terça-feira, 15 de dezembro de 2020

VOLTANDO ÀS MIL MORTES POR DIA, POR FERNANDO BRITO

Os números do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde mostram o que já se previa: com 964 mortes, o Brasil volta ao patamar de mil mortes diárias, com uma quantidade de mortes que não alcançávamos desde o final de setembro.

As medidas restritivas, a esta altura desmoralizadas, vão fazer pouco efeito.

No Rio, sem proibir as festinhas particulares (particulares de centenas, cobrando ingresso) nos quiosques da orla, o prefeito Marcello Crivella decidiu suspender as festas públicas do réveillon, mas o ignoto governador Cláudio Castro diz que “não tem de proibir nada” e que papel do Estado é o de “é aumentar os leitos, fazer a conscientização e bloquear aqueles que estão tentando iludir o estado”, sem que se saiba o que significa isso.

Já Bolsonaro aglomera milhares de comerciantes e carregadores de produtos hortifrutigranjeiros no Ceagesp para dizer que ia manter estatal a empresa que antes queria privatizar e fazer gracinhas sobre João Doria, o “amiguinho [que] vai continuar andando por aí com sua calcinha apertada”

Do Tijolaço.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A LEI NÃO É PARA TODOS, O MP NÃO PRECISA DELA, POR FERNANDO BRITO

Se não bastassem todas as revelações estarrecedoras feitas sobre a Lava Jato, hoje, em declarações publicada pelo O Globo, o procurador geral da República, Augusto Aras, faz mais uma, inacreditável: as despesas dos grupos de procuradores que integram as “forças-tarefa” da PGR são registradas no CPF dele próprio, como se fossem gastos privados, particulares (*).

Quer dizer: as forças-tarefa não têm existência legal, são arranjos administrativos sem qualquer formalidade, como exige a Constituição.

Pior: os procuradores nem mesmo querem prestar contas de diárias e de passagens pagas para eles com dinheiro público:

(…) o TCU está cobrando do PGR saber quanto de diária recebeu cada membro das forças-tarefas nos últimos dez anos, quanto de gratificação, quanto de viagem nacional e internacional, quanto foi arrecadado por meios das forças-tarefas, quando foi destinado para a União. E já temos colegas resistindo em prestar informações ao Tribunal de Contas da União com a explicação de que o Ministério Público não deve dar satisfação.

Como é? Os homens que suspeitam de tudo, para quem todo servidor público (especialmente os de esquerda) são ladrões até que provem o contrário, não querem nem guardar o canhoto do bilhete aéreo com que viajaram na conta da Viúva?

É uma instituição que funciona assim que quer administrar bilhões de reais obtidos indevidamente de acordos de leniência assinados com empresas acusadas por eles próprios de desvios e de corrupção.

São membros de uma casta de nobres, arrogante e todo-poderosa. A democracia os pariu em 1988 e hoje, em seus bem cortados ternos, dedicam-se com denodo a serem os intocáveis da República.

(*) após a publicação deste post, O Globo “retificou” sua reportagem, dizendo que, a rigor, as despesas das forças-tarefa são atribuídas ao Gabinete do Procurador Geral, sem undade de gastos em separado, o que faria com que Augusto Aras respondesse pessoalmente (“com o seu CPF”) por irregularidades na prestação de contas.

Do Tijolaço.

domingo, 13 de dezembro de 2020

CRIAR UM MONSTRO É MAIS FÁCIL QUE DESTRUÍ-LO, POR FERNANDO BRITO

Não se trata de premonição, mas certas coisas a gente capta no ar, como quando se falou ontem, aqui, no despertar dos instintos mais primitivos.

É claro que o auxílio-emergencial, ainda que em vias de terminar, representa boa parte do índice de popularidade (37%) que, segundo o Datafolha, Jair Bolsonaro mantém, mesmo em meio a um morticínio sem igual em nossa história.

Mas não há como negar que, neste longo processo de irracionalidade em que estamos metidos há meia década, desencadeou-se a força fácil da estupidez em nosso país.

Tudo o que era paroxismo antes restrito a seitas fundamentalistas – porte universal de armas, movimentos antivacinas, racismo explícito, extermínio, “não mandar os filhos à escola é meu direito”, olavismos e até terraplanismos veio à tona, boiando sobre a fossa em que transformaram o Brasil.

A cadeia, a morte, por pena formal ou informal (como a que vitima milhares de “executados” nas ruas de periferias e de favelas, o escracho, o “vai pra Cuba”, o “cancelamento de CPF” passaram a ser a grande “saída” para o país, símbolos de progresso e de uma paz e segurança impossíveis onde a exclusão e a penúria colocam o pobre contra o miserável.

Retrocedemos, sim, e mais de 50 anos em 5. Ponha aí 150 anos, porque fomos ao tempo do império escravocrata e pior, porque ao menos à esta época o Pedro era o II e não o I, personagem mais próximo ao Imperador Jair.

Não sairemos disso, infelizmente, sem uma grande tragédia como a que temos, tal como os EUA não saíram de uma monstruosidade como a de que agora saem sem uma hecatombe que lhes matou mais nacionais que a II Guerra Mundial.

A estupidez individual é um “direito”, mas a coletiva é um processo, que não ocorre naturalmente, mas por ação de agentes políticos e econômicos.

 Do Tijolaço.

sábado, 12 de dezembro de 2020

XADREZ DOS PREPARATIVOS PARA 2022, POR LUIS NASSIF

Há uma onda cada vez maior contra a truculência, a irracionalidade, o anti-cientificismo. Se será suficiente para se contrapor às pautas morais do bolsonarismo, não se sabe. Mas, inegavelmente, se tornou o ponto de disputa entre as forças antibolsonaristas.

