segunda-feira, 12 de abril de 2021

WEBER BLOQUEIA ‘ARSENAL DA MILÍCIA’; BOLSONARO SUBIRÁ TOM CONTRA STF, FERNANDO BRITO

Rosa Weber fez o que era sua obrigação fazer.

Suspendeu a aplicação do decreto de Jair Bolsonaro que permitia a formação de “pelotões” milicianos, sob a chefia de um “caçador, atirador desportivo ou colecionador” (CAC), que passaria a poder comprar até 60 armas e até 180 mil munições e 20 kg de pólvora para recarga de cartuchos.

Alguém pode acreditar que este arsenal é para repelir o gatuno que pula o muro de uma casa?

Segundo a ministra, “os CACs registrados no Comando do Exército já superam o número de 400 mil pessoas”.

Em tese, quase 25 milhões de armas de grosso calibre poderiam ser legalmente compradas, com os decretos de Bolsonaro, além de bilhões de cartuchos e toneladas de pólvora.

Se 10% for usado para armar grupos paramilitares, temos gente suficiente para formar várias divisões de Exército.

O palerma que preside o Senado da República, com seu discurso de “paz e união” hipócrita havia protelado sine die a votação dos decretos legislativos que visava impedir esta monstruosidade.

Os generais do Exército, a quem incumbe o monopólio de possuir força bélica nesta escala, também ficaram quietinhos.

Esperem a reação de Jair Bolsonaro. Ele não vai esconder que pretender criar um exército paralelo, com aquele discurso do “povo armado jamais será escravizado”.

Não será uma liminar do STF que impedirá o plano de formação de milícias com armas pesadas para controlar o país.

Bolsonaro vai subir de tom, pode esperar.

O Brasil está sendo sugado pelo torvelinho de uma crise institucional sem precedentes.

Tijolaço.

BANDIDOS BARATOS, POR FERNANDO BRITO

Há horas em que a gente fica achando que as coisas que escreve, talvez, contenha exageros. Afinal, não foi fácil escrever que o seu país está entregue à patifaria, à malandragem do pior tipo.

Aí vem a manchete do Estadão, com o título que reproduzo acima e você diz: “meu deus, é pior do que a gente pensava!”.

Porque como praticar algum grau de serenidade lendo que o presidente da República e seu circulo palaciano “estão discutindo a ideia” de que Bolsonaro “viaje”, Hamiltom Mourão também e se deixe ao presidente da Câmara sancionar o complicado Orçamento de 2021.

É evidente que isso não acontecerá, infelizmente não por ser absurdo, mas por ser legalmente desprezível – como desprezível é, moralmente.

Mas só o fato de isso estar sendo discutido mostra o grau – a palavra é inevitável – de molecagem que tomou conta da República.

Vejam esta história do “me grava/não me grava”: quer coisa mais calhorda que este jogo de imundícies?

Não, não é apenas o gato de nos encontrarmos sob o domínio de gente de direita, é estarmos sob o controle de bandidos.

Esconder as responsabilidades sobre o Orçamento da República não é nem próximo de algum “arranjo contábil” para enquadrar este ou aquele gasto. É lavagem de dinheiro, mesmo, porque tudo isso se faz para assegurar que o pouco dinheiro do país seja direcionado para pequenas obras eleitoreiras – e, claro, com suas pequenas maracutais – enquanto o imenso “navio” Brasil naufraga.

E o capitão combina de “dar uma saidinha da cabine” para não ser responsabilizado pelo choque com o iceberg fiscal.

Tijolaço.

domingo, 11 de abril de 2021

E NÃO É PATIFARIA GERAL? POR FERNANDO BRITO

Merval Pereira, já no merecido outono de sua capacidade de “fazer cabeças” da direita, mostra-me sua coluna em O Globo, que este blogueiro não estava exagerando em dizer que, no Brasil, generalizou-se (sem trocadilhos) a patifaria.

Vejam o roteiro que ele descreve com a maior cara dura, depois de ter sido questionado por um grupo de advogados de tentar ditar o comportamento do Supremo.

O ministro Luiz Edson Fachin teria decretado a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba – isto é, de Sergio Moro – apenas para esvaziar o julgamento da parcialidade com que este conduziu o caso do triplex “atribuído” ao ex-presidente Lula.

Como remeteu sua decisão monocrática ao plenário do STF, na hora de votá-lo, esta semana, Fachin daria um voto contra o que ele próprio havia decidido e votaria pela competência da vara curitibana, para ajudar a fazer maioria para, senão revalidar a sentença, pelo menos revalidar tudo o que se fez ali.

Criar-se-ia um imbroglio – se não é competente, não pode ser suspeito – para preservar a íntegra do processo e deixá-lo pronto para ser liquidado com um penada de um novo juiz.

Se necessário, porque o “ideal” seria reverter ao status quo ante, mantendo Lula condenado e – viva! – inelegível.

Assim, seria aberto caminho para um candidato do Centro, o “Cinderelo”, no qual, por horror a Bolsonaro, todos deveriam votar e resolver o problema que todos os candidatos a príncipe encantado têm: a falta de votos.

