quinta-feira, 17 de junho de 2021

PARA ENTENDER O SOBE-E-DESCE DO DÓLAR, POR LUIS NASSIF

Uma das grandes espertezas da análise econômica convencional é a maneira como busca a racionalidade do mercado em cima dos fundamentos macro-econômicos de médio prazo. É o velho truque do “ad terrorem”, muito empregado nos debates econômicos. Tipo, se não fizerem o que eu digo, haverá um cataclisma. Se a Lei do Teto for desrespeitada acaba o mundo; se houver aumento na ajuda emergencial, explode a inflação – embora a inflação seja consequência exclusiva da desvalorização do câmbio.

A leitura do mercado é que a queda do dólar se deveu ao aumento da fé do mercado no equilíbrio fiscal. Houve um aumento na arrecadação, fruto da inflação e de alguma recuperação. E toca o mercado a atribuir ao aumento da fé no equilíbrio fiscal, tendo enormes incertezas pela frente, como a possível terceira onda, crises políticas, problemas com inflação.

A lógica do mercado é muito mais chão. Consiste em promover o chamado overshooting do câmbio para cima ou para baixo – ou seja, impulsionar a tendência do momento do câmbio – ganhando na arbitragem. 

Entendendo:

1. Suponha um dólar a R$ 4,00 e uma taxa de juros de 2% ao ano.

2. Com taxa de juros mais baixa, há menos dólares entrando. Como o Banco Central não quer utilizar as reservas cambiais, o dólar sobe para até, digamos R$ 5,50, mesmo com o aumento do saldo comercial.

3. A desvalorização do câmbio pressiona a inflação. E o BC aumenta a taxa Selic. E aí, a roda da fortuna volta a girar.

4. O investidor entra e adquire dólar a R$ 5,50. Com US$ 1 milhão, adquire R$ 5,5 milhões. E aplica em uma Selic a 4,25%.

5. Suponha que o câmbio volte a R$ 4,50. Apenas nesse movimento, o investidor ganhará 22,22%. Ou seja, com os R$ 5,5 milhões conseguirá adquirir US$ 1,22 milhão.

Essa roda de saques contra o país existe desde a flexibilização do câmbio em 1999. Em outros tempos, aliás, a taxa Selic, muito mais elevada, permitia ganhos mais expressivos. 

O jogo se dava sobre o aperto nas contas externas. Permitia-se a apreciação do câmbio até que as contas externas estivessem estranguladas. Aí, havia o estouro da boiada, com os investidores mais espertos vendendo seus dólares no pico.

A desvalorização cambial permitia enormes ganhos. Quando a desvalorização batia no pico, pressionava a inflação levando o BC a aumentar os juros. Aí os dólares voltavam comprando reais baratos, aplicando-os em títulos públicos. Á medida em que os dólares voltavam, havia um novo movimento de apreciação até o estouro seguinte.

Agora, há fatores adicionais, como as incertezas em relação ao comportamento do FED (o Banco Central norte-americano). É isso que leva à volatilidade do mercado. Imaginar que os operadores estejam pensando no futuro das contas externas, é dar uma racionalidade que não se aplica ao efeito-manada do mercado.

GGN.

BARROSO LIBERA WIZARD DE RESPONDER SOBRE “GABINETE DAS SOMBRAS”, POR FERNANDO BRITO

 

Luís Roberto Barroso, o campeão do moralismo, deu ao picareta Carlos Wizard, mentor da vacina privada e “consultor científico” do “gabinete das sombras” da saúde, está autorizado a ficar em silêncio diante da CPI da Pandemia.

Wizard não é investigado em lugar nenhum e, portanto, não poderia ser enquadrado em qualquer situação em que fosse desobrigado a não produzir provas contra ele mesmo.

Diferente do auditor falsário do TCU que inventou a “supernotificações” de mortes com que Jair Bolsonaro disse que o Brasil só teve a metade das mortes por Covid, que é objeto de um processo administrativo no Tribunal e uma investigação na Polícia Federal, por iniciativa da presidenta Ana Arraes, cujo depoimento foi protegido por Gilmar Mendes.

Não seria maior problema se os indiciamentos fossem, adiante, ser transformados em inquéritos e em ações penais pelo Ministério Público e, afinal, eles fossem obrigados a depor sob pena de aceitarem como válidas as acusações.

Mas o Supremo, que sabe da parcialidade da Procuradoria Geral da República, livrar estas pessoas de prestarem contas do que fizeram, na intimidade do Palácio do Planalto e do prédio do Ministério da Saúde, onde Wizard passou uma mês “informalmente” prestando assessoria a Eduardo Pazuello e influindo sobre políticas públicas.

Servidor público, ainda que esteja exercendo informalmente a a função – o que, por si só, é crime de usurpação, não tem direito de privacidade sobre o que fez na esfera pública.

Isso é uma evidente contradição, não é como um negócio ou um emprego ou negócio privado.

O silêncio não pode ser um direito geral, embora possa ser reconhecido em relação à vida pessoal e à intimidade, mas nunca sobre os atos públicos praticados.

O dever de prestar contas sobre o que e faz no exercício da administração pública supera, de longe, o direito ao silêncio. Porque, no cargo ou função pública, mesmo que “informal”, o dever de prestar contas o supera, e em muito.

Barroso, um leão com Lula e uma tchutchuca com Wizard, é uma vergonha para o STF.

