quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

DEPOIMENTO DE BOLSONARO A PF É TRAGICOMÉDIA DE ERROS. POR FERNANDO BRITO

Tem hora e endereço marcados.

14 horas, na na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal, localizada no SAIS, quadra 7, lote 23, Setor Policial Sul.

Vai ser um espetáculo para as câmeras de televisão e olhe lá se não teremos um grupo de agitadores para desagravar o primeiro presidente da República intimado para depor em uma unidade policial num inquérito onde ele mesmo é o alvo do possível crime. Ele havia prestado declarações sobre o caso Moro, mas recebendo o delegado no Planalto.

É o ápice de uma comédia de erros que começou numa das lives presidenciais onde, para sustentar sua história de fraude nas urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro exibiu um inquérito sigiloso da PF sobre uma tentativa de ataque aos computadores do Tribunal Superior Eleitoral.

Violação de sigilo explícita.

É duvidoso, porém, que as consequências disso sejam tratadas de forma tão primária pela Advocacia Geral da União, que atua na defesa de Bolsonaro.

No dia 29 de novembro, Bolsonaro foi intimado a prestar declarações, com prazo de 15 dias e podendo marcar a hora e o lugar para fazê-lo com discrição. Aceitou, mas pediu um prazo de 60 dias, alegando que “a agenda Presidencial, mormente neste período de final de ano, lhe impõe série de compromissos alguns deles em agendas externas que dificultam sobremaneira a sinalização de dia e hora no exíguo lapso ofertado pela Senhora Delegada de Polícia Federal”.

Viu-se, nas praias, como seu tempo era exíguo e sua agenda apertada.

Ainda assim, o ministro Alexandre de Moraes, à frente do inquérito, deu-lhe os 60 dias: os 15 já concedidos e mais 45, o que faz de amanhã a data limite.

Só que, ontem, já poucas horas antes de vencer o prazo, Bolsonaro mandou dizer que não só não marcaria hora para receber a PF como “declinava” do direito de prestar declarações.

Agora, Moraes marcou a tomada de depoimento e das duas uma: ou Bolsonaro, o valentão, vai e diz apenas que o povo tinha o direito de saber, ou Bolsonaro, o fujão, não aparece, “Não vou, e daí?”

E abre caminho para Moares, querendo, determinar a sua condução, o que provavelmente não ocorrerá, pela repercussão que o fato alcançaria.

É difícil imaginar o que pode acontecer, até porque Alexandre de Moraes, até aqui, não parece deixar que o intimidem.

Nada disso, claro, vai muito à frente, porque o Judiciário, sob a maneirosa presidência de Luís Fux, não vai peitar o Planalto. Mas Moraes também não vai ficar quieto e já começou a agir, quando determinou o fim do sigilo do processo – exceto dados bancários e fiscais – tão logo seja colhido (ou não colhido) o depoimento presidencial.

Só não sei se Bolsonaro se aborrecerá com a polêmica, ele adora se mostrar valente em brigas em que o seu cargo não o deixa perder.

Tijolaço.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

BRASIL VOLTA A TER MAIS DE 500 MORTES/DIA POR COVID, SEM REAGIR. POR FERNANDO BRITO

Números preliminares de alguns estados mostram que, à noite, a contagem de mortos pela Covid-19 vai ultrapassar 500 óbitos em 24 horas.

Em cinco estados (São Paulo, 172; Goiás, 74, Minas Gerais, 62, Rio Grande do Sul, 57, Rio de Janeiro, 26), o número chega já a 391 mortos.

Estamos fingindo que a nova variante é “fraquinha” e, no entanto, as UTI vão lotando e as mortes subindo, como reflexo da ampliação monstruosa do número de infectados.

Não é uma questão de dizermos que isso só ocorre com quem não tem a vacinação completa, 30%, porque só isso dá um universo de 60 milhões de pessoas expostas.

Não há nenhuma medida de estimulo ao um isolamento que faça o número de casos desacelerar da disarada absurda em que está, mesmo com a subnotificação involuntária e a subnotificação criminosa, porque mente sem qualquer cerimônia.

Percorra as estatísticas e veja o escândalo que é São Paulo registrar “apenas” 13 mil casos ainda hoje. Com um terço dos habitantes, o Rio registrou (e com muitas falhas) o dobro, 26 mil e Minas Gerais, 36 mil!

Nós estamos apenas no começo deste drama, porque os casos fatais normalmente têm um “delay” de duas semanas para responderem ao aumento dos casos.

Nossos governantes estão prontos a dizer, de público, que consideram voltar a mil morte por dia uma perda “aceitável” de vidas?

Tijolaço.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

CONSPIRAÇÃO CONTRA CIRO E MAIA, MAIS UMA DOS ‘LAVAJATEIROS’. POR FERNANDO BRITO

As mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato conspirando contra Ciro Gomes e Rodrigo Maia, reveladas na CartaCapital, em reportagem de Glenn Greenwald e Victor Pougy, mostram mais do mesmo: a Força Tarefa de Curitiba era uma organização criminosa, paga com o dinheiro público, que perseguia (literalmente) objetivos políticos completamente estranhos ao seu papel institucional.

