Poucos
o dizem, quase todos o sentem.
A
confirmação, ontem, pelo Supremo Tribunal Federal, da já óbvia suspeição de
Sergio Moro nos processos que conduziu contra Lula , reconhecendo que ele
perseguiu, sistematicamente, o ex-presidente foi um tiro de canhão que provocou
efeitos que vão muito além da pulverização da já rotíssima figura do ex-juiz de
Curitiba, já transformado em um molambo que nem mesmo seus patrões da Alvarez & Marsal preservam,
rebaixando-o de festejado diretor para mero “consultor free-lance“.
Pouco
importa que o ex-juiz e sua claque na mídia e na elite estivessem rompidos com
ele: ninguém sai mais ferido da decisão formalizada ontem que Jair Messias
Bolsonaro.
E
a razão é evidente: a legitimação de Bolsonaro foi uma extensão da
deslegitimação de Lula, a ponto de ter-se tornado um bordão o “mas e o Lula,
mas e o PT?”.
Repare:
não foram as virtudes, as ideias (?), os projetos, a trajetória, o partido
(?I), os apoios, a retórica, a ideologia, nada disso foi o que elegeu Jair
Bolsonaro: foi a possibilidade de execrar, politicamente, aquele que havia sido
julgado corrupto, preso, humilhado, lançado ao linchamento da opinião pública.
Foi
isto o que fez de Moro e dos facínoras de Curitiba os maiores eleitores de
2018. O Exército, os militares, foram avalistas, sim, mas ninguém pode duvidar
que a Lava Jato, além de tirar Lula das urnas, deformou-o aos olhos de parte da
população e buscou sua execração.
Este
foi o pano de fundo da sessão de ontem do Supremo. Não podendo resistir sem
ceder terreno às revelações das armações de Moro, Dallagnol e companhia,
o lavajatismo tentou a manobra desesperada de anular a condenação
formal sem anular a condenação política, com o reconhecimento da incompetência
do foro de Moro. Abriu, assim, o flanco para sofrer uma derrota maior, deixando
que se alcançasse a sua própria condição de imparcialidade, sem a qual perde-se
a de juiz.
Sublata
causa, tollitur effectus, eliminada a causa, desaparece o efeito, diz a locução
latina e isso, se não for entendido como um fenômeno instantâneo, é o que tende
a acontecer agora, ainda que o efeito terrível daquela manipulação ainda vá,
desgraçadamente, se fazer sentir no afundamento do país e na vida (e na morte)
dos brasileiros por longos meses.
Lula,
que nunca abaixou a cabeça e preferiu submeter o corpo aos 580 dias de prisão
que cumpriu, tem agora reconhecida formalmente a condição de vítima de
perseguição e de injustiças. E não assumirá isso como vitimização dele próprio,
mas da população, que sofreu a perda da sobrevivência, da prosperidade, ao
sonho de ser feliz e de viver em paz.
Tijolaço.
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