Tijolaço.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

BRASIL VOLTA A SER ‘LÍDER’ EM MORTES E CASOS DE COVID, POR FERNANDO BRITO

Não é um acidente, mas uma tendência.

O Brasil assumiu a triste liderança mundial em casos de contaminação pelo Sars-Cov2 e de mortes pela Covid-19.

Tivemos quase o dobro da Índia, segunda colocada, que perdeu 1.470 vidas, com uma população seis vezes maior.

O número de óbitos chegou hoje a 2.760, o maior dos últimos 41 dias. Pior: o número de casos saltou a mais de 88 mil e fez a média semanal subir a 72.193.

Os sinais de que entramos em uma nova onda de alta dos contágios e de mortes pela doença, embora a estejamos tratando como algo já “em extinção”.

As medidas de isolamento social, que pouco existiram, desapareceram.

Mesmo com uma cobertura pequena – 12% da população vacinada e com uma parcela maior entre os idosos, mais vulneráveis, certamente contribuindo para um menor número de óbitos, a média de 2 mil mortes por dia que registramos agora faz ser provável que o número de mortes volte a chegar perto ao que tivemos um mês atrás.

Média de 2 mil mortes diárias como a que temos agora, ou pouco mais, nos colocarão ao lado dos Estados Unidos como o país com mais mortes no mundo e, em relação a eles, com mais mortes per capita.

Tijolaço.

terça-feira, 15 de junho de 2021

MARANHÃO TERÁ PRIMEIRA CIDADE DO PAÍS 100% VACINADA CONTRA COVID-19, DIZ FLÁVIO DINO

Anúncio foi feito pelo governador Flávio Dino e faz referência a Alcântara, onde todos os grupos da população passaram a ter acesso à primeira dose da vacina. Apenas duas cidades do País foram vacinadas por completo até hoje, mas por terem feito parte de estudos (Botucatu e Serrana).

Flávio Dino (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Agência Brasil) 

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou nesta terça-feira (15) que a cidade de Alcântara será a primeira cidade do Brasil a ter 100% de sua população imunizada com a primeira dose da vacina contra a Covid-19. 

Agora todos os grupos da população na cidade passaram a ter acesso à primeira dose da vacina, como anunciou Dino pelo Twitter. "Amanhã: a bela e histórica Alcântara será a 1ª CIDADE 100% VACINADA.  Garantimos o acesso de toda a população-alvo à 1ª dose da vacina. Seguimos lutando para avançar em todas as regiões, com os Arraiais da Vacinação e o trabalho conjunto com os municípios", afirmou. 

Alcântara é uma das cidades do país com maiores populações quilombolas, que são prioridade dentro do Plano Nacional de Imunização.

Apenas duas cidades brasileiras foram vacinadas por completo contra a Covid-19 até hoje, mas por terem feito parte de estudos dos institutos de pesquisa fabricantes dos imunizantes da AstraZeneca e CoronaVac no País, Fiocruz e Butantan, respectivamente. A população de Botucatu foi vacinada com o imunizante da Oxford e Serrana com a CoronaVac. Os dois municípios ficam no interior de São Paulo.

Brasil 247.

JABUTIS ELÉTRICOS EM AÇÃO, POR FERNANDO BRITO

 

Os estudiosos do setor elétrico são contrários; os trabalhadores são contrários; as geradoras e distribuidoras são contrárias, até a Fiesp é contrária, alegando que população e setor produtivo pagarão R$ 400 bilhões aos brasileiros, dos quais cerca de R$ 300 bilhões seriam provenientes de altas na conta de luz, domésticas e de empresas.

Há muitos “jabutis” que tornam pior o que já era ruim: a perda do controle público da geração e distribuição de energia, nas quais a estatal ainda é líder, apesar de ter sido depenada de algumas de suas instalações.

O país perde o controle, praticamente, de toda a geração e da produção de eletricidade, ficando apenas com a Itaipu Binacional e as usinas nucleares Angra 1 e 2.

O pior deles é a geração obrigatória (com compra garantida) por usinas termelétricas a gás, em lugares onde não há fornecimento de gás natural instalado. Isto é, o governo, por mais que se o disfarce, pagará para levar o gás a usinas de investimento baixo – termelétricas a gás são, basicamente, uma turbina como as de avião, acopladas a geradores movidos a vapor em alta pressão.

Elas foram a saída usada no apagão do governo FHC mas, quando deixaram de ter a compra da energia com a compra garantida a preço compensador, viraram “elefantes brancos” que a Petrobras teve de assumir a operação.

A obrigação de gerar por estas usinas e também por pequenas centrais hidrelétricas – de baixa produção e custos de interligação não otimizados – vai, ainda pior, encarecer a instalação dos programas eólico e solar, isto é, os de energia limpa.

O governo pretende colocar em votação o relatório da MP da privatização, elaborado pelo seu canino apoiador Marcos Rogério (DEM-RO), mas pode recuar por incerteza no resultado da votação, de tão ruim é o projeto.

Tão ruim que até a musa das privatizações, Miriam Leitão, é contra.

Tijolaço.

