sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O XADREZ DO JOGO POLÍTICO PARA 2022, POR LUIS NASSIF

Confira o cenário político e econômico do Brasil nesta sexta-feira, 04 de dezembro. Os dados da covid-19 no Brasil, que registrou 46.884 novos casos e 694 novos óbitos.

A média diária semanal permanece em alta, e chegou em 42.231 novos casos e 570 óbitos. “E o general Pazuello dizendo que todo mundo saiu para a campanha eleitoral e não mudaram os indicadores. Em que mundo que vive?”, pergunta Nassif.

Na análise por estados, 18 Estados apresentam alto crescimento no registro de casos, três Estados tem crescimento moderado, quatro Estados apresentam quadro estável e apenas dois Estados mostram queda drástica. Já os dados de óbitos por Estado mostram alto crescimento em 11 Estados, crescimento moderado em três Estados, patamar estável em sete Estados e queda drástica em seis Estados.

O comentarista André Roncaglia discorre sobre as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a economia brasileira está “voltando em V”. “A gente está longe de restaurar nos níveis pré-pandemia: quando colocada em uma ótica de mais longo prazo, o nosso atual nível de atividade se encontra 7% abaixo do pico, atingido no primeiro trimestre de 2014”

“Quando a gente considera os índices de desenvolvimento medidos pelo PIB per capita, a gente vê que o Brasil retrocedeu 10 anos e encontra-se hoje em níveis de 2009. Isso está longe de ser a terra da fantasia que Guedes quer pintar para a sociedade”, explica Roncaglia. “Mesmo assim, o ministro já vem utilizando isso como justificativa para a extinção do auxílio emergencial a partir de 2021, muito embora mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI) tenha alertado o Brasil para a importância de manter os estímulos fiscais na tentativa de não desrespeitar o teto de gastos”.

“A postura de Guedes entra em flagrante contraste com aquilo que vem ocorrendo mundo afora, que é uma mudança radical na maneira de se compreender a política econômica, em particular a política fiscal”, diz Roncaglia. “Os Bancos Centrais injetaram trilhões mundo afora e relaxaram muito aquilo que os economistas chamam de ‘restrição fiscal do Estado’ – ou seja, a ideia de que o dinheiro acabou, a ideia de que o Estado precisa restringir os seus gastos a aquilo que ele consegue arrecadar da economia”.

“O resultado tem sido uma mudança radical de pensamento econômico, em particular a postura prática dos economistas”, diz Roncaglia, citando o discurso da indicada para a Secretaria do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

“A grande discussão é essa: como você coloca no centro das políticas públicas os vulneráveis, os cidadãos, como algo imprescindível para o desenvolvimento do país”, diz Nassif, citando o debate realizado na série Milênio, abordando a busca de outro paradigma.

Sobre as eleições de 2022, Nassif começa sua análise abordando as forças que se uniram em torno do impeachment, tendo como ponto central o antipetismo e o antilulismo.  “Quando cai o PT, e vem o impeachment, vem a fase terrível do Temer, que foi um preparativo para Bolsonaro – agora essas forças se diluem com interesses divergentes, com posições diferentes. O Bolsonaro vira um inimigo em comum e, agora, você começa a planejar para 2022”

“Grosso modo, você tem dois grupos se articulando hoje: um grupo muito estranho que é um centro-direita mais centro-esquerda, que não vai se sustentar. Entra o mercado, entra o STF e a mídia, você tem o DEM e o Rodrigo Maia e essa tentativa do Ciro Gomes de trazer o PDT e o PSB”

“Você tem o mercado, o Supremo Tribunal Federal e a mídia, você tem o DEM e o Rodrigo Maia e essa tentativa do Ciro Gomes de trazer o PDT e o PSB. Do outro lado você tem uma frente de esquerda em que entra o PT, entra o Lula, e entram os partidos menores que estão se articulando”, diz Nassif

Nassif diz que “a centro-direita, que tem o PDT e o PSDB, tem como potenciais candidatos o Luciano Huck, que é o favorito, o João Doria e o Ciro Gomes, que acha que vai entrar nesse bolo e vai poder ser o candidato desse grupo. Isso é uma autoilusão sem tamanho. E você vê um discurso muito recorrente do Ciro, de apresentar o Lula como ultrapassado”.

