segunda-feira, 8 de novembro de 2021

GASOLINA SOBE MAIS E CHEGA AOS 8 REAIS. POR FERNANDO BRITO

O dado é de sexta-feira e, portanto, já subiu, com certeza.

O preço da gasolina, no estado onde custa mais caro, o Rio Grande do Sul, chegou aos 8 reais. Se querem precisão, a R$ 7,999, como naquelas ofertas em que, psicologicamente, o 999 evita subir um real.

A inflação de outubro, que o IBGE divulga depois de amanhã, já “contratou 1% e, pouco mais, pouco menos, vai nos levar à casa dos 10,5% ao ano.

Este aumento no preço médio, de R$ 6,71, significa um acréscimo de 2,25% na semana passada e já é combustível para a inflação de novembro.

O diesel subiu no mesmo (2,45%) ficando em média de R$ 5,339.

E não vai parar por aí, porque vêm mais reajustes (e para cima) ,com o dólar seguindo entre R$ 5,50 e R$ 5,60 e o petróleo, no mercado internacional, acima de 80 dólares o barril.

Tijolaço.

RECESSÃO COM ELEIÇÃO E DESEMPREGO, POR FERNANDO BRITO

Análises e notícias da economia deste domingo têm um só tom: a previsão de dificuldades econômicas para 2022.

Situação fiscal e crise fazem investidor externo sair do Brasil, diz o Estadão em manchete, narrando a decadência do Brasil no ranking dos destinos de investimentos externos.

Ruim no financeiro, preocupante no comercial, pois a balança comercial teve o pior resultado desde 2015, mesmo com o dólar nas alturas.

Bolsonaro deixa deterioração econômica como herança para próximo presidente, constata (o óbvio) a Folha de S. Paulo, na manchete dominical.

A crise vai ser o tempero do ano eleitoral de 2022 e ninguém mais duvida disso.

Para Bolsonaro, a esperança é que o “Auxílio Brasil” o salve da maldição dos pobres. Muito difícil, porque ainda não se sabe seu alcance e possivelmente será menos amplo que o auxílio-emergencial que terminou.

Para Lula, é o recall do tempo de prosperidade vivido em seu governo, que lhe dá imensa vantagem na faixa de renda mais baixa.

Ciro e Moro terão de partir para o espetáculo: o primeiro, exibindo o “folheto” de seu Plano Nacional de Desenvolvimento, vago e abstrato e o segundo dizendo que a culpa da crise é a corrupção, um bordão que se desgastou com os anos.

É aí que se dará a disputa: o resto é perfumaria.

Os favoritos, Lula e Bolsonaro, já mostraram que são duros na queda: o primeiro resistindo a cinco anos de acusações e quase dois anos encarcerado por Sergio Moro. O segundo, que com todos os fracassos e ridículos, consegue manter seu núcleo de eleitores, tanto os simplórios quantos os fanáticos.

Daí um quadro eleitoral que, pesquisa após pesquisa, não se move, com o favoritismo de Lula, a presença forte de Bolsonaro e as migalhas dos demais.

Teremos uma eleição com recessão e os exemplos de 2002 e 2014, embora com resultados diferentes, deram o mesmo papel: a fraqueza do governismo.

Tijolaço.

sábado, 6 de novembro de 2021

CORONEL LIRA, O SUPER-CUNHA DA CÂMARA. POR FERNANDO BRITO

A recusa do presidente da Câmara, Arthur Lira, em fornecer a lista dos deputados que votaram a PEC dos Precatórios sem estarem em plenário ou mesmo sem estar no país é daquelas coisas absurdas que achávamos ter deixado para trás nos sertões dos anos 30, com a eleição a bico de pena.

É lógico que, se mantida por ele, vai cair de imediato no Judiciário, tamanho o absurdo que é ser um procedimento obrigatório o registro de ausência em função de missão oficial que, portanto, é pública .

Exigir, como se fez à Folha de S.Paulo, um recurso à Lei de Acesso à Informação, sobretudo numa votação que é nominal, aberta, é um disparate autoritário que não tem qualquer justificativa.

Ontem, começou a cair essa monstruosa manipulação, mediante o pagamento de emendas anônimas, dita de relator – um deputado afirmou que pagava-se, assim, R$ 15 milhões por voto.

Aliás, é este o destino de perto de um terço do excedente orçamentário, além de irrigar o Fundo Eleitoral e a prorrogação da desoneração da folha e pagamentos das empresas de 17 setores da economia.