Qual deles? Tanto faz. Quem sabe Merval, que considera Sergio Moro o herói dos heróis, acompanhe a declaração de voto do ex-juiz e faça campanha para o Danilo Gentilli, um sujeito que consegue ser mais grosseiro e preconceituoso que Jair Bolsonaro.

É duro de engolir, mas para quem já votou no “Mito”, não é nada.

OS PATIFES

Jair Bolsonaro chamou de “patife” o governador João Dória, hoje, sábado, 10-04, em uma de suas investidas ‘espalha vírus” na periferia de Brasil.

Ontem, havia dito quase o mesmo (covarde é um dos sinônimos de patife) do Ministro Luís Roberto Barroso, de quem disse não ter “coragem”.

De alguma forma, Bolsonaro tem razão, inclusive se estender a si mesmo o adjetivo.

Patifaria, aliás, é o que não falta a este país e por toda a parte.

Políticos, empresários, prefeitos, deputados, senadores, governadores e o próprio presidente da República, salvo exceções, com as vantagens que podem auferir da pandemia do que em detê-la.

Nunca se falou tanto em moralidade e dela nunca se desdenhou.

Porque não há moralidade possível quando se desdenha da morte de 350 mil pessoas alegando que “a economia não pode parar” enquanto os maiores beneficiários e suas famílias permanecem no isolamento em que sempre viveram, em suas torres de marfim, deixando que os pequenos negociantes, sem apoio, gritem “reabre, reabre!” por eles.

Perdeu-se a vergonha na cara, como é próprio dos patifes, quando um ministro do STF converte-se em pastor da morte, quando um procurador geral da República vira patrono do dízimo e quando um ex-juiz e falecido “herói nacional” nacional sai de seu silêncio dourado para apoiar a candidatura de um palerma grosseiro, Danilo Gentili, aquele que esfregava notificações nas “partes” gravando o desaforo.

Não por acaso, quando foi condenado por injúria, ganhou a solidariedade presidencial.

Sim, senhores, patifarias sobram, na ribalta e nos bastidores, onde se trama de tudo contra os direitos da população e contra as liberdades.

Generais provectos, decrépitos, agarram-se a sonhos de poder e, depois de conduzirem as Forças Armadas a uma aventura desastrosa, que atingiu em cheio sua imagem pública, esmeram-se em arrumar para si e para seu grupo espaços, mando e ganhos no governo quase “ex” civil.

Médicos picaretas que insistem em propagandear e distribuir em redes hospitalares medicamentos ineficazes, eventualmente tóxicos, tudo para agradar o governo ou praticar sua “medicina ideológica”.

A velha direita brasileira, que agora rebatiza-se de “centro” não demonstra o mínimo pendor em aliar-se à esquerda para consertar as lambanças que fez ao dar os braço à extrema direita e agarra-se ao sonho de que tomará de Bolsonaro o que lhe entregou em 2018, ainda que esteja claro que ele tem a hegemonia do campo conservador.

E, para isso, como patifes, escondem-se numa ideia de “frente ampla” que ignora, desdenha e ataca a principal figura da oposição brasileira. Não entende e não aceita que a alternativa a ela é a completa milicianização do Brasil.

Logo não poderá escolher, porque terá sido dessangrada por este processo que, antes de ser político, é psiquiátrico, porque a patifaria está se tornando a matriz da vida brasileira.

Tijolaço.

sábado, 10 de abril de 2021

SÉRGIO MORO AOS OLHOS DO MUNDO É “TENDENCIOSO” E “SEM IMPORTÂNCIA”, DIZ GEOFFREY ROBERTSON

"Moro não tem suporte internacional, não é o autor de nenhum grande trabalho, não é nenhum jurista distinto em ascensão foi recompensado com um cargo no gabinete, que teve que renunciar quando Bolsonaro se comportou deploravelmente".

“Tendencioso”, “ultrajante” e “sem qualquer importância no mundo jurídico”. É assim que o ex-juiz Sergio Moro é visto internacionalmente entre juristas, segundo o advogado Geoffrey Robertson, que representa Lula no Comitê de Direitos Humanos da ONU. Em entrevista exclusiva ao GGN, como participação do documentário “Sergio Moro: A construção de um juiz acima da lei”, ele avaliou que o comportamento de Moro no julgamento de Lula repercutiu negativamente na imagem da Justiça brasileira.

“Acho que o juiz Moro vai entrar para a História como um dos investigadores mais descuidados com os direitos dos réus. Ele seguiu uma agenda política. E não tem suporte internacional, porque ele não é o autor de nenhum grande trabalho, ele não é nenhum jurista distinto em ascensão, ele é um juiz que, na visão de muitos advogados, julgou injustamente, em particular o ex-presidente, e foi recompensado com um cargo no gabinete, que teve que renunciar quando Bolsonaro se comportou deploravelmente. Isso deu a ele uma marca”, expressou.

