O
primeiro ataque foi frustrado. Quando o general Walter Braga Netto disparou,
numa entrevista no Planalto, o canhonaço do Plano Pró-Brasil, em abril,
sugerindo um “Plano Marshall” para o Brasil devastado pela pandemia, a
blindagem de Paulo Guedes ainda era forte o suficiente para resistir.
O
auxílio-emergencial, de lá para cá, manteve o ministro da Economia, mas sempre
na dependência de oferecer algo para depois do fim do “cheque especial” que
ganhou para gerir o país à base de um déficit que, tudo indica, chegará ao fim
do ano em cerca de R$ 1 trilhão, 13% ou pouco mais de nosso Produto Interno
Bruto.
A
reação da economia, por sinal, foi menos desastrosa do que se previa, mas as
pressões de inflação. câmbio e juros, inevitáveis quando se desenha tamanho
déficit, só fazem crescer.
Quase
aos berros, Guedes pede reforços fiscais: a nova CPMF, travestida de “imposto
digital” ou “digitax” como fala o pessoal do mercado, é a divisão de R$ 120
bilhões (sonhou-se até com R$ 240 bi, com a cobrança bífida, como língua de
cobra, ao pagador e ao recebedor) era sua principal aposta para liberar os
agentes econômicos das contribuições patronais, na esperança que fossem, assim,
gerar emprego e renda. O auxílio, à meia-ração, seria obtido com arrocho no
salário mínimo e nos proventos de aposentadorias, além de um cata-cata de
migalhas em outros programas sociais.
O
homem encastelado no Planalto, de olho em sua súbita popularidade com a
prodigalidade do auxílio, quase que só dizia “se vira” ao general desesperado,
mas se preocupava em segurar os mercadistas, jurando fidelidade ao Santo
Teto dos Gastos, seu padroeiro de devoção.
Guedes
parece sem alternativas. Sua principal tarefa tem sido a de inventar novas
formas e nomes para as ideias que já lhe foram recusadas.
Com
a cobertura de um ponta-de-lança civil e político – Rogério Marinho – ombreado
a Braga Netto como líder do assalto ao Posto Ipiranga, criou-se o clima para as
primeiras escaramuças.
Elas
vieram a público, ontem, mais pela
reação de Guedes que pela ação dos atacantes.
Ambos
levam planos a Bolsonaro: Marinho, o aplauso nas inaugurações de obras antigas
no Nordeste; Braga Netto um rol de projetos de obras que se sustentaria num
hipotético trilhão de reais de investimentos estrangeiro, uma privatização “no
atacado” que venderia 160 empresas e uma carteira de obras que seria uma versão
4.0 das velhas “frentes de trabalho” dos tempos da ditadura, privilegiando
aquelas que fossem intensivas em mão de obra.
Sonhar,
claro, não custa nada, senão a perda de contato com a realidade.
A
fraqueza de Guedes chegou ao ponto de que até seu ex-admirador Merval Pereira
diz hoje, em O Globo, que ele não tem forças para pedir a cabeça de
Marinho. Nem mesmo a ameaça do Banco Central de subir os juros caso desabe o
teto de gastos provocou solidariedade ao quase ex-ministro da Economia.
As
coisas só não se definem mais rápido porque Jair Bolsonaro, quem diria,
aprendeu a arte política de deixar que as coisas se tornem insustentáveis antes
de fazer sua própria vontade.
Do
Tijolaço
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