Depois
de obter um habeas corpus para calar diante da CPI, Francisco Maximiano, o dono
da Precisa Medicamentos fez um “depoimento” unilateral em vídeo, e o enviou à
Comissão Parlamentar de Inquérito e ao SBT, emissora de TV do quintal
bolsonarista, ainda mais depois que foi colocado à testa do Ministério das
Comunicações o deputado Fábio Faria, genro de Silvio Santos.
Nele,
acusa de mentirosos os irmãos Miranda, que dizem ter denunciado a Jair
Bolsonaro as suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.
O
argumento é o de que seriam apenas “erros formais” na fatura de pagamento do
primeiro lote da vacina, embora seja incompreensível que uma fatura de US$ 45
milhões pudesse ser feita com tanta distração que exigisse duas correções.
O
ponto central de sua defesa, porem, é a alegação de que a “invoice” malandreada
com um “pagamento antecipado” e em nome de uma empresa que não constava no
contrato como vendedora, só teria sua primeira versão entregue no dia 22 de
março ao Ministério. Dois dias depois, portanto, do encontro entre Luís e Luís
Ricardo com o presidente da República.
O
documento, não se sabe a razão, não teria sido incluído no “pacote” de
downloads enviado via Dropbox, um site de envios público na internet.
Tecnicamente,
se houver perícia, é possível verificar se esta versão é consistente, inclusive
porque uma pasta de documentos enviados por este meio pode ser alterada e ter
arquivos excluídos, temporária ou definitivamente.
Além
do mais, ao baixar arquivos por esta via, os computadores do Ministério da
Saúde vão gerar data e horário da criação de arquivo-cópia e isto pode ser
auditado.
Mesmo
sem perícia, porém, um detalhe chama a atenção.
Além
de provar que o arquivo – anteriormente apontado como falso pelo Planalto, via
Onyx Lorenzoni e Élcio Franco – é verdadeiro, confirma que foi criado pela
Madison (que iria receber o dinheiro em nome da Bharat Biotech) produziu a
fatura “errada” no dia 19, enviou-se por e-mail e, por tratar-se de uma
sexta-feira, a Precisa só encaminhou o documento dia 22, sendo, portanto,
impossível que Miranda a tivesse no dia 20, para mostrar ao presidente.
Bem,
supondo que a fatura fosse enviada da Bharat Biontech, na Índia, ou da
“portinha” que é a Madison, em Cingapura, no “final do expediente” preguiçoso
de uma sexta feira, às 17 horas, hora local, isso corresponderia a 8:30 da
manhã, no caso da Índia, ou a 6 horas da manhã, no caso de Cingapura. No
próprio ‘depovídeo” Maximiniano mostra que lhes chegou no mesmo dia 19, às 4:26
da manhã, o que aquele fuso horário explica.
O
que faria uma empresa reter da manhã de sexta-feira até segunda às 10:21 um
documento que era só encaminhar para fazer o processo andar e olhe que era um
processo de US$ 45 milhões? Preguiça da Precisa diante do necessário para
receber a “bolada” de sua comissão na compra?
Como
diz Omar Aziz, “chapéu de otário é marreta”.
E
se não havia a “invoice”, que indícios poderiam ter sido levados a Bolsonaro a
ponto de lhe provocar o explosivo “rolo do Ricardo Barros” dito aos irmãos
Miranda que mantém há uma semana a família presidencial morrendo de medo de
que esteja gravado?
Além
do mais, a “invoice” enviada neste e-mail fala em “Proforma Invoice” com a
expressão “requested”, o que é “solicitada”, solicitação indica correção de uma
primeira versão inadequada, até porque uma empresa de exportação sabe
perfeitamente que uma fatura seria necessária desde o início. E, notem na
reportagem de O Globo, no dia 24 de junho, que há TRÊS e não duas
“invoices” no processo, indicando que houve, portanto, uma original, errada, e
duas correções.
O
vídeo do sr. Francisco Maximiano tem toda a pinta de virar um “áudio do
Dominguetti”, desfazendo-se por suas próprias contradições. Talvez por isso, em
momento nenhum ele mostra seu rosto, o que já, de cara, é motivo para que se
desconsidere os argumentos de um covarde. Mas isso não vai acontecer e é
possível que e tenha consumado aquilo do que o HC do Supremo protegia Francisco
Maxmiano: produzir provas contra si mesmo.
O piada é pronta: Maximiano, o “Mister M” da Precisa.
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