sábado, 24 de abril de 2021

INTERVENÇÃO MILITAR PARA ABRIR BOATES, SHOPPINGS E ACADEMIAS? BRAVATEAR É PRECISO!, POR FERNANDO BRITO

Uma das maneiras de separar o que é verdade do que é mentira é observar se, ao longo dos séculos, ao largo do mundo, isso já aconteceu.

Você consegue imaginar tanques de guerra à frente de boates e casas de “pool parties” para garantir o “direito à balada”?

Veículos blindados às portas de shopping centers para assegurar a garantia de comer sanduíches do McDonald’s?

Pelotões armados de metralhadora liberando as portas das academias de ginástica, para assegurar “spinning” para todos, a liberdade de malhar, o direito de “puxar ferro”.

Acaba-se de inventar o “toque de ir zoar”, em lugar do toque de recolher, diante de uma pandemia mortal.

Claro que não há nada de errado em festas, comer algumas destas porcarias (quem não?) ou em cuidar do físico, mas tratar isso como uma atividade essencial, quando já estamos a poucos dias de chegar a 400 mil mortes no país é, numa palavra, completa insanidade.

E ameaçar usar o Exército para isso é caso de camisa de força.

A única serventia desta alopração presidencial é servir para a sua forma de chefiar o país: ameaçar, bravatear, fazer demagogia e, claro, figurar restrições sanitárias com “opressão comunista”.

Na estranha coalizão de apoio que construiu, a aliança de senhorinhas fundamentalistas e microcéfalos “bombadões”, Jair Bolsonaro continua a chacoalhar o Exército como “arminha” para assustar medrosos.

Tijolaço.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

“SUBLATA MORO, TOLLITUR BOLSONARO”, A CAUSA E O EFEITO, POR FERNANDO BRITO

Poucos o dizem, quase todos o sentem.

A confirmação, ontem, pelo Supremo Tribunal Federal, da já óbvia suspeição de Sergio Moro nos processos que conduziu contra Lula , reconhecendo que ele perseguiu, sistematicamente, o ex-presidente foi um tiro de canhão que provocou efeitos que vão muito além da pulverização da já rotíssima figura do ex-juiz de Curitiba, já transformado em um molambo que nem mesmo seus patrões da Alvarez & Marsal preservam, rebaixando-o de festejado diretor para mero “consultor free-lance“.

Pouco importa que o ex-juiz e sua claque na mídia e na elite estivessem rompidos com ele: ninguém sai mais ferido da decisão formalizada ontem que Jair Messias Bolsonaro.

E a razão é evidente: a legitimação de Bolsonaro foi uma extensão da deslegitimação de Lula, a ponto de ter-se tornado um bordão o “mas e o Lula, mas e o PT?”.

Repare: não foram as virtudes, as ideias (?), os projetos, a trajetória, o partido (?I), os apoios, a retórica, a ideologia, nada disso foi o que elegeu Jair Bolsonaro: foi a possibilidade de execrar, politicamente, aquele que havia sido julgado corrupto, preso, humilhado, lançado ao linchamento da opinião pública.

Foi isto o que fez de Moro e dos facínoras de Curitiba os maiores eleitores de 2018. O Exército, os militares, foram avalistas, sim, mas ninguém pode duvidar que a Lava Jato, além de tirar Lula das urnas, deformou-o aos olhos de parte da população e buscou sua execração.

Este foi o pano de fundo da sessão de ontem do Supremo. Não podendo resistir sem ceder terreno às revelações das armações de Moro, Dallagnol e companhia, o lavajatismo tentou a manobra desesperada de anular a condenação formal sem anular a condenação política, com o reconhecimento da incompetência do foro de Moro. Abriu, assim, o flanco para sofrer uma derrota maior, deixando que se alcançasse a sua própria condição de imparcialidade, sem a qual perde-se a de juiz.

Sublata causa, tollitur effectus, eliminada a causa, desaparece o efeito, diz a locução latina e isso, se não for entendido como um fenômeno instantâneo, é o que tende a acontecer agora, ainda que o efeito terrível daquela manipulação ainda vá, desgraçadamente, se fazer sentir no afundamento do país e na vida (e na morte) dos brasileiros por longos meses.

Lula, que nunca abaixou a cabeça e preferiu submeter o corpo aos 580 dias de prisão que cumpriu, tem agora reconhecida formalmente a condição de vítima de perseguição e de injustiças. E não assumirá isso como vitimização dele próprio, mas da população, que sofreu a perda da sobrevivência, da prosperidade, ao sonho de ser feliz e de viver em paz.

Tijolaço.

MORO É SUSPEITO E NÃO ADIANTOU TENTATIVA DE “MELAR” ISSO NO STF, POR FERNANDO BRITO

A tática ficou clara com o longo e enxundioso voto de Luís Roberto Barroso, com um longo e patético discurso de louvação a Sergio Moro, Deltan Dallagnol e os procuradores da Lava Jato era, visivelmente, a de prolongar para a semana que vem a definição da suspeição do ex-juiz de Curitiba, que parece estar definida por maioria.

Já não adiantava desde que dois votos conduziam nesta direção: o de Kássio Nunes Marques, que não deu uma cambalhota para reverter sua posição de votar pela continuidade do julgamento do caso na 2ª Turma e o de Alexandre de Moraes, que confirmou o diagnóstico de que se fazia ali uma tentativa de, ilegalmente, reverter um resultado – regimentalmente impossível – de uma turma do Supremo.

A partir daí, estava desenhada a derrota do “lava-jatismo” e a maioria do Tribunal correu a desmanchar a manobra, reagindo à manobra que, claro, tinha no comando o presidente da Corte, Luiz Fux, que desde o início do julgamento pilotava-o na tentativa de anular a suspeição de Moro.

Ricardo Levandowski, Dias Tofolli e Carmem Lúcia anteciparam seus votos, para levar a 6 a 2 o placar da votação, formando maioria.

Rosa Weber forçou a prolação do seu voto e, servindo-se de um problema de som, Marco Aurelio Mello apelou para um pedido de vistas, que não tem mais nenhuma importância diante do placar evidente de 7 a 4 em favor da validade da decisão sobre – o voto de Fux é claro.