Hoje, essa novidade em centenas de anos de parlamento: o voto-bagagem, o que viaja junto com o parlamentar.

Arthur Lira vai se convertendo num Eduardo Cunha, com aquela história do “sou apenas o usufrutuário” das contas no exterior.

No caso de Lira, votos no exterior.

Tijolaço.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

DECISÃO DE ROSA WEBER TRAVA PEC DOS PRECATÓRIOS NA CÂMARA, POR FERNANDO BRITO

O segundo turno da votação da PEC dos Precatórios não deve mais ocorrer na terça-feira, como previa fazer o presidente da Câmara, Arthur Lira.

Esta é a mais imediata consequência da decisão de Rosa Weber suspendendo a execução das emendas de relator – o “orçamento secreto” da República.

É simples: ela paralisou as liberações de verbas que atenderiam os deputados “convencidos” a votar com o governo.

Talvez por mais tempo, se algum dos ministros pedir vistas ou destaque, neste caso levando ao julgamento presencial, é possível dizer que a decisão de Rosa Weber seguirá em vigor até o final do ano, a menos que Luiz Fux, pressuroso como é em relação aos interesses do governo, lance mão de algum recurso “antecipatório” de uma decisão de plenário que acelere sua apreciação.

Em termos práticos, impede que Arthur Lira, que não é o relator, mas é o “dono do relator”, possa usar as liberações de emendas como moeda de troca nas votações da Câmara.

Segunda-feira, a repercussão no mercado financeiro será forte, porque a decisão implica na descida a zero da capacidade do Governo e de Lira legislarem, porque é através desta “câmara de compensação de emendas” que têm a maioria para decidir.

Tijolaço.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

‘SUSPENSÃO’ DE CANDIDATURA É CONVERSA PARA BOI DORMIR, CIRO. POR FERNANDO BRITO

Não é crível que a liderança da bancada do PDT na Câmara tenha fechado um acordo com o governo e Arthur Lira sem o conhecimento do presidente do partido, Carlos Lupi, ou do seu futuro candidato a presidente, Ciro Gomes.

Faz tempo que inventaram o telefone, a internet e, pelo menos, os aplicativos de mensagem. Nem um zap, mesmo se tratando de uma decisão crucial para o governo do qual o partido é oposição?

Por isso, não dá para levar muito a sério esta história de que Ciro vai “suspender” sua candidatura. O que é “suspender” uma candidatura extra-oficial e sem os mecanismos próprios de comunicação de uma campanha (rádio, tv, impressos, material de campanha em geral).

Não é nada, senão uma frase de efeito para os tolos, porque nem mesmo vai se trancar em casa e não fazer visitas, palestras, entrevistas e tudo o mais que, nesta fase, é “campanha”.

Diz que fica “suspenso” até que os meninos governistas que emporcalharam o PDT mudem de ideia e, na votação de segundo turno, “votem direitinho” e passem na “segunda época”.

Além de inverossímil, a explicação de Ciro, se for verdadeira, indica uma completa incapacidade política de agregar e dirigir. Como não saber que algo tão grave está se passando dentro de uma bancada de apenas 25 deputados, dos quais 21 estiveram na votação e 15 aderiram a Bolsonaro?

Mesmo que pretenda, não vai “consertar” o governismo de mais da metade dos deputados de sua base. Brizola, a quem repugnaria uma atitude destas do partido que criou e organizou nacionalmente lembrava sempre do dito gaúcho de que “cachorro que comeu ovelha não tem mais jeito.

Pois é, deputado que comeu emenda também não.

Aliás, vejam que vergonha as bancadas dos outros candidatos da 3ª via: governismo escancarado.

Tijolaço.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

MORO CHEGA PARA NÃO MUDAR NADA, FERNANDO BRITO

 

A nova pesquisa XP/Ipespe é apenas a confirmação de que o cenário eleitoral segue se cristalizando.

A possível entrada de Sérgio Moro na disputa presidencial não alterou, praticamente, o quadro de preferências e o ex-juiz tem, até agora, números decepcionantes: 2% na pesquisa espontânea (Lula, 31%; Bolsonaro, 24% e Ciro, 3%) e meros 8% na estimulada, onde os nomes são apresentados ao entrevistado (Lula, 41%; Bolsonaro, 25% e Ciro, 9%).