Caça-se “alguma coisa” para ser usada contra Ciro e seu irmão, Cid Gomes, e debatem como Sérgio Moro deve usar a Polícia Federal – ele já no Ministério da Justiça – para atacar o então presidente da Câmara por sua oposição ao “pacote anticrime” na formulação na qual foi enviado pelo ex-juiz ao Congresso.

Aliás, é preciso ver se as ganas de procuradores de fazer um “arrastão cível” contra Ciro não estão por trás da inexplicada “busca e apreensão” sofrida pelo presidenciável do PDT e por Cid.

A rigor, nada disso surpreende mais ninguém. A única surpresa é que esta turma não esteja, toda ela, respondendo processos éticos e seja exemplarmente punida, para que a corporação fique claramente advertida de que transgressões éticas e uso do poder de que institucionalmente dispõe não é uma brincadeirinha na qual possam se juntar como bando de escolares travessos, para dar vazão às suas preferências políticas e ódios ideológicos.

Se o Ministério Público quer voltar a ter o respeito que teve nos governos petistas, escolhendo pelo voto da categoria o Procurador Geral da República, precisa, antes, demonstrar que está disposto a expelir ou “encostar” os que fizeram dele trampolim para carreiristas irresponsáveis e criminosos.

Do contrário, mesmo com toda a sua boa vontade com a instituição, apesar do que ela – como negar que o apoio aos lavajateiros, no MP, era maciço? – Lula terá todas as legítimas razões para não se submeter a nomear um PGR escolhido pela corporação, tal como fizeram Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Até porque um Ministério Público que não pune seus integrantes que conspiram contra a lei não pode pretender ser fiscal de lei alguma.

Tijolaço.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

AS ELEIÇÕES DE 2022 E A DISPUTA PELO GOVERNO LULA. POR PAULO NOGUEIRA BATISTA JR

Começo o ano tratando da principal fonte de esperança para todos que se preocupam com nosso país – as eleições presidenciais de 2022. Há muita incerteza, claro, mas o favoritismo do ex-presidente Lula é evidente. Esse favoritismo desencadeou, ou ameaça desencadear, uma disputa por espaço dentro de um possível ou provável novo governo Lula. Abordarei, primeiro, o quadro eleitoral como se apresenta hoje. Em seguida, farei algumas conjecturas sobre a disputa pelo governo Lula.

O quadro eleitoral

Para colocar o tema das eleições em perspectiva, talvez seja útil retroceder no tempo, digamos, seis ou sete meses, para meados de 2021.

Qual era a situação naquela época? Lula já aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto, mas com duas ressalvas importantes. Primeira, havia a expectativa, alimentada intensamente pela mídia, de que se pudesse viabilizar uma “terceira via”. E, segunda ressalva, existia a percepção de que Bolsonaro, que atravessava um ponto baixo, iria se recuperar politicamente.

A terceira via, como se sabe, não decolou. O fiasco do lançamento da candidatura Moro parece ter sepultado esse caminho. Digo “parece” porque, em política, as previsões são sempre altamente temerárias. Mas como apostar que, em menos de 10 meses, ainda seja possível tornar competitivo Moro ou algum outro nome? Possível, talvez. Provável, não.

O fortalecimento de Bolsonaro também não se materializou. Ao contrário, as suas dificuldades políticas aumentaram – uma modificação crucial em comparação com o quadro de 6 ou 7 meses atrás. Em meados de 2021, o professor Marcos Nobre, da Unicamp, um qualificado analista da cena política brasileira, sustentava que Bolsonaro seria um candidato “fortíssimo” à reeleição. Eu mesmo, sem chegar a esse extremo, alertei aqui nesta coluna para o risco de que Bolsonaro viesse a se fortalecer até as eleições.

Essa expectativa de recuperação de Bolsonaro se baseava em previsões que não se confirmaram, pelo menos não até agora: a) a melhora do quadro econômico; b) a diminuição do ônus político representado pela pandemia; e c) o uso da máquina governamental e dos instrumentos de poder pelo presidente no exercício do cargo, ponto para o qual alertou o próprio Lula.

Não aconteceu ainda. O nível de atividade econômica, medido pelo PIB, estagnou desde o segundo trimestre de 2021. O desemprego cedeu, mas pouco, permanecendo em nível muito elevado. Os postos de trabalho gerados foram sobretudo empregos informais, de menor remuneração e pior qualidade. Para os analistas da conjuntura econômica, o mais surpreendente foi a persistência da inflação. A inflação alta corroeu o poder de compra dos salários. Desemprego e carestia – receita para o insucesso político.