“Mas eu não acho que ele desfruta de qualquer importância hoje na visão de advogados de outros países, porque ele não é autor de nenhum grande trabalho, ele não é um pensador, ele é uma pessoa que obviamente se envolveu em uma crise política no Brasil, algo que ele deve conviver com isso no Brasil, e deveria ser considerado em termos de História do Brasil, seu futuro e pelo cumprimento do Direito Internacional”, acrescentou. Entrevista a seguir:

AGENDA POLÍTICA DE MORO

O advogado ressaltou a contradição de um mesmo juiz guiar investigações – chegando a orientar os procuradores da força-tarefa da Lava Jato e atuar como um deles -, posteriormente condenar o réu e, em seguida, assumir um mandato ministerial no governo do oponente político desse réu, o presidente Jair Bolsonaro.

Os movimentos de Sergio Moro foram “notados” pelo mundo, assegurou Geoffrey Robertson, e foi “um sinal imediato de que Moro era um apoiador político de Bolsonaro”. “Mostra o nível de tendência contra Lula, que o homem que o condenou, perseguiu uma agenda política e recebeu a recompensa de condená-lo, sendo indicado para o gabinete. Isso é certamente um indício do ataque desavergonhado contra Lula, uma recompensa foi dada a um juiz.”

“ANOMALIA BRASILEIRA”

Mas para além das visão simplista que o então juiz, ex-ministro e mais recentemente advogado Sergio Moro carrega pelos olhos do mundo, Robertson também expôs que os abusos cometidos por ele no julgamento da Operação Lava Jato são, na verdade, um reflexo da própria Justiça brasileira que permitiu esse tipo de atuação.

Nesse sentido, as críticas são de que parte da atuação de Moro “deve-se à característica primitiva do sistema brasileiro”, que remonta “à inquisição espanhola, onde você tem essa grande figura inquisidora que decide quem deve ser suspeito e depois quem será condenado”.

“É uma anomalia na lei brasileira. E foi o juiz Sergio Moro que conseguiu tirar o máximo dessa anomalia”, arrebatou.

DESRESPEITO DO BRASIL AO TRIBUNAL INTERNACIONAL

A ação levada à Comitê de Direitos Humanos da ONU, sob a defesa de Geoffrey Robertson, obteve como uma das vitórias a recomendação do Tribunal de que o ex-presidente Lula deveria ter garantido o seu direito de se candidatar às eleições presidenciais de 2018, o que não foi cumprido no Brasil, levando à vitória de Bolsonaro.

“A Lula foi negado seu direito de participar democraticamente da eleição. Foi um exercício muito triste de injustiça”, lamentou.

Pela determinação do Comitê da ONU, que é o órgão de controle do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, do qual o Brasil é signatário, Lula não deveria ter sido impedido, sequer, em 2018, de conceder entrevistas enquanto estava preso.

A consequência dessa negativa é diretamente na imagem da Justiça brasileira ao mundo, explicou, uma vez que o sucesso do Direito Internacional depende da cooperação dos Estados. “Em 2009, o Brasil ratificou o Acordo Internacional dos Direitos Civis e Políticos. Mas quando o Tribunal, por duas vezes, determinou que Lula deveria ser candidato na eleição presidencial, em agosto de 2018, o Brasil se recusou a acatar. Então, eu temo que a Lei Internacional depende da boa fé dos Estados, e o Brasil mostrou má fé em não cumprir com as determinações do Comitê de Direitos Humanos.”

EXEMPLO DE OUTROS PAÍSES

O que se verificou no Brasil com a atuação de Sergio Moro na Operação Lava Jato e, mais especificamente, contra o ex-presidente Lula, também foi tema tratado e já superado em outros países do mundo.

Robertson relatou as recomendações feita pela Corte europeia de Direitos Humanos à Portugal, em um caso similar, decidindo que juízes envolvidos em investigações não podem julgar estes casos, estabelecendo, assim, duas figuras julgadoras: o de instrução, responsável por atender a demandas da investigação em si, e aquele que decidirá a sentença contra o réu.

“Até mesmo Portugal mudou sua lei para garantir que não haja um juiz que faça a investigação e o mesmo faça o julgamento. (…) É uma regra clara e isso não se aplica no Brasil. O Brasil realmente precisa revisar essa regra, que, como eu disse, vem da Idade das Trevas, da inquisição, e modernizá-la para que possa ter julgamentos justos”, criticou.

Biden e a reabilitação da Justiça Internacional

Na entrevista, o especialista também comentou o fortalecimento que os Tribunais Internacionais devem receber com a eleição do democrata Joe Biden, enterrando o polêmico modelo de Donald Trump, em gestão que foi “danosa” à Justiça Internacional. “A América [EUA] recusou nomear juízes para a Organização Mundial do Comércio, o que prejudicou, e foram muitos os problemas causados ao sistema internacional pelo presidente Trump”, elencou.

“Então isso tem que ser dito: a eleição de Joe Biden é algo bom para a Justiça Internacional, porque a América vai mostrar mais concordância [com a Justiça Internacional]”, disse, completando com um recado ao Brasil: “Há chances agora de que haverá uma reabilitação e teremos mais força e mais possibilidades de questionamentos sobre países que se recusarem a cumprir com as determinações da linha de direitos humanos.”

A entrevista do reconhecido especialista em Justiça Internacional e Direitos Humanos foi concedida em novembro de 2020, como parte do documentário “Sergio Moro: A construção de um juiz acima da lei”, relembre:

GGN

NA BATALHA DA VACINA, O POVO ESTÁ PERDENDO TAMBÉM NA 2ª DOSE, POR FERNANDO BRITO

A Folha noticia que mais de meio milhão de pessoas deixaram de receber a 2ª dose da vacina contra a Covid.