Poucas vezes o confronto numa sessão do Supremo foi tão forte quanto nesta sessão. E, por ser forte, sinaliza que a maioria que se formou é pela suspeição de Sergio Moro, ainda que não fosse este, diretamente, o que se julgava.

Assim, pode-se dizer que, como é previsível a mediocridade do voto de Luiz Fux, quando Marco Aurélio devolver o processo a julgamento – isso se insistir no inútil pedido de vistas – pode-se dizer que Luiz Roberto Barroso fez a despedida fúnebre de Moro que, por tudo, merece não o nome de “Canto do Cisne”.

Foi, afinal, o “canto do Marreco”, com direito a uma discussão, como se diria no meu tempo, numa discussão padrão Resenha Esportiva Facit, um programa esportivo onde se consagrou a máxima de que “a bronca é livre”, com um bate-boca entre Gilmar Mendes e Barroso.

Que, agitado, não se conformava com o “a nega tá la dentro” em favor de Lula.

Tijolaço.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

JOE BIDEN CONTA VACINAS – 200 MILHÕES APLICADAS – QUE QUEIROGA NÃO CONTA, POR FERNANDO BRITO

Ao completar, ontem, 91 dias de governo, o presidente norte-americano Joe Biden, anunciou o atingimento do dobro da meta de vacinações a que se tinha proposto em 100 dias de mandato.

Como você se recorda, ele prometera 100 milhões de doses, que passaram a 150 milhões e, em seguida, a 200 milhões.

Com mais de 50% dos adultos tendo recebido ao menos a primeira aplicação e cerca de 28 milhões de doses de vacina aplicadas por semana, a preocupação do Governo, a disponibilidade de imunizante, mas a procura por eles e o governo anunciou licença remunerada para cada cidadão que for se vacinar.

Biden conta as doses, enquanto o nosso ministro da Saúde pede para que não as contemos, enquanto temos 27,7 milhões (13% da população) com ao menos uma vacina aplicada.

O sr. Queiroga devia aprender com os pobres que, mesmo com pouco dinheiro, o contam toda hora para poder fazer, mesmo com pouco, o essencial.

Mas faz o contrário e já não se sabe o quanto se tem, nem quanto se reservou para completar a vacinação de quem tomou a primeira dose.

Prefere dizer, contra os fatos, que somos um países dos que mais vacina no mundo.

Não contando, diz-se o que se quiser dizer.

Tijolaço.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

GOVERNO BOLSONARO É O MAIOR RESPONSÁVEL POR ALTA MORTALIDADE DE COVID-19 NO BRASIL, DIZEM ESPECIALISTAS

Após o Brasil ultrapassar EUA, México e Peru como o país com o maior número de mortes pela Covid-19 por milhão de habitantes nas Américas, a Sputnik Brasil conversou com dois especialistas para analisar os fatores que levaram o país a esses números e como evitá-los no futuro.

Sepultador com trajes de proteção abre covas no cemitério de Vila Formosa em São Paulo em meio à pandemia de Covid-19 (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli). 

Sputnik - Segundo o levantamento feito pela organização Our World in Data, o Brasil ultrapassou nas últimas duas semanas os Estados Unidos, o México e o Peru, se tornando o país com mais mortes por Covid-19 do continente americano em relação à sua população.

De acordo com a Our World in Data, o Brasil tem atualmente 1.756 óbitos por milhão de habitantes e ultrapassou o México no dia 7 de abril, o Peru no dia 13 e os EUA no dia 14. Segundo o levantamento, os dez países com mais óbitos para cada um milhão de habitantes das Américas são: Brasil (1.756), Peru (1.722), EUA (1.713), México (1.646), Panamá (1.434), Colômbia (1.342), Chile (1.317), Argentina (1.310), Bolívia (1.083), Equador (1.003). 

Até o início de fevereiro, quando o Brasil registrava cerca de uma mil mortes por dia, ele ocupava a sétima posição do continente em óbitos proporcionais, atrás de EUA, México, Peru, Panamá, Colômbia e Argentina. Agora, com a escalada de mortes no país, que chegou a superar o número de 4 mil óbitos por dia, o Brasil foi gradualmente ganhando posições, até chegar ao topo da lista no continente.

Em entrevista à Sputnik Brasil, os especialistas Gonzalo Vecina Neto - médico sanitarista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), fundador e primeiro diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) - e Guilherme Werneck - médico epidemiologista, professor do Instituto de Medicina Social da UERJ - são unânimes em apontar um principal responsável por esse aumento significativo dos números: o governo federal.

"O governo não atuou no sentido de impedir o início da disseminação da doença no país, minimizou o problema, investiu em medidas que não têm eficácia reconhecida, [...], não aparelhou adequadamente os hospitais para a assistência à saúde [...], o sistema de vigilância não conseguiu também ser instrumentalizado para atuar da forma mais adequada, faltaram testes, faltou organização, faltou concatenação e coordenação do Ministério da Saúde com os outros entes federativos", afirma Werneck.

Para o epidemiologista da UERJ, o país poderia ter feito muito melhor, pois "tem um Sistema Único de Saúde (SUS), pesquisadores, profissionais de saúde, um sistema de atenção básica à saúde e uma estratégia de saúde da família que poderiam ter sido chamados para atuar de forma mais efetiva no controle da pandemia".

No entanto, ele ressalta que a resposta do governo foi sempre disponibilizar menos recursos e não atuar para a prevenção. "De fato, o governo atuou a favor da disseminação do vírus na comunidade, então nós poderíamos ter feito melhor. Certamente teríamos feito melhor com qualquer outro governo que levasse a sério esse problema", opina Werneck.

Vecina, por sua vez, aponta outro exemplo importante da falta de governo, que se reflete na forma como a pandemia se dissemina pelo país, atingindo mais intensamente a população mais pobre, que não tem condições de fazer isolamento social.