O avanço da vacinação ocorreu, salvando vidas. Mas esse sucesso não foi, nem poderia ser, creditado ao governo federal. A CPI da pandemia, com grande cobertura da mídia corporativa, que tentava sem sucesso abrir caminho para uma terceira via, desgastou Bolsonaro, colando nele a imagem de responsável pela maior parte das mais de 600 mil mortes. A ideia de que os brasileiros esqueceriam gradualmente a tragédia e suas vítimas não se confirmou, felizmente. E o novo surto da doença desde dezembro, resultante da chegada da variante ômicron, mantém viva a questão da pandemia e a da irresponsabilidade e incompetência do governo Bolsonaro no seu enfrentamento.

Quanto ao uso da máquina e dos instrumentos de poder, o que se observou foi uma desorganização crescente do governo. Bolsonaro conseguiu comprar a sua sobrevivência, evitando o impeachment, mas foi incapaz de atuar de maneira coordenada e eficiente. Caiu nas mãos do “centrão”, que sabe defender suas pautas específicas, mas não dá norte a governo nenhum. As tentativas de Bolsonaro de “fidelizar” a sua base radical, com declarações e medidas estapafúrdias, aumentaram a sua rejeição e agravaram o seu isolamento.

Assim, o favoritismo de Lula cresceu e parece possível, ainda que talvez não provável, uma vitória no primeiro turno. Crescem as adesões à sua candidatura, com apoios que transcendem a esquerda e a centro-esquerda. Quase diria que, a exemplo de Getúlio Vargas na eleição de 1950, Lula pode vencer “sem sair de São Borja”.

Mas não vamos exagerar. Como dizia Nelson Rodrigues, pensando na copa do mundo de 1950, a goleada é a véspera da tragédia.

A disputa pelo governo Lula

O que provavelmente ocorrerá agora é um deslocamento da atividade política para uma disputa de espaço dentro de um futuro governo Lula. Não adianta, leitor, dizer que isso é prematuro. O processo já deve ter começado.

Do ponto de vista dos meus queridos amigos da “turma da bufunfa”, o que interessa é domesticar ou colonizar o futuro governo, garantindo que o Lula 3 seja o mais parecido possível com o Lula 1 – período em que Palocci era o ministro da Fazenda e Meirelles, o presidente do Banco Central. Vamos ser sinceros: no Lula 1, o que aconteceu foi um plágio descarado. A política de Palocci era uma cópia pura e simples da política do seu antecessor, Pedro Malan. Faltou pagar direitos autorais.

Lula aceitará repetir o script? Há diferenças importantes, para melhor e para pior, entre a situação de 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, e a de 2022. Destaco duas delas.

No campo econômico, a fragilidade externa da economia era muito maior em 2002, o que dava o mercado um poder maior de chantagem sobre o presidente eleito. As contas externas estavam deficitárias, a economia dependia de capital externo e as reservas internacionais eram baixas. Hoje, o setor externo da economia está bem mais robusto. O superávit comercial é alto, o déficit em conta corrente, baixo, a dependência de financiamento internacional, pequena. E, mais importante, as reservas internacionais são confortáveis, graças ao esforço de acumulação realizado nos governos Lula e Dilma.

Por outro lado, no campo institucional, a margem de manobra do futuro presidente é mais estreita. Com a aprovação da lei de autonomia do Banco Central, o eleito herda o presidente, Roberto Campos Neto, e a maior parte dos diretores da instituição, cujo poder foi aumentado pelo marco cambial aprovado pelo Congresso. Nos primeiros dois anos do novo governo, o Banco Central permanecerá sob controle dos dirigentes atuais.

Não acredito que Lula tentará reverter a lei de autonomia. Seria uma batalha árdua no Congresso e de resultado incerto. Resta saber se Lula, eleito, concordará em nomear para o ministério Fazenda ou da Economia alguém indicado ou aprovado pelo “mercado”, leia-se, pelo capital financeiro – a exemplo do que fez Dilma depois da sua reeleição em 2014.

Veremos. Não tenho informações privilegiadas, ressalto. Mas não parece plausível que que Lula, voltando ao poder consagrado por mais uma vitória eleitoral, vá começar o governo de cabeça baixa. Talvez decida quebrar o ministério da Economia em três, restabelecendo o Ministério do Planejamento e o da Indústria e Comércio. Na Fazenda, o ministério mais importante, colocará provavelmente alguém da sua estrita confiança, mas que não provoque tumulto no mercado financeiro.

Com o Banco Central autônomo, estabelecerá um modus vivendi, ancorado na autoridade que lhe conferirá a eleição. Lula dá nó em pingo d’água. Por que não saberia administrar os financistas e tecnocratas do Banco Central?

Tijolaço.

domingo, 23 de janeiro de 2022

O LEILÃO DE MORO. POR FERNANDO BRITO

Não é só na bolada que recebeu da multinacional Alvarez & Marsal – tutora judicial das empresas que a Lava Vato quebrou – que o dinheiro anda assombrando a vida do ex-juiz Sergio Moro.

Ele flerta e balança com a dinheirama de R$ 1 bilhão que a União Brasil terá em seus cofres para a campanha eleitoral e, para isso, deixa “pendurados” o Podemos, partido que foi montado para esperá-lo como candidato a presidente.

