segunda-feira, 12 de outubro de 2020

“UNS COM TANTO, OUTROS TANTOS SEM NENHUM”, POR FERNANDO BRITO

Fala-se, e com razão, que se criou uma casta de altos funcionários públicos que recebe altos valores, sobretudo no Judiciário.

É verdade e isso precisa ser, de fato, limitado e a Folha hoje, em reportagem sobre os reajustes do funcionalismo, mostra o quanto é injusta a generalização que se criou, porque a grande maioria dos servidores tem vencimentos, para usar uma expressão generosa, muito modestos.

Ainda assim, continua-se apelando para o conceito de “média”, como se houvesse algum sentido em somar o vencimento de um alto burocrata das “carreiras típicas de Estado” com os R$ 1.200 de funcionários administrativos de nível médio.

Tirando-os da conta. a média de remuneração entre serviço público e empresa privada torna-se quase que exatamente a mesma.

Todos concordamos que é preciso limitar o “majaranato” do serviço público, eliminando os casos de remunerações de 50, 60, 70 vezes o salário minimo.

Mas, e o “marajanato privado”?

Dias atrás, o Valor publicou a tabela acima, sobre os ganhos dos presidentes de empresas privadas (os “CEO”) e a média – veja bem – a média dos empregados de suas empresas, aos quais, cinicamente, chamam de “colaboradores”.

O escândalo é visível e não precisa ser descrito.

Se há diferenças em torno e até acima de 500 vezes em relação ao salário médio, é certo que a diferença entre e o máximo e o mínimo fique em cerca de mil vezes: mil para um; um milhão para outro, todo mês.

É evidente que não se pode predefinir salários em empresas particulares, como também é certo que, no serviço público, também permanecerão intocadas as natas do funcionalismo.

A melhor e mais fácil maneira de corrigir a uns e a outros tem um nome em qualquer lugar do mundo: imposto.

A conversa sobre carga tributária é cheia de hipocrisisas.

Temos as menores alíquotas de imposto de renda para as camadas de alta renda da população, e mesmo este imposto, quando desconsidera isentos as transferências provenientes de duas “jabuticabas tributárias”, no dizer dos economistas Sérgio Gobetti e Rodolfo Urair:

Nos Estados Unidos, por exemplo, as empresas chegam a pagar 39,1% de imposto sobre o lucro e seus acionistas, quando recebem os dividendos, são tributados em até mais 30,3%. E essa não é uma exceção: em média, entre os 34 países da OCDE, o lucro é tributado em 25% na pessoa jurídica e o dividendo em 24% na pessoa física. Já no Brasil a regra geral, que se aplica às grandes empresas, é tributar o lucro em 34% (somando IRPJ e CSLL). Mas muitas corporações se utilizam de benefícios fiscais, como a dedução dos “juros sobre capital próprio” da base de cálculo (outra jabuticaba tributária), que reduzem a alíquota efetiva para patamares entre 20% e 30%. E os dividendos ficam isentos, não importa a renda do beneficiário.

Jabuticabas, sim, porque , como a fruta, so existem no Brasil, se esquecermos a desimportânte Estônia, que quase ninguém sequer sabe onde fica.

Portanto, quando você ouvir explicações muito complicadas sobre como temos uma altíssima carga tributária, ponha a pulga atrás da orelha. Complicar, em geral, serve para esconder o que é simples.

Do Tijolaço

domingo, 11 de outubro de 2020

COMO NOS TORNAMOS ESTÚPIDOS, POR FERNANDO BRITO

Duas imagens destes dias mergulham em tristeza o domingo do autor.

A multidão insana espremida na inauguração da loja da Havan em Belém, sob a batuta de um idiota vestido de pateta e a “muvuca” da porta das boates da Barra da Tijuca.

Caro que o risco sanitário é o mais grave, num olhar imediato e raso, por isso estar acontecendo no momento em que o Brasil chega a 150 mil mortos, a terceira maior taxa do mundo, mas há ali mais para ver.

O processo de idiotização da sociedade vai muito além de ter sido eleito um personagem como Jair Bolsonaro para a presidência e toma ares de um hedonismo consumista absolutamente ensandecido.

Claro que o exemplo da insanidade presidencial influi, mas seria injusto, mesmo para com ele, dizer que é o único fator desta loucura coletiva.

O mundo se tornou volátil em tudo, de telefones a vidas, tudo é descartável.

Pessoas, inclusive.

Para quê? Para curtir uma noite de balada, comprar uma porcaria qualquer, sem sentido…

Não é uma multidão de miseráveis, avançando sobre a comida de um caminhão tombado. É gente que tem todas as condições de pensar, de refrear-se, de ser prudente.

Não são a maioria, é verdade, e o demonstra o resultado de pesquisas publicadas hoje, pelo Datafolha.

Mais são muito e, pior, arriscam a vidas dos que permanecem sãos, inclusive mentalmente.