"No Brasil, quem está morrendo mais é o pobre, [...] e o pobre tem que sair todos os dias na rua para buscar comida, ele não tem comida guardada em casa. O fim do auxílio emergencial, e a demora do início do novo auxílio emergencial, junto com a nova variante amazônica que está circulando violentamente no Brasil todo, criou uma tempestade perfeita", afirma Gonzalo Vecina.

Para o fundador da ANVISA, essa "tempestade perfeita" acabou determinando um aumento muito grande do número de casos e, consequentemente, do número de óbitos. Além disso, Gonzalo ressalta que o governo apresentou absoluta falta de gestão ao permitir que, "no meio do caminho", ainda ocorresse o colapso da assistência hospitalar, com falta de oxigênio, medicamentos e outros insumos, que contribuíram ainda mais para que o Brasil atingisse a marca sinistra de campeão em óbitos nas Américas. 

Os dois especialistas também concordam que, para reduzir a mortalidade de Covid-19, existem dois eixos principais, que devem ser combinados: as chamadas medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, atenção com a higiene e isolamento social, e o avanço das campanhas de vacinação.

Para Werneck, contudo, o país não está indo bem em nenhum desses dois eixos, o que justificaria os altos números de mortalidade.

"Não há um esforço coletivo nacional para que se implemente medidas de âmbito nacional e subnacional, de restrição maior do contato físico entre as pessoas [...] e na vacinação, nós também estamos indo muito devagar, resultado de uma inação do Ministério da Saúde em relação à obtenção de doses necessárias para vacinar rapidamente a população brasileira", afirma Werneck.

Para Gonzalo Vecina, como o número de vacinas ainda é insuficiente e o programa segue muito devagar, a única opção, neste momento, são as medidas de distanciamento social.

Além disso, o ex-diretor e fundador da ANVISA afirma que é preciso olhar para exemplos bem sucedidos feitos dentro do território nacional, como aconteceu no município de Araraquara, no interior de São Paulo, que conseguiu reduzir a mortalidade e as internações no município, após implementar um lockdown.

"Araraquara, aqui no estado de São Paulo, fez um lockdown direitinho, e mostrou para o Brasil o que é um lockdown [...] que é um conjunto de ações concatenadas para fazer as atividades não essenciais pararem", comenta Vecina.

Guilherme Werneck, por sua vez, lembra que o exemplo de Araraquara é muito interessante, mas acredita que, neste momento, soluções mais localizadas têm influência limitada, e que o país deveria apostar em um lockdown nacional.

"Em pequenas cidades como Araraquara, no interior de São Paulo, obteve-se resultados significativos, mas não basta fazer isso em uma ou outra cidade, em um ou outro estado, nós precisamos fazer isso, de forma mais radical, no país inteiro, e a recomendação seria: vamos parar as atividades de forma mais radical por três semanas - 21 dias - que nós poderemos, a partir daí, observar uma melhoria e a redução substancial de casos e óbitos no país", afirma o professor da UERJ.

Sobre a questão da vacina, tanto Werneck quanto Vecina assinalam que ela é muito importante, e que o país deveria fazer um esforço para conseguir mais doses e acelerar seu programa de imunização, mas ambos ressaltam que só o imunizante não é suficiente e que as pessoas terão que manter as chamadas medidas não farmacológicas por muito tempo.

"A vacinação, ela ainda demora um tempo para alcançar as coberturas vacinais, ou seja, o percentual da população brasileira completamente vacinada, o que só deve acontecer no início do ano que vem. Até lá, é preciso que outras medidas sejam mantidas e implementadas simultaneamente, entre elas as restrições do contato entre as pessoas, o distanciamento social, e as medidas de proteção individual. Somente com a articulação entre essas duas ações é que nós poderemos enfrentar a pandemia de forma mais adequada", opina Werneck.

Já Vecina lembra que as medidas não farmacológicas vão continuar imperando por bastante tempo, pois, além de vacinar toda a população adulta, o que só deverá acontecer no início do ano que vem, o Brasil também terá que começar a imunizar as crianças e adolescentes, que compreendem cerca de 50 milhões de pessoas, assim que todos os testes forem concluídos e a imunização for autorizada. Ainda assim, o especialista ressalta que há muitas incertezas em relação à proteção e à imunidade conferidas pelas vacinas contra a COVID-19.

"Só a partir das crianças e jovens vacinados, é que nós vamos poder relaxar, dependendo da eficácia do que nós tivermos feito com as vacinas. Nós vamos ter que observar, nós não sabemos quanto tempo dura a imunidade conferida pelas vacinas que nós utilizamos. Então, no meio do caminho, ainda existem alguns obstáculos", conclui Vecina. 

Brasil 247.

terça-feira, 20 de abril de 2021

JUÍZA DO RIO CONCEDE LIMINAR PARA GARANTIR O DIREITO DE TRANSMITIR COVID-19, POR FERNANDO BRITO

Uma juíza do Rio de Janeiro, Regina Lucia Chuquer, da 6ª Vara da Fazenda Pública, acaba de decretar o “liberou geral”das medidas de restrição no Rio de Janeiro, que já eram poucas e pífias.

Entre outras coisas, libera o funcionamento até de boates, atendendo a um pedido do deputado estadual bolsonarista Anderson Moraes.

“Nem mesmo uma pandemia gravíssima como a vivenciada na atualidade autoriza o cerceamento da liberdade individual de cada cidadão carioca, ao argumento da possibilidade de transmissão acelerada da doença ou mesmo da falta de vagas em hospitais”, diz em sua decisão.

Claro, excelência, todos nós temos a liberdade de sair por aí espalhando vírus uns nas caras dos outros, porque ninguém pode impedir-me de ir a uma boate, ambiente ventiladíssimo, onde todos podemos manter uma distância segura uns dos outros, não é?

Além do mais, está claro o periculum in mora, porque quem é que me devolverá amanhã a “balada” de hoje?

O argumento de que “nem mesmo uma pandemia gravíssima” – morreram, apenas hoje, 327 pessoas no Rio de Janeiro – “autoriza o cerceamento da liberdade individual de cada cidadão carioca” é tão incompreensível que, por exemplo, poderia ser invocado por um “cidadão” carioca para desobedecer a interdição de uma rua, onde um barranco ameaça desmoronar, porque isto seria um cerceamento ao seu direito de ir e vir.

