O
governo Jair Bolsonaro está feito barata-tonta desde o final da semana passada,
quando o deputado Luís Miranda e seu irmão denunciaram irregularidades na
compra das vacinas indianas Covaxin e que delas estaria ciente Jair Bolsonaro.
Para
um presidente desastroso e crescentemente rejeitado, foi atingir sua alegação
remanescente de legitimidade, ironicamente comemorada há dez dias, em meio a
manifestações por todo o país com aquele “900 dias sem corrupção” em que se
auto-louvava.
Ainda
assim, a noite de ontem só foi comparável à de sexta-feira, na qual os Miranda
entregaram o nome do líder do Governo na Câmara, Ricardo Barros, como dono do
“rolo” das vacinas superfaturadas.
Vale
repassar o que ocorreu.
Até
à tarde, havia danos, mas limitados.
O
único fato novo era a terceira versão oficial sobre a reação oficial à
denúncia. Agora, se dizia que Bolsonaro teria mandado Eduardo Pazuello apurar o
que se passava e este teria repassado a missão a seu Secretário Executivo, o
coronel Élcio Franco, que teria, em 24 horas, concluído que tudo estava
correto. Isolada, a história já estaria mal contada e fica absolutamente
inverossímil depois que o próprio Élcio, ao lado de Onyx Lorenzoni, disse que
tudo era uma invenção dos Miranda, a partir de um documento falso que, em seguida,
provar-se-ia verdadeiro e presente no sistema eletrônico do Ministério.
À
tardinha, mais uma confissão de culpa: a ordem para suspender a compra da
Covaxin, dada por Bolsonaro, através do Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e
pelo chefe da Controladoria Geral da União, Wagner do Rosário.
Logo
a seguir, a aparente “boa notícia”, com a manifestação da Procuradoria Geral da
República para que se deixasse em “banho maria” a notícia crime apresentada
contra o presidente por senadores, sugerindo que se esperasse o fim das
investigações da CPI para investigar a ocorrência de prevaricação nas atitudes
de omissão diante da denúncia de irregularidades. A questão é que há um
conteúdo não escrito, mas perceptível: O Procurador Augusto Aras deixou uma
espada pendurada sobre Bolsonaro, para ser indicado ministro do STF.
Veio,
então, a bomba na reportagem de Constança Rezende, na Folha, uma história que
vai abrir novas galerias nos esgotos abertos da compra de vacinas, na qual o
representante de uma empresa comercializadora de medicamentos teria ouvido o
pedido de “um dólar por dose” feito pelo Diretor de Logística do MS, Roberto
Dias, um indicado pelo PP de Ricardo Barros, para alimentar o bolso do “grupo”.
A
demissão imediata de Dias, em outras circunstâncias uma rejeição a
desonestidades, veio apenas carimbar a realidade de que havia um esquema de
coleta de vantagens nas compras de medicamentos, que sobrevive e se amplia
desde que Barros foi ministro de Michel Temer e, depois, passou a ser homem
forte de Bolsonaro.
Daqui
a pouco, começa a sessão da CPI e será votado o requerimento da presença do
vendedor que teria sido achacado por Dias na sexta-feira, que será outra cena
dantesca. A seguir, outro espetáculo de horrores, com o depoimento do cínico
empresário bolsonarista Carlos Wizard, que está diretamente envolvido com os
negócios de compra de vacinas por empresas privadas, da qual Ricardo Barros foi
um dos grandes agentes.
Tijolaço.
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