Destruir a política foi um processo muito fácil quando já se vinha destruindo o conceito de coletividade, de sociedade.

O resultado é este: a democratização da estupidez.

Do Tijolaço

sábado, 10 de outubro de 2020

150 MIL MORTES E “DESCOBRIMOS A CURA DA COVID”. BASTA IGNORÁ-LA…POR FERNANDO BRITO

 

Não tem mais medida sanitária, a não ser ainda boa parte das pessoas estarem andando de máscara, ainda que muitas delas com o nariz de fora.

Quem duvidar, olhe o movimento pré-Dia da Criança na 25 de março, em São Paulo.

É assim que chegamos aos 150 mil mortos pela Covid-19 e, mantida atual média, teremos 200 mil brasileiros a menos quando espoucarem os fogos do final do ano.

Estamos quase “festejando” termos “apenas” 600 mortos por dia, uma média que nos remete a mais que isso no final deste desgraçado 2020.

Dois meses depois de se falar que uma vacina era iminente, ela continua distante, num horizonte enevoado de prazos e de eficácia.

Não é só aqui: no mundo, o número de casos diários de infecção superam pelo terceiro dia consecutivo a marca de 300 mil e temos 1 milhão de novos infectados a cada três dias.

Mas parece que a terapêutica é a “coragem pessoal” de negar sua gravidade. Que é Donald Trump arrancar sua máscara diante de centenas de apoiadores reunidos na Casa Branca e de Bolsonaro tornar-se um herói, como registra o jornal inglês The Guardian com a pandemia que, afinal, só afeta “bundões”.

Pobres coitados dos que esperavam um “novo mundo”, mais solidário, depois da pandemia. O que temos é um novo mundo mais cínico, mais egoísta, mais centrado no dinheiro que nas vidas humanas.

Os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres e mais pobres ficarão.

O romantismo de pseudointelectuais que vê na degradação da vida humana o caminho do humanismo provou-se, de novo, uma tolice. Quanto mais mergulhados na selva, mais selvagens.

Do Tijolaço

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

FILME GRAVADO COM CRIANÇAS DE ESCOLA DO MST ESTREIA NESTA SEXTA-FEIRA (9)

"Um fantasma ronda o acampamento" é baseado no livro homônimo de Maria José Silveira
Parte da equipe que produziu o filme - Divulgação MST

Estreia nesta sexta-feira (9), às 19h, o filme "Um fantasma ronda o acampamento", gravado com crianças da Ciranda Saci Pererê, da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A obra é baseada no livro homônimo da escritora Maria José Silveira, que vai participar de uma live no canal do MST no Youtube antes da exibição do filme.

A programação encerra a "Mostra Cinema na Terra: a Conquista das Telas", organizada pela Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho (BAEC), que começou em 11 de setembro.

O livro que inspirou o filme foi publicado em 2006 pela Editora Expressão Popular e é destinado ao público pré-adolescente. Na história, os sem-terrinha descobrem a trama de um fazendeiro e seus capangas para assustar e retirar um acampamento do MST recém-instalado.

Révero Ribeiro, militante que coordena as atividades culturais e artísticas na ENFF, participou do projeto desde a concepção. "É muito importante as pessoas de fora do MST terem contato com essa realidade, porque não é o que elas conhecem pela mídia. Ter contato com o filme vai revelar para sociedade a luta a partir do próprio movimento”, disse na quinta-feira (8) à página do MST.

As filmagens ocorreram na ENFF entre os meses de julho e agosto de 2019. Foram oito dias de trabalho com as crianças, atores e atrizes populares do MST.

Brasil de Fato

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

BOLSONARO MIRA O VOTO LAVAJATISTA AO DESTRUIR MORO, POR FERNANDO BRITO

Não há nenhuma surpresa na ofensiva de Jair Bolsonaro para destruir politicamente Sergio Moro e o que resta da Operação Lava Jato.

O centro deste movimento estratégico é “limpar a área” de 2022 e para isso é preciso que o ex-juiz seja totalmente inviabilizado como candidato e não apenas como candidato com possibilidades de tornar-se o ou um dos favoritos no pleito presidencial.

O poder imperial não admite partilhas e Bolsonaro jamais permitiu que vicejassem, à sua sombra, ninguém mais além de sua prole, cotistas do empreendimento bolsonariano.

Sem o seu “mito curitibano”, seus adeptos naturalmente derramariam seus votos com a justificativa de “não permitir a volta da esquerda”. Claro que, para isso, é preciso que haja uma candidatura de esquerda ou centro esquerda expressiva, que justifique o “perdão” eleitoral ao executor do ex-juiz.

Embora todos saibam que o carrasco é filho político do lavajatismo, não enxergam que só um autoritário poderia ser parido por uma treva como a que Moro fez descer sobre o país.

Há, ainda, um objetivo acessório: o pessoal do Centrão, envolvido até à medula nos casos suspeitos, ganha não só a anistia como, ainda, um passe livre para reestruturar, discretamente, os esquemas que sempre garantiram suas estruturas políticas. Afinal, “a corrupção acabou”, não é mesmo?