Num hipotético segundo turno contra Lula, o ex-herói nacional tem 34% e o ex-presidente 52%, o maior percentual que alcança em qualquer confronto direto com outro candidato. Em votos válidos, isso é 61,5% contra 38,5%. É apenas um pouco maior do que percentagem que Bolsonaro consegue, num confronto direto com Lula (36% x 64% nos votos válidos, com 50% x 32% nos votos totais).

Francamente, falar que um potencial candidato como Lula, ao chegar a mais de 60% dos votos válidos em qualquer confronto possível em segundo turno é ridículo, porque não há na história brasileira candidatura que ultrapasse em muito a marca de 60% dos eleitores que escolhem um candidato.

Mais ainda, quando todos sabem – exceto os fanáticos do governismo – que haverá um agravamento da crise econômica que, é claro, aumenta a tendência a que se busquem candidaturas que ofereçam a esperança de uma situação de estabilidade que, mais que qualquer outro, é Lula quem desperta.

Mesmo que a eventual ascensão de uma candidatura de Moro a presidente – se vier a se confirmar – o que acontecerá é um “troca-troca” de votos entre ele e Bolsonaro e os demais candidatos da chamada “Terceira Via”.

E não há nenhum sinal de que a ordem das parcelas vá alterar o produto.

Tijolaço.

sábado, 30 de outubro de 2021

COMO SE PORTA UM BOBO PERDIDO NA CORTE, POR FERNANDO BRITO

“Perdidão” após a sair do auditório onde suportou a reunião da cúpula do G-20, em Roma, Jair Bolsonaro saiu foi procurar alguém que estivesse tão isolado quanto ele e achou.

Intrometeu-se na conversa entre o social democrata Olaf Scholz, favorito para ocupar o lugar de Ângela Merkel como premiê da Alemanha, e Recep Erdogan, presidente da Turquia ( pessoa de quem os governantes europeus procuram manter distância), ignorando o alemão, que ele, leigo em relações internacionais, nem sabia quem era.

Com o turco, foi ver se com “colava” a história de que “a economia [está] voltando bem forte”, que ele [Bolsonaro] tem um grande apoio popular, mas que “a mídia, como sempre, [o está] atacando.

Quando Erdogan lembrou que o Brasil possuía muito petróleo e perguntou pela Petrobras, o sem-noção aproveitou para desancar a principal empresa brasileira, dizendo, com ar desolado, que ela “é um problema” e que há muita reação à quebra de monopólios, embora não se saiba, infelizmente, de alguma reação mais forte a isso.

E, de quebra, fez questão de dizer, como se isso fosse agradar Erdogan, que enfrentou enormes dificuldades políticas com o poderoso exército turco, que, no Brasil, “um terço dos ministros [é de] militares profissionais”.

O presidente turco, nas imagens gravadas pelo jornalista Jamil Chade, do UOL, não demonstra qualquer simpatia a Bolsonaro e nem mesmo chega a mover o rosto ao ouvir as palavras do “Mito”, terminando a conversa “sem qualquer entusiasmo”, descreve o correspondente.

É impressionante o despreparo e a falta de jeito de Bolsonaro como chefe de Estado. Confunde a promoção do Brasil com a sua própria e não sabe sequer do que tratar. Por exemplo, da crise cambial que atinge violentamente os dois países neste momento.

Mas já acabou a parte chata da viagem de Bolsonaro, agora é só turismo.

Tijolaço.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

BOLSONARO NÃO FAZ SÓ CAMPANHA. TAMBÉM FAZ TURISMO. POR FERNANDO BRITO

Se Jair Bolsonaro fosse um homem de sentimentos, bem se poderia dizer que sua visita à Itália pudesse ser dedicada a um “turismo sentimental”, para visitar a pequena vila de onde saiu, há 130 anos, seu bisavô paterno Vittorio Bolzonaro e uma passagem pelo Monumento de Pistóia, onde estiveram enterrados os corpos dos pracinhas brasileiros mortos na 2ª Guerra Mundial, há muito trasladados para o Brasil, onde repousam, desde 1960, junto ao Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

Da única agenda oficial que tem, quase nada se sabe: não se tem os registros das reuniões de amanhã do G-20, grupo dos países mais poderosos do mundo que, em tese, prepararia a Cúpula do Clima, que começa segunda-feira em Glasgow, na Escócia. Para lá, Bolsonaro não vai, segundo o seu vice, general Hamílton Mourão, para que não lhe joguem pedras.