É provável, claro, que a liminar da juíza Chuquer não dure mais que algumas horas. E até porque o “bloqueio” de Paes, que sempre foi uma peneira cheia de furos, não terá grandes efeitos epidêmicos, não fará grande diferença, senão a de sinalizar a quem é insano e irresponsável que há quem reconheça que isso é seu direito e direito acima do direito alheio a viver.

Tijolaço.

CRISTINA SERRA DIZ QUE DINHEIRO NA MÃO DE SALLES É DEVASTADOR, POR FERNANDO BRITO

Só é surpresa para quem não a conhece: Cristina Serra vai se firmando como uma das vozes mais fortes entre os cronistas políticos de hoje, sem os “mimimis” relativistas que tanta gente pratica hoje, ainda que vendo seu país em chamas, sociais e, literalmente, florestais. Nosso país deveria estar altivo nestas negociações, defendendo seu patrimônio ambiental e exigindo que o mundo, que diz se preocupar com ele, também pratique o equilíbrio global quando se trata de saúde, de lançamento de resíduos fabris e de trocas comerciais devastadoras.

E não o vira-latas, que abana o rabo e recebe ossos e gorduras em troca de um servilismo cínico e falso.

BOLSONARO, VIRA-LATISMO E ECOCÍDIO

Cristina Serra, na Folha

Nada mais ilustrativo dos modos de moleque com que o Brasil de Bolsonaro se apresenta ao mundo do que um detalhe de recente reunião entre o ministro do zero ambiente, Ricardo Salles, e a equipe de John Kerry, representante de Joe Biden para as questões climáticas.

Segundo reportagem de Marina Dias nesta Folha, os brasileiros exibiram aos norte-americanos o slide de uma TV de cachorro, típica das nossas padarias. A imagem mostrava um vira-latas apreciando os frangos no espeto com o título: “Expectativa de pagamento”. Cada ave tinha o desenho de um cifrão. Bolsonaro é isso: o retorno explícito ao complexo de vira-latas definido por Nelson Rodrigues nos anos 1950.

Acordos diplomáticos são bons para os envolvidos quando baseados em vantagens e respeito mútuos. O Brasil não tem um plano minimamente verossímil de combate ao desmatamento, e os antecedentes de Bolsonaro e Salles não inspiram confiança. Para nosso azar, é o que temos para lidar com as tensões da complexa geopolítica atual e negociar com os Estados Unidos.

Em rede social, Kerry indicou que os Estados Unidos esperam do Brasil resultados “tangíveis”, não apenas promessas. É nesse ponto que os dois países chegam à cúpula sobre mudança climática, daqui a dois dias. A proteção ambiental demanda muito recurso. Mas dinheiro na mão de um tipo como Salles e sem contrapartidas claramente verificáveis é jogar mais gasolina no incêndio da floresta.

É reforçar as frentes de ataque de grileiros, madeireiros, garimpeiros, desmatadores. É acumpliciar-se com o crime de ecocídio.

Tijolaço.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

ESTUDO DA ‘SCIENCE’ APONTA BOLSONARO RESPONSÁVEL PELO DESCONTROLE DA COVID NO BRASIL

Artigo é assinado por cientistas de universidades como Harvard, nos Estados Unidos, e USP. Estudo critica falta de coordenação nacional e maior mortalidade em estados alinhados com Bolsonaro.

"Resposta do governo federal no Brasil (à covid-19) foi uma perigosa combinação de inação com ações erráticas. Incluindo a promoção de cloroquina".

“A resposta do governo federal no Brasil (à covid-19) foi uma perigosa combinação de inação com ações erráticas. Incluindo a promoção de cloroquina como tratamento, sem levar em conta grande número de evidências. Sem coordenação nacional, as respostas locais variaram”, afirma estudo publicado na revista científica internacional Science, que aponta para a responsabilidade do governo Jair Bolsonaro no grande número de mortos provocado por sua conduta da pandemia no país.

O artigo é intitulado “Padrões espaço-temporais da disseminação da covid-19 no Brasil“. Assinam a publicação dez cientistas de instituições renomadas como Harvard University (EUA); Universidade de São Paulo (USP); Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Universidade da Flórida; Universidade Nove de Julho; Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS); e Universidade Municipal de São Caetano do Sul, entre outras.

Segundo seus autores, o objetivo do artigo é investigar, pelo método científico, o comportamento do surto de covid-19 no Brasil. Estão abordados temas como velocidade de disseminação, tendências e diferenças regionais; além de índices e comparativos das ações do poder público. “Uma falha na implementação, coordenação, e equidade de resposta em contexto inflamaram a disseminação da doença. Isso resultou em grandes e desiguais taxas de infecção e mortalidade”, afirma o texto.

FATOR BOLSONARO

Por meio de análises locais da progressão dos surtos de covid-19, o estudo indica uma grande variedade de padrões. Entre eles, destaque para piores resultados em estados alinhados politicamente com Bolsonaro. “Nossos resultados mostram que tanto mortes como casos seguem caminhos distintos em cada estado. Eles deixam claro que não existe uma narrativa única sobre a propagação do vírus no Brasil. No entanto, mostram camadas complexas de cenários entre ondas de contágio, que resultam na variação”, aponta.

“Primeiro, o Brasil é grande e desigual. Tem disparidades em quantidade e qualidade de serviços de saúde (…) Segundo, uma densa rede urbana que conecta e influencia municipalidades através do transporte, serviços e negócios, algo que não foi interrompido mesmo durante picos de casos e mortes (…) Terceiro, alinhamento político entre governos e o presidente, que teve papel no tempo e intensidade de medidas de isolamento social”, completa a publicação.

NO PRESENTE

Diante das diferenças regionais, o estudo aponta que seria essencial que o governo federal tivesse agido de forma diferente. “Respostas rápidas, eficientes e igualitárias e coordenação em nível federal são imperativos para evitar a propagação rápida do vírus (…) No entanto, a resposta contra a covid-19 no Brasil não foi nada disso. Ainda não é”, afirma.