Até o seu “site oficioso” de Moro, aquele da turma do Diogo Mainardi, admite que, nas conversas sobre a filiação de Moro ao União Brasil, o assunto é dinheiro. Moro, dizem, estaria insatisfeito com a “falta de investimento” do partido e que Luciano Bivar, ex-senhorio de Jair Bolsonaro no PSL, estaria fazendo ‘jogo duro’ com uma aliança com o ex-juiz, querendo a vaga de vice.

“Na prática, Bivar quer ser o vice de Moro na União Brasil. Ou seja, quer uma chapa puro sangue, o que inviabiliza qualquer acordo com o Podemos.
A discussão sobre eventual mudança de legenda foi precipitada pela passividade do Podemos na campanha de Moro. Além da dificuldade para montar palanques regionais, o partido não tem investido na divulgação da candidatura, ainda pouco conhecida.(…).
Falta apoio político e financeiro. Embora o núcleo da campanha esteja buscando doações no mercado privado, apoiadores acham estranho que o multimilionário Oriovisto, fundador do grupo Positivo [e senador pelo Podemos], não tenha oferecido ajuda.
Outro ricaço, o senador Eduardo Girão até ajudou financeiramente para o ato de filiação e fez alguns discursos em defesa de Moro, mas, na semana passada, viajou aos EUA com a bolsonarista Carla Zambelli.”

Já sem ilusões sobre o amor de Moro, parte do Podemos parece querer leiloá-lo, numa coligação de traídos.

Moro tem dado sinais de que quer o acerto com Bivar, mas tem que resolver o problema de dar um “perdido” no Podemos.

E, depois, sem ter mais o poder de um juiz criminal, escapar do laranjal do Bivar.

Tijolaço.

sábado, 22 de janeiro de 2022

OS 100 ANOS DE NASCIMENTO DE LEONEL BRIZOLA E ONDE ELE AINDA NOS TOCA MAIS FORTE. POR FERNANDO BRITO

Vacilei vários dias antes de acertar o tom em que devia escrever sobre o centenário de Leonel Brizola, neste sábado.

Como não sou historiador ou sociólogo, mas – depois de 20 anos de convívio diário, creio que já tenho o direito de dizê-lo – um companheiro de suas lutas só posso dar o testemunho do que vi.

E vi, ao contrário do que muitos pensam, um homem gentil e tolerante.

Teimoso, sim, mas nunca inflexível e avesso a dialogar, até mesmo com um guri pretensioso como eu era aos vinte e poucos anos de idade.

Só não brigamos nunca porque ele tinha uma enorme paciência. E, para meu orgulho pessoal, uma enorme confiança naqueles que percebia movidos pelas ideias, não necessariamente iguais às dele, até porque eu tinha 36 anos a menos e uma história de vida infinitamente menor.

Brizola, como ele próprio se definia, era um “empírico”. Certa vez, disse-me que ideologia era como uma bússola, indispensável quando o céu estava coberto por nuvens, mas quase dispensável quando se podia ver o chão e o horizonte e por eles nos guiarmos.

Isso se traduzia quando escrevíamos parte dos 600 “tijolaços” – seus artigos, publicados como matéria paga nos jornais – sem ter sequer ideia do que seria dito, ao começarmos. “Nós somos os reis do improviso”, comemorava ele a enxurrada de palavras que lhe vinha, quando ditava os textos que eu anotava ou quando emendava – e muito – o que eu lhe levava escrito.

Dá saudade, sim, embora na época eu praguejasse pelas noites de sexta-feira inapelavelmente perdidas: depois de escrever, eu ia à gráfica, providenciar a fotocomposição do texto e depois ainda entregar a arte pronta para o jornal, o que significava chegar em casa com o dia já raiando.

Foi, talvez, o melhor que dele recebi: o aprendizado de que a vida devia ser austera, como antes já me ensinara meu avô, no Iapi de Realengo, um subúrbio operário do Rio de Janeiro.

Ou melhor, o segundo melhor, porque o melhor foi o da sintonia permanente com aquilo que representava os sonhos do nosso povão.

Brizola nunca esteve do lado errado da História, por mais que frustrações e mágoas pudessem torná-lo amargo e vingativo. “Somos aprendizes, porque socialista mesmo é o povo”, dizia.

O que não o impedia de andar na contramão do senso comum, de enfrentar a burrice ruminante e os emburrecedores contumazes.

Havia uma churrascaria abandonada na encosta do Morro do Cantagalo, pelo qual havia escalado uma imensa favela, que já se derramava sobre Ipanema. Queriam fazer de lá um futuro cassino; Brizola a transformou numa escola e num centro de convivência.

Brizola entendia de Carnaval como eu de astrofísica, mas acabou com a mutreta do monta-desmonta das arquibancadas da Sapucaí, contra a Globo e seu boicote.

Diziam, contra os Cieps, que “escola não era pensão” e não há hoje quem ouse abrir a boca contra as escolas de horário integral e uma alimentação e cuidados para nossas crianças.

