Contesto,
muito e muitas vezes, a linha política da jornalista Vera Magalhães, seu horror
à esquerda e a condução parcial de suas entrevistas, tanto quanto o rumo de
seus artigos.
Isso
não está em questão neste tema e não poderia ser razão para que eu deixasse de
trazer aos leitores deste blog parte de seu artigo, hoje, em O Globo, onde ela
denuncia o absurdo que é este arranjo para a “privatização” das vacinas contra
a Covid.
Trata-se
de uma picaretagem, um golpe de esperteza da mais baixa extração que, como diz
bem ela, atenta contra a Saúde nacional.
Trecho
do artigo de Vera Magalhães, em O Globo.
A forma
irresponsável com que o presidente investiu contra a vacinação, deixando de
comprar imunizantes, desacreditando a eficácia e a segurança das vacinas,
aparelhando o Ministério da Saúde com paraquedistas militares que nunca viram
uma seringa na vida nem têm ideia da logística necessária para fazer uma
campanha de vacinação nos trouxe a este momento bizarro, em que estamos lá
atrás na fila da imunização e na aquisição de vacinas, ao mesmo tempo que
viramos um mercado livre para a traficância privada, que se aproveita do desespero
da população.
Em nenhum governo
que não fosse o de Bolsonaro, Arthur Lira teria a coragem de ousar propor um
projeto em que empresários podem ir às compras de vacinas para aplicar em seus
funcionários e familiares, atestando a falência do governo em cumprir seu
dever.
Não é apenas
moralmente inaceitável, uma vez que faz letra morta do princípio da equidade no
acesso a um bem de saúde pública. Trata-se de um tiro no pé também do ponto de
vista da estratégia vacinal, pois fura as prioridades estabelecidas pelo PNI e
legitima a falsa ideia de que vacinando um pequeno grupo se pode “retomar a
vida normal”, forçando pessoas a trabalhar.
Além de tudo, é um
vexame político. Significa a admissão de que todos os cronogramas de chegada de
vacinas apresentados por Eduardo Pazuello e, no caso do mais recente, o
referendado por Marcelo Queiroga eram peças de ficção para enganar trouxas.
Por fim, fica
evidente o interesse mercantil que leva parte do Congresso a se aproveitar da
justificada ansiedade de quem está morrendo de medo desse vírus. Defesa de
laboratórios de reputação duvidosa, coalizões sem nenhuma transparência para
aquisição de vacinas sabe-se lá em que mercado paralelo e venda da falsa ilusão
de que será possível “somar esforços” com o SUS são os truques que lobistas
disfarçados de deputados e senadores usam para defender mais esse atentado à
saúde nacional.
O PNI sempre foi
referência para outros países e fez o Brasil, graças à organização nacional e
ao convencimento da população do poder representado pelas vacinas, erradicar
uma série de doenças que muitas gerações, inclusive a minha, só conheceram dos
livros de Ciências.
Assim como todo o
portfólio de retrocessos de Bolsonaro, também a demolição do PNI é uma
jabuticaba brasileira. Não há país importante que, no enfrentamento da
Covid-19, tenha feito um mercado persa da vacina.
No Brasil de
Bolsonaro, o bordão “vacina pouca, meu bracinho primeiro” é política de Estado.
Tijolaço.
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