O estudo lembra que o país passa, desde o início deste ano, por seu pior momento do histórico da pandemia. “O Brasil vive recordes em números de casos e mortes, e proximidade de colapso dos sistemas hospitalares. A vacinação começou, mas em ritmo lento de acordo com a disponibilidade de doses (…) Até março, o Brasil já reportou 40% do total de mortes por covid-19 em todo o ano de 2020”, afirma. Por fim, essa situação isola o Brasil no mundo e posiciona o país como “ameaça à segurança sanitária global”.

Rede Brasil.

PORTA DOS FUNDOS PARA O BRASIL NO MEIO AMBIENTE, POR FERNANDO BRITO

Será esta semana a “Cúpula do Clima”, na qual o Brasil tentará arrancar alguns milhões de dólares dos EUA com compromissos hipócritas de defesa do meio-ambiente que, todos sabem, não se realizarão.

É possível que Joe Biden, apesar das pressões de organismos civis, de lá e de cá, acabe por conceder algum pequeno crédito (literalmente) de confiança ao Governo brasileiro.

Como uma esmola que se dá sabendo que aquilo nada mudará a situação do mendigo.

Paga, talvez, o ingresso de uma sessão de teatro, de um presidente devastador fazendo juras de combate ao desmatamento, que todas sabem falsas, para receber, ali pela porta dos fundos, algumas sobras dos enormes recursos que o seu colega norte-americano tem a oferecer.

Nas não paga o o fato de não termos, a dirigir a postura deste país imenso, um estadista.

Alguém que seja capaz de dizer que exigem – e muito bem o fazem – que dividamos a preservação de nossas florestas com o mundo, porque isso é fundamental para salvar vidas humanas neste planeta.

Mas que não pode aceitar que, na hora de dividir vacinas contra a Covid-19, que igualmente salvam vidas humanas neste planeta, não prevaleçam os mesmos critérios de que a sobrevivência humana não seja igualmente importante em cada grau, minuto e segundo das coordenadas terrestres.

mundo terá 2 bilhões de vacinas produzidas até meados de maio, publica o jornal Valor Econômico. São o suficiente para imunizar mais de 25% da população do planeta , mas os países pobres ou em desenvolvimento não terão recebido, até lá, nem 10% deste total, ainda que representem 70% da população do planeta.

O governo brasileiro, porém, continua avaliando o valor da Amazônia em metros cúbicos de toras e em quilos de ouro que possam dali ser extraídos e é por isso que se torna incapaz de vê-la como um tremendo ativo a ser posto nas negociações da ordem mundial entre as nações.

Teremos governantes capazes de questionar porque, tendo quatro ou cinco vezes o número de vacinas necessárias a imunizar sua população, o Estados Unidos – e o mundo rico – só consideram repassar o excesso aos países pobres ou em desenvolvimento depois que tiverem vacinado 100% dos seus?

Não nos chamariam de trogloditas insanos – e seríamos isso mesmo – se nos arrogássemos a dizer que só preservaríamos a Amazônia depois de satisfeitas todas as oportunidades de enriquecimento com a sua devastação?

Há só uma Terra e há uma só humanidade.

Nada tem a ver com bravatas nacionalistas: a mata pujante da Amazônia não é “Brasil acima de tudo” e não muda pela linha de fronteira entre Bolívia, Colômbia, Venezuela, Peru, Suriname com o Brasil.

A vida humana também não conhece fronteiras e salvá-la, na defesa do meio ambiente ou no combate a pandemias, é dever que não foge a nenhuma nação do planeta.

Se devemos – e devemos – dividir a Natureza, a preservação da Amazônia, com o mundo, os donos do mundo também devem dividir conosco o que a Ciência criou para salvar vidas.

Mas não o faremos, porque somos um país que se apequenou, embora seja um dos maiores do mundo, que virou um mendigo lazarento, que pede ali, na viela dos despejos, um qualquer que lhe lhe ofereçam.

Não tem a menor ideia do seu tamanho e de sua importância.

Tijolaço.

domingo, 18 de abril de 2021

NA PANDEMIA, 13,6% DOS BRASILEIROS ACIMA DE 18 ANOS JÁ FICARAM UM DIA SEM REFEIÇÃO

Pesquisa mostra o crescimento da insegurança alimentar no país, são 125 milhões de pessoas que não sabem se irão comer.

Entre as famílias que enfrentam insegurança alimentar, 66,8% são chefiadas por pessoas pretas e 73,8% são mulheres - Reprodução.

Levantamento divulgado pelo Food for Justice – Power, Politics and Food Inequality in a Bieconomy, da Universidade Livre de Berlim, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Brasília (UNB), mostra que 13,6% dos brasileiros com mais de 18% passaram ao menos um dia sem refeição, entre os meses de agosto e outubro de 2020.

A pesquisa que foi feita com 2 mil pessoas, entre novembro e dezembro de 2020, mostra que a insegurança alimentar - que atingia 36,7% das famílias brasileiras em 2018 - chegou a 59,4% dos domicílios. Ainda de acordo com o estudo, 6 em cada 10 residências brasileiras tiveram dificuldade para organizar, ao menos, três refeições diárias.

Os pesquisadores perguntaram se, entre os meses de agosto e outubro, algum dos entrevistados havia comido menos nas refeições porque não havia dinheiro para comprar comida, 24,4% afirmaram que sim.

Ao todo, 125 milhões de brasileiros enfrentam alguma forma de insegurança alimentar. Seja a redução no número de refeições ou a redução da quantidade de comida no prato, para garantir que não passaria fome em outro momento.

O retorno do Brasil ao mapa da fome é o escancaramento do projeto neoliberal / Agência Brasil.

Entre as famílias que enfrentam insegurança alimentar, 66,8% são chefiadas por pessoas pretas e 73,8% são mulheres. Nesses lares, a renda familiar não passa dos R$ 500, o que reforça a importância do auxílio emergencial. Nas casas que são assistidas pelo auxílio emergencial, 74,1% não tinham certeza se fariam uma refeição no dia.