LULA PRIORIZA DERRUBAR BARREIRAS AO 2° TURNO, POR FERNANDO BRITO

A expulsão de Rodrigo Maia do DEM diz menos sobre o futuro do ex-presidente da Câmara dos Deputados e mais sobre os planos de campanha de Jair Bolsonaro e a cortina de fumaça da busca de um “candidato de centro”, que estaria por reunir MDB, PSDB, DEM, Cidadania, Novo, Podemos, PV e Solidariedade.

Não há sinal de candidatura viável por aí.

O MDB não tem condição de se unificar em torno de um nome; o DEM está fadado a caminhar com Bolsonaro, embora esteja mexendo com as vaidades do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; o PSDB terá candidato embora esteja tentando livrar-se do nome de João Doria, por dificultar uma composição com o bolsonarismo no Sul do país. O PV não existe e o Cidadania, com a perda de Alessandro Vieira, seu quadro de maior visibilidade.

Não creio que Lula esteja pensando em uma “Coligação Arca de Noé” para o primeiro turno das eleições, até para não fazer o antilulismo desembarcar, inteiro, no voto bolsonarista. O que parece é que ele se dedica a retomar algum grau de diálogo com a centro-direita para a rodada eleitoral.

No primeiro turno, fora do campo progressista, talvez só (e só talvez) o PSD aventure-se numa aliança com Lula no turno inicial, mas pretendendo a vice-presidência, o que é – por todas as nossas experiências recentes – um risco que, dependendo da situação que as pesquisas tomarem, provavelmente o ex-presidente se disporá a correr.

Sua estratégia, até agora, está em alianças regionais que bloqueiem a possibilidade de que se formem palanques sem o PT e, portanto, que não bloqueiem a candidatura presidencial e, até, estimule as “dobradinhas” das forças políticas que embarquem na provável popularidade de sua candidatura.

A polarização com Bolsonaro não é uma opção, mas uma imposição num sentimento nacional de rejeição ao atual presidente e vai, naturalmente, agregar uma força única de oposição, gostem ou não os demais candidatos ou pretendentes a sê-lo.

Tijolaço.

ELETROBRAS E CRISE HÍDRICA, AS 3 PRAGAS DO EGITO A CAMINHO, POR LUIS NASSIF

Para completar as 7 pragas do Egito, faltam 4. A terceira já está a caminho: a crise hídrica.

Agência Brasil

As duas anteriores resultaram em desastres. A guerra contra pandemia Covid-19 e a guerra contra a crise econômica terminaram com derrotas acachapantes, administradas respectivamente por Eduardo Pazuello e Paulo Guedes.

A próxima guerra, além da reconhecida incapacidade operacional do governo, poderá ter o agravante de ser acompanhada pela mais radical e suspeita operação da história do mercado de energia brasileiro: a privatização da Eletrobrás, acompanhada da descontratação da energia produzida pela empresa.

Há dois mercados de energia no país. O tradicional é da energia contratada, geração de energia de antigas hidrelétricas, já amortizadas, cujas tarifas limitam-se a cobrir os custos operacionais. Essa energia é vendida para as distribuidoras através de contratos de longo prazo, garantindo uma relativa redução do custo da energia. O segundo mercado é o livre, no qual a energia é livremente negociada.

Trata-se de um mercado bastante volátil. Em tempos de reservatórios cheios, há geração de energia mais barata, derrubando as tarifas no mercado à vista. Em períodos de seca, as tarifas explodem. Em períodos normais, as tarifas são imensamente mais elevadas do que as da energia contratada.

O Congresso está prestes a avalizar uma das operações mais nefastas da história das políticas públicas brasileiras: a privatização da Eletrobrás. Pior: na véspera da mais grave crise hídrica dos últimos 90 anos.

Significará uma explosão sem paralelo nos preços das tarifas.

Ainda não caiu a ficha da opinião pública sobre o que essa crise significa.

Vamos por partes:

SOBRE A CRISE HÍDRICA

Sugiro assistir o vídeo com o debate do GGN com Altino Ventura Filho, ex-presidente da Eletrobrás, e com o professor Ronaldo Bicalho, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Está no pé do artigo.

Altino dirigia Itaipu na época da crise hídrica e energética de 2001. Acompanhou dia a dia o esvaziamento da represa e a grande batalha para superar a falta de água, em pleno processo de desregulamentação do setor, na reforma desastrosa de Fernando Henrique Cardoso.

A seca de agora é reflexo da redução das chuvas no período anterior. Vai chegar no final do ano com os reservatórios a fio – isto é, escorrendo apenas as águas que recebem, sem nenhuma sobra para acumular.

Depois, dependerá da natureza. A próxima temporada de chuva – diz Alcino – não guarda nenhuma relação com o que está ocorrendo. Dependerá dos caprichos da natureza. Poderá haver chuvas torrenciais ou o prolongamento da estiagem. Havendo prorrogação da estiagem, em 2022 o Brasil enfrentará um período similar ao da Inglaterra no final da Segunda Guerra.

Não se trata de um desafio pequeno. Embora gravíssima, a pandemia matou quase 500 mil pessoas, mas não afetou todos os lares brasileiros. Já a crise de energia afetará todas as residências e todas as empresas, em um momento em que a indústria tenta recuperar a produção.

