Se
há uma categoria de profissionais bolsonarista é, sem dúvida, a dos
caminhoneiros.
Trata-se
de uma situação para lá de estranha: são ao mesmo tempo trabalhadores e
microempresários, misturados a empresários nada pequenos, os das
transportadoras, donas de mais de 60% dos caminhões que circulam com cargas no
país.
Todos
eles estão insatisfeitos com a política de combustíveis e greve com a
tolerância e até o apoio do patrão a gente costuma saber que “dá certo”.
O
aumento de 9% do diesel que vige a partir de hoje é mais que suficiente para
comer o reajuste do frete, semana passada, em 5,4%
Principalmente
quando o “piquete de greve” é feito com caminhões de 20 toneladas.
Não
é possível prever, pelo fato de serem dispersos, se os caminhoneiros atenderão
ao chamado para uma paralisação de lideranças que misturam interesses
profissionais e políticos, como é marca dos transportadores desde os protestos
contra Dilma Rousseff, quando sofriam problemas muito menores do que os de
hoje.
Mas
há uma sucessão de pequenos protestos, em terminais e rodovias, que mostram um
ânimo crescente em participar: mais da metade, 54% em todo o país. Mais do que o suficiente para causar
uma baita confusão nas estradas.
As
lideranças dos caminhoneiros foram “escanteadas” pelo bolsonarismo, que
preferiu apostar em personagens “faxes” ou duvidosos, como este tal “Zé
Trovão”, que acba de se entregar à Polícia, e em figurações feitas por
frotistas ligados ao agronegócio, levando caminhões à Esplanada dos
Ministérios, para o que virou o anticlímax do golpe, com a cartinha de Michel
Temer.
Bolsonaro,
até agora, não foi além de prometer o vale-diesel, que ainda não tem data nem
forma para acontecer.
Está
produzindo uma atmosfera de alta octanagem, e vai apressar a formalização de
mais uma carga fiscal que não foi discutida com ninguém, mas apenas mais um
coelho tirado da rota cartola de bondades governamentais.
Tarcísio
de Freitas, ministro que seria o responsável pela área, provoca:
“O
que aconteceu em 2018 não vai acontecer tão cedo. A turma que financiou 2018 tá
fora. Nosso único desafio é não deixar bloquear rodovia. Se não deixar bloquear
rodovia, com o excesso de oferta [de caminhões] que nós temos, se meia dúzia de
caras pararem de trabalhar, qual vai ser o efeito pra nós em termos de mercado?
Zero, nenhum.”
Então
teve uma turma que financiou 2018 e que agora está fora? E isso garante que
caminhoneiros de verdade não reclamarão dos prejuízos que estão tendo?
Repito,
é difícil prever, mas que isso tem cheiro de confusão provocada por aprendizes
de feiticeiro que invocaram as carretas para o golpe e agora que elas não
bloqueiem rodovias em defesa de seus próprios bolsos.
Tijolaço.
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