Nas famílias que enfrentam insegurança alimentar, houve uma queda de 44% no consumo de carne, 40,8% na compra de frutas e 17,8% no uso de ovos nas refeições.

Brasil de Fato.

sábado, 17 de abril de 2021

BOLSONARO NÃO TEM MÁSCARA NA CARA, QUEIROGA NÃO TEM VERGONHA NA SUA, POR FERNANDO BRITO

O senhor Marcelo Queiroga repete, monocordiamente: “usem máscara, usem máscara”.

O chefe do sr. Queiroga, Jair Bolsonaro, não a põe na cara sequer para evitar bafejar sobre bebês, na aglomeração patética que foi, de helicóptero, promover hoje de manhã em Goianópolis, a 140 km de Brasília, sem nenhum compromisso, apenas para “mostrar sua popularidade”, juntando algumas dezenas de pessoas num campinho de futebol.

Bolsonaro sabe perfeitamente que mesmo já tendo tido Covid, nada o impede de carregar, nas narinas, o vírus e, portanto, transmiti-lo.

Portanto, está deliberadamente assumindo o risco de infectar pessoas e, pior, até mesmo uma criança de colo, indefesa.

Disso sabe o sr. Queiroga, que é médico e que já pediu não só para que todos não apenas cubram boca e nariz com máscaras como evitem “aglomerações fúteis”.

O sr. Queiroga tem uma máscara no rosto, mas se encolhe e se omite covardemente ante um presidente que não tem vergonha na cara e submete pessoas, inclusive um desprotegido bebê, que nem pode saber dos riscos.

Tivesse vergonha, além de máscara, na cara, Queiroga estaria, neste momento, apresentando sua demissão e usando o próprio Bolsonaro como exemplo do que não se pode fazer, porque é cruel e criminoso.

Alguém acredita que o fará?

Tijolaço.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

CONFIAR EM BOLSONARO É CONFIRMAR DESTRUIÇÃO AMBIENTAL, DIZEM INDÍGENAS A JOE BIDEN

"Quero a floresta em pé. Eu não estou aqui de brincadeira”, disse o cacique Raoni a Joe Biden, afirmando que Bolsonaro mente e pedindo para ignorá-lo

Cacique Raoni em mensagem a Joe Biden - Foto: Reprodução.

Sem ouvir as vozes da Amazônia, não é possível um acordo com os EUA. Do Greenpeace.

Lideranças de povos indígenas e tradicionais, representantes de organizações da sociedade civil, ambientalistas, cientistas, artistas e parlamentares se reuniram nesta manhã (quinta-feira, 15), no evento Emergência Amazônica – Em defesa da Floresta e da Vida, para dizer em uma única voz: é preciso ouvir as vozes da Amazônia; caso contrário, não será possível um acordo financeiro entre Brasil e Estados Unidos.

O ato, organizado pelo Fórum Nacional Permanente em Defesa da Amazônia, da Câmara dos Deputados, teve como objetivo discutir os impactos sociais, ambientais e econômicos que a floresta amazônica e seus povos podem sofrer caso as negociações entre os governos Biden e Bolsonaro continuem acontecendo às escondidas, especialmente quando o país passa pelo pior momento da pandemia, atingindo a marca de mais de 360 mil mortos pela Covid-19, e retorna ao Mapa da Fome.

Uma carta-manifesto endereçada ao presidente dos Estados Unidos e assinada por 55 parlamentares e mais de 60 organizações da sociedade civil, incluindo Greenpeace Brasil, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Observatório do Clima, foi publicada ao final do evento. O documento alerta que um acordo firmado diante do cenário de destruição ambiental e genocídio das populações da Amazônia representaria uma validação à política de retrocessos do governo brasileiro. 

“É alarmante que o governo dos Estados Unidos atribua confiança a um governo que empenha o negacionismo climático e tem a Amazônia e aqueles que lutam por sua conservação como inimigos”, diz um trecho da carta, que deixa claro que os signatários apoiam e estimulam a cooperação internacional para a defesa do meio ambiente no Brasil, tendo em vista o papel estratégico do país no combate à crise climática planetária, mas não sob essas condições. 

Infelizmente, a proteção da floresta e seus povos não é prioridade do atual governo brasileiro que, a uma semana da Cúpula do Clima convocada pelo governo Biden, apresenta planos ineficientes e promessas que tentam apenas maquiar a realidade. Por isso, afirma Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, “um possível acordo legitimaria e financiaria a agenda de destruição da Amazônia promovida pelo governo federal, que também avança no Congresso Nacional para desregulamentar legislações socioambientais e fundiárias”. 

Para Mariana, é fundamental que a sociedade se una para conter o avanço da agenda ruralista e exigir o fortalecimento dos órgãos ambientais e dos recursos necessários para que cumpram sua função de proteger o meio ambiente. 

A Amazônia é fundamental para o enfrentamento da crise climática mundial e precisa ser protegida. © Daniel Beltrá / Greenpeace.

“Não aceito madeireiros e garimpeiros dentro da minha terra. Quero a floresta em pé”

Em um discurso comovente dirigido ao presidente Joe Biden, o cacique Raoni, a maior liderança indígena do Brasil, mandou um recado claro: “Não aceito madeireiros e garimpeiros dentro da minha terra. Quero a floresta em pé. Eu não estou aqui de brincadeira”, ele disse em vídeo gravado para o evento. Raoni recomendou ao presidente dos Estados Unidos que ignore o que o governante brasileiro tem a dizer, e lembrou que Bolsonaro foi o único presidente do país a agir contra o cacique, reconhecido internacionalmente por sua luta em defesa da Amazônia. (Leia a mensagem completa de Raoni ao final do blog)

A atriz e ambientalista Lucélia Santos também se dirigiu ao presidente estadunidense: “Não sei se você já esteve na Amazônia. Se não esteve ainda, por favor venha. Sem nenhuma ironia, eu digo o seguinte: tem gente na Amazônia, são 30 milhões de brasileiros e brasileiras. Os assuntos relacionados à Amazônia têm que ser discutidos com os povos que estão diretamente ligados à Amazônia. Não existe qualquer possibilidade de você ser bem-vindo negociando a portas fechadas com Bolsonaro”. Lucélia afirmou que Biden inspirou a todos ao retomar as conversas sobre o Acordo de Paris, para então lembrar que Bolsonaro rejeita o tratado internacional do clima. 