A gestão da crise não é trabalho para amadores. Haverá necessidade de convencer os consumidores a reduzir o consumo, administrar a escassez, definir prioridades – como hospitais -, administrar pressões. Haverá o conflito entre a produção de energia e a necessidade de água para a agricultura. Haverá a demanda de empresas eletrointensivas e a prioridade das pequenas e micro empresas. E, especialmente, um salto no custo das tarifas, antes mesmo da privatização da Eletrobrás, devido à necessidade de se atingir o equilíbrio financeiro dos contratos com as distribuidoras.

A PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS

O butim da privatização da Eletrobrás reside em uma jogada óbvia, indecentemente óbvia: a possibilidade de descontratação da energia gerada. A Eletrobrás administra hidrelétricas antigas, já depreciadas. No início de geração, as usinas tinham um fator de depreciação do capital que é incorporado à tarifa. Terminado o prazo, o único custo da usina é operacional. E o custo operacional de usinas hidrelétricas é baixo.  

O que se pretende é simples. Adquire-se a Eletrobrás pelo que ela fatura hoje, com a energia contratada. No momento seguinte, há o fim da contratação e a energia será jogada no mercado livre.

É uma jogada tão indecentemente óbvia, que bastaria o Congresso não permitir a descontratação para imediatamente a Eletrobrás deixar de ser interessante. Ou seja, o ponto central da jogada é uma explosão nas tarifas, jogadas nas costas dos consumidores.

É nesse contexto que se discute a privatização da Eletrobrás, em um processo absolutamente nebuloso. A maneira como a Medida Provisória tramitou pela Câmara e está tramitando pelo Senado é típica das “tacadas” – o termo que se usa quando se abre a porteira e deixa a boiada passar. 

Haverá consequências desastrosas não só para os consumidores, mas para os políticos que patrocinarem essa loucura.

Na Califórnia, uma desregulamentação mal conduzida acabou com o reinado do Partido Democrata e abriu espaço para um autêntico outsider, Arnold Schwarzenegger, o “exterminador do futuro”.

Não apenas isso. O mundo está em pleno processo de transição para a mais importante revolução energética desde a descoberta da energia fóssil, que impulsionou a primeira revolução industrial. Parte-se para a energia limpa, um terreno no qual o Brasil poderia ser o grande vencedor. Essa coordenação exige o papel de uma estatal. Não haverá regulação e agências reguladoras que conseguirão implementar novas políticas. Há a necessidade de pesquisa em inovação. E a única empresa que investe em laboratórios de pesquisa é a Eletrobrás.

Além disso, porque todas as políticas públicas estão sendo financeirizadas.

GGN.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

MANTER SIGILO SOBRE PAZUELLO HUMILHA O EXÉRCITO, POR FERNANDO BRITO

 

A confirmação da recusa do Exército em dar a conhecer o processo que, afinal, “passou pano” sobre a transgressão disciplinar de Eduardo Pazuello ao subir ao palanque de um comício de Jair Bolsonaro, reafirmando o sigilo por cem anos – isso mesmo, um século – é a comprovação do corporativismo covarde a que a instituição se lançou.

A transgressão do general não foi dentro do quartel, num alojamento militar. Foi em praça pública, diante de quem quisesse ver.

Ali, não houve preocupação, como alega o Estado Maior do Exército, em “preservar a intimidade e a privacidade da pessoa”. Foi público e ofensivo à nação e ao Regulamento Disciplinar do Exército.

Se houvesse, nas justificativas apresentadas pelo general transgressor, algo que envolvesse sua vida familiar, privada, isso poderia, de acordo com a lei, ser tarjado e protegido. Mas não a questão disciplinar, que se dá na esfera da lei e, portanto, é pública.

Assim, o Exército assume para a instituição o desgaste de preservar um “secredo de Polichinelo”, porque todos sabem o que Pazuello fazia ali: política, o que lhe deveria ser proibido, pelo posto militar que ocupa.

Todo militar, agora, pode invocar estas razões para que seus processos disciplinares sem considerados “reservados”. Nenhum processo, aliás, poderia, em tese, ser levado à Justiça Militar, pois qualquer transgressão estaria sob o manto de “preservação da intimidade e a privacidade da pessoa”.

Quando se esperava da Força uma punição exemplar, o que veio foi um exemplo de impunidade.

Seus companheiros de Arma e a sociedade estão privados até de conhecer as explicações do indisciplinado. Se ele, por acaso, tiver ido ao comício porque o presidente o convocou e que “um manda e o outro obedece”, ninguém ficará sabendo.

Ou, na pior das hipóteses, o Exército terá de passar pelo constrangimento de ver-se, amanhã, obrigado pela Justiça a tornar público os fundamentos da decisão de seu comandante.

Será que vai ter “twitter” de protesto, como fazia o general Villas-Boas com o STF?

Tijolaço.

BRASIL DE BOLSONARO É PAÍS MAIS DESIGUAL E INFELIZ, DIZ FGV. POR FERNANDO BRITO

O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas divulgou um estudo avaliando a desigualdade de renda brasileira com a pandemia e a piora nos indicadores de percepção de felicidade no país.

O resultado é avassalador.

A queda de renda da metade mais pobre da população foi 20.81% queda quase duas vezes maior que a da média.

No trimestre de Janeiro a Março de 2020 a renda média alcança o maior ponto da série R$ 1122 e em menos de um ano cai 11,3% e vai para o ponto mais baixo da série histórica de R$ 995, primeira vez abaixo de um mil reais mensais. Queda de 11,3%.