“O PT tem que fazer uma reciclagem, tem que fazer uma autocrítica para ver formas de atuação, tem que desenvolver projetos de país, mas o Lula é a maior liderança popular da historia do país”, afirma Nassif. “O que querem é anular, efetivamente, qualquer vontade do Lula de se apresentar como candidato ou endossando algum candidato”.

“E entra o fator Ciro. O Ciro jamais vai ser aceito por esse leque de centro-direita/centro-esquerda por algumas razões”, diz Nassif. “Primeiro pelas virtudes: ele tem um conjunto de propostas de políticas públicas que é contra as negociatas que são o cerne desse pensamento”

“Eu não aguento mais ver televisão quando o cara entra e fala ‘se a Lei do Teto não vier, acaba o país’ (…) É vergonhoso, não tem raciocínio, tem malícia, tem campanha. E o Ciro é melhor discurso até agora para combater esses factoides. Então, ele jamais vai ser aceito”.

“E por qual motivo que está tendo esse namoro? A centro-direita é muito esperta: traz o Ciro, o Ciro fica como agente para tentar impedir qualquer formação de frente de esquerda e para tentar inviabilizar o Lula. Não tem outra”.

“O Ciro não seria aceito pelas ideias dele e nem pelo temperamento dele. Alguém acha que o Ciro, se fosse Presidente da República com esse grupo, iria se curvar ao que pensa esse grupo? Não vai. Então, ele é um instrumento para desmoralizar o Lula. É evidente que o PSOL vem vindo com um pensamento mais moderno, mas os principais quadros técnicos de políticas sociais estão no PT. Uma parte está indo para o PSOL, mas a maior liderança popular está no PT”.

“O Ciro é um Cavalo de Troia, e nem é no mau sentido. Ele não é malicioso, ele é egocentrado. O mundo tem que girar ao redor dele, e então fica com esse pessoal, que faz a corte e daqui um tempo ele tá rompendo com esse pessoal e se inviabiliza como candidato”.

“E tem o fator João Doria”, diz Nassif. “O Doria é uma expressão da ultradireita. O antipetismo dele, a radicalização dele, a falta de empatia com o pobre, o estilo autoritário que ele tenta disfarçar com esse papel de estadista que trata da saúde. Não cola (…) O que ele está fazendo com a saúde, de estimular a disputa com Bolsonaro, é irresponsável”, afirma Nassif.

“Ele (Doria) trouxe a Joice Hasselmann e o Alexandre Frota para ele. Traiu o PSDB paulista – a presidência do PSDB SP mostra a maneira como ele rifou o PSDB (…) Ele (Doria) tem um componente de falta de lealdade e de autoritarismo que torna impossível qualquer acerto com o PSDB. Então, você vai ter um Huck, que vai se fortalecer efetivamente”, explica Nassif.

“A grande aposta é o Luciano Huck, que não é nada, é uma loucura mas é alguém que vai ser ciceronado por esse centro-direita e o mercado”.

Nassif entrevista o jornalista Américo Antunes, organizador do projeto Minas +300, abordando os 300 anos de fundação de Minas Gerais – que é marcada por conflitos de diversas origens.

Antunes também aborda a importância da comunidade negra para a formação de Minas Gerais, que era o principal destino dos escravos por conta do trabalho de mineração de aluvião. “Ao mesmo tempo em que você teve o massacre de indígenas e a importação maciça de escravos da África, principalmente da Costa da Mina, você também teve um movimento de resistência muito grande, que hoje é um campo de pesquisa – os quilombos de MG são poderosos”

“Houve uma resistência muito forte, e que vai marcar profundamente a identidade cultural mineira, tanto na culinária como no patrimônio cultural – Aleijadinho é filho de um português com uma negra escravizada e é alforriado no momento do batismo”

O livro de Américo Antunes se chama “Terra Prometida – um Herege nas Minas de Ouro”, elaborado a partir de trabalho de campo realizado “seguindo pelo Rio das Velhas, indo pelo São Francisco até a fronteira com a Bahia, entrando pelo Rio Paraguaçu até chegar ao Recôncavo”.

GGN

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