Aliás, isso foi um dos maiores benefício de descobrir-se que a terra é plana: a história só pode ser vista por um lado e na superfície.

Do Tijolaço

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

BRASIL JÁ CHEGOU A 5 MILHÕES DE CASOS DE COVID-19, POR FERNANDO BRITO

Os números totalizados agora há pouco pelas secretarias estaduais de Saúde mostram que o Brasil alcançou a marca de 5 milhões de pessoas infectadas pelo Sars-Cov-2, o vírus da pandemia da Covid-19.

De cada sete seres humanos infectados, um é brasileiro, embora os brasileiros sejam menos de 3% da população mundial.

É que o Brasil está em 3° lugar tanto em número de casos por habitantes (2,4 % se infectaram) e também de mortos, com 705 óbitos por milhão.

Talvez seja ainda pior, porque o Brasil está apenas de 89? lugar entre os países em matéria de pessoas submetidas a testes.

Embora o número de mortes siga alto, pouco acima de 600 por dia, em média, tem caído. Mas o número de casos, que vinha caindo, voltou a subir nos últimos dois dias, voltando a registrar mais de 30 mil num único dia.

 Do Tijolaço

terça-feira, 6 de outubro de 2020

OS RAMBOS E OS RATOS, POR FERNANDO BRITO


 Duas reportagens, hoje, dão o que pensar.

Em O Globo, “Ibope revela dificuldade de bolsonaristas e petistas chegarem ao segundo turno” mostra que, da onda anticorrupção salvaram-se exatamente os partidos mais envolvidos na corrupção – PP, PSD,Republicanos, etc…

A outra, na Folha e em vários jornais, trata da “pacificação entre Bolsonaro, Maia, Paulo Guedes e outros tantos que, poucas semanas e dias atrás, “trocavam de mal” e xingavam-se as mães.

São, é fácil ver, os dois lados da “despolitização da política”: o pacto conservador sobrevivendo com os “bons modos” que lhe tiravam os “minions” – o choro da tal Sara Winter, abandonada, é das coisas mais patéticas que já se viu – e de uma esquerda que, de tão focada nos umbigos do identitarismos e no “minha tribo, minha vida” que foi perdendo a conexão com a realidade e não consegue galvanizar os desejos da população mais pobre e menos ainda os da classe média órfã de seu próprio moralismo.

Não é, certamente, um fenômeno exclusivamente brasileiro. A “onda” de direita começou na Europa, espraiou-se para o EUA e aportou aqui, na praia aberta por Sergio Moro com a Lava Jato. Moralismo no atacado e “bolhas”, no varejo, mudaram o jogo de poder mundo afora.

É preciso ser muito ingênuo para acreditar que tudo isso se deu naturalmente, sem forças que atuavam e atuam de maneira global e que, usando como canal as redes sociais, passaram a influenciar como nunca as, até então, “maiorias silenciosas”.

Afinal, se esta máquina está montada para ganhar dinheiro – e o documentário “O Dilema das Redes (Social Media, Neflix) é uma pobre e pálida imagem do que ela é, em manipulação para o consumo – porque não se teria o mesmo uso voltado para o poder?

É por isso que Trump está jogando, quase que impunemente, com pressões e ameaças que os Estados Unidos jamais assistiram, como são exemplo a carga contra os votos postais – tradição no país e mais importantes ainda durante uma pandemia mortal – e ameaças de não fazer a entrega do poder ao um adversário vitorioso nas urnas. Duvido que alguém se recorde de um confronto tão aberto desde a guerra civil dos EUA, há mais de um século e meio.

O que lhe dá suporte é a histeria de redes sociais manipuladas, com estruturas ocultas que amplificam, em meio à mediocridade “patriótica”, as ameaças de caos em caso de sua derrota.

A derrota de Donald Trump não será apenas uma mudança nas relações diplomáticas e comerciais em escala global, mas terá um efeito profundo na vida política interna de países como o nosso, alagados pela onda direitista, mais feroz e daninha do que a onda liberal dos anos 90.

Do Tijolaço

ENTENDA COMO O SUPREMO VENDEU A PARTE MAIS LUCRATIVA E DE MENOR RISCO DA PETROBRAS, COMENTÁRIO DE ED VETT

Estão VENDENDO para a CONCORRÊNCIA negócios que geram uma proporção de "300" de baixo risco e alto valor agregado para ficar com "60" de alto risco, volatilidade e baixo valor agregado.

Com caso Petrobras, Supremo não se mostra à altura do momento.

O principal aspecto que deveria ser juridicamente discutido é a validade de um governo qualquer (transitório) sair vendendo O QUE NÃO É DE PROPRIEDADE DELES.