O Índice de Gini, que mede a desigualdade, foi recorde na série iniciada em 2012: 0,674 (quanto mais perto de 1, pior a desigualdade) contra o melhor índice, de 0,61, alcançado em 2014 e início de 2015.

A percepção de felicidade, que já vinha em queda, desabou com a pandemia e não pela ameaça em si, já que pesquisa idêntica realizada em 40 outros países não registrou alterações.

A queda da felicidade se dá nos 40% mais pobres (-0,8%) e no grupo do meio (-0.2) situados entre 40% a 60% da renda [nível de]. Já os grupos mais abastados mantiveram a satisfação com a vida. Ou seja, há aumento da desigualdade de felicidade na pandemia. A diferença de satisfação com a vida entre os extremos de renda que era de 7,9% em 2019 sobe para 25,5%. (…) A nota média de satisfação da vida presente do brasileiro, caiu de 6,5 em 2019 para 6,1 em 2020. No resto do mundo a nota tinha ficado parada durante a pandemia em torno de 6,0. Ou seja, há marcada perda relativa de felicidade no Brasil durante a pandemia.

A pesquisa mostra um brasileiro mais propenso à raiva, ao estresse, à tristeza e até menos propenso a divertir-se que a média de 40 países pesquisados no mundo pelo Gallup.

Convenhamos, não é para menos.

Tijolaço.

A RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA FAVORECE A REELEIÇÃO?, POR PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Bem sei, leitor, que a recuperação em curso está longe de espetacular. Ela se concentra, por enquanto, no setor primário exportador (agropecuária e extrativa mineral). Indústria e serviços continuam fracos.

Foto Lula Marques.

                Há pouco mais de um mês, publiquei aqui um artigo com título dramático: “Hora de partir para a jugular!” (8 de maio de 2021, incluir link). Argumentei que Bolsonaro vive seu pior momento, mas pode se recuperar e disputar com grande chance a reeleição. E que cabe, portanto, derrubá-lo agora, na sua fase de maior fraqueza. Desde que o artigo foi publicado, as possibilidades de recuperação do governo ficaram mais evidentes. Já não vejo quase ninguém se animando a dizer, como muitos antes diziam, que o presidente nem chega ao segundo turno das eleições do ano que vem.

                Isso é uma pena, claro, mas temos que ser realistas. Quero retomar a discussão hoje, concentrando-me nos aspectos econômicos, sem repetir os argumentos do artigo anterior.

A RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA

                As evidências vêm-se acumulando de que a economia está tomando impulso, apesar da segunda onda da epidemia. Isso resulta de uma combinação de fatores. Do exterior vem o aumento da demanda externa por exportações brasileiras, liderado pelo rápido crescimento das duas maiores economias do mundo, a dos Estados Unidos e, sobretudo, a da China. Ligado a isso, e em especial à expansão chinesa, temos um ciclo de alta dos preços das commodities exportadas pelo Brasil e, em consequência, melhora pronunciada dos nossos termos de troca. O real depreciado também contribui para o aumento das exportações.

                No plano interno, as indicações são de que, com muito custo e sofrimento, as empresas e os indivíduos – mais um exemplo da criatividade que caracteriza o brasileiro – se adaptaram à pandemia, o que também favorece certa recomposição da atividade econômica. Além disso, e a despeito da alta recente da taxa básica de juro administrada pelo Banco Central, a atividade parece responder, com defasagem, à diminuição dos juros iniciada em meados de 2019. Quanto à política fiscal, parece provável que ela acabe sendo, na prática, bem menos restritiva do que anunciava ou desejava a equipe econômica do governo. Pode até ocorrer expansão fiscal na segunda metade do ano. E não se deve descartar que uma avaliação a posteriori da política fiscal, baseada por exemplo na variação do déficit primário ajustado para excluir efeitos cíclicos, venha a indicar neutralidade ou até certo impulso em 2021. Por essas razões e outras, houve reavaliação geral para melhor das previsões de crescimento do PIB neste ano. Já há quem projete 5% ou mais.       

                Observo, de passagem, que esse crescimento nada tem a ver com as reformas estruturais cantadas em prosa e verso pelo mercado, pela mídia corporativa e pelo ministro Paulo Guedes. Não só porque elas têm avançado relativamente pouco (e ainda bem porque o governo e o Congresso as têm formulado de modo altamente questionável, para dizer o mínimo), mas também porque muitas delas têm impacto duvidoso em termos de reativação. Por exemplo, o “efeito confiança” sobre o investimento privado, via diminuição de juros de longo prazo, é incerto e, na melhor das hipóteses, pequeno, podendo ser neutralizado por efeitos contracionistas sobre a demanda de algumas dessas reformas.

 A RECUPERAÇÃO NÃO É ESPETACULAR               

                Bem sei, leitor, que a recuperação em curso está longe de espetacular. Ela se concentra, por enquanto, no setor primário exportador (agropecuária e extrativa mineral). Indústria e serviços continuam fracos. A economia apenas voltou ao nível pré-pandemia, que era, recorde-se, um nível deprimido após seis anos de recessão ou crescimento medíocre. Grande parte do crescimento do PIB em 2021 (ano calendário sobre ano calendário) deriva de uma herança estatística e o crescimento ao longo do ano será bem menor do que sugere a taxa interanual. As projeções para o PIB em 2022 ainda são modestas – em torno de 2 a 2,5%, segundo levantamento semanal do Banco Central.