Após as eleições de 2020, abriu-se a temporada de conversas com vistas a 2022. São movimentos iniciais, ainda pouco conclusivos, mas que permitem identificar claramente os ensaios de estratégia de cada grupo.

Vamos tentar detalhar grupos e movimentos, com a ressalva de que, mais do que nunca, a política são nuvens que se movem a todo momento, impedindo conclusões taxativas.

Por isso mesmo, o Xadrez visa apenas organizar as ideias, os grupos e os movimentos, para que cada um tire suas conclusões ou dê seus palpites.

O ponto central da disputa é a liderança da frente antibolsonarista entre uma frente de esquerdas em torno do PT, e uma frente de centro-direita, tendo como ator principal o DEM.

PEÇA 1 – GRUPOS EM JOGO

Grosso modo, há os seguintes grupos se movimentando:

OS PROTAGONISTAS

Centro-direita – pela primeira vez, desde a redemocratização, a liderança é assumida pelo DEM, espanando o PSDB, que tinha assumido o protagonismo da direita com ascensão do trio Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves. Tem a liderança em ACM Neto, Rodrigo Maia. O PSDB torna-se ator secundário nessa frente. O grande mentor é a liga MMS – Mercado, Mídia, Supremo Tribunal Federal.

Centro-esquerda – uma frente ainda difusa, liderada pelo PT, tendo em Lula a liderança agregadora e juntando partidos menores, como PCdoB.

Ultra-direita – partidos mal organizados, que surgem em 2018, no bojo do fenômeno Bolsonaro.

Os agentes secundários

São partidos ou grupos de partidos que se posicionam em relação aos protagonistas:

Centrão – o histórico Centrão, com a liderança sendo assumida pelo PSD de Gilberto Kassab, tendo o MDB como parte relevante.

PDT/PSB – por tal, entenda-se Ciro Gomes e a base do PSB em Pernambuco, constituindo um grupo independente, negociando espaço junto ao centro-direita.

PEÇA 2 – AS NOVAS ONDAS QUE SE FORMAM

A pandemia explodiu de vez realidades que estavam escondidas serão peças centrais na formação da frente anti-bolsonarismo, levantando algumas bandeiras civilizatórias.

Há uma onda cada vez maior contra a truculência, a irracionalidade, o anti-cientificismo. Se será suficiente para se contrapor às pautas morais do bolsonarismo, não se sabe. Mas, inegavelmente, se tornou o ponto de disputa entre as forças antibolsonaristas.

·       Redução da miséria.

·       Preocupação com meio ambiente.

·       Combate a toda forma de preconceito.

·       Saídas para a crise econômica.

·       Bandeiras racionais, em oposição ao fundamentalismo.

Há um processo lentíssimo de revisão dos dogmas econômicos. Mas o enorme atraso da discussão econômica no país impede uma revisão mais rápida de princípios que, desde 2015, jogaram o país em uma recessão infindável.

Por trás das bandeiras, tem que haver políticas públicas que, muitas vezes, colidem com as propostas econômicas de cada grupo. A explicitação das propostas é que irá separar as políticas concretas do mero jogo de marketing.

Vamos identificar, primeiro, as vulnerabilidades de cada grupo.

PEÇA 3 – AS VULNERABILIDADES DOS DOIS GRUPOS

DO LULISMO

A frente da esquerda, até agora, é invertebrada. Tem Lula como referência, mas mostra uma enorme dificuldade em se reinventar. Até agora não mostrou clareza sobre o novo cenário econômico e político, não tem propostas para a renovação das práticas políticas, para maneiras de conseguir aliados na economia real e nas bases sociais, para ampliar o papel dos movimentos.

Sequer entendeu as razões que permitiram o golpe do impeachment. Este, aliás, é o ponto de partida para definir as futuras alianças.

O PT e o lulismo surgiram dentro da concepção do partido-ônibus, abrigando sindicalismo, egressos da luta armada, movimentos sociais, Igreja, movimentos temáticos, como saúde, educação, municipalismo.

Como governo, recorreu a uma estratégia centralizadora, que ampliou radicalmente o isolamento a partir de 2010.

1.   A centralização foi pensada inicialmente para permitir a consolidação de poder de alguns grupos dentro do próprio PT. Mas como o uso do cachimbo entorta a boca, estendeu-se para todas as práticas de governo. O PT não apenas perdeu a capacidade de dialogar com novos setores sociais, com grupos empresariais e, especialmente, com as instituições, após o fim do segundo governo Lula. Manteve a aliança com os movimentos através de políticas sociais meritórias, mas retirando deles qualquer possibilidade de protagonismo político. Houve um pequeno ensaio com as conferências nacionais, mas que foram abandonadas a partir de 2010.

2.   O sindicalismo, como peça central de articulação com a economia real.

3.   Promoção dos campeões nacionais, como instrumento de alianças com as forças econômicas e de financiamento de campanha. Trocaram os fóruns de participação – como o Conselhão e a natimorta Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) – pelos acordos de gabinete, ampliando o isolamento do governo.

Assisti a última sessão do Conselhão – convocado por Dilma Rousseff depois de muita pressão dos aliados. Na saída, havia um certo alívio dos empresários, achando que o governo deixaria de ser tão hermético. Não houve continuidade. Mesmo em São Paulo, alguns bancos comerciais – que não são tão ideológicos quanto o chamado mercado – buscaram interlocutores visando convencer Lula a assumir a candidatura em 2014, mostrando que o antilulismo não havia penetrado em todos os setores empresariais.

Havia um ódio contra Dilma, estimulado pela mídia. Mas outros ódios, mais viscerais, de autoridades, empresários, desembargadores humilhados pela soberba do governo.