Embora privatização não seja um tabu (pode ser válida), existem dezenas de argumentos contra privatizações desenfreadas que trazem gigantescos prejuízos correntes e futuros à nação e excepcionais benefícios aos privatas que as assumem, mediante a facilitação de pessoas que NÂO foram eleitas ou nomeadas como CORRETORES de patrimônio, mas como ADMINISTRADORES, prepostos eleitos para administrar a coisa pública com EXCELÊNCIA e não desfazer-se deles na primeira oportunidade por qualquer desculpa esfarrapada (comumente inaceitáveis ou inexistentes).

No capitalismo, que tem autoridade para isso são os DONOS (o contribuinte) e não os executivos, sejam diretores e/ou seus presidentes. Muito menos um eleito transitório e oportunista.

Privatizações relevantes devem ser REFERENDADAS oficialmente pelos eleitores, que podem fazê-lo de 2 em 2 anos ou em edição extraordinária, se necessário.

http://chng.it/vCK5tgxy

Quanto ao caso específico do desmonte da Petrobrás para torná-la um quiosque de venda de latinhas de graxa, chamarei a atenção de apenas 3 pontos, dentre dezenas, alguns já citados aqui:

1) A Petrobrás SEMPRE deu lucro operacional. O resto é contabilidade marota que sequer diferencia dívida de investimento.

2) Olhando-se o balanço de uma das maiores petroleiras do mundo, constata-se que a atividade de “upstream” (prospecção e produção de petróleo das jazidas), de alto risco e dependência de custo e preço de mercado, a razão é de 60 bilhões para 300 bilhões no “downstream”, que trata de agregar valor ao óleo cru em refino e distribuição de produtos como combustíveis, lubrificantes, petroquímicos ao consumidor final, pessoal ou jurídico.

Portanto pode-se afirmar com todas as letras que estão VENDENDO para a CONCORRÊNCIA negócios que geram uma proporção de “300” de baixo risco e alto valor agregado para ficar com “60” de alto risco, volatilidade e baixo valor agregado.

Desafio os vendedores governamentais e seus auxiliares “associados” a trazer as verdadeiras causas de tal trágica barbaridade, sendo assistida por toda a população brasileira que pagou por tais investimentos estratégicos (a maioria bem sucedidos), sem destaque pela míRdia que faz parte deste criminoso golpe contra a nação.

Pelo interesse de poucos milhares contra o de muitos milhões.

Do GGN

domingo, 4 de outubro de 2020

A DONALD TRUMP CAMINHO DA DERROTA, FERNANDO BRITO

O “passeio eleitoral” de Donald Trump, dando “uma voltinha” de carro para saudar algumas dezenas de apoiadores que se espalhadas pela calçada do Hospital Walter Reed é mais uma – se isso ainda fosse necessário – de que o presidente norte-americano coloca o marketing muitas posições à frente dos deveres de responsabilidade de dirigir o mais poderoso país do planeta.

Trump – e isso lhes disseram os médicos que, atarantados, se complicam nas entrevistas de imprensa – é um vetor poderoso da doença e uma ameaça a toda e qualquer pessoa que dele se aproxime. Exceto o pessoal médico, fortemente protegidos por máscaras, óculos de proteção e protocolos de proteção.

No carro blindado – inclusive contra gases – ele é uma ameaça contra os funcionários do Serviço Secreto que o ladeavam, numa exposição desnecessária e arrogante, com a única finalidade de tentar mostrar-se em perfeitas condições de saúde, o que não é, obviamente, verdade, do contrário não teria sido levado a um hospital.

Donald Trump está dando sucessivos tiros em seus pés, eliminando qualquer possibilidade da natural simpatia que se tem a uma pessoa com problemas de saúde.

Mas, certamente, não a uma pessoa que faz deles instrumento de promoção política, pretendendo se arvorar em alguém acima das fragilidades que todos têm e age com tal falta de responsabilidade que apavora pensar que tenha o controle do mais poderoso arsenal de guerra do mundo.

Por mais que a direita tenha tentado transformar a realidade em uma sucessão de factoides, ainda sobrevive na inteligência humana a capacidade de separá-los do que deve e precisa ser feito para que se realizem o bem e a segurança de todos.

Trump deu hoje um passo trôpego em direção à volta à sua condição de clown, de figura esdrúxula, de homem que, apesar do corpanzil, é um nanico mental para o lugar que ocupa.

Do Tijolaço

sábado, 3 de outubro de 2020

O ‘POSTO IPIRANGA’ ESTÁ CERCADO E FALTA POUCO PARA FECHAR, POR FERNANDO BRITO

O primeiro ataque foi frustrado. Quando o general Walter Braga Netto disparou, numa entrevista no Planalto, o canhonaço do Plano Pró-Brasil, em abril, sugerindo um “Plano Marshall” para o Brasil devastado pela pandemia, a blindagem de Paulo Guedes ainda era forte o suficiente para resistir.