O número, com certeza, é muito maior, porque o levantamento do jornal leva em conta só os vacinados até 17 de fevereiro que já tinham deixado se passarem 45 dias e sem comparecer para a 2ª dose.

Num cálculo aproximado, são dois milhões até 13 de março, e é fácil ver este dado dramático.

Naquele dia, o número total de vacinados com a primeira dose era de 9,667 milhões e o de vacinados com o reforço, 3,54 milhões.

Considerando que cerca de 85% das vacinas eram Coronavac, com prazo de 28 dias para a aplicação da 2ª dose, seriam 5,2 milhões de pessoas que, num máximo de quatro semanas depois, deveriam ter tido o reforço vacinal. É este o número que representa 85% da diferença entre 1ª e 2ª daquele 13 de março, que era de 6,12 milhões.

Com isso, o número de pessoas que, neste 10 de março, 28 dias depois, já receberam a 2ª dose deveria ser de 8,74 milhões (3,54 milhões +5,2 milhões).

São 6,84 milhões de vacinas de reforço. Isto é, quase dois milhões a menos, quase um por cento da população vacinável (acima de 18 anos) do país, das que deveriam ter sido aplicadas.

É o equivalente a estarmos jogando fora (porque não se imunizou) o equivalente a um daquelas carregamentos de vacinas vindos da Índia, com direito a avião pintado e tudo.

E isto considerando apenas os vacinados em primeira dose até 13 de março.

A pergunta simples é: onde você já viu um apelo, um chamado, uma campanha de comunicação de massa para que estas pessoas tomem a segunda dose?

Que notícias tem você de uma busca ativa das autoridades sanitárias por estas pessoas, que estão todas cadastradas, com nome, endereço e telefone devidamente atualizados até o dia em que receberam a primeira dose?

Onde estão os telefonemas disparados automaticamente, com esta base de dados, lembrando da necessidade de tomar a primeira dose?

Em lugar de despejar platitudes como “use a máscara”, o senhor Marcelo Queiroga deveria estar cuidando de prover estados e municípios dos meios para isso, ou fazendo isso centralizadamente, porque tem acesso aos cadastros de vacinação, ou deveria ter.

O Brasil não tem autoridades sanitárias, tem irresponsáveis no comando.

Tijolaço.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

GOVERNO BOLSONARO RESOLVE ESCONDER NÚMERO DE VACINAS DISTRIBUIDAS, POR FERNANDO BRITO

Lembra quando o Ministro Eduardo Pazuello deixou de divulgar o número de casos e de mortes provocadas pela Covid-19?

Pois quem esconde a doença também resolveu esconder a vacina para curá-la.

Depois de ver frustrados várias vezes os cronogramas oficiais de vacina, o Ministério da Saúde, agora sob a gestão do escorregadio Marcelo Queiroga, “decidiu que não irá mais divulgar a previsão de doses que espera receber a cada mês” diz o Estadão, noticiando que isso foi confirmado pela própria pasta.

Agora, quem quiser saber quantas vacinas chegaram para tentar interromper a tragédia sanitária tem de ir perguntar aos fabricantes.

E a razão é clara: que não se veja o quanto o discurso oficial é contrariado pelos fatos. O jornal registra:

Pela previsão de fevereiro, o Brasil encerraria o mês de março com 68 milhões de imunizantes distribuídos. Segundo dados dessa quinta-feira, 8, foram entregues 45,2 milhões de doses.

E em abril vai ser pior. Na hipótese de tudo correr como está previsto, teremos perto de 25 milhões de doses já entregues ou por entregar neste mês: 18,8 milhões da Fiocruz (16,6 milhões por entregar) e 6 milhões da Coronavac (2 milhões entregues e 4,5 milhões por entregar). Neste caso, o atraso na chegada de insumos, prometidos agora para o final da próxima semana, inviabiliza a entrega ainda este mês do que se puder fabricar.

Tijolaço.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

BRASIL TEM NOVO RECORDE DE MORTES EM 24 H: 4.249, POR FERNANDO BRITO

O recorde de 4.195 mortes registrado terça-feira durou pouco.

As 4.249 mortes anotadas hoje pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde é, agora, o maior número de óbitos lançado em um só dia desde o início da pandemia.

São quase 24 mil mortes nos primeiros oito dias de abril, e vai subir mais.

Enquanto o país vive este drama, as autoridades do país estão perdidas. No Supremo, a inacreditável polêmica pela abertura de cultos presenciais em meio a um mar de contágios.

A dúvida é a sobre que dia chegaremos às 5 mil mortes por dia, quem sabe superando o recorde dos Estados Unidos, de 5.077 óbitos no dia 4 de fevereiro.

Não há uma palavra, uma providência, uma decisão, senão a de liberar comércio e escolas. Perde tempo quem quiser ainda falar em “lockdown”. Não há mais condições de fazê-lo cumprir.

Descanse Jair Bolsonaro: ele não terá de colocar o “seu” Exército para impedir que a população se proteja.

Nem é necessário mais: todos vão sozinhos ao matadouro.