Embora tenha sido outra coisa, esterco, o que jogaram às portas da prefeitura da vila de Anguillara Veneta, de apenas 4 mil habitantes e uma prefeita de extrema direita que resolveu homenagear o presidente brasileiro.

La dolce vita de Bolsonaro em Roma incluiu comer salame e um passeio ao lado de Carluxo pelo centro histórico de Roma e à famosa Fontana di Trevi.

Certamente, a cena não foi nada semelhante à do La Dolce Vita de Federico Fellini, onde a linda Anita Ekberg entra nas águas e convida Marcello Mastroianni a entrar também. Bolsonaro evitou qualquer encanto: nem a tradicionalíssima moeda jogou à fonte, como fazem milhares de visitantes, desejando voltar à cidade eterna.

Tijolaço.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

LIRA NÃO TEM NÚMERO E ADIA PEC DOS PRECATÓRIOS. POR FERNANDO BRITO

Os votos obtidos nos requerimentos de retirada de pauta e de quebra de interstício regimental (prazo para uma matéria poder ser levada a plenário), menores que 260 votos levaram o presidente da Câmara a não colocar em votação a PEC dos Precatórios e, junto com ela, da quebra do “teto de gastos” constitucional.

Como precisa de 308 votos, era mais que temerário colocar a proposta em votação, faltando 50 votos para o mínimo para sua aprovação.

Possível, é. Mas não será fácil e véspera de feriadão não alardeia presença maior do que os 430 presentes ao plenário hoje.

É a segundo dia consecutivo em que Lira foge de colocar o texto em discussão e não é preciso ser nenhuma raposa política para ver que há uma sinalização de que a emenda constitucional não passa, salvo de for feita um imensa pressão sobre os parlamentares, o que não parece ser possível a esta altura.

Mesmo que a aprove por uma minoria muito tímida, isso vai repercutir no Senado, onde a situação do governismo é pior.

Sem ter um número seguro para a aprovação Lira insistirá em colocar a PEC em votação? Se o fizer, devolve a batata em chamas para Paulo Guedes: de onde tirar o dinheiro para o auxilio emergencial?

Há espaço, sim, mas isso deixaria o Governo sem espaço para as bondades eleitorais que planeja para 2022.

Há uma semana dava-se com o favas contadas a aprovação da pedalada dos precatórios na Câmara que, agora, tem possibilidades modestas de ser alcançada.

Não há duvida que é o cenário eleitoral que vai corroendo a fidelidade da base governista, porque a primeira lei humana – concedamos esta condição a nossos parlamentares – é sobreviver.

Tijolaço.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Os caminhoneiros e os aprendizes de feiticeiro. Por Fernando Brito

Se há uma categoria de profissionais bolsonarista é, sem dúvida, a dos caminhoneiros.

Trata-se de uma situação para lá de estranha: são ao mesmo tempo trabalhadores e microempresários, misturados a empresários nada pequenos, os das transportadoras, donas de mais de 60% dos caminhões que circulam com cargas no país.

Todos eles estão insatisfeitos com a política de combustíveis e greve com a tolerância e até o apoio do patrão a gente costuma saber que “dá certo”.

O aumento de 9% do diesel que vige a partir de hoje é mais que suficiente para comer o reajuste do frete, semana passada, em 5,4%

Principalmente quando o “piquete de greve” é feito com caminhões de 20 toneladas.

Não é possível prever, pelo fato de serem dispersos, se os caminhoneiros atenderão ao chamado para uma paralisação de lideranças que misturam interesses profissionais e políticos, como é marca dos transportadores desde os protestos contra Dilma Rousseff, quando sofriam problemas muito menores do que os de hoje.

Mas há uma sucessão de pequenos protestos, em terminais e rodovias, que mostram um ânimo crescente em participar: mais da metade, 54% em todo o país. Mais do que o suficiente para causar uma baita confusão nas estradas.

As lideranças dos caminhoneiros foram “escanteadas” pelo bolsonarismo, que preferiu apostar em personagens “faxes” ou duvidosos, como este tal “Zé Trovão”, que acba de se entregar à Polícia, e em figurações feitas por frotistas ligados ao agronegócio, levando caminhões à Esplanada dos Ministérios, para o que virou o anticlímax do golpe, com a cartinha de Michel Temer.