O auxílio-emergencial, de lá para cá, manteve o ministro da Economia, mas sempre na dependência de oferecer algo para depois do fim do “cheque especial” que ganhou para gerir o país à base de um déficit que, tudo indica, chegará ao fim do ano em cerca de R$ 1 trilhão, 13% ou pouco mais de nosso Produto Interno Bruto.

A reação da economia, por sinal, foi menos desastrosa do que se previa, mas as pressões de inflação. câmbio e juros, inevitáveis quando se desenha tamanho déficit, só fazem crescer.

Quase aos berros, Guedes pede reforços fiscais: a nova CPMF, travestida de “imposto digital” ou “digitax” como fala o pessoal do mercado, é a divisão de R$ 120 bilhões (sonhou-se até com R$ 240 bi, com a cobrança bífida, como língua de cobra, ao pagador e ao recebedor) era sua principal aposta para liberar os agentes econômicos das contribuições patronais, na esperança que fossem, assim, gerar emprego e renda. O auxílio, à meia-ração, seria obtido com arrocho no salário mínimo e nos proventos de aposentadorias, além de um cata-cata de migalhas em outros programas sociais.

O homem encastelado no Planalto, de olho em sua súbita popularidade com a prodigalidade do auxílio, quase que só dizia “se vira” ao general desesperado, mas se preocupava em segurar os mercadistas, jurando fidelidade ao Santo Teto dos Gastos, seu padroeiro de devoção.

Guedes parece sem alternativas. Sua principal tarefa tem sido a de inventar novas formas e nomes para as ideias que já lhe foram recusadas.

Com a cobertura de um ponta-de-lança civil e político – Rogério Marinho – ombreado a Braga Netto como líder do assalto ao Posto Ipiranga, criou-se o clima para as primeiras escaramuças.

Elas vieram a público, ontem, mais pela reação de Guedes que pela ação dos atacantes.

Ambos levam planos a Bolsonaro: Marinho, o aplauso nas inaugurações de obras antigas no Nordeste; Braga Netto um rol de projetos de obras que se sustentaria num hipotético trilhão de reais de investimentos estrangeiro, uma privatização “no atacado” que venderia 160 empresas e uma carteira de obras que seria uma versão 4.0 das velhas “frentes de trabalho” dos tempos da ditadura, privilegiando aquelas que fossem intensivas em mão de obra.

Sonhar, claro, não custa nada, senão a perda de contato com a realidade.

A fraqueza de Guedes chegou ao ponto de que até seu ex-admirador Merval Pereira diz hoje, em O Globo, que ele não tem forças para pedir a cabeça de Marinho. Nem mesmo a ameaça do Banco Central de subir os juros caso desabe o teto de gastos provocou solidariedade ao quase ex-ministro da Economia.

As coisas só não se definem mais rápido porque Jair Bolsonaro, quem diria, aprendeu a arte política de deixar que as coisas se tornem insustentáveis antes de fazer sua própria vontade.

Do Tijolaço

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

ARROZ E FEIJÃO NO PRATO DOS BRASILEIROS DURANTE A PANDEMIA

Atualmente, diante do cenário atual de pandemia da covid-19 e do distanciamento social de grande parte dos brasileiros, houve mudanças nos hábitos.

Um dos pratos mais queridos do País é o tradicional arroz e feijão, presente quase diariamente na mesa dos brasileiros. São alimentos típicos da nossa culinária, saborosos e reconhecidos pelo seu importante valor nutricional, pois são ricos em nutrientes. Além disso, pesquisadores mostraram que o padrão alimentar tradicional, onde o arroz e feijão estão presentes, está relacionado ao menor risco de obesidade e de outras doenças crônicas. Apesar da tradição e das vantagens nutricionais, os estudos mostram que a população brasileira vem diminuindo o consumo desses alimentos. Os dados recentes publicados pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a frequência de consumo de arroz reduziu de 84%, em 2008-2009, para 76%, em 2017-2018, enquanto que a frequência do consumo de feijão reduziu de 76%, em 2008-2009, para 64%, em 2017-2018 (1).

Atualmente, diante do cenário atual de pandemia da covid-19 e do distanciamento social de grande parte dos brasileiros, houve mudanças nos hábitos de trabalho, de atividade física, de estudos e, inclusive, alimentares. Assim, podemos nos perguntar: “Será que arroz e feijão estiveram presentes no prato dos brasileiros durante a pandemia?”

Para responder a esta pergunta, os pesquisadores do projeto ClicPrato analisaram os dados coletados no mês maio de 2020, durante a pandemia. O projeto tem como objetivo avaliar a qualidade da refeição dos brasileiros a partir da foto tirada pelo celular e conta com a colaboração de pesquisadores e alunos de diferentes instituições: profa. Dirce M. L. Marchioni (FSP/USP), prof. Jun Okamoto Junior (Poli/USP), profa. Josiane Steluti (Unifesp), profa. Semíramis M. A. Domene (Unifesp), Beatriz R. Souza (FSP/USP), Davi C. Silva (Unifesp), Guilherme A. Silva (FSP/USP) e Haydée C. F. Borges (FSP/USP).