Tijolaço.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

O FIM DO TEMPO DA MORTE, POR FERNANDO BRITO

O que se fez no Brasil no dia seguinte à noite em que ultrapassamos 4 mil mortes diárias (e hoje, ficamos quase lá)?

O presidente da República vai, em Chapecó, fazer o elogio charlatão de medicamentos inúteis para a Covid 19, e é incapaz de uma palavra de simpatia para as famílias que perderam pessoas queridas.

O ministro da Saúde, esgueirando-se para ficar fora de foco, seguiu o chefe, mas convenientemente nada disse sobre a encenação.

A Câmara dos Deputados aprova um projeto para legitimar o tráfico de vacinas: quem tiver dinheiro, compre onde venderem – na “casa da tua mãe”, segundo as palavras presidenciais – seja lá que porcaria for e aplique em quem quiser, sem controle algum.

A Suprema Corte passa a tarde discutindo o óbvio: se é legal restringir aglomeração em cerimônias religiosos, em meio a um mar de mortes ou se os pregadores do tipo “Jim Jones” estão livres para fazerem os seus cultos da morte. Na sessão, um procurador – Augusto Aras – e um ministro – André Mendonça, disputam nos discursos quem é mais “terrivelmente evangélico”.

Este é o retrato de um país devastado por cinco anos em que a estupidez e a mediocridade tomaram conta do poder e por um ano, pouco mais, em que não podemos nos aproximar, conversar, agir em conjunto.

Assim como a economia, também a democracia depende do fim deste vale da morte pandêmico para poder voltar a funcionar e, depois de meses em que tivemos de nos esconder para sobreviver, precisamos começar a nos preparar para a hora de nos movermos fortemente.

Não sabemos até aonde iremos nesta tragédia, mas já sabemos que não serão vacinas em falta ou isolamentos sociais “meia-boca” que nos tirarão dedo dela.

É preciso completar a emersão deste oceano de ódio e ignorância em que nos deixamos mergulhar, mas do qual já é possível perceber que estamos emergindo.

Não é tão difícil, embora seja doloroso: este não é o país da morte, embora tenha andado perto dela tantas vezes. Como uma boia, quanto mais nos afundam, mais temos forças para vir à tona.

Tijolaço.

terça-feira, 6 de abril de 2021

BRASIL TEM NOVO RECORDE DE MORTES POR COVID: 4.195, POR FERNANDO BRITO

Confirmou-se o esperado e o Brasil ultrapassou, pela primeira vez, a marca das 4 mil mortes diárias provocadas pelo novo coronavírus.

4.195 ÓBITOS.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde publicou há pouco o total de óbitos registrados nas últimas 24 horas, parte deles “represados” pela subnotificação do feriado de Páscoa e que foi, em parte, lançado hoje na contabilidade do Ministério da Saúde.

São 15.500 vidas perdidas apenas em seis dias de maio e esta média vai aumentar, porque Quinta e Sexta-Feira Santa, com escalas de serviço na administração dos hospitais, são dias de subnotificação, compensadas na contagem de hoje e na de amanhã.

Portanto, números como os de ontem, em que as mortes não chegaram a 1.400, iludem, como também não é possível ver nos números de hoje ainda uma realidade exata.

Mas não há que esperar exatidão no que é desesperador, ainda mais quando tempos um governo firmemente disposto a garantir “o direito de ir e vir”.

Do vírus.

Tijolaço.

EX-PREFEITO DE TERESINA, FIRMINO FILHO É ENCONTRADO MORTO EM PRÉDIO NA ZONA LESTE

O ex-prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), foi encontrato morto na tarde desta terça-feira (6) na zona Leste de Teresina. O ex-prefeito teria caído do 14º andar do edifício Manhattan River Center, na rua Senador Arêa Leão, onde funciona o Tribunal de Contas da União (TCU), local em que o ex-gestor trabalhava.  A filha do ex-prefeito esteve no local e reconheceu o corpo.

O ex-secretário de educação de Teresina, Klebler Montezuma, está no local acompanhando o trabalho da perícia. Policiais do 5º Batalhão da PM isolaram o local.

O vereador Evandro Hidd Filho (PDT) também está no local e disse que conversou com Firmino nesta segunda. "Estava tranquilo e disse que tinha voltado a trabalhar normalmente", afirmou.

Fotos: Yala Sena. 

Firmino da Silveira Soares Filho tinha 57 anos e foi prefeito de Teresina por 4 mandatos. O último deles encerrou em 31 de dezembro de 2020.

Formado em economia foi prefeito entre 1997 e 2004, no primeiro mandato. Foi eleito para o terceiro mandato em 2012, igualando-se em número de mandatos a Raimundo Wall Ferraz e reeleito nas eleições de 2016 ainda no primeiro turno das eleições na capital piauiense.

A primeira pessoa que encontrou o corpo de Firmino, que não quis se identificar, disse que jamais vai esquecer a cena. Ela relatou um barulho muito forte e saiu para ver o que tinha ocorrido. "Jamais vou esquecer. Estou em choque", disse 

A filha Bárbara foi quem reconheceu o corpo do pai. Ao chegar no local, a área já estava isolada. Ela precisou ser amparada.