Esse isolamento facilitou enormemente a conspiração articulada pelo MMS e empreendida pelo Centrão com o impeachment e o governo Michel Temer – preparando as bases para a destruição institucional do país.

Ficou fácil, através de dois movimentos apenas.

O primeiro, a estratégia da Lava Jato de destruir a base de apoio econômica do PT, os tais campeões nacionais, poupando o mercado financeiro.

O segundo, do lado de Temer, uma ofensiva ideológica nítida contra os sindicatos, com a aprovação de um conjunto de leis que, na prática, quebrou as pernas do sindicalismo brasileiro.

Quando sobreveio o impeachment e a destruição das políticas sociais, nem os beneficiários saíram às ruas em defesa dos projetos desmontados.

O grande desafio do PT será colar os pedaços desse vaso quebrado. Hoje em dia, há enorme dificuldade em refazer alianças com o empresariado industrial e dificuldade em dialogar com os movimentos sociais.

 

É para impedir essa reaproximação que o MMS articula as falsas comparações entre lulismo e bolsonarismo, ou o discurso malicioso de que Lula estaria acabado para a política.

DA CENTRO-DIREITA

Há uma tentativa de bom-mocismo, em declarações politicamente corretas em defesa da igualdade, do combate à miséria, do estímulo à educação, da diversidade. Mas esbarra nos interesses objetivos do grupo, de desmonte do Estado, de privatização de todos os serviços públicos, e da consolidação do primado do eficientismo sobre o direito. Aliás, um eficientismo duvidoso de centrar todas as medidas econômicas nos ganhos individuais das corporações, abandonando qualquer veleidade de um projeto sistêmico de desenvolvimento.

Além disso, não tem posição clara em relação a um dos pontos centrais da crise dos direitos humanos: a violência policial. O mundo civilizado discute formas de mudar o modelo de segurança e conter a violência policial, mas a centro-direita não ousa movimentos nessa direção.

PEÇA 4 – OS CANDIDATÁVEIS

Todos esses movimentos têm como forças centrífugas candidatos com potencial eletivo. Nesse campo, apresentam-se os seguintes personagens:

ESQUERDA

Lula – não necessariamente como candidato, mas como o grande polarizador da frente de esquerda e mentor da candidatura que surgir nesse campo.

Direita

Bolsonaro – candidato à reeleição, líder único da ultradireita.

CENTRO-DIREITA

A disputa se dá entre Luciano Huck e João Dória Jr. Dória é uma variação da ultradireita bolsonarista. Tem a mesma agressividade em relação às críticas, falta de empatia em relação à miséria e à diversidade, e a mesma deslealdade em relação aos aliados políticos. Suas possibilidades de liderar o bloco são mínimas. O que deixa o espaço aberto para Luciano Huck, um livro em branco, mas disponível para ser escrito pelo mercado.

OUTSIDERS

Ciro Gomes, buscando montar uma frente de centro-esquerda alternativa, visando ganhar espaço junto ao centro-direita. E Sérgio Moro, recolocado em sua posição original: um mero boneco comandado por uma esposa ambiciosa e provinciana, mais preocupada com as benesses imediatas, incapaz de entender as grandes formulações políticas.

PEÇA 5 – A ESTRATÉGIA DO CENTRO-DIREITA COM CIRO

A estratégia de cada grupos está bem definida.

Há duas lideranças comprovadas – Lula e Bolsonaro. E duas forças contrárias relevantes – o antibolsonarismo e o antilulismo.

A estratégia do grupo MMS (mercado-mídia-Supremo) consiste em, fundamentalmente, enfraquecer Lula, para se apresentar como o único representante do antibolsonarismo.

·       Nessa tarefa, recorre a três frentes.

·       A primeira, a tentativa de colocar Lula e Bolsonaro nos dois extremos, uma tática que afronta qualquer compromisso com fatos, mostrando a enorme dificuldade da mídia tupiniquim de recuperar os valores jornalísticos.

·       A segunda, do lado do STF, o prolongamento das condenações de Lula, através do expediente de postergar o julgamento sobre a isenção de Moro.

·       A terceira, a instrumentalização de Ciro Gomes, como uma espécie de cavalo de Tróia das esquerdas.

Ciro tenta entrar na frente trazendo o trunfo da aliança PDT-PSB, com forte penetração no Nordeste. Sem conseguir espaço na frente de centro-esquerda, devido à liderança de Lula, tenta se candidatar a representante do centro-direita com a missão de implodir a centro-esquerda e, por tabela, candidatáveis melhor situados na frente, como Fernando Haddad e Flávio Dino.

Nem se imagine Ciro como desleal, traidor. Ele é apenas o touro bravo na arena. Basta estender uma capa vermelha da promessa vaga de uma candidatura, que ele sai chifrando.

Por inúmeras razões, não há a menor possibilidade de Ciro se tornar o candidato dessa frente:

1.   Pelas suas virtudes, propostas claras e coerentes, um dos melhores diagnósticos sobre o quadro atual da economia brasileira, mas que colide frontalmente com o cimento ideológico da frente MMS, no qual os dois princípios básicos são a financeirização/globalização absolutas e o fim de qualquer forma de defesa dos direitos do trabalho.

2.   Pelo temperamento de Ciro, e por sua visão política, acurada e penetrante como a de Mr. Magoo dos desenhos. Ele é incapaz de aceitar qualquer cargo que não seja a de candidato a presidente da República. E, por seu temperamento, nessa frente nenhum presidenciável aceitaria um vice com seu temperamento. Ciro considera que a política é um concurso de meritocracia onde só entram matérias econômicas, não as políticas. De certo modo, sua acuidade econômico-racional é a expressão mais acabada da anti-política, uma versão déspota esclarecido contra o despotismo imbecil de Bolsonaro.