Das 886 fotos de refeições recebidas de todo o País, 566 (64%) apresentavam arroz, 338 (38%) apresentavam feijão e apenas 312 (35%) apresentam a combinação arroz e feijão. As fotos foram enviadas por adultos, homens e mulheres, com idades de 18 a 81 anos e diferentes níveis de escolaridade.

Ainda em relação à combinação de arroz e feijão, a frequência de consumo foi de 36% entre os homens e 35% entre as mulheres. Em relação à idade, a maior frequência da combinação esteve na faixa etária de 50 a 59 anos (43%) e a menor entre 30 a 39 anos (24%). Considerando os anos de estudos, a frequência de consumo foi maior para os participantes com menor escolaridade (46%) quando comparado com os participantes de maior escolaridade (nível superior completo e pós-graduação), apenas 30%.

Esses resultados são preliminares e fazem parte das análises das fotos realizadas pelos pesquisadores envolvidos no projeto ClicPrato que, por sua vez, é mais amplo. Nele, pretende-se avaliar a qualidade da refeição através da união dos conhecimentos de nutrição e inteligência artificial, o que permitirá, futuramente, o desenvolvimento de um aplicativo para celulares com o qual o usuário possa tirar uma foto da sua refeição e receber uma avaliação sobre a qualidade do prato. Desta maneira, o aplicativo pode apresentar informações que permitam ao usuário melhorar seu consumo alimentar, prevenindo doenças e promovendo saúde.

É importante mencionar que o projeto ainda está em andamento e, para o aprendizado de máquina da inteligência artificial, é importante um grande número de fotos e a participação de pessoas de todas as regiões do País. Assim, envie fotos das suas principais refeições (almoço e jantar). Para contribuir, clique aqui. Conheça melhor o projeto pelas redes sociais (@ClicPrato).

Nota:
1 Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018 : análise do consumo alimentar pessoal no Brasil / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. – Rio de Janeiro : IBGE, 2020.

Do GGN

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

GOVERNO TIRA APORTES DE OUTRAS PASTAS E FUNAI DEVE FINANCIAR BARREIRAS SANITÁRIAS INDÍGENAS

Edgar Kanaykõ Xakriabá Etnofotografia | antropologia

Medida provisória não traz nenhuma novidade em benefício de indígenas - as barreiras sanitárias foram instaladas desde julho. Mas, sem mais aportes do governo, responsabiliza exclusivamente a Funai.

A medida provisória que estabelece barreiras sanitárias para proteção de áreas indígenas, publicada ontem pelo governo Bolsonaro, não traz nenhuma novidade em relação ao que já vinha sendo feito desde julho deste ano. Agora instrumentalizada, o GGN confirmou que a medida, por outro lado, exclui os aportes de outras pastas do governo para as ações nas comunidades indígenas, como ocorria até então, restringindo ao Orçamento da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Data de julho o comunicado da Funai intitulado “Governo Federal dá suporte a 217 barreiras sanitárias em todo país”. A nota mostrava a atuação do órgão em apoio ao Ministério da Saúde para evitar a propagação da Covid-19 nos territórios indígenas. Competia à entidade, por exemplo, fiscalizar o controle do acesso às aldeias para previnir o contágio.

Naquele mês, a Funai informava o funcionamento de 217 barreiras sanitárias que impediam o ingresso de não indígenas, em parceria com autoridades sanitárias e de segurança. A fundação havia investido, até aquele mês, cerca de R$ 1 milhão em medidas, que incluiam a entrega de cestas básicas, de equipamentos de limpeza e higiene, além das barreiras, mas com a articulação com outras pastas do governo.

Tais ações foram estabelecidas no decreto assinado em maio deste ano, sobre as medidas de prevenção da Covid-19 nos territórios indígenas e quilombolas. Apesar de excluir diversas garantias aos indígenas, por meio de vetos do presidente Jair Bolsonaro, nele, ficou estabelecido que a responsabilidade pelas medidas sanitárias era da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão que integra o Ministério da Saúde.

A pasta da Saúde ficava a cargo, também, da execução da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e da gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), por meio do SUS (Sistema Único de Saúde).

“A Funai tem o papel de monitorar as ações e serviços de atenção à saúde indígena, enquanto a execução dos trabalhos é de responsabilidade do Ministério da Saúde, por meio da Sesai”, destacava a nota da própria Funai, em julho.

A medida provisória [leia aqui] assinada nesta quarta (30), contudo, retira a responsabilidade do Ministério da Saúde ou até mesmo de outras secretarias do Ministério da Justiça e Segurança Pública, restringindo à Funai arcar integralmente com os custos das barreiras sanitárias de territórios indígenas.

“A FUNAI será responsável pelo planejamento e pela operacionalização das ações de controle das barreiras sanitárias”, traz um dos artigos.