Havia um furor de apoio a Sarney, com o Plano Cruzado; Brizola sujeitou-se a virar boneco de Judas em Sábado de Aleluia para dizer que aquilo era uma farsa eleitoral e foi Sarney quem ficou maldito pela traição.

Nunca deixou que o medo da incompreensão o impedisse de agir.

Brizola jamais deixou de enfrentar o “senso comum”, quando via razões para isso, e nem mesmo com Lula, quando este adotou uma linha moderadíssima, no início de seu primeiro governo.

Era 2003, ano anterior a sua morte e Brizola tinha pressa, talvez a mesma que Lula tenha hoje, quando se desdobra em garantir o apoio para que, no Governo, tenha o poder de agir com a rapidez que, 20 anos atrás, talvez pudesse dispensar.

Brizola amargou 15 anos de exílio. Lula, um ano e meio de prisão. Os dois souberam na carne o que é sofrer o peso da injustiça e do ódio político e, até por isso, o repelem.

Brizola chegou ao governo do Rio de Janeiro no ano do centenário do nascimento de Getúlio Vargas. Que Lula volte ao governo neste ano do centenário do nascimento de Brizola e teça mais um ponto nesta longa costura do fio da História, que trama e tece o inevitável futuro deste país imenso, ao qual sempre quiseram anão.

Melhor presente de aniversário, isso sei eu, o velho líder não quereria: o de ver a força do povo triunfar e reassumir as rédeas de seu próprio futuro.

Obrigado por tudo, Brizola.

Tijolaço.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

AS MALAS DE MORO, POR FERNANDO BRITO

A revelação de que a empresa Álvarez & Marsal, que responde pela administração da recuperação judicial da Odebrecht, da OAS e de outras empresas atingidas pela Lava Jato, e que admitiu Sergio Moro como “managing director” (no dicionário Cambridge, “o responsável por uma empresa , quem é responsável pelo que faz e como é gerida”) recebeu das “vítimas” do ex-juiz nada menos que R$ 42,5 milhões está repercutindo com tanta força que até a Veja, “ninho do marreco”, está se vacinando contra um imiente escândalo.

A revista, preventivamente já menciona um dossiê que estaria correndo entre os políticos onde registros do Coaf conteriam a informação de que os ganhos de Moro em seu passeio multinacional teriam lhe proporcionado ganhos de US$ 5 milhões (quase R$ 30 milhões).

Os defensores de Moro, diante da covardia do ex-juiz em dar informações concretas sobre quanto recebia da multinacional prefere agarrar-se ao argumento de que ele, a esta altura, não era mais servidor público e, portanto, seus recebimentos eram privados e sigilosos.

Obviamente errado, pois os pagamentos feitos por empresas submetidas a recuperação judicial são públicos e aprovados pelo juiz que a supervisiona.

Não é, porém, a única área onde a fome de dinheiro está colocando Moro em problemas.

Lauro Jardim, em O Globo, diz que Moro está negociando com Luciano Bivar, o homem que alugou o então PSL a Jair Bolsonaro e que agora preside o “União Brasil” de R$ 1 bilhão de Fundo Eleitoral sua mudança de partido. Diz o colunista que “Moro tem dado sinais de que quer (ou precisa) de um partido com maior densidade — e mais verbas para sustentar uma campanha presidencial”.

Assim mesmo, troco o partido que foi montado para esperá-lo, em apenas dois meses, por outro com maiores dotes. Embora, eu e qualquer um duvide que Bivar vá dar, grátis, seu rico dinheirinho sem cobrar muito em troca.

De que, mesmo, Lula chamou Moro outro dia?

Tijolaço.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

SE BRIZOLA APOIARIA A VACINA? PERGUNTE AO SABIN, FOLHA. POR FERNANDO BRITO

Infelizmente a Folha resolveu relembrar o centenário de Leonel Brizola, no próximo sábado, perguntando a alguns de seus apoiadores e contemporâneos, qual seria o “posicionamento político de Brizola hoje” diante da pandemia da Covid.

Se tivessem me perguntado eu não responderia nada, apenas enviaria a foto aí de cima, tirada em 1985 e que retrata uma cena que assisti pessoalmente, como seu assessor: a da recepção que Brizola deu a Albert Sabin, criador da vacina que erradicou a poliomielite, em sua última visita ao Brasil.

Ali, no Salão Verde do Palácio Guanabara, ao lado do então secretário de Saúde do Estado, Eduardo Costa, Brizola repetiu o que sempre dizia sobre saúde pública: que ela dependia de “vacina e água limpa”, imunização e saneamento, portanto.

No seu segundo governo, deu o nome do grande cientista a um Ciep, em Seropédica, na periferia pobre do Rio de Janeiro.

A pergunta da Folha, de resposta tão óbvia que chega a ser uma ofensa, é retrato destes tempos loucos em que temos um presidente que repudia vacinas e outros governantes que se acovardam em tomar as precauções para que uma doença que se espalha pelo mundo aos milhões por dia mas que não pode, para eles, “prejudicar a economia”, mesmo que isso custe milhares de vida.