                Pode-se questionar se resultados como esses realmente ajudarão o governo do ponto de vista político. Tanto mais que – e esse ponto é crucial – o mercado de trabalho continua desastroso. O desemprego alcançou níveis recordes e os salários reais sofrem com isso e com o efeito corrosivo da alta da inflação, provocada por choques de oferta (câmbio, commodities, energia elétrica). Também não se pode descartar que ocorram novos choques adversos com efeitos sobre PIB, emprego e/ou inflação. Por exemplo, um apagão no fornecimento de energia elétrica. Ou uma terceira onda destrutiva da pandemia.

 O ADVERSÁRIO TEM MUNIÇÃO ECONÔMICA          

                Apesar disso, é mais realista, acredito, admitir que o quadro econômico geral evoluirá de forma positiva até as eleições de 2022, favorecendo a reeleição do presidente. Feita a ressalva de que previsões em economia estão sempre sujeitas a chuvas e trovoadas, diria que a inflação deve ceder, a expansão da atividade econômica deve provavelmente continuar e pode até ganhar ímpeto, propiciando com alguma defasagem a recuperação do emprego.

                Um fator fundamental é o avanço da vacinação, ainda que com atraso verdadeiramente criminoso. Outro – menos comentado –, a expansão do gasto público daqui até a eleição.

                Não quero, leitor, espalhar desânimo, mas creio que é preciso reconhecer que o governo terá munição para promover uma política fiscal relativamente flexível e, em especial, a ampliação expressiva do programa Bolsa Família, com forte impacto eleitoral. Essa é uma das razões, como indiquei acima, para rever para cima as projeções de crescimento do PIB. A afirmação talvez surpreenda, uma vez que contraria o discurso dominante no Brasil, inclusive o da equipe econômica do governo, de que “o Brasil está quebrado”, “O Estado faliu”, “precisamos de urgente consolidação fiscal” etc. Acontece que esse discurso alarmista nunca teve fundamento, como eu e outros economistas temos explicado repetidamente nos anos recentes.   

                Há um fator específico que ajuda o governo. O teto constitucional de gastos é reajustado em termos nominas, a cada ano, pela inflação acumulada em doze meses até junho do ano anterior. O teto para 2022 será corrigido com a inflação no pico. Como será que o governo usará esse espaço? Pergunta ingênua, claro. O ministro Paulo Guedes vem dando a pista em repetidas declarações. Disse, por exemplo, que o PT mereceu ganhar quatro eleições porque fez o Bolsa Família. Disse, também, que admite prorrogar o auxílio emergencial por mais alguns meses como ponte para um novo e ampliado Bolsa Família. Imagine, leitor, o impacto político de um programa de transferência de renda turbinado – e talvez rebatizado para que Bolsonaro possa chamá-lo de seu!

                Se houver dificuldades com o teto de gastos ou com algum outro obstáculo legal, alguém duvida que se encontrará um jeito de contorná-los? Na briga entre a luta pela reeleição e eventuais escrúpulos fiscais da equipe econômica ou do mercado financeiro quem será que leva a melhor?

UM APELO AO LEITOR                

                Por esses e diversos outros motivos, também de natureza não-econômica e não abordados neste artigo, é que se deve admitir que a barbárie tem chances, sim, de levar a melhor de novo nas eleições presidenciais. Não é à toa que venho dizendo e repetindo: é hora de partir para a jugular!

                Admitindo-se que não haja nenhum bolsominion extraviado nesta coluna, posso terminar com um pedido ao meu querido leitor ou leitora? Salvo por motivos realmente extraordinários, não deixe de fazer a sua parte e comparecer à manifestação no dia 19 de junho e às que se seguirão! Não é hora de preguiça e pequenas covardias. Não é hora de ficar em casa, angustiado, protestando nas redes sociais ou se lamuriando com amigos e família. Tome todas as precauções sanitárias e compareça.

                E vista preto em sinal de luto pelas quase 500 mil vítimas da Covid-19. Preto, não vermelho. As manifestações – e creio que as lideranças sabem disso – devem ser amplas, transcendendo a esquerda e incluindo todos que se opõem à barbárie.

GGN.

MÉDIA DE MORTES VOLTA A 2 MIL E 3ª ONDE PODE VIR ESTA SEMANA, POR FERNANDO BRITO

Os números recém-divulgados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde – 1.149 mortes no país, sem contar os óbitos do Ceará, que não liberou dados hoje – representam o pior domingo do início de maio e levaram a média nacional de volta às 2 mil mortes diárias.

Com isso, o país chegou a 487.4o1 mortes pela Covid 19 e vai atingir, sexta ou sábado, a marca de meio milhão de mortes.

É possível que as manifestações do dia 19 acabem por coincidir com o atingimento deste chocante número de 500 mil mortes.

As unidades de terapia intensiva estão lotadas em todo o país, especialmente nas regiões Sul e Centro Oeste – onde há filas de pessoas esperando leitos.

O número de casos registrados, em média semanal, ficaram em 65,529 mil diários, o maior número médio desde 18 de abril passado.

É um péssimo sinal para as próximas semanas.

Das 17 regiões hospitalares de São Paulo, 14 estão acima de 80% de ocupação destes leitos, sendo que Marília e Barretos passam de 95%.