PMT emite nota de pesar e decreta luto.

O prefeito de Teresina, doutor Pessoa decretou luto oficial de três dias em virtude da morte do ex-prefeito Firmino da Silveira Soares Filho. O prefeito cancelou a agenda administrativa para o resto da semana.

"Doutor Pessoa reconhece os relevantes serviços prestados pelo ex-prefeito à frente do poder executivo municipal. O prefeito de Teresina manifesta solidariedade à família enlutada. À esposa, deputada estadual Lucy Soares e aos filhos: Bárbara, Cristina e Bruno, doutor Pessoa manifesta seu pesar", informa a nota.

Câmara de Teresina emite nota de pesar

O presidente da Câmara Municipal de Teresina, Jeová Alencar, em nome de todos os parlamentares e servidores do Poder Legislativo, lamenta o falecimento do ex-prefeito de Teresina, Firmino da Silveira Soares Filho, que morreu na tarde desta terça-feira (06).

Jeová Alencar, reconhece o papel desempenhado pelo ex-prefeito Firmino Filho à frente do Poder Executivo durante o seu mandato, realçando sua atuação no período em que atuou no município.

“É com muita tristeza que recebemos a notícia da morte desse grande gestor. Quero aqui estender o meu sentimento e respeito a toda a família enlutada”, diz o presidente da Câmara Municipal.

Cidade Verde.

domingo, 4 de abril de 2021

A PROPÓSITO DO DOLO EVENTUAL DR. KÁSSIO, O SENHOR ACREDITA NO “NÃO MATARÁS”? POR FERNANDO BRITO

Não precisa haver intenção de matar quando se pratica um homicídio. Certamente, os pastores que, sob a cobertura de uma certa “Associação de Juristas Evangélicos”, criada entre outros pela ministra Damares Alves, não desejam assassinar seus fiéis ao pedirem e obterem do ministro Kássio Nunes Marques a liberação dos cultos presenciais na Páscoa.

Nem aquele sujeito que dispara na estrada, a 180 km por hora pretende matar a sua família que está no carro ou muito menos os outros que terão suas vidas expostas num acidente provocado pelo excesso de velocidade.

É o mesmo que ir a um culto pascal, aglomerar e voltar para casa pronto a distribuir o vírus a pais, irmãos, filhos e amigos.

Objetivamente, estão assumindo conscientemente o risco de matar e, assim, violar a lei humana e a divina, exposta no mandamento “não matarás”.

Proibir isso é tirar a liberdade religiosa ou de culto?

Eu não posso alegar que o fechamento para o lazer do Aterro do Flamengo aos domingos é um atentado ao meu direito de ir e vir, ou de respeitar o limite de 90K numa via é uma constrição absurda, porque é evidente que minha liberdade de locomoção está preservada,

Qualquer estudante de Direito, em duas ou três horas de estudo, terá argumentos para derrubar a decisão de Kássio Nunes.

A Constituição Brasileira, ao definir a liberdade de culto diz que “ ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”( art. 5°.: inciso VIII ).

Se não bastasse, o Pacto de São José da Costa Rica, tratado internacional recepcionado pela lei brasileira com alcance constitucional afirma que “A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas (art. 12, item 3).

O Dr. Kassio, pelo primarismo militante de suas decisões, já está a se tornar chacota dentro do STF.

Virou o representante de uma novíssima e apavorante corrente jurídica: o jusbolsonarismo.

Tijolaço.

sábado, 3 de abril de 2021

WASHINGTON POST ALERTA EUA SOBRE GOLPE DE BOLSONARO NA DEMOCRACIA BRASILEIRA

Do The Washington Post. Opinião do Conselho Editorial.

O Brasil está vivendo um dos piores picos de infecções por covid-19 que o mundo já viu. Na quarta-feira, ele registrou 3.869 mortes, um recorde que representou quase um terço de todas as mortes por coronavírus no mundo naquele dia. Não há fim para a onda à vista: graças à impressionante incompetência do presidente Jair Bolsonaro e seu governo, apenas 2% dos brasileiros foram totalmente vacinados e as medidas de bloqueio necessárias para retardar novas infecções, incluindo de uma variante virulenta que surgiu no Brasil, são praticamente inexistentes.

Em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que poderiam removê-lo do cargo. Com alguns no Congresso ameaçando impeachment, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emergindo como um potente adversário nas eleições do ano que vem, Bolsonaro despediu o ministro da Defesa nesta semana e os principais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica saíram juntos suas posições.

Não foram dadas explicações, mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, era conhecido por tratar um presidente que se referiu às Forças Armadas no mês passado como “os meus militares. O Sr. Bolsonaro escolheu seu ex-chefe de gabinete para substituir o Sr. Azevedo e Silva e nomeou um policial próximo à sua família como o novo ministro da Justiça. As medidas foram suficientes para levar seis prováveis ​​candidatos à presidência a emitir uma declaração conjunta alertando que “a democracia brasileira está ameaçada”. “O claro plano de apoio do Bolsonaro”, escreveu o editor-chefe Brian Winter no Americas Quarterly, “é ter tantos homens armados do seu lado quanto possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso na eleição de 2022”.