PEÇA 6 – OS CAMINHOS NÃO EXPLORADOS

Apenas um novo fortalecimento de Bolsonaro poderia quebrar as barreiras, permitindo um pacto efetivo pela redemocratização contra o mal pior, sua reeleição.

Hoje em dia, há uma discussão internacional passando pelas principais instituições de pesquisa, ONGs, fóruns, instituições multilaterais, sobre os novos caminhos da democracia.

Todos eles passam pelo reconhecimento do papel do Estado, em contraposição à globalização desenfreada dos últimos anos. Mas, dentro do Estado, um aprofundamento da democracia, através da ampliação das formas de participação e de descentralização. Ou seja, a definição de políticas públicas com a participação protagonista dos beneficiados, movimentos sociais, grupos empresariais, associações municipais. Será o caminho para impor a lógica da razão sobre o fundamentalismo moral que ameaça sufocar o Ocidente, tornando a defesa da democracia um valor essencial.

É um longo trabalho de construção social que o Brasil começou a trilhar e que foi interrompida quando um grupo de mistificadores, levantando falsas bandeiras civilizatórias, resolveu “acelerar o processo”, jogando o país nos braços do bolsonarismo.

Do GGN

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

RESTRIÇÕES ‘MEIA-BOCA’ NÃO VÃO MUDAR COMPORTAMENTO PÚBLICO, POR FERNANDO BRITO

Como se vem, há dias, repetindo aqui, os governos estaduais e municipais estão anunciando medidas para restringir a circulação de pessoas e sua aglomeração.

Mas, apenas 11 dias depois de jurarem de pés juntos – até a eleição – que não se fariam novas limitações ao comércio e às aglomerações de pessoas, não têm coragem de fazer o que precisa ser feito e estão meio na base do “me engana que eu gosto”, para livrarem a cara de sua responsabilidade no morticínio que temos pela frente.

No Rio, inventou-se o “lockmóvel”, proibindo estacionamento na orla, mas a orla não lota por causa dos automóveis, exceto na Barra da Tijuca. Copacabana, Ipanema e Leblon lotam com ônibus e metrô, faz muito tempo. Com um ou dois milhões de banhistas num final de semana de sol, talvez nem 15% deles tenha usado o automóvel para chegar ali. Permitir as áreas de lazer do calçadão e do Aterro do Flamengo sem fechar, como de hábito, as avenidas que correm junto a eles só serve para adensar mais o que fica funcionando: mais gente em menos espaço.

Em São Paulo, baixou-se o “decreto antibalada”, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas a partir das 20 horas, o que já vai dar belas matérias a partir da noite de amanhã, com todos “chocados” com aglomeração de jovens bebendo nas calçadas, o que todos sabem que vai acontecer, ainda que não estivéssemos – e estamos – em época de festejos de fim de ano.

O fato é que a resistência da população está no fim, o auxílio emergencial terminando. a busca por emprego desesperadora e a época natalina, tudo junto e misturado já criaria problemas mesmo com uma ação incisiva das autoridades públicas.

Mas tudo fica pior porque elas se desmoralizaram, agindo mesmo como se estivéssemos “no finalzinho” da pandemia e com a vacina à vista, contando com uma fórmula mágica que nos livraria do vírus.

E não é assim: o convívio com esta desgraça durará muitos meses, ainda, e ceifará milhares de vidas.

Do Tijolaço.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O QUE É UM PRESIDENTE; O QUE É UM DELINQUENTE, POR FERNANDO BRITO

Morreram ontem 848 brasileiros, a segunda maior marca de mortes diárias desde o final de setembro.

Se tivéssemos a vacina – e não temos – e um plano para aplicá-la – e também não temos – levaríamos meses para imunizar uma parcela significativa da população – e não o faremos, tão cedo.

Mas para o Presidente da República, “ainda estamos vivendo um finalzinho de pandemia”.

A menos que a tenha lido num mapa astrológico de Olavo de Carvalho, não se sabe de onde Jair Bolsonaro tirou essa.

Se tudo não piorar, o “finzinho” de Bolsonaro será o fim de algumas dezenas de milhares de vidas.

Mas está piorando, e sensivelmente. Hoje, as Santas casas de Misericórdia anunciaram que já não têm vagas, a mesma situação da rede pública do Rio, de Santa catarina e de outros estados. Em São Paulo, o mais importante hospital de infectologia, o Emílio Ribas, está virtualmente lotado.

Mas Jair Bolsonaro não sente. Ele, aliás, não sente nada que se possa classificar como sentimento humano.

Hoje, o presidente da Argentina, Alberto Fernández anunciou o início da vacinação ainda em dezembro, usando a vacina Sputnik V, com a imunização de 10 milhões de pessoas – um quarto da população, praticamente – até fevereiro quando nós, com sorte, estaremos começando a fazer algo por aqui.

Para superar as resistências “ideológicas”, Fernández anunciou que será o primeiro a tomar, em público, o imunizante russo.

Bolsonaro nem liga. O negócio é a Bolsa, que está “bombando”, porque o mercado não se importa com cadáveres enquanto tudo estiver funcionando.

Somos governados por um monstro. E o pior é que ele não está “no finalzinho”.

Do Tijolaço.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O “LARANJA” AZEDOU, POR FERNANDO BRITO

A demissão de Marcelo Álvaro Antônio era prevista – ele e Onyx Lorenzoni, da Cidadania, estão há tempos em desgraça – e não deveria ter significado político maior, porque Antônio era mesmo uma figura minúscula, que só ganhou alguma notoriedade pelo escândalo do “laranjal mineiro” e as denúncias de candidaturas criadas apenas para transferir dinheiro para a sua campanha.

