisa proteger seu calcanhar – a ainda resistente ideia de que tem rejeição pela onda de ódio que dispensava argumentos.

Vai deixar que a força gravitacional que sua liderança folgada siga desagregando os blocos de resistência que ainda existem e, ao contrário, vá somando apoios dos quais irá precisar, se não para ganhar, para governar um país em ruínas.

Tijolaço.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

LULA ESTÁ PERTO DE NÃO TER PROCESSOS NA JUSTIÇA, POR FERNANDO BRITO

A decisão de Gilmar Mendes de estender a dois outros processos da “Lava Jato” a declaração de suspeição de Sérgio Moro: além do caso do “triplex” de Guarujá, também os do “Sítio de Atibaia” e o do “terreno do Instituto Lula”. Na 13ª Vara Criminal de Curitiba, resta apenas o que tenta incriminá-lo por doações ao Instituto Lula, negócio privado, igual aos realizados pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso, que não tem bases sólidas para prosperar, mas que não teve participação direta de Sergio Moro, embora estivesse lá a turma de Deltan Dallagnol.

Todas estas acusações, se o MP quiser retomar, terão de ser iniciadas do princípio, com o oferecimento de denúncia e em outras varas, porque sobre a do Paraná sobrevive a decretação de incompetência territorial afirmada por Luiz Edson Fachin e referendada pelo pleno do STF.

Em resumo, deixaram de existir.

Há boas chances de que Lula vá à disputa eleitoral sem ser réu em nenhum processo.

Seu melhor advogado, hoje, chama-se Sérgio Fernando Moro, o ex-herói maldito, o homem que levou Jair Bolsonaro ao poder.

Na decisão que estendeu a nulidade por suspeição de suas decisões nos processos de Lula, Gilmar Mendes assume claramente este veredito:

“O último fato indicativo da perda de imparcialidade do magistrado consiste no fato de haver aceitado o cargo de Ministro da Justiça após a eleição do atual Presidente da República, Jair Bolsonaro, que há muito despontava como principal adversário político do paciente. Sergio Moro decidiu fazer parte do Governo que se elegeu em oposição ao partido cujo maior representante é Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-juiz foi diretamente beneficiado pela condenação e prisão do paciente”.

Quem pode, hoje, descrer que Moro tenha sido o mentor de um delírio que fez o Brasil entrar na desventura Bolsonaro?

Ou de que Lula é o remédio, ainda que amargo para alguns, para este pesadelo?

Tijolaço.

O DOCUMENTO ‘FALSO’ ESTÁ NO SISTEMA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, PORTANTO, É REAL, POR FERNANDO BRITO

O jornal O Globo publicou, agora há pouco, a prova de que é mentira a alegação feita ontem por Onyx Lorenzoni de que o documento apresentado pelo servidor Luis Ricado Miranda e por seu irmão, o deputado Luís Miranda e entregue por ambos a Jair Bolsonaro seria forjado.

O documento está no sistema de documentação do Ministério da Saúde e contém exatamente o que os Miranda alegavam: a nota é de uma outra empresa, o pagamento está consignado como “adiantado” e diz que os 300 mil frascos (3 milhões de doses) seriam despachados ao longo do mês de abril.

Ontem, Lorenzoni e o coronel Élcio Franco disseram que o documento era “falso” e iam pedir perícia sobre ele.

Todos os documentos mostrados por ambos como sendo os verdadeiros são posteriores ao dia 20 de março e, portanto, são eles que podem ter sido produzidos para darem cobertura a uma tentativa de encobrimento de negócios ilícitos.

Aliás, há o registro de uma “retificação” posteiror da “nota fiscal” das vacinas.

É provável que acabe acontecendo – que vergonha! – uma ação de busca e apreensão nos computadores do Ministério, para a coleta de documentos relativos à compra da Covaxin.

E certo de que Onyx seja convocado a depor e a narrar de onde lhe apareceu a história da “falsa falsidade” do documento que exibiu em pleno Palácio do Planalto.

Tijolaço.