Embora as instituições democráticas do Brasil sejam relativamente fortes após mais de três décadas de consolidação, há motivos para preocupação. Bolsonaro expressou abertamente sua admiração pela ditadura militar que governou o país nas décadas de 1960 e 1970. Admirador de Donald Trump, ele adotou a tática do ex-presidente dos Estados Unidos de alertar sobre fraude nas próximas eleições e exigir que os sistemas de votação eletrônica sejam substituídos por cédulas de papel. Ele apoiou as alegações de Trump sobre fraude eleitoral, e seu filho, um legislador que visitou Washington na véspera de 6 de janeiro, expressou consternação porque o ataque ao Capitólio não teve sucesso.

O congresso no Brasil pode propor o impeachment de Bolsonaro por sua gestão abismal da pandemia, incluindo minimizar sua seriedade, resistir às medidas de saúde pública e promover curas charlatanescas. Mas as democracias dos Estados Unidos e da América Latina devem prestar atenção à medida que as eleições do próximo ano se aproximam – e deixar claro para Bolsonaro que uma interrupção da democracia seria intolerável. O presidente brasileiro já contribuiu muito para o agravamento da pandemia covid-19 em seu próprio país e, por meio da disseminação da variante brasileira, pelo mundo. Ele não deve ter permissão para destruir uma das maiores democracias do mundo também.

GGN

BRASIL SEGUE LÍDER ISOLADO NO RANKING MUNDIAL DE DESTRUIÇÃO DE FLORESTAS TROPICAIS

O Brasil segue na liderança do ranking mundial de destruição de florestas tropicais. E com folga. Levantamento da organização Global Forest Watch divulgado na última quarta-feira (31) mostra que em 2020 foram devastados 1,7 milhão de hectares pelo desmatamento desenfreado e queimadas.

A área de floresta destruída no Brasil é três vezes maior que a do segundo colocado, a República Democrática do Congo (RDC).

O levantamento mostra também que a devastação é crescente. Em 2020, segundo ano do governo de Jair Bolsonaro, com Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente, a perda aumentou em 25% em comparação com o ano anterior, quando a dupla deu início à desastrada política ambiental.

AMAZÔNIA DEVASTADA

Segundo a Global Forest Watch, a maior parte da perda de floresta tropical brasileira se deu na Amazônia. O bioma teve aumento de 15% em sua área devastada em relação ao ano anterior, totalizando 1,5 milhão de hectares.

Áreas recém abertas são particularmente comuns nas fronteiras ao sul e a leste da Amazônia, mais conhecida como “arco do desmatamento” e às margens de rodovias que cortam a floresta. Muitas delas estão em processo de expansão, com pavimentação prevista.

Também estão na Amazônia as diversas cicatrizes deixadas por incêndios. A porção brasileira da floresta é a que foi mais atacada pelo fogo, de maneira mais intensa do que no ano anterior. Segundo os pesquisadores, grandes incêndios raramente ocorrem em florestas tropicais úmidas, como a Amazônia.
Ainda segundo o relatório, em 2019, grande parte dos incêndios ocorreu em áreas já desmatadas, por ação de fazendeiros que prepararam a terra para agricultura e formação de pasto. Entretanto, em 2020, as florestas concentraram o maior número de incêndios, causados por humanos, que se alastraram para além da extensão calculada, devido ao clima seco.

PANTANAL

Os cientistas temem que os incêndios e as emissões relacionadas possam aumentar no futuro. As mudanças climáticas e o aumento no desmatamento, secando as florestas e tornando-as mais vulneráveis a incêndios, podem transformar a Amazônia em uma savana.

Apesar do prejuízo, a Amazônia não foi o único bioma brasileiro a sofrer com a crescente perda de floresta úmida em 2020. O Pantanal, maior planície alagada contínua do mundo, também viu aumento na destruição de floresta. Em 2020 foi 16 vezes maior do que no ano anterior.

Especialistas estimam que cerca de 30% do Pantanal ardeu em chamas em 2020. O fogo não poupou áreas protegidas e territórios indígenas. Tribos como os Guató ficaram sem alimentos ou água limpa.

Tampouco a biodiversidade. Milhares de animais mortos ou feridos, entre eles onças-pintadas e outras espécies vulneráveis. Ainda segundo o relatório, mesmo que o impacto não esteja claro a longo prazo, as proporções sem precedentes destes incêndios sugerem que algumas áreas do Pantanal podem não se recuperar por décadas.

GGN.

VACINA PÚBLICA NÃO É ‘IDEOLOGIA’, É PATRIMÔNIO DA SOCIEDADE, POR FERNANDO BRITO

Contesto, muito e muitas vezes, a linha política da jornalista Vera Magalhães, seu horror à esquerda e a condução parcial de suas entrevistas, tanto quanto o rumo de seus artigos.

Isso não está em questão neste tema e não poderia ser razão para que eu deixasse de trazer aos leitores deste blog parte de seu artigo, hoje, em O Globo, onde ela denuncia o absurdo que é este arranjo para a “privatização” das vacinas contra a Covid.

Trata-se de uma picaretagem, um golpe de esperteza da mais baixa extração que, como diz bem ela, atenta contra a Saúde nacional.