Ficou, porém, com uma advertência até para os que, no grupo fisiológico de deputados que dá apoio a Bolsonaro.

É o de que não há espaço para os políticos no exercício do poder que, de fato, é dividido entre a família presidencial e o grupo de militares palacianos.

O texto suicida enviado pelo agora ex-ministro do Turismo, chamando o general Luiz de traíra e de “exemplo de tudo o que eu não quero ser na vida” seria apenas uma enxurrada de desaforos, mas sinaliza que tem mais o que dizer. Transcrevo de O Globo, mantendo as maiúsculas da mensagem de Whattsap:

“Ministro Ramos, o Sr entra na sala do PR comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso, mas não diz o ALTÍSSIMO PREÇO que tem custado, conheço de parlamento, o nosso governo paga um preço de aprovações de matérias NUNCA VISTO ANTES NA HISTÓRIA, e ainda assim (na minha avaliação), não temos uma base sólida no Congresso Nacional”.

É evidente que Antonio tem uma lista das “mercadorias” pelas quais se pagou “altíssimo preço”.

Pior ainda, usando um general que só deixou de estar na ativa em julho deste ano como o responsável pelas “compras”.

Do Tijolaço.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

COM 842 MORTES HOJE, TESTES MOSTRAM DIAS SOMBRIOS PARA O BRASIL, POR FERNANDO BRITO

As secretarias de Saúde acabam de liberar o total de mortes contabilizadas nas últimas 24 horas e o número saltou para perto do mesmo dos piores períodos da pandemia de Covid-19: 842 vidas perdidas, o que nos deixa a dois ou três dias de chegarmos a 180 mil óbitos, pois já temos 178.159 contados às 18 horas de hoje.

Vai piorar, pois os casos confirmados voltaram a somar 50 mil por dia e a curva ascendente é aguda. Como prometi mais cedo, trago os números e as comparações que deveriam estar assustando nossas autoridades sanitárias, neste momento mais empenhadas em suas guerrinhas políticas.

No gráfico, registra-se a evolução por Semana Epidemiológica (SE) do percentual de resultados positivos – o que indica a presença ativa do vírus – obtidos nos exames de RT-PCR aplicados no país. Não é o número de testes, atente, mas a parcela deles que dá positivo para a presença da doença e que indica a necessidade de quarentena ou internação hospitalar.

Na SE 48, encerrada dia 28 de novembro, tínhamos 30,81% dos exames apresentando resultados positivos para o Sars-Cov-2, ou quase um terço das pessoas submetidas aos testes estando doentes e em fase de transmissão.

Compare com a tabela desta mesma taxa de positividade em alguns países europeus onde sabemos que a situação está deteriorada, todos medidos na mesma Semana Epidemiológica de n°48.

Como o número de testes está aumentando, uma taxa maior é crescimento sobre crescimento.

É questão, infelizmente, de tempo – e muito pouco tempo – para voltarmos à terrível marca de mil mortos por dia e, com os 22 dias que faltam para o final do ano, terminarmos 2020 bem perto das 200 mil mortes.

Os dados originais podem ser obtidos aqui e aqui.

Do Tijplaço.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

GULA SEM FIM: PGR DESCOBRE R$ 270 MI DA JBS PARA “ONG DA LAVA-JATO”, POR FERNANDO BRITO

Conjur publica que o Procurador Geral da República, Augusto Aras, pediu a anulação de cláusula do acordo de leniência da JBS que previa a entrega, pela empresa de R$ 270 milhões para uma “ONG” criada pela Força Tarefa da lava Jato com a Transparência Internacional para a fundação de uma entidade “para atender a imposição de investimentos sociais” das obrigações impostas ao frigorífico.

É uma espécie de “replay” do que a Lava Jato tentou fazer com os recursos que a Petrobras pagou nos EUA por um acordo de leniência com o Departamento de Justiça daquele país, num acordo bem mais “gordo”, que daria aos procuradores poderes cobre como destinar R$ 2,5 bilhões.

O dinheiro da JBS – que não tem sequer nada a ver com a Lava Jato – ia servir para uma “campanha educativa contra a corrupção”, certamente desenvolvida pelos “reizinhos” de Curitiba, em parceria com o diretor-executivo da filial brasileira da Transparência Internacional, Bruno Brandão, destinatário de pedidos de Deltan Dallagnol para produzir manifestações de apoio à Lava-Jato, como revelaram as mensagens publicadas pelo The Intercept e pela Agência Pública.

É espantoso que continue a existir este cancro que é a Força Tarefa da Lava Jato. Usar a função de fiscal da lei, paga pelo dinheiro do contribuinte, para arquitetar negócios escusos só é menos escandaloso do que o escândalo de continuarem impunes nos seus cargos.

Do Tijolaço.

sábado, 5 de dezembro de 2020

A ESQUERDA QUE A DIREITA GOSTA, POR FERNANDO BRITO

Algumas premissas para os que me conhecem pouco: jamais fui “petista”.

Não fui e não sou. Militei no Partido Comunista Brasileiro – e nunca o chamei de “Partidão” – e, depois, no PDT, do qual saí há sete anos. Sem ódio, sem empurrar o partido para o inferno como forma de projetar-me ao céu. E jamais carregando, nestas dissensões, ódio a pessoas, nem mesmo àquelas que marcaram o desvio de rumos que considerei em minhas atitudes.

Política, como outros relacionamentos, move-se por amor, identidades ou por interesses. E estes últimos, em geral, renegam os dois primeiros.

