Em
lúcida entrevista a BBC, o coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza
diz algo que anda na contramão da maioria dos analistas de mídia: não é que
Jair Bolsonaro tenha usado e esteja usando o Exército como instrumento de poder;
foi o Exército que o usa como forma de levar ao poder um “partido militar”.
E
dá como exemplo, e bom exemplo, o vídeo em
que, ainda em 2014, a Arma lhe franqueia uma formatura de cadetes da Academia
Militar das Agulhas Negras, sua principal escola de formação de oficiais, para
que o então deputado faça um comício de lançamento da candidatura presidencial.
Um
ato político de deixar o comício de Eduardo Pazuello parecendo coisa de
criança, porque dentro de uma organização militar, mas, sete anos depois, uma
prova inequívoca de que se construiu, em Jair Bolsonaro um “Cavalo de Tróia”
para conduzi-los, outra vez, ao poder.
Se
o cavalo era xucro (o que sua história só comprova) e se, muitas vezes, era
quem dirigia os que pensavam controlá-lo são outros quinhentos, embora sejam
poucos os que demonstrem reconhecer o erro quanto da escolha da montaria e
menos ainda os que se arrependem do caminho temerário que a instituição
escolheu.
Bolsonaro
é tão abjeto que conseguiu romper a aliança que permitiu o golpe político que
permitiu aos militares avançarem sobre o governo, reocupando o Ministério da
Defesa já no governo Temer e o próprio Planalto com o “Mito”.
Não
tem mais o que tinham: um arco de apoio, em nome do combate ao esquerdismo,
formado por mídia, empresariado, judiciário e políticos, uma espécie de voz
única. Mas a condição disso era a manutenção de uma democracia formal,
tutelando o processo político-eleitoral com uma espécie de voz única em favor
de reformas que cumprissem o duplo papel de varrer a função social e econômica
do Estado brasileiro e alienando, em nome da incapacidade a que este era
reduzido, o patrimônio nacional.
A
aventura está, evidentemente, esgotada, reduzida a uma UDN psicopata e a um
Exército que tem de se camuflar no silêncio, porque a instituição militar,
sempre respeitada, já começa a ser vista como um colégio de aproveitadores em
busca de vantagens remuneratórias e corporativas. E que assiste, sem reação, a
chave do controle interno armado transferir-se para as polícias e as milícias.
O
fantoche dos militares ganhou vida própria e, cada vez mais frequentemente, é
ele quem volta e meia lhe puxa os cordéis e os arrasta para onde quer.
A
ideia de que, já na terceira década do século 21, grandes países possam ter um
governo militar é insustentável e, mesmo com um personagem a fazer a boca de
cena, como pretenderam fazer com Bolsonaro, estendê-la além da tolerância da nação,
pelo voto, vai se afigurando inviável.
Pretender
isso, assumindo o veto ao desejo eleitoral do país, seja lá por que pretexto
for, será trocar uma retirada com perdas por uma derrota vergonhosa e
acachapante que pode demorar mais, mas será devastadora.
Tijolaço.
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