Tijolaço.

domingo, 13 de junho de 2021

OS MILITARES E O FANTOCHE QUE LHES PUXA OS CORDÉIS, POR FERNANDO BRITO

Em lúcida entrevista a BBC, o coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza diz algo que anda na contramão da maioria dos analistas de mídia: não é que Jair Bolsonaro tenha usado e esteja usando o Exército como instrumento de poder; foi o Exército que o usa como forma de levar ao poder um “partido militar”.

E dá como exemplo, e bom exemplo, o vídeo em que, ainda em 2014, a Arma lhe franqueia uma formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, sua principal escola de formação de oficiais, para que o então deputado faça um comício de lançamento da candidatura presidencial.

Um ato político de deixar o comício de Eduardo Pazuello parecendo coisa de criança, porque dentro de uma organização militar, mas, sete anos depois, uma prova inequívoca de que se construiu, em Jair Bolsonaro um “Cavalo de Tróia” para conduzi-los, outra vez, ao poder.

Se o cavalo era xucro (o que sua história só comprova) e se, muitas vezes, era quem dirigia os que pensavam controlá-lo são outros quinhentos, embora sejam poucos os que demonstrem reconhecer o erro quanto da escolha da montaria e menos ainda os que se arrependem do caminho temerário que a instituição escolheu.

Bolsonaro é tão abjeto que conseguiu romper a aliança que permitiu o golpe político que permitiu aos militares avançarem sobre o governo, reocupando o Ministério da Defesa já no governo Temer e o próprio Planalto com o “Mito”.

Não tem mais o que tinham: um arco de apoio, em nome do combate ao esquerdismo, formado por mídia, empresariado, judiciário e políticos, uma espécie de voz única. Mas a condição disso era a manutenção de uma democracia formal, tutelando o processo político-eleitoral com uma espécie de voz única em favor de reformas que cumprissem o duplo papel de varrer a função social e econômica do Estado brasileiro e alienando, em nome da incapacidade a que este era reduzido, o patrimônio nacional.

A aventura está, evidentemente, esgotada, reduzida a uma UDN psicopata e a um Exército que tem de se camuflar no silêncio, porque a instituição militar, sempre respeitada, já começa a ser vista como um colégio de aproveitadores em busca de vantagens remuneratórias e corporativas. E que assiste, sem reação, a chave do controle interno armado transferir-se para as polícias e as milícias.

O fantoche dos militares ganhou vida própria e, cada vez mais frequentemente, é ele quem volta e meia lhe puxa os cordéis e os arrasta para onde quer.

A ideia de que, já na terceira década do século 21, grandes países possam ter um governo militar é insustentável e, mesmo com um personagem a fazer a boca de cena, como pretenderam fazer com Bolsonaro, estendê-la além da tolerância da nação, pelo voto, vai se afigurando inviável.

Pretender isso, assumindo o veto ao desejo eleitoral do país, seja lá por que pretexto for, será trocar uma retirada com perdas por uma derrota vergonhosa e acachapante que pode demorar mais, mas será devastadora.

Tijolaço.

O QUE DIZER DA POLÊMICA BRIZOLA/LULA X BRIZOLA/CIRO. POR FERNANDO BRITO

 

Não pretendia entrar neste assunto, justamente por prezar tanto os meus mais de 20 anos de convívio diário próximo com Leonel Brizola e porque o respeito pessoal e político a alguém com que, para mim, não é uma ferramenta política.

Os leitores deste blog sabem que não crio argumentos do tipo “Brizola faria isso” ou “Brizola faria aquilo” em detalhes que, mais que impossíveis de prever, são uma apropriação indébita de seu legado.

Faço-o, porém, porque aprendi com ele que a política não permite tratar só do que é agradável e devo deixar um pouco de lado a pauta relevante para tratar de algo que interessa a muitos dos leitores brizolistas do Tijolaço.

Conheço os três netos de Leonel Brizola que se lançaram à política – Leonel, Carlos e Juliana – e tenho carinho pessoal por todos eles e por sua dedicação a manterem as lutas do avô, que pertencem não a eles, mas ao povo brasileiro.

Ontem, Leonel Brizola Neto, ex-vereador pelo Psol, encontrou-se com Lula e este publicou uma foto na qual seguravam uma foto de ambos, Brizola e Lula, que havia se encontrado com Leonel, (o ex-deputado federal) Vivaldo Barbosa e outros brizolistas preocupados em preservar a memória desse grande brasileiro com a criação um acervo.

Nenhuma fala eleitoral, portanto, e a justa preocupação com a guarda de milhares de documentos, fotos, vídeos e outros registros de quase 60 anos de vida pública de alguém que marcou toda a segunda metade do século 20.

Se isso caminhar para uma confluência eleitoral, é assunto de Leonel que, como os demais, tem todo o direito a ter opiniões próprias.

Ocorre que a irmã de Leonel, a deputada estadual Juliana Brizola, que permanece no PDT, num gesto que não lhe faz justiça, fez e publicou uma montagem da foto do irmão com Lula segurando, em lugar daquela foto, uma foto de Brizola e Ciro, na campanha de 2002, quado este teve o seu apoio.

Ora, apoio eleitoral vale para uma eleição, não é compromisso para sempre.