Pois, mais que pedetista, fui, durante 3 décadas, algo que chamem, se quiserem, de brizolista, mas que era – e nem eu, no inicio, entendia que fosse – um trabalhista.

Por mais que os livros, os debates, a curiosidade filosófica, e tudo o que um garoto dos anos 70 pudesse ter como referências, eu ainda era o filho da professora primária e o neto do operário do Iapi de Realengo. E, portanto, era neto de Getúlio Vargas, de quem ouvia falarem mal, com tantas boas razões para isso.

Razões contra as quais se erguiam, em silêncio, a história de progresso e de inclusão da qual fui fruto.

Por isso, não tenho muita paciência com os que se pretendem “novos” e “modernos” quando se trata de reconhecer quem simbolizou e liderou a afirmação das lutas sociais do povo brasileiro.

Li textos e vejo pessoas dizerem que “o antipetismo” é uma realidade social – leia-se aí antilulismo – como razão, pelo estigma, que apoio do PT é sempre bem-vindo.

É fácil: não é preciso enfrentar as estruturas dominantes que querem, na marra ou na mídia, que Lula não participe mais do processo político. Diretamente, como candidato ou como legítimo núcleo de apoio a uma candidatura popular.

Não, não é porque Lula seja um radical. É pela razão contrária de que ele, após a protelada mas inevitável anulação dos vereditos de Sérgio Moro, desmoralizados por seu próprio comportamento, tende a recuperar não só popularidade como capacidade de articulação política, ambas prejudicadas por sua interdição política..

Porque Lula deu um sentido nacional – embora com muitas falhas – ao que é ser de esquerda neste país.

Nunca houve tanto sentido de coletividade, de identidade, de nacionalidade, de pais quanto o que tivemos em seu governo. Nunca houve tanta paz institucional.

Se algo faltou em Lula foi exatamente a “luta de classes” e o projeto de ditadura com que estigmatizam a esquerda e que está aí, com a extrema direita.

E há certa esquerda que acha que pavimentará seu caminho ao poder com a tolerância da direita (e mesmo no PT há quem seja assim) pela derrubada do seu ícone popular.

Com Brizola, vi não um, nem dois, nem três personagens que ascenderam do nada à sua sombra e se tornaram “renovadores”. Renovadores do atraso: Cesar Maia, Anthony Garotinho, Marcello Alencar, para ficar nos graúdos.

Hoje há gente que acha que precisamos de uma “geléia geral antibolsonaro“, como se achou, mas primeiras eleições “quase-pós-ditadura” de 1982. E que deveríamos todos votar na direita para evitar a extrema-direita da ditadura.

É evidente – salvo para fanáticos – que este arranjo não será Ciro, em quem jamais confiarão, mas um personagem na faixa Doria-Huck ou até o agora improvável Moro.

Não tínhamos nada quando Brizola ressurgiu, exceto a memória popular – e velha, de uma geração inteira de atraso – e vencemos, vencemos justamente por não tergiversarmos.

Lula, ao contrário, tem muito, embora não haja pesquisa que possa medir o seu potencial eleitoral enquanto ele permanecer inelegível. E, por isso, você vai encontrar muitos falando do “prejuízo eleitoral” que a proximidade com o ex-presidente faria.

Curioso é que Boulos, Marília e Manuela chegaram onde ninguém achava, dois meses antes, que poderiam chegar sem nunca terem partido para uma negação do papel de Lula e nem, mesmo com as dores da derrota, o desqualificaram como responsável por suas derrotas, como fazem alguns próprios petistas.

Mas há quem pretenda resolver com Paris o “dilema” entre Bolsonaro e Haddad, no qual se via Lula em 2018.

A esquerda da qual a direita gosta, para lembrar a frase do velho mestre Darcy Ribeiro, está assanhada para culpar Lula por derrotas que, convenhamos, só ocorreram porque a direita bolsonarista despejou seu votos nos seus adversários.

O que ela sempre fez, desde 1989, quando deu maioria absoluta a Fernando Collor.

Do Tijolaço.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O XADREZ DO JOGO POLÍTICO PARA 2022, POR LUIS NASSIF

Confira o cenário político e econômico do Brasil nesta sexta-feira, 04 de dezembro. Os dados da covid-19 no Brasil, que registrou 46.884 novos casos e 694 novos óbitos.

A média diária semanal permanece em alta, e chegou em 42.231 novos casos e 570 óbitos. “E o general Pazuello dizendo que todo mundo saiu para a campanha eleitoral e não mudaram os indicadores. Em que mundo que vive?”, pergunta Nassif.

Na análise por estados, 18 Estados apresentam alto crescimento no registro de casos, três Estados tem crescimento moderado, quatro Estados apresentam quadro estável e apenas dois Estados mostram queda drástica. Já os dados de óbitos por Estado mostram alto crescimento em 11 Estados, crescimento moderado em três Estados, patamar estável em sete Estados e queda drástica em seis Estados.

O comentarista André Roncaglia discorre sobre as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a economia brasileira está “voltando em V”. “A gente está longe de restaurar nos níveis pré-pandemia: quando colocada em uma ótica de mais longo prazo, o nosso atual nível de atividade se encontra 7% abaixo do pico, atingido no primeiro trimestre de 2014”

“Quando a gente considera os índices de desenvolvimento medidos pelo PIB per capita, a gente vê que o Brasil retrocedeu 10 anos e encontra-se hoje em níveis de 2009. Isso está longe de ser a terra da fantasia que Guedes quer pintar para a sociedade”, explica Roncaglia. “Mesmo assim, o ministro já vem utilizando isso como justificativa para a extinção do auxílio emergencial a partir de 2021, muito embora mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI) tenha alertado o Brasil para a importância de manter os estímulos fiscais na tentativa de não desrespeitar o teto de gastos”.