A visão que, ainda hoje, as elites brasileiras têm de Brizola, como um personagem “imprevisível” é lamentável, porque se há algo que marcou a sua trajetória foi a coerência.

A foto, desculpem o clichê, vale mais do que mil palavras da Folha.

Tijolaço.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

COVID: 205 MIL CASOS/DIA. E SEM AUTOTESTES. POR FERNANDO BRITO

2o4.854 casos de Covid detectados em 24 horas. E sem autotestes para ajudar a chegar neste total.

E, a rigor, não ajudariam.

A Anvisa resolveu adiar a liberação dos chamados “autotestes” até que o governo defina quais são as ações de saúde públicas que o Ministério da Saúde pretende desenvolver com eles. Basicamente, a forma como os resultados serão comunicados às autoridades sanitárias.

O autoteste é, na maioria dos casos, igual aos testes aplicados em farmácias, que foram 558.647 entre 10 e 16 de janeiro dos quais 233.537 resultaram positivos para a presença do vírus.

Se estivessem sendo contabilizados – o Ministério não revela qualquer número sobre estes testes – teríamos um número de casos 35% maiores do que tivemos naquele período.

O autoteste não desempenha papel algum no controle da expansão da doença. Serve, quando muito, para que a classe média, que tem perto de R$ 50 para pagar por um deles, tomar decisões sobre visitar uma pessoa fragilizada (criança ou idoso, por exemplo) ou para decidir mandar filhos à escola. Útil, sim, mas inócuo para aquilo que precisamos agora, já.

Com cinco dias – período que dura o já mínimo afastamento dado hoje à Covid – isso quer dizer que um milhão de brasileiros terão de se afastar do trabalho, das ruas, do transporte coletivo.

Não podem ficar isolados assim, porque o país não admite interromper atividade que não sejam indispensável.

O resultado é que este numéro espantoso de casos, o dobro do que tivemos nos piores momentos da pandemia, tende a crescer.

As nossas autoridades públicas, porém, em sua criatividade genial acabam de criar o ‘bal masqué” nos desfiles de Carnaval, inventando um tosco corso de mascarados no desfile paulistano das escolas de samba.

É purpurina na N95 e o vírus evoluindo na avenida.

Se não morresse gente – e morre: 338, hoje – seria cômico. Mas é trágico.

Tijolaço.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

FIM DA PANDEMIA? 464 MIL CASOS NA FRANÇA, QUASE MIL MORTES NA ITÁLIA E REINO UNIDO, FERNANDO BRITO

Estamos ouvindo muitas historinhas de “autoajuda” de que a onda da variante ômicron do vírus da Covid é “rápida” e que em poucas semanas se dissipa.

Seria ótimo, mas isso não corresponde à realidade e usar três ou quatro dias de número decrescente de casos é uma confusão inadmissível entre ciência e esperança.

Com números em queda desde o dia 11, a França registrou hoje quase meio milhão de casos diários da doença: 464,769, entre os 65 milhões de franceses.

Itália (434 óbitos em 24 horas) e Reino Unido (438) voltaram a números que ocorriam em março do ano passado.

Notícia pior ainda: percentualmente, segundo o respeitadíssimo Financial Times, a internação de crianças cresce em percentual muito mais alto do que se elevam os casos, indicando uma vulnerabilidade maior destes grupos etários, onde a vacinação foi mais tardia ou, para os de menor idade, não aconteceu.

Aqui, vamos hoje ultrapassar com folga 100 mil casos diários e as mortes vão passar de 200. Os números oficiais serão divulgados em uma hora, mas, só pelos óbitos registrados em São Paulo (117), Rio Grande do Sul (22) e Goiás (23) já é possível esperar o que vem por aí.

É o “bem-vinda, ômicron” de Jair Bolsonaro começando a mostrar a cara.

Tudo o que tem sido dito aqui é reafirmado: os casos estão sendo sonegados ao conhecimento público.

P S.: Saíram os dados: 137 mil novos casos, um recorde em toda a pandemia, e 351 mortes, o maior número desde o início de novembro.

Tijolaço.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

LULA NÃO TEM DONO, SENHORES. POR FERNANDO BRITO

À esquerda e à direita, há montes de gente querendo dizer a Lula como ele deve fazer sua política de alianças e sua gestão da economia.

Alguns petistas aproveitam o espaço fácil dos jornais para manifestar sua objeção a que o ex-presidente tenha em sua chapa o ex-tucano Geraldo Alckmin, “apenas” quatro vezes governador de São Paulo.

Do outro lado, em O Globo, o banqueiro Ricardo Lacerda, dono do banco BR Partners, escolhe com quem Lula não pode falar: Gleisi Hoffman, Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Dilma Rousseff.

Lula deve dar risadas deste tipo de declaração.

Primeiro, porque é absolutamente estúpido achar que, depois dos mais de 40 anos de trajetória como líder político, alguém tenha a pretensão de pretender dizer ao ex-presidente com quem deve conversar, até porque salvo um ou outro que o estômago tem o direito de vetar, um homem de Estado tem, como regra, de conversar com todos e com todos ter certa reserva.