Bolsonaro não apenas nega o acordo climático como chamou a própria eleição dos Estados Unidos de fraude, conforme lembrou Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “A ajuda internacional é sempre muito bem-vinda, mas o dinheiro não pode parar nas mãos desse tipo de gente. O recado final é: governo americano, não confie no governo brasileiro”. 

Mensagem do cacique Raoni ao presidente Joe Biden
“Presidente dos Estados Unidos. Ouça com atenção o que vou falar. Tenho ouvido muitas coisas ruins, por isso tenho ficado muito triste. Triste por saber que, de tudo que eu tenho feito em prol do meio ambiente, ele está sendo cada dia mais ameaçado.

Senhor Presidente, o presidente deste país tem feito muitas mentiras. Ouça-me. Eu não aceito madeireiros aqui dentro da minha terra e nem garimpeiros. Quero a floresta em pé, para que mantenha os animais alimentados.

A minha população Kayapó tem aumentado a cada dia. Ouça o que estou falando, entenda o meu pensamento, me ajude e eu também vou te ajudar. Para que possamos conseguir somente coisas boas, para que as pessoas reconheçam os frutos do nosso trabalho, pensamentos que estou falando de muito longe, senhor presidente. Não sei falar seu nome. Mas o meu nome o senhor já conhece. Eu me chamo Raoni. É isso.

Eu não estou aqui de brincadeira. Eu sempre lutei pela permanência desta floresta e desta terra. Que seja intacta. Desde jovem venho falando sobre isso. E os presidentes anteriores sempre me escutaram. Somente este presidente está contra mim. Eu não gostei disso, por isso estou falando para o senhor, espero que me escute onde estiver. Se este presidente ruim falar alguma coisa para o senhor, ignore-o! Diga que Raoni já falou contigo. Diga apenas isso. Para ver se ele toma juízo. Ele está querendo liberar desmatamento nas nossas florestas, incentivando invasões às nossas terras. E eu não estou gostando nada disso. Quero nossos rios limpos, sem barragens. Para que a floresta permaneça em pé e para que meus netos e bisnetos possam viver nela que eu estou pedindo.

Essas minhas palavras são para que tenhamos paz e harmonia. Para quê nos odiar tanto por causa da terra e da floresta? Não pode ser assim. Só não quero ver ninguém derrubando a floresta. Não quero exploração de minérios. Pois tudo que tinha ao nosso redor, já está acabando. Se não souberam cuidar os seus territórios, para quê incomodar o nosso que estamos cuidando?

Era isso que queria dizer! Aperto sua mão de longe. Mando ainda um abraço para o senhor de longe. Estou doente e triste ao mesmo tempo. Pois muitas pessoas que eu conheço morreram. Aqui também muitos morreram. Por isso a minha tristeza. Mesmo estando muito triste, a circunstância me forçou a falar novamente em público. Não deveria estar fazendo isso, mas estou! Para que o senhor me escute, reflita e que assim possamos encontrar um caminho, uma solução melhor para preservar o meio ambiente. Só isso, obrigado!”

GGN

quinta-feira, 15 de abril de 2021

BOLSONARO DIZ À DIREITA: “OU EU, OU LULA”, POR FERNANDO BRITO

Hoje, mais cedo, escreveu-se aqui que era Jair Bolsonaro quem polarizava a eleição.

Agora à noite,na sua live o atual presidente fez questão de confirmar esta realidade.

“Está previsto [sic] eleições em 2022. O Lula vai ser candidato, vai estar lá. Tira eu de combate, resolvi não disputar as eleições, quem seria o outro que iria com Lula para o segundo turno? É só fazer um raciocínio que vocês vão entender qual é o futuro de cada um de vocês”

Jair Bolsonaro assume claramente que é o voto do antilulismo, a sua aposta em que merecerá apoio não por suas virtudes, mas por defeitos alheios.

Como está no governo e Lula está na oposição, quer ser “a oposição da oposição””.

Não defende seu governo, porque seu governo é indefensável.

“Querem criticar meu governo, fiquem à vontade, mas puxem um pouquinho pela memória para ver como o Brasil era conduzido no passado.”

Se o eleitor fizer isso, fará exatamente o contrário do que sugere o presidente e verá que, o Brasil, no passado recente, era conduzido numa trilha, ainda que insuficiente, de progresso e justiça social.

Bolsonaro segue numa trilha suicida, na qual colherá uma derrota acachapante se não conseguir introduzir o “tapetão” jurídico para eliminar Lula da disputa.

Eu já vi isso acontecer, quando Moreira Franco, governador do Rio de Janeiro, apresentou o antibrizolismo como mote de campanha em 1990.

Brizola venceu com mais de 60% dos votos, muito mais que os 34% que havia obtido em 1982 e já numa eleição que dispensou o 2° turno.

Não duvide que isso possa acontecer, como só uma vez aconteceu, pelo artificialismo do “um dólar, um real” de Fernando Henrique Cardoso.

Principalmente porque a crise econômica vai se agravar e a comparação que Bolsonaro propõe lhe será fatal.

Resta a Bolsonaro, cada vez mais explicitamente, recorrer às ameaças de um golpe que não tem forças para desfechar:

“só Deus me tira da cadeira presidencial”. E me tira, obviamente, tirando a minha vida. Fora isso, o que nós estamos vendo acontecer no Brasil não vai se concretizar, mas não vai mesmo. Não vai mesmo, tá OK?”

A psicopatia vai chegando a um ponto inacreditável.

Tijolaço.

A AUTOCHICANA DE FACHIN É UM PROBLEMA MORAL E PSIQUIÁTRICO, POR FERNANDO BRITO

Traduzindo em português claro, o que se votou hoje no STF?