Bolsonaro, até agora, não foi além de prometer o vale-diesel, que ainda não tem data nem forma para acontecer.

Está produzindo uma atmosfera de alta octanagem, e vai apressar a formalização de mais uma carga fiscal que não foi discutida com ninguém, mas apenas mais um coelho tirado da rota cartola de bondades governamentais.

Tarcísio de Freitas, ministro que seria o responsável pela área, provoca:

“O que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo. A turma que financiou 2018 tá fora. Nosso único desafio é não deixar bloquear rodovia. Se não deixar bloquear rodovia, com o excesso de oferta [de caminhões] que nós temos, se meia dúzia de caras pararem de trabalhar, qual vai ser o efeito pra nós em termos de mercado? Zero, nenhum.”

Então teve uma turma que financiou 2018 e que agora está fora? E isso garante que caminhoneiros de verdade não reclamarão dos prejuízos que estão tendo?

Repito, é difícil prever, mas que isso tem cheiro de confusão provocada por aprendizes de feiticeiro que invocaram as carretas para o golpe e agora que elas não bloqueiem rodovias em defesa de seus próprios bolsos.

Tijolaço.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

BOLSONARO DIZ QUE INFLAÇÃO É CULPA DA CPI. POR FERNANDO BRITO

Em entrevista a uma rádio do Mato Grosso do Sul, Jair Bolsonaro esqueceu o bordão de que “é culpa do ICMS”disse que a CPI da Covid é responsável pelo aumento dos preços que está levando a inflação para acima dos 10%:

É um absurdo o que esses caras [senadores] fizeram, tem repercussão fora do Brasil. Prejudica nosso ambiente de negócios, não ajuda a cair o preço do dólar, leva uma desconfiança para o mundo lá fora,”Há um estrago feito por parte da CPI, que atrapalha todos nós. Isso reflete quando você fala em dólar, aumento de combustíveis”.

De novo, ele terceiriza a responsabilidade pelo quadro da economia, que vai dando sinais perigosíssimos de deterioração, como a revisão de expectativas para 2022 feitas pelo Itaú, já prevendo agora recessão (-0,5%) para o PIB do ano que vem.

É fogo na inflação o novo aumento da gasolina e, sobretudo, o do diesel.

Este, especialmente, tem o potencial de ser inflamável com a insatisfação dos caminhoneiros, nos quais, antes de implantada a já insignificante “bolsa” de R$ 400, sapecou-se um aumento de 9%, que representa, só ele, um valor maior no gasto médio com combustível de um transportador.

O movimento marcado para o dia 1° de novembro foi, sem dúvida, aditivado pela medida.

Mas, embora seja este o lado mais imediato e visível da insatisfação com o aumento dos combustíveis, que já alcança 70% no ano, é claro que a alta da gasolina vai erodindo o que resta de apoio a Bolsonaro na classe média, extremamente suscetível a este preço, pelo uso intenso de automóvel.

Há, também, o efeito no preço do frete e das mercadorias transportadas, inescapável, porque o setor de logística já estava operando “no talo”, por conta do custo do combustível.

Hoje, como previsível, a estimativa para a inflação passou dos 9% no Boletim Focus, do Banco Central (9,05% nas ultimas atualizações) e vai continuar subindo.

Com 5 dias para o final do mês, o aumento vai refletir na taxa de inflação de outubro e na de novembro, que não devem ficar próximas de 1%, cada uma.

É curioso que, ontem, Paulo Guedes, o morto-vivo, voltou a dizer que a economia “está voando”. Nos preços, ministro, nos preços.

Tijolaço.

domingo, 24 de outubro de 2021

MORO VAI APOSTAR NO DESMANCHE DE BOLSONARO? POR FERNANDO BRITO

Diz-se que Sergio Moro, no próximo dia 10, anunciará sua filiação ao Podemos, para candidatar-se em 2022, à Presidência ou ao Senado, pelo Paraná, caso opte por uma disputa “mais segura” eleitoralmente.

Porque, pelas pesquisas, o quadro que se desenha para ele está muito longe de oferecer qualquer segurança: índices de intenção de voto que variam entre 5% (Ipec, ex-Ibope), 7% (Ipespe) e um máximo de 10% (Genial/Quaest).

Pouco, para quem passou cinco anos na vitrine, como o homem mais bajulado do país.

É óbvio que os moristas, na sua grande maioria, foram bolsonaristas e os que permanecem sendo, em proporção semelhantes, deixaram de ser moristas, ao menos entre os segmentos de classe média.