Conversar sempre, ouvir muito, mas terceirizar decisões e ideias, nunca.

Segundo, porque aos 76 anos, dois mandatos e uma prisão de 580 dias, Lula não tem mais apego a miudezas da política nem a deslumbres de poder.

Já pisou em todos os tapetes e viu todos os lustres, aqui e lá fora e mais que ninguém sabe que são transitórias as glórias do mundo.

Sabe perfeitamente que, neste momento, tem duas obrigações; conquistar votos para ser presidente e apoio (quando impossível, neutralidade) para poder, de fato, governar.

O resto é firula e vontade de aparecer. Lula não terá um “Posto Ipiranga” nem um “teórico de esquerda” como seu Ministro da Economia, terá um nome que lhe garanta um período de bonança política no setor, para que possa dedicar os primeiros meses do governo a uma reversão do quadro de crise em que a economia está mergulhada.

No front político, não vai adotar “purismos” e Alckmin não será o único da centro-direita que levará para o governo. Ele espera, sim, ter uma bancada de partidos de centro-esquerda poderosa, perto de 200 deputados, mas sabe que isso é pouco para não ficar refém do Congresso.

Lula tem dito para quem quiser ouvir – embora poucos entendam que ele está tocando no que é mais importante – que só quer ser candidato e vencer se puder fazer um governo de mudanças.

Quem precisa “indicar” coordenadores e porta-vozes para impressionar é candidato sem luz própria, como tem Lula.

Quem quiser não ser ouvido por ele que fique fazendo, seja para que lado for, vetos a pessoas, sejam do “mercado”, sejam os “ideológicos”.

Tijolo.

domingo, 16 de janeiro de 2022

AUTOTESTE NÃO É DESCULPA PARA OMISSÃO DO ESTADO, POR FERNANDO BRITO

Surpresa zero em que Jair Bolsonaro tenha defendido a óbvia liberação dos autotestes de Covid-19.

E a razão é simples: eles não são uma política de saúde pública, apenas um complemento dos meios de que pessoas com maior poder aquisitivo podem dispor já no seu já bem armado arsenal de defesa contra o vírus: home-office; transporte particular, abastecimento por entregas e outros, distantes da realidade da maioria mais pobre da população, que não tem como pagar perto de R$ 50 por um teste para cada pessoa de sua família e de repeti-lo pelo menos uma vez se o resultado for positivo.

Lembremo-nos que milhões de famílias brasileiras não tem dinheiro sequer para comprar comida, que dirá cinco, seis, oito “autotestes”.

Não quer dizer que o autoteste não seja útil: tudo o que , nesta crise, puder fazer alguém saber que está infectado e isolar-se é um fator positivo.

Mas não substitui , nem de longe, a aplicação gratuita de verificação de ocorrência de covid pelo poder público que dimensione e oriente as políticas estatais de prevenção e de assistência médica.

E não se pode deixar de pensar que, num tempo em que temos um governo negacionista, que tenta o quanto pode esconder a gravidade da doença, o fato de termos autotestes disponíveis (se é que os teremos, pois são os mesmos, basicamente, que se aplica nas farmácias e que já faltam) funciona como “excludente de ilicitude” para que o Estado proveja testes para todos os que suspeitem de infecção ou que, por tranquilidade em seu dia a dia, querem ou precisam realiza-los.

“Compra um teste e faz, pô, qual que é o problema?”, logo, vai ser uma das frases presidenciais, alguém duvida?

O Brasil aplicou, per capita, nove vezes menos testes que os EUA, quase 20 vezes menos que o Reino Unido, 11 vezes menos que a França, 10 vezes menos que a Itália. São países ricos? Está bem: menos de um quarto do Chile e do Uruguai, metade da Argentina, da Colômbia e do Peru.

Mas a classe média pode fazer autoteste e comemorar o resultado negativo, até que chegue a faxineira que não teve como se testar.

Tijolaço.

sábado, 15 de janeiro de 2022

PESQUISA MOSTRA QUE METADE DOS TESTES POSITIVOS DE COVID É SONEGADA. POR FERNANDO BRITO

O Brasil não tem 22 milhões de casos de infecção pela Covid-19 nestes dois anos de pandemia.

Tem pelo menos 42 milhões de infectados – todos testados e com resultados positivos -, o que nos deixa só atrás dos Estados Unidos em matéria de contaminação: um em cada cinco brasileiros já teve ou tem um diagnóstico laboratorial de que contraiu a doença.

É o que revela a pesquisa que o Datafolha fez com uma amostra de 2.023 pessoas de 16 anos ou mais em todos os estados do Brasil: “segundo o levantamento, 25% dos entrevistados disseram ter feito teste que confirmou a infecção pelo vírus, o que significa 41,95 milhões de pessoas contaminadas desde março de 2020”.

Sim, fizeram um teste num hospital público ou particular, ou num posto de saúde, ou num laboratório ou ainda numa rede de farmácias credenciada para esta atividade. Como não há testes domésticos no país, não poderia haver subnotificação dos resultados.