IMUNIZE-SE QUEM PUDER (PAGAR)

Trecho do artigo de Vera Magalhães, em O Globo.

A forma irresponsável com que o presidente investiu contra a vacinação, deixando de comprar imunizantes, desacreditando a eficácia e a segurança das vacinas, aparelhando o Ministério da Saúde com paraquedistas militares que nunca viram uma seringa na vida nem têm ideia da logística necessária para fazer uma campanha de vacinação nos trouxe a este momento bizarro, em que estamos lá atrás na fila da imunização e na aquisição de vacinas, ao mesmo tempo que viramos um mercado livre para a traficância privada, que se aproveita do desespero da população.

Em nenhum governo que não fosse o de Bolsonaro, Arthur Lira teria a coragem de ousar propor um projeto em que empresários podem ir às compras de vacinas para aplicar em seus funcionários e familiares, atestando a falência do governo em cumprir seu dever.

Não é apenas moralmente inaceitável, uma vez que faz letra morta do princípio da equidade no acesso a um bem de saúde pública. Trata-se de um tiro no pé também do ponto de vista da estratégia vacinal, pois fura as prioridades estabelecidas pelo PNI e legitima a falsa ideia de que vacinando um pequeno grupo se pode “retomar a vida normal”, forçando pessoas a trabalhar.

Além de tudo, é um vexame político. Significa a admissão de que todos os cronogramas de chegada de vacinas apresentados por Eduardo Pazuello e, no caso do mais recente, o referendado por Marcelo Queiroga eram peças de ficção para enganar trouxas.

Por fim, fica evidente o interesse mercantil que leva parte do Congresso a se aproveitar da justificada ansiedade de quem está morrendo de medo desse vírus. Defesa de laboratórios de reputação duvidosa, coalizões sem nenhuma transparência para aquisição de vacinas sabe-se lá em que mercado paralelo e venda da falsa ilusão de que será possível “somar esforços” com o SUS são os truques que lobistas disfarçados de deputados e senadores usam para defender mais esse atentado à saúde nacional.

O PNI sempre foi referência para outros países e fez o Brasil, graças à organização nacional e ao convencimento da população do poder representado pelas vacinas, erradicar uma série de doenças que muitas gerações, inclusive a minha, só conheceram dos livros de Ciências.

Assim como todo o portfólio de retrocessos de Bolsonaro, também a demolição do PNI é uma jabuticaba brasileira. Não há país importante que, no enfrentamento da Covid-19, tenha feito um mercado persa da vacina.

No Brasil de Bolsonaro, o bordão “vacina pouca, meu bracinho primeiro” é política de Estado.

Tijolaço.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

RESTA SABER SE O MANIFESTO DOS ARREPENDIDOS É SINCERO? POR FERNANDO BRITO

Com o devido “desconto” a Ciro Gomes, que se “só” omitiu no segundo turno, todos os signatários do “Manifesto Pela Consciência Democrática” trazem em seu currículo o apoio à elevação de Jair Bolsonaro à Presidência.

E o fizeram por duas circunstâncias que, infelizmente, não desapareceram da mesma forma que desapareceu sua opção pelo “Mito”.

A primeira é que seguem praticando, como fica claro na não-inclusão de Lula dos convites a assinar o texto, que é a tentativa de excluir a esquerda do processo politico.

É, para usar o verso de Cazuza, o “não me convidaram para esta festa podre”.

Ninguém lhes pede autoflagelações, apenas o arrependimento sincero que tornaria crível que não estão contra o monstro porque este os rejeitou, lançou à poeira e os ataca, agora.

A segunda, é o fato de que, a Lula, preferem Jair Bolsonaro. Ou, se não é verdade, não têm a coragem de admitir o óbvio: que o ex-presidente é, hoje, a única chance de derrotar o atual presidente nas urnas de 22.

Quando se dedicam uma “unidade” no antipetismo, acabam por repetir 2018.

É isso que tira a repercussão do que deveria ser um importante gesto de oposição a Bolsonaro: a falta de credibilidade de sua “consciência democrática”, porque democratas conscientes não praticam mesquinharias numa hora gravíssima como a que temos.

Imaginem o que seria, por exemplo, Lula recusar-se a dialogar com qualquer um deles: choveriam acusações de “exclusivismos” do petista que, como repetem os comentaristas políticos, não aceitaria diálogo com as demais forças políticas.

Porque não é possível dialogar civilizadamente quando se tem, de fato, “consciência democrática”?

Hoje mesmo, Lula dará uma entrevista a Reinaldo Azevedo, um dos seus mais ásperos e violentos críticos que, entretanto, não usou isso para defender sua exclusão, pela via da prisão ilegal a que o submeteu Sérgio Moro, da disputa eleitoral.

É preciso que algum dos dois seja falso e “mansinho”? Os gaúchos dizem que “lenha boa é a que sai faísca” e na política a polêmica e a discordância não podem pretender ser superiores aos deveres para com a população.

Os seis signatários do texto ainda pode deixar de lado seus ódios e discriminações. Porque isso tira a coerência do que dizem e, quem sabe por isso, tirem do que dizem a repercussão que Lula, na sua franqueza, encontra na opinião pública. 

Tijolaço.