Em outro, estelece que “a Fundação Nacional do Índio – FUNAI fica autorizada, de forma excepcional e temporária, observado o disposto no art. 6º, a efetuar diretamente o pagamento de diárias a servidores públicos e militares integrantes dos órgãos de segurança pública estaduais e distritais que atuarão na proteção de as barreiras sanitárias.”

De forma ainda mais clara, o inciso 2 deste artigo expõe: “Os custos com as diárias a que se refere o caput correrão à conta da dotação orçamentária da FUNAI”.

Por outro lado, o Ministério da Justiça, a que a Funai está submetida, terá poder sobre qualquer decisão relacionada às barreiras sanitárias das áreas indígenas, apesar de não aportar com mais recursos além dos destinados especificamente à Funai.

AS DESPESAS DA FUNAI

O GGN confirmou, ainda, que mais da metade de todos os recursos da Funai destinados ao combate da Covid-19 já foram gastos, ainda que contando, até ontem, com aportes do Ministério da Saúde para isso, segundo dados do Portal da Transparência.

No início da pandemia, foi destinado R$ 3,24 milhões às despesas de “enfrentamento da emegência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus”. O Orçamento da Despesa Pública indica que R$ 1,62 já foram usados.

Outra despesa tabelada com a mesma razão – “enfrentamento da emegência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus” -, já após o decreto de maio, indica R$ 15,1 milhões de orçamento. Destes, R$ 9,05 milhões já foram gastos. Ou seja, 60% já foram ocupados.

A medida provisória publicada pelo governo nesta quarta não estabelece que recursos adicionais serão remetidos ao órgão, agora que a Funai terá que assumir a totalidade dos custos com as barreiras sanitárias.

Do GGN

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

12 MILHÕES FICARAM SEM TRABALHO COM A PANDEMIA, DESEMPREGO É RECORDE FERNANDO BRITO

Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad) do IBGE começa a traçar um retrato menos amenizado do desemprego no Brasil.

O Brasil perdeu, desde o início da pandemia, nada menos que 12 milhões de postos de trabalho, ou 13% dos que 94 milhões que existiam até fevereiro.

Repare, não são 13 milhões de pessoas que perderam suas ocupações, formais ou informais, mas 13 milhões de pessoas a mais.

Comparado há um ano atrás, nada menos que um crescimento de 21,8% no número de pessoas fora da força de trabalho, quase dez vezes mais que o aumento registrado no pior momento da crise de 2016.

O número de pessoas que haviam desistido de procurar trabalho saltou para cerca de 6 milhões, um aumento de quase 20% em relação ao mesmo período de 2019.

A taxa de desocupação aberta – que não leva em conta os que não estão em busca ativa por emprego – que atingiu o recorde de toda a série de levantamentos do IBGE, com 13,8% – mais de 13 milhões de pessoas – aponta um contingente que, somado aos que estão vivendo de “bicos” eventuais, chega a somar 30% de toda a força de trabalho do país.

É essa massa imensa de brasileiros que, já parcialmente a partir de agora e completamente de janeiro em diante que fica sem qualquer suporte público à sua sobrevivência.

Traduzinho, sem o auxílio cuja continuidade, segundo o presidente, é coisa de demagogos e comunistas.

Do Tijolaço

terça-feira, 29 de setembro de 2020

BOIADA PAROU NA CERCA DA JUSTIÇA, MAS BOLSONARO MUGIU MAIS FORTE, POR FERNANDO BRITO

Era previsível – e isto foi dito aqui – que a “boiada” liberada ontem pelo ministro ficaria presa na cerca da Justiça, por ser flagrantemente ilegal abolir, pura e simplesmente, regras e licenciamentos em áreas protegidas.

É natural, porque o objetivo de Jair Bolsonaro é, acima de tudo, criar uma “culpa” para ambientalistas – e para todos que dão valor à conservação ambiental – pelo que considera “avanço econômico”, seja em que bioma for: garimpo na Amazônia, pecuária no Pantanal e no cerrado, resorts e empreendimentos turísticos em áreas de manguezais e restingas.

Não está interesado em promover estas atividades de forma adequadamente manejada, como é possível hoje. Não: o raciocínio de Bolsonaro é o do “Velho Oeste”, de terra sem lei, de afirmação da força – seja a do dinheiro, seja a das armas – para ocupar a terra e arrancar dela tudo o que possa dar lucro, pouco importante que, em 50 anos, venham a ser cidades e aldeias fantasmas, ou amontoados humanos, como aqui no Rio aconteceu com a comunidade do Rio das Pedras, que avançou sobre este curso d’água e pela Lagoa do Camorim e é, hoje, uma área sob o controle da milícia.

Ricardo Salles, que sobrevive a tudo na chefia dos órgãos ambientais, muito embora não seja respeitado em parte alguma, aqui ou lá fora, é, como se disse ontem, apenas um agente de Bolsonaro, o gerente que bota a cara para fazer as barbaridades que o chefe deseja, sem a menor preocupação com a ética e lei.