Ou, pelo menos, não quando os testes são realizados por entes perfeitamente controláveis.

Qual é a explicação que as autoridades sanitárias podem dar para que estes diagnósticos não tenham ido para seus registros?

Por favor, poupem-nos de “problemas de compatibilidade no banco de dados” e outras explicações deste tipo. Isso poderia ser verdade por um mês, dois, no máximo, porque todo mundo sabe quem faz teste e quem fez sabe que você é identificado por nome completo e CPF antes de ter o cotonete enfiado no nariz ou na garganta.

Não foi registrado porque as autoridades não querem que se saiba quantas pessoas ficaram ou estão infectadas, do contrário isto teria sido resolvido em poucos dias.

“Cura-se” o paciente desconhecendo sua existência. Assim, ele não atrapalha o funcionamento do comércio, da indústria, dos serviços, a não ser que caia doente ao ponto de não poder ir trabalhar.

Nos últimos 30 dias, a situação é ainda pior.

4 milhões de pessoas dizem ter contraído Covid com teste positivo, um número escandalosamente maior que os 621 mil que constam da contabilidade “semi-oficial”, a das secretarias de Saúde dos Estados, porque a do Ministério da Saúde parou no último mês.

Ninguém pode administrar uma epidemia sem saber da incidência real da doença sobre a população, não se trata de “curiosidade mórbida”.

O que é, sim, é um desídia mortal, porque os recursos para este número de testes estão sendo malbaratado por eles gerarem informação que não fica sendo conhecida e que, portanto, não gera efeito em orientação das autoridades sanitárias, dos governantes (ao menos os que querem combater a pandemia) e na própria população, que se desmotiva de proteger-se por não saber a gravidade do quadro real.

Não é incompetência, é mentira oficializada.

É crime.

Tijolaço.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

SÃO 251 MORTES POR COVID, HOJE. É A “BEM-VINDA” DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

251 pessoas morreram, nas ultimas 24 horas, por Covid-19.

Outras 112 mil contraíram a doenças, isso pelos subestimadíssimos números oficiais.

É a “baixíssima letalidade” da variante Ômicron da qual, anteontem, Jair Bolsonaro desdenhou, outra vez, para fazer sua propaganda antivacina.

Há mais de um mês não havia tantas mortes e nunca houve tantos casos novos.

Só em São Paulo foram 100 óbitos.

Isso é o que se sabe, oficialmente, mas da maior parte nem se ficou sabendo.

O blog do jornalista Edmílson Ávila, no G1, levantou que foram aplicados 282 mil testes na cidade do Rio de Janeiro, com 85 mil resultados positivos, de 11 a 13 de janeiro. Mas não foram lançados e o estado inteiro só registrou 39 mil casos novos da doença, isto é, nem a metade do apurado na sua capital.

Por todo o Brasil o cenário é assustador, pela explosão de casos e pela inação das autoridades.

Que “providências severas” foram tomadas? A balada para mil pessoas agora só pode ter 700?

E se manterá o desfile das escolas de samba na Sapucaí?

Deixem as pessoas circularem livremente: afinal, todos devemos ter a liberdade de morrer e de matar, é isso?

Vamos voltar a ter 400, 500 ou mil mortos porque , afinal, “não somos maricas”?

Tijolaço.

CHAVE DO COFRE NA MÃO DO CENTRÃO. FERNANDO BRITO

O descompromisso de Jair Bolsonaro com a administração do país ficou, de novo, evidente.

O decreto que coloca a execução do Orçamento da União nas mãos de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, é sinal de que as verbas consideradas “políticas” vão escorrer como lama do barranco dos cofres federais.

Nenhum remanejamento de verbas – das emendas ou fora delas – pode ser feito, agora, sem a prévia anuência do “delegado do Centrão” no governo e Paulo Guedes passa à posição de um simples contabilista, sem poder de decisão.

A prioridade única será a liberação da montanha de verbas destinadas aos parlamentares, agora transmutados em cabos eleitorais do atual presidente.

O “critério técnico” é “isso dá voto?”

Ninguém se espante se faltar dinheiro até para despesas obrigatórias, porque o próprio governo admite que a conta dos pagamentos de vencimentos não fecha em R$ 9 bilhões, mesmo sem os gastos das “bondades” que Bolsonaro pretende (ou pretendia) dar a policiais.

Tudo entra na conta de ser culpa do pessoal do “fica em casa” e, com a provável complicação da economia com a onda avassaladora da Ômicron, nisso aí cabe uma “Parte 2” da desculpa esfarrapada.

A informação de que as contas da ONU nos colocam na antepenúltima posição de crescimento do PIB em 2022, numa lista de 170 países, só à frente da Guiné Equatorial e Mianmar é, ainda, otimista.

Vamos é encolher e, com a chave do cofre, o Centrão pouco se lixa para isso. A farinha é pouca, mas seu pirão vem primeiro.

Tijolaço.