“A postura de Guedes entra em flagrante contraste com aquilo que vem ocorrendo mundo afora, que é uma mudança radical na maneira de se compreender a política econômica, em particular a política fiscal”, diz Roncaglia. “Os Bancos Centrais injetaram trilhões mundo afora e relaxaram muito aquilo que os economistas chamam de ‘restrição fiscal do Estado’ – ou seja, a ideia de que o dinheiro acabou, a ideia de que o Estado precisa restringir os seus gastos a aquilo que ele consegue arrecadar da economia”.

“O resultado tem sido uma mudança radical de pensamento econômico, em particular a postura prática dos economistas”, diz Roncaglia, citando o discurso da indicada para a Secretaria do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

“A grande discussão é essa: como você coloca no centro das políticas públicas os vulneráveis, os cidadãos, como algo imprescindível para o desenvolvimento do país”, diz Nassif, citando o debate realizado na série Milênio, abordando a busca de outro paradigma.

Sobre as eleições de 2022, Nassif começa sua análise abordando as forças que se uniram em torno do impeachment, tendo como ponto central o antipetismo e o antilulismo.  “Quando cai o PT, e vem o impeachment, vem a fase terrível do Temer, que foi um preparativo para Bolsonaro – agora essas forças se diluem com interesses divergentes, com posições diferentes. O Bolsonaro vira um inimigo em comum e, agora, você começa a planejar para 2022”

“Grosso modo, você tem dois grupos se articulando hoje: um grupo muito estranho que é um centro-direita mais centro-esquerda, que não vai se sustentar. Entra o mercado, entra o STF e a mídia, você tem o DEM e o Rodrigo Maia e essa tentativa do Ciro Gomes de trazer o PDT e o PSB”

“Você tem o mercado, o Supremo Tribunal Federal e a mídia, você tem o DEM e o Rodrigo Maia e essa tentativa do Ciro Gomes de trazer o PDT e o PSB. Do outro lado você tem uma frente de esquerda em que entra o PT, entra o Lula, e entram os partidos menores que estão se articulando”, diz Nassif

Nassif diz que “a centro-direita, que tem o PDT e o PSDB, tem como potenciais candidatos o Luciano Huck, que é o favorito, o João Doria e o Ciro Gomes, que acha que vai entrar nesse bolo e vai poder ser o candidato desse grupo. Isso é uma autoilusão sem tamanho. E você vê um discurso muito recorrente do Ciro, de apresentar o Lula como ultrapassado”.

“O PT tem que fazer uma reciclagem, tem que fazer uma autocrítica para ver formas de atuação, tem que desenvolver projetos de país, mas o Lula é a maior liderança popular da historia do país”, afirma Nassif. “O que querem é anular, efetivamente, qualquer vontade do Lula de se apresentar como candidato ou endossando algum candidato”.

“E entra o fator Ciro. O Ciro jamais vai ser aceito por esse leque de centro-direita/centro-esquerda por algumas razões”, diz Nassif. “Primeiro pelas virtudes: ele tem um conjunto de propostas de políticas públicas que é contra as negociatas que são o cerne desse pensamento”

“Eu não aguento mais ver televisão quando o cara entra e fala ‘se a Lei do Teto não vier, acaba o país’ (…) É vergonhoso, não tem raciocínio, tem malícia, tem campanha. E o Ciro é melhor discurso até agora para combater esses factoides. Então, ele jamais vai ser aceito”.

“E por qual motivo que está tendo esse namoro? A centro-direita é muito esperta: traz o Ciro, o Ciro fica como agente para tentar impedir qualquer formação de frente de esquerda e para tentar inviabilizar o Lula. Não tem outra”.

“O Ciro não seria aceito pelas ideias dele e nem pelo temperamento dele. Alguém acha que o Ciro, se fosse Presidente da República com esse grupo, iria se curvar ao que pensa esse grupo? Não vai. Então, ele é um instrumento para desmoralizar o Lula. É evidente que o PSOL vem vindo com um pensamento mais moderno, mas os principais quadros técnicos de políticas sociais estão no PT. Uma parte está indo para o PSOL, mas a maior liderança popular está no PT”.

“O Ciro é um Cavalo de Troia, e nem é no mau sentido. Ele não é malicioso, ele é egocentrado. O mundo tem que girar ao redor dele, e então fica com esse pessoal, que faz a corte e daqui um tempo ele tá rompendo com esse pessoal e se inviabiliza como candidato”.

“E tem o fator João Doria”, diz Nassif. “O Doria é uma expressão da ultradireita. O antipetismo dele, a radicalização dele, a falta de empatia com o pobre, o estilo autoritário que ele tenta disfarçar com esse papel de estadista que trata da saúde. Não cola (…) O que ele está fazendo com a saúde, de estimular a disputa com Bolsonaro, é irresponsável”, afirma Nassif.

“Ele (Doria) trouxe a Joice Hasselmann e o Alexandre Frota para ele. Traiu o PSDB paulista – a presidência do PSDB SP mostra a maneira como ele rifou o PSDB (…) Ele (Doria) tem um componente de falta de lealdade e de autoritarismo que torna impossível qualquer acerto com o PSDB. Então, você vai ter um Huck, que vai se fortalecer efetivamente”, explica Nassif.

“A grande aposta é o Luciano Huck, que não é nada, é uma loucura mas é alguém que vai ser ciceronado por esse centro-direita e o mercado”.