Salles é o “boi de piranha” da opinião pública para a boiada de Bolsonaro passar.

Do Tijolaço

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

NÃO FOI O ANTIPETISMO QUEM DERROTOU LULA, O PT E A ESQUERDA EM 2018, POR MARCOS COIMBRA

Sem a intervenção despudorada dos aventureiros do Judiciário, militares sedentos de poder, empresários ávidos de retomar o controle do Estado, negociantes da fé, bilionários das comunicações, a vitória do capitão e suas milícias fascistas não teria ocorrido.

Em dezembro de 2017, a nove meses da eleição do ano seguinte, o Instituto Vox Populi realizou uma pesquisa nacional, por solicitação da CUT.

É educativo voltar a seus resultados, que ajudam a entender o que nos levou ao desastre de ter um Bolsonaro à frente do governo.

O Brasil estava mal, do ponto de vista da população.

O golpe e a deposição de Dilma, do ponto de vista da opinião pública, haviam fracassado.

Mas haveria uma eleição dali a pouco tempo.

Sergio Moro e seus rapazes estavam na glória, com as fanfarras da mídia corporativa e da TV Globo soando alto.

O primeiro passo do projeto de poder que os animava havia sido dado: um empresário-delator, a fórceps, “confessara” que um apartamentozinho no Guarujá era propina para Lula. Sem nada de concreto, o bolsonarista condenou o ex-presidente.

Na pesquisa, foram feitas várias perguntas a respeito de Lula e outros possíveis candidatos.

Era, de longe, o mais conhecido e o mais admirado: 49% diziam “gostar” dele, ficando Joaquim Barbosa em segundo lugar, com 28%, acima de Marina Silva, com 22%.

O capitão Bolsonaro marcava 18% (venceu a eleição, vive o que a grande imprensa saúda como seu “melhor momento” e alcança hoje 32% nesse quesito).

Se fosse candidato naquela eleição, 38% dos entrevistados em dezembro de 2017 diziam que “votariam com certeza” em Lula, aos quais se somaria uma parte dos 16% que afirmavam que “poderiam votar”.

Uma parcela de 39% dizia que “não votaria” nele, proporção menor que em qualquer outro nome (empatado com Joaquim Barbosa, recusado por 40%). O capitão merecia a rejeição de 53%.

O que se pode dizer desses números é que, depois de tudo que ocorrera desde a grande investida conservadora contra Lula e o PT a partir de 2013, depois da derrubada de Dilma, depois do massacre midiático sofrido pela esquerda ao longo de anos e depois da condenação por Moro, o favorito na eleição de 2018 era Lula.

Frente a quaisquer adversários, a chance é que vencesse no primeiro turno.

Na pergunta espontânea, atingia 38%, ficando todos os demais, somados, com 21% (dentre esses, Bolsonaro obtinha 11%, indicando que a doença bolsonarista já corroía o País).

Em lista com os nomes de dez pré-candidatos, Lula alcançava 43% e a soma dos restantes chegava a 33% (em segundo, estava Bolsonaro com 13%).

Essa pesquisa Vox não trouxe resultados muito diferentes de outras com metodologia semelhante.

Todas mostraram que, a menos de um ano da eleição, só havia um modo de Lula perder o favoritismo, considerando que tudo que havia de negativo contra ele estava já computado e o eleitorado havia feito suas contas.

Como, aliás, indicavam as respostas a uma pergunta a respeito do saldo da atuação de Lula em sua trajetória: 60% consideravam que ele fizera “muito mais coisas certas que erradas pelo povo brasileiro e o Brasil”, contra 32% que entendiam que “ele errou muito mais que acertou”.

O único modo garantido de evitar a quinta vitória seguida do PT e o terceiro mandato de Lula era impedi-lo de ser candidato, trancafiando-o em uma cadeia e proibindo que se manifestasse. Foi exatamente isso que fez uma vasta aliança antidemocrática e golpista, organizada informalmente para não permitir que a vontade das pessoas comuns prevalecesse.

Quem derrotou Lula, o PT e a esquerda em 2018 não foram “os erros” do PT, o “crescimento do antipetismo”, os “escândalos” e a “corrupção” petistas.

Suas razões não foram as “mudanças sociais”, as “redes sociais”, o “crescimento do neo-pentecostalismo” e tantas outras explicações sociologizantes.

Sem a intervenção despudorada dos aventureiros do Judiciário, militares sedentos de poder, empresários ávidos de retomar o controle do Estado, negociantes da fé, bilionários das comunicações, a vitória do capitão e suas milícias fascistas não teria ocorrido.

E ainda exigiu trapaças de todo tipo na reta final, que os tribunais preferiram não ver.

A culpa pelo que aconteceu não é da esquerda e não é preciso que ela faça mal a si mesma para exorcizá-la, em um auto-de-fé descabido e desnecessário.

Do GGN