Não é assim, também, válido eternamente o apoio de Brizola a Lula e 1989, o fato de ser vice dele em 1998 ou seu apoio ao petista no segundo turno 2002 bastariam para fazer a mesma coisa numa foto de quem ficou no PDT e está com Ciro. Que, aliás, só entrou no PDT 13 anos após aquela eleição e 11 depois da morte de Leonel Brizola.

Não é preciso dizer que a relação entre eles teve aproximações e rusgas, apoios e discórdias, nenhuma delas deixando de representar impeditivos em horas cruciais. Como dizem os gaúchos, e o próprio Brizola, “lenha boa é a que sai faísca”.

Não se trata, nem se poderia tratar, de saber quem é “mais brizolista”. Nem é “mais brizolista” quem ficou ou saiu de um PDT sem Brizola, porque siglas, infelizmente, já não são ideias na política brasileira.

Ninguém tem o direito de se pretender “o candidato do Brizola”, embora seja natural que todo candidato progressista buscar e defender o legado do líder trabalhista.

Não é correto apelar a truques, montagens, artifícios para obter “apoio eleitoral” de alguém que, morto, não é cabo eleitoral de ninguém.

Se é propriedade de alguém, é das lutas sociais do povo brasileiro.

Portanto, trazer Brizola para “tretas” e baixarias eleitorais, francamente, é algo que não se pode deixar de criticar e pedir, em nome dos brizolistas, que não se faça, nem em família.

Tijolaço.

sábado, 12 de junho de 2021

A QUANTAS ANDAM, O AVIÃO, AS MOTOS E O JEGUE DO BRASIL OFICIAL, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro, “nem aí” para governar, está como se estivesse em reta final de campanha eleitoral.

Aproveita enquanto pode usar, e usa, a máquina pública para promover seu turismo eleitoral, provocativo e agressivo.

Confia em que haverá, além das falanges fascistóides e orgulhosas de sua ignorância, uma maioria que adira, outra vez, por manipulação e preconceito, ao “candidato do jegue”, como se referiu ontem a Lula, ao invadir um avião em Vitória para produzir alvoroço e, pelo que se viu nos vídeos, até uma briga dentro da aeronave (artigo 261 do Código Penal: “expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea”).

O ‘teste de popularidade’, claro, não funcionou bem, ao contrário do desfile de motos que ele protagoniza agora, em São Paulo, com um público mais adequado, o de “selvagens das motocicletas”, o jegue dos ricos, que usam para afirmar sua masculinidade decadente, que vive de exibições, como é própria nas gangues.

Animado pelo sucesso de sua motociata e apertado pelas revelações da CPI, mostrando inequívoca desídia (pelo menos) na compra de vacinas, gastos na desinformação da população com o tal “tratamento precoce” e o temor que as quebras de sigilo bancário, fiscal e telemático de ex-ministros e dirigentes do governo, Bolsonaro deve subir mais alguns pontos a sua já temerária escala de agressividade.

Conta com a intimidação geral com suas ameaças de golpe, o medo da pandemia e com o acanalhamento geral das instituições para seguir fazendo isso enquanto o país se estiola na doença, no desemprego, na inflação e na fome.

Sim, aquele país dos jegues, dos pobres que pararam de viajar de avião, para rever a família que deixaram para trás nas décadas de migração.

Alguém deveria lembrar ao presidente que o valente animal sobreviveu a secas, a desgraças, ao jejum e ainda é, pelos fundões do Brasil, o melhor amigo dos humildes.

Metáforas, porém, não são o forte do ex-capitão.

Tijolaço.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

CHEGOU A HORA DA CPI APONTAR OS CRIMES DE BOLSONARO, POR FERNANDO BBRITO

Foram interessantes, como divulgação científica, os depoimentos do médico Cláudio Maierovitch e da microbiologista Natalia Pasternak.

Mas a verdade científica, a esta altura, está tão patente que é desnecessário repeti-la.

A questão é o quanto se manipulou a pandemia, com a omissão dos atos devidos de defesa da saúde da população: isolamento social, estímulo ao uso de máscaras e, sobretudo, desídia e procrastinação na compra de vacinas. Ainda, se e quanto representou em ganhos e vantagens, ainda que só sejam políticas, do que duvido e vários indícios apontam.

A CPI é política e só mesmo os negacionistas – e não negam por negar, mas com intenções evidentes – tentam desvirtuá-la em uma “escolinha do professor Raimundo” sobre fármacos.

Esta é a questão: o julgamento político do cumprimento ou descumprimento com os deveres do cargo pelo presidente da República, do ministro da Saúde e dos que, como autoridades sanitárias acumpliciaram a políticas que nos levaram à beira do meio milhão de mortos.

Por isso, o fato mais importante do dia foi a aprovação da formação de um grupo de juristas para cuida da tipificação e enquadramento dos crimes – de responsabilidade e de natureza penal.

Neste sentido, o requerimento do senador Alessandro Vieira (que deixou o Cidadania depois que o partido desistiu da ação no STF contra o chamado “orçamento secreto” do governo federal) é o ato concreto que se precisava tomar, de certa forma antecipando o que serão as conclusões do relatório da Comissão e que o país terá de pressionar a dolente Procuradoria Geral da República de Augusto Aras.

O resto é deixar que a escumalha governista siga brincando de “democracia na ciência”, como se pudéssemos decidir se a terra é redonda ou plana, com uma votação da plateia, como num programa do Chacrinha.

Tijolaço.