Portanto, aumentar o número de eleitores de Moro depende, claro, de que ser reduzam em muito os bolsonaristas nestas camadas e que estes não sejam atraídos pelo extenso cardápio de candidatos da tal 3ª Via.

No povão é que não será a semeadura de Moro.

Moro, entretanto, prejudica em muito a candidatura Bolsonaro, dividindo votos conservadores na região Sul do país, onde estão 15% dos eleitores brasileiros e cria, no RS, Santa Catarina e Rio Grande do Sul uma imensa dificuldades para seus aliados, que terão de administrar suas fidelidades a dois candidatos a presidente inimigos entre si.

Moro, para desespero de seus áulico, está atrasado (se é que liga para isso) em articulações políticas e em “botar o nome na rua”.

Se é que vai botá-lo, porque até a megalomania pode ter limites.

Tijolaço.

sábado, 23 de outubro de 2021

A BATALHA ELEITORAL ESTÁ NO CAMPO DA ECONOMIA, POR FERNANDO BRITO

entrevista de Rodrigo Maia na Folha resume a esperança da chamada 3ª Via:

“Só tem um para sair do segundo turno, que é o Bolsonaro. O candidato que está no nosso campo da centro-direita bate no Lula para mostrar que é diferente, mas o adversário é o Bolsonaro, que entrou no nosso eleitor”.

É um resumo perfeito do resultado desastroso que, para a “direita convencional”, se veio construindo desde que o conservadorismo brasileiro mandou às favas os escrúpulos e embarcou numa jornada fanática e transtornada contra os governos de centro-esquerda que desembocou no bolsonarismo.

O desastre deste governo, diante do qual manteve, durante um longo tempo, a simpatia dos que o achavam um “selvagem, mas liberal” dissolveu a possibilidade de, por gosto, conviver com ele. Mas não a de, por necessidade, cederem à ideia de que uma convívio com a esquerda seria necessário para bani-lo da vida política.

O “nosso eleitor”, na definição de Maia, é, antes e acima de tudo, antiesquerda, ou antipetista, para usar a expressão que o ex-presidente da Câmara emprega em suas respostas.

Objetivamente, porém, a entrevista de maia assinala que o grande capital está perto de colocar os dois pés – e não apenas um – na canoa de um dos muitos candidatos que se apresentam como nem-nem.

Bolsonaro rompeu a única sacralidade que vinha desde o golpe de Temer e até de antes, como o argumento central do impeachment de Dilma Rousseff: o “teto de gastos” ou, em tradução prática, o estrangulamento dos gastos públicos.

Esta é a bandeira que ficou sem ter quem a empunhe.

Como todas as alternativas a Bolsonaro e a Lula apresentam números nanicos nas pesquisas de opinião, para hasteá-la do mastro do qual o atual governo a retirou (ou, ao menos, desceu a meio-pau) precisam demolir o Bolsonaro que construíram para, com “o nosso eleitor”, reconstruir a alternativa que tiveram – mesmo com derrotas – no PSDB, para que o “império da vontade” liberal seja restaurado.

Mas isso está longe de ser simples, porque o imenso leque de candidaturas que abriram não pode ser somado aritmeticamente e não é crível que todos venham a desistir em nome de um só deles e menos ainda que os eleitores façam esta migração.

E novamente Maia tem razão no diagnóstico do que é até agora uma fatalidade para a tal 3ª Via, permanecendo fraca esfacelada: “se o Bolsonaro seguir sendo o adversário dele, Lula vai poder jogar parado, não precisa se comprometer com ninguém”.

É isso: a centro direita brasileira adora cavar seus próprios abismos.

Tijolaço.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

PACHECO, NO PSD, LOTA A 3ª VIA. COM CANDIDATURA OU ACORDO? POR FERNANDO BRITO

Com aquele jeitão de macarrão sem sal e sem molho, Rodrigo Pacheco anunciou, finalmente, a sua filiação ao PSD de Gilberto Kassab, outro político que faz da falta de tempero próprio o caminho – aliás bem sucedido – de tornar-se importante no cenário nacional.

Quinta-feira ele assina a ficha, saindo do ex-Dem, onde será sugerido como candidato a presidente, mais pelos dirigentes do partido do que por si mesmo.