A partir do relatório de Edosn Fachin sobre um entendimento que ele próprio deu, monocraticamente, decidiu-se que a sua decisão deve ser submetida ao plenário do STF.

Isto é, se o Plenário concorda com sua decisão de considerar a 13ª Vara Federal de Curitiba incompetente para julgar os processos referentes ao ex-presidente Lula.

Mas o que o faria agir assim, supostamente abrindo espaço para sua decisão ser derrubada, se ele tinha a certeza de que na Turma do STF a que pertence, a 2ª, seria aprovada por unanimidade?

É que a Fachin não interessa aprovar senão a nota de rodapé de sua decisão, a “perda de objeto” da ação que questionava e que viu reconhecida a suspeição de Sérgio Moro.

É este pedaço e apenas este que interessa a este homem obcecado em destruir os que o levaram ao STF e que acha que a vingança é a elevação a píncaros de independência o que é o pântano moral da traição.

Fachin é um homem devastado por sua própria pequenez e o que ouviu hoje de Gilmar Mendes sobre sua “volatilidade” jurídica seria de enfiar-se num buraco.

Viu-se no julgamento de hoje que este propósito tem quatro votos contrários a este monstrengo jurídico que é transformar o Plenário do STF em instância revisora das Turmas: Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes e Carmem Lúcia.

É óbvio que se todas as decisões tomadas pelas Turmas puderem ser questionadas, revogadas ao reformadas pelo Pleno, elas perderiam a função de viabilizar o funcionamento da Corte, pois o Plenário se tornaria uma neoinstância recursal, a qual teria de julgar todas as causas decididas por suas frações.

Tudo indica que vamos voltar àquelas decisões de “6 a 5” que marcavam o STF.

Cinco, porque Rosa Weber dificilmente participará deste atropelo.

O voto seis depende dos humores de Tóffolli e Alexandre de Moraes, se este entender que seu voto leva água ao moinho bolsonarista.

Mas há algo em comum aos 11 ministros.

Não houve uma voz a levantar-se contra as declarações de Jair Bolsonaro de que estava “esperando um sinal do povo” para “tomar providências” e a fazer advertência explícita aos “amigos do STF” de que eles seriam responsáveis por uma convulsão social.

Veremos amanhã o quanto se lhes murcha as orelhas ao ver Bolsonaro zurrar.

Tijolaço.

LULA E O MINOTAURO NO LABIRINTO ESCORREGADIO DO STF, POR LUIS NASSIF

O quadro político atual é o seguinte.

O desastre perpetrado no país transformou o anti-bolsonarismo em uma força maior do que o antilulismo. Logo após a decisão do Ministro Luiz Edson Fachin – de retirar o processo do triplex de Curitiba, abrindo as condições para Lula readquirir a elegibilidade.

No quadro atual, Lula tornou-se franco favorito nas eleições presidenciais de 2022. Mesmo porque, o chamado centro-liberal não logrou emplacar um candidato sequer com potencial eleitoral.

Teve início, então, um processo de exorcização de Lula, visto como o único candidato a Teseu contra o Minotauro, no labirinto de Creta em que se meteu a institucionalidade brasileira. A mídia deixou de inviabilizar Lula, abriu espaço para suas manifestações, houve um relaxamento na barreira de silêncio imposta a ele, permitindo manifestações individuais de jornalistas em sua defesa. Obviamente, o caso Vaza Jato teve efeito preponderante nessa mudança de visão.

O próprio mercado passou a aceitar a possibilidade de uma volta de Lula.

Aí entra em cena um novo episódio, o desgaste fulminante de Bolsonaro, com os erros cometidos na condução da pandemia. Até então tinha-se claro um segundo turno com Bolsonaro e um anti-Bolsonaro. A aprovação da CPI do Covid – com controle da oposição e de políticos independentes – marcou sua maior derrota política e um início de reversão nas avaliações sobre 2022. Dependendo de quem ficar com a relatoria – por exemplo, o senador Renan Calheiros (PMDB) – haverá um jorrar intermitente de escândalos a serem explorados pela mídia.

O efeito maior de uma CPI é, justamente, seu impacto midiático. Os relatórios finais podem ser anódinos, frutos de uma recomposição do governo.  Mas os impactos diários das sessões certamente significarão um abalo adicional na imagem de Bolsonaro.

Paradoxalmente, à medida que o horizonte se turva para Bolsonaro, se turva também para Lula. Se houver sinais fortes de que Bolsonaro poderá não ir para o segundo turno, o alvo preferencial passará a ser Lula, já que a eleição do campeão da centro-direita será bastante facilitada.

Por aí se entende a grande expectativa sobre a decisão que o Supremo Tribunal Federal tomará nos próximos dias, sobre a suspeição do juiz Sérgio Moro e a possibilidade de manter (ou não) a decisão de Fachin, de tirar os processos do foro de Curitiba.

Repare que, todos os pontos levantados aqui, não consideram aspectos jurídicos, constitucionais, embora a posição do Supremo Tribunal Federal seja decisiva. Isso porque, nem o fantasma do bolsonarismo acordou a maioria da casa para os riscos do consequencialismo – de definir primeiro o resultado para, depois, buscar as justificativas jurídicas.

Hoje em dia, não há mais a onda da Lava Jato, a cobertura opressiva da mídia produz pouco efeito, há uma nova onda crescente, de defesa da constitucionalidade e da volta da democracia, influenciando especialmente o público mais sensível aos movimentos do STF.

Mesmo assim, na votação de hoje, o STF não pestanejou de votar pelo poder de cada Ministro de escolher para onde jogar seu processo, se para a Turma ou para o pleno. Está sendo criada uma nova polarização, com os grupos divididos entre dois bolsonaristas – Ministros Kassio Nunes e Dias Toffoli -, legalistas – Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello -, mercadistas – Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes -, e uma viúva da Lava Jato – Luiz Edson Fachin.

Os tempos atuais serão conhecidos como a era da vergonha para o Brasil. E não caberá apenas a Bolsonaro o protagonismo dessa vergonha.

GGN.