Nassif entrevista o jornalista Américo Antunes, organizador do projeto Minas +300, abordando os 300 anos de fundação de Minas Gerais – que é marcada por conflitos de diversas origens.

Antunes também aborda a importância da comunidade negra para a formação de Minas Gerais, que era o principal destino dos escravos por conta do trabalho de mineração de aluvião. “Ao mesmo tempo em que você teve o massacre de indígenas e a importação maciça de escravos da África, principalmente da Costa da Mina, você também teve um movimento de resistência muito grande, que hoje é um campo de pesquisa – os quilombos de MG são poderosos”

“Houve uma resistência muito forte, e que vai marcar profundamente a identidade cultural mineira, tanto na culinária como no patrimônio cultural – Aleijadinho é filho de um português com uma negra escravizada e é alforriado no momento do batismo”

O livro de Américo Antunes se chama “Terra Prometida – um Herege nas Minas de Ouro”, elaborado a partir de trabalho de campo realizado “seguindo pelo Rio das Velhas, indo pelo São Francisco até a fronteira com a Bahia, entrando pelo Rio Paraguaçu até chegar ao Recôncavo”.

GGN

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

GUERRA PELA CÂMARA É PRÉ-DISPUTA POR 2022, POR FERNANDO BRITO

Nos velhos tempos, havia as “raposas do Congresso”: animais políticos matreiros, espertos, de pelo macio e movimentos suaves.

Em matéria de canídeos, hoje, além das grotescas hienas que se vê, a toda hora, o que parece dominar a fauna parlamentar são mesmo lobos, em lugar dos refinados felpudos do passado.

Rodrigo Maia e David Alcolumbre, com muito pouco acanhamento senão o verbal têm os poderes de presidentes da Câmara e do Senado e mostram que não irão largá-los, ainda que à custa de um atropelo constitucional que só mesmo o desqualificado STF que tem este país poderia considerar.

Até há alguns anos, ainda que os partidos políticos brasileiros já fossem extremamente degradados, ainda se conseguia tratar da escolha dos chefes do Legislativo com um mínimo de correspondência com o tamanho das bancadas partidárias.

Agora, o DEM, que acumula a presidência das duas Casas, é apenas o 10° partido na Câmara e o 7° no Senado.

A despeito da clareza do comando constitucional que proíbe a reeleição dos presidentes de Câmara e Senado na mesma legislatura, o Judiciário está atraído pela ideia de que Rodrigo Maia, principalmente, é um obstáculo ao poder absoluto de Jair Bolsonaro, afinal parido pelas decisões da Justiça que lhe abriram caminho.

Providencialmente, surge agora a acusação do Ministério Público contra Arthur Lira, o candidato do Centrão – e de Bolsonaro à chefia da Câmara. Lira teria, como o filho-senador do presidente, se beneficiado de um sistema de “rachadinhas”, como relata o Estadão:

(…)o deputado federal Arthur Lira (Progressistas-AL) esteve à frente de um esquema milionário de “rachadinha” quando integrou a Assembleia Legislativa de Alagoas, segundo acusação do Ministério Público Federal. Documentos até então sigilosos obtidos pelo Estadão indicam desvio, entre 2001 e 2007, de R$ 254 milhões dos cofres públicos. Somente o líder do Centrão movimentou R$ 9,5 milhões em sua conta. As informações estão em uma ação penal que Lira ainda responde na Justiça estadual. Ele já foi condenado pelo caso na esfera cível.
Para desviar o dinheiro da Assembleia, o “grupo criminoso” liderado por Lira, como destaca o processo, incluiu na folha de pagamentos funcionários fantasmas. O esquema, afirma a acusação, usava empresas de terceiros para simular negociações e empréstimos pessoais como forma de justificar a movimentação financeira nas contas dos parlamentares.

É possível que seja reação ao comando que vem do Planalto: derrotar Rodrigo Maia de qualquer forma, para evitar que ele seja o núcleo de uma candidatura de centro-direita (seja com que candidato for) e atrapalhe os planos de outra reeleição, ao do próprio Bolsonaro.

A política brasileira virou esta mixórdia, por que o baixo clero ocupou a própria Santa Sé.

Do Tijolaço.

PGE PEDE QUEBRA DE SIGILO DE LUCIANO HANG E DE QUATRO EMPRESAS

Medida integra ação sobre irregularidades durante campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, e sugere reabertura de investigação do caso.

Luciano Hang deve ter sigilo bancário e fiscal quebrados em investigação sobre envio em massa de mensagens via Whatsapp.

A Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) documento apontando novos indícios de disparo em massa de mensagens via Whatsapp para favorecer a campanha do então candidato Jair Bolsonaro em 2018.

A procuradoria defendeu a quebra do sigilo bancário e fiscal do empresário bolsonarista Luciano Hang e de quatro empresas suspeitas de terem efetuado os disparos em massa (Quick Mobile, Yacows, Croc Services e SMS Market) no período de 1º de julho a 30 de novembro de 2018.

Segundo o jornal O Globo, o panorama do caso sofreu uma reviravolta por conta do surgimento de novas documentações: em novembro de 2019, o Whatsapp enviou um ofício apontando o “comportamento anormal, indicativo do envio automatizado de mensagens em massa” por contas pertencentes às empresas SMS Market Soluções Inteligentes e à Yacows Desenvolvimento de Softwares, além de uma conta pertencente à pessoa física William Evangelista, sócio da SMS Market.

O documento do Whatsapp só foi recebido após o encerramento da fase de instrução, o que levou a PGE a pedir a reabertura do caso em duas ações que estavam em vias de arquivamento. Além disso, o vice-PGE adotou novo entendimento e recomendou as quebras de sigilo ao TSE para aprofundar as investigações.

Do GGN