Sua “campanha” será de “postura”, como lhe agrada, de presidente do Senado – papel que, aliás, antes de 64, era exercido pelos vice-presidentes, menos objeto da polêmica que os presidentes.

É ali que, com a escolha de relatores sem relação de submissão ao Planalto e funcionando como “tranqueira” ao trator legislativo (e governista) de Arthur Lira, vai marcar posição e, por isso, receber ataques do governo, o que o ajudará a sair do magro 1% que tem nas pesquisas, mas não o fará ir muito longe, com a postura fleugmática de lorde inglês de Passos de Minas.

Seu perfil, com semelhanças ao de José de Alencar, e o bom entendimento de Kassab com o ex-presidente Lula alimentam as expectativas de que possa haver uma preparação para que ele venha a ser o candidato a vice do ex-presidente.

Muito cedo para acreditar nisso, porque o PSD precisa de um pré-candidato para viabilizar suas pré-candidaturas a governos estaduais e pelo menos duas delas são complicadíssimas: a do ex-governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, que deve se filiar ao partido, e a de Ratinho Jr, no Paraná, simplesmente intragável.

Mas uma aliança com as duas estrelas do partido em Minas Gerais, agora Pacheco e o prefeito de BH, Alexandre Kalil, seria forte cacife no segundo maior eleitorado do país, no qual Lula tem poucos nomes para compor chapa e o mesmo vale para todo o leque de candidatos da 3ª via. Bolsonaro depende da aliança eleitoral com o governador Romeu Zema (Novo), seu firme aliado desde 2018.

Pacheco, que fez uma trajetória na direita, talvez aí seja ajudado por aquela sensaboria a que no início apontei: sem sal e sem molho, tanto pode ser servido ao sugo quanto aos quatro queijos.

Tijolaço.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

GUEDES PERDEU A VALIDADE, POR FERNANDO BRITO

Ele foi, até mesmo antes de consumar-se a eleição de Jair Bolsonaro, o superministro da Economia. Orgulho dos liberais, o homem que faria as reformas, que privatizaria, que atrairia investidores estrangeiros, que ia zerar o déficit fiscal já no primeiro ano de governo. Com superavits primários gigantescos: e R$ 1 trilhão em privatizações e outro trilhão vendendo imóveis da União, que enxugaria o funcionalismo (os “parasitas”) e privatizar a Previdência. Na pandemia, disse a que recuperação da economia seria em “V” e, há duas semanas, garantiu que a economia estava “voando”.

E o que ficou, de fato, de Paulo Guedes foi um desastre.

Não apenas da gestão incapaz de formular programas de recuperação econômica ou de simples gestão de um modelo que, embora sem rumo, fosse minimamente sustentável no curto prazo. Gritou, berrou, fez-se de “tigrão”, prometeu, uma vez após outra, o que não se mostrou capaz de entregar.

Há meses , virou um molambo, que aparece em lives e eventos de empresários e banqueiros, faz-se de sábio, acena com um futuro otimismo que vai se desmanchar no dia seguinte no desempenho sofrível do país.

Agora, porém, exigiu-se dele a capitulação humilhante, o ato de humilhação de “chutar o teto” do qual fazia-se o mais fervoroso defensor.

A debandada em seu ministério faz dele um personagem que, além de derrotado, é só. A saída de vários de seus auxiliares dos postos-chave do ministério se refletirá, amanhã, em outro dia de depreciação do real e de quedas na Bolsa.

Embora tenha garantido a sua permanência no cargo, Jair Bolsonaro merece tanta credibilidade quanto um cartola de futebol ao dizer que fica no cargo um treinador que acumula uma fieira de derrotas.

Paulo Guedes não tem mais nada a lhe dar, a não ser a humilhação pública a que se submete, o que não representa mais vantagem ao presidente, porque o ministro já não inspira confiança no empresariado, segmento que Bolsonaro ainda tem como apoio certo num embate com Lula.

Guedes é uma Coca-Cola sem gás.

Não serve mais e Bolsonaro espera que ele se dissolva, para encontrar a solução mais adequada para a sua substituição, seja por um outro nome que circule no meio do dinheiro (o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é o rei deste pedaço) ou quem saiba jogar pesado neste campo, por sua fidelidade incondicional, e aí Pedro Guimarães, presidente da Caixa, é o personagem mais insinuante.

A troca não demorará muito, porque Guedes, ao apodrecer no cargo, apodrece o cenário econômico com os miasmas do que parecia ser.

 Tijolaço.