segunda-feira, 1 de junho de 2020

XADREZ DA CASSAÇÃO DE BOLSONARO E A INCÓGNITA MILITAR, POR LUIS NASSIF

O relevante é que parece ter caído a ficha geral do risco da prorrogação do governo Bolsonaro. Não há acordo possível. E não há empate. O STF e o Tribunal Superior Eleitoral têm que pagar para ver.
Peça 1 – o desmonte da ordem pós-Segunda Guerra
Até os anos 80, o comportamento militar brasileiro era previsível. Havia dois grupos principais. Um deles, de alinhamento com os Estados Unidos, processo acelerado iniciado na Segunda Guerra e tendo como expoentes o grupo da Sorbonne – liderado intelectualmente por Golbery do Couto e Silva. Havia um segundo grupo, ligado genericamente à chamada linha dura, ao qual pertenceram, em épocas diferentes, Arthur da Costa e Silva, Garrastazu Médici. E um grupo egresso do tenentismo dos anos 30, tendo como líder o último dos tenentes, Ernesto Geisel.
O primeiro grupo era defensor do mercado, do alinhamento automático com os Estados Unidos. O terceiro grupo apostava em um projeto nacional fincado na industrialização. E o segundo grupo era pragmático: queria o poder.
Como pano de fundo, havia a excepcional influência americana, presente no domínio sobre o multilateralismo do pós-guerra, no alinhamento com forças militares de todo o mundo e um discurso fincado na guerra fria, tendo o comunismo como o grande adversário da democracia apud EUA.
Peça 2 – as mudanças globais
A partir dos anos 80, houve mudanças substanciais na geopolítica norte-americana. A parceria com governos militares virou alvo de críticas contundentes, após as denúncias de tortura e práticas antidemocráticas. A partir de então, mudam o foco e passam a trabalhar o Judiciário dos diversos países.
Mais recentemente, o avanço das redes sociais colocou um ingrediente novo no jogo, ao permitir o exercício da chamada guerra híbrida. A desorganização do mercado de opinião, o protagonismo dos setores do Judiciário denunciando os vícios do modelo democrático e do financiamento de campanha, a indignação com a concentração de renda, abriram espaço para o renascimento da ultradireita antiglobalista em nível mundial. A inimiga da democracia passa a ser, então, a ultradireita, não mais o comunismo.
Esse movimento leva ao poder dos EUA Donald Trump, justamente na fase mais decisiva da história moderna dos EUA. Houve uma completa perda de rumo nas estratégias internacionais dos EUA. E, agora, com as eleições, poderá emergir um país completamente diverso daquele liderado por Trump.
Peça 3 – o elefante e os sete cegos
Tudo isso impactou o pensamento militar, e a uma perda ampla de referenciais. Afinal, o que pensam os militares brasileiros?
Antigamente, os Clubes Militares refetiam as divisões nas Forças Armadas. E essas divisões se davam apenas entre o oficialato. Havia. Grupo pró-americano, liderado por Eduardo Gomes, Juarez Távora. Na outra ponta, o grupo nacionalista liderado por Stillac Leal, Horta Barbosa, os Cardoso (pai e tio de Fernando Henrique Cardoso). Ambos com posições ideológicas e políticas bastante claras.
Hoje em dia, há confusão total. De um lado, a absoluta falta de projeto nacional pelas Forças Armadas. A rigor, os únicos grupos que pensam estrategicamente a questão da segurança nacional são os Institutos Militares – mas sem eco nos centros de poder militar.
Ao lado disso, há um novo espaço de discussões dos escalões inferiores. No pré-64, o conceito de hierarquia foi abalado pelo fantasma da sindicalização de soldados, cabos e sargentos. Cabo Anselmo foi o agente infiltrado que, com seus fake News, ajudava a incendiar os escalões superiores, acelerando a adesão ao golpe militar.
Hoje em dia, a opinião da base se consolida através das redes sociais e de grupos de WhatsApp.
Por outro lado, o trabalho de desmoralização da política, empreendido pela Lava Jato, com aval do Supremo, abriu um vácuo de poder que, em determinado momento, foi ocupado pelo Ministério Público Federal. Duas ações nefastas endossaram a ascensão de Bolsonaro e, com ela, a contaminação política do poder militar. Do lado da Justiça, a Lava Jato; do lado das Forças Armadas, o general Villas Boas.
Hoje em dia, a questão militar é uma incógnita. Lembra a fábula do elefante e os 7 cegos. Cada jornalista traz as impressões que colhe junto aos militares que conhece, e atribui as declarações a um genérico “os militares”. E há as chamadas vivandeiras, pretendendo definir as manifestações na Paulista como meras brigas de torcida, que justificariam a intervenção militar.
Peça 4 – A incógnita militar e os poderes
Pelos ecos da cobertura de Brasília, percebe-se três níveis de posição entre os militares.
O Alto Comando parece preocupado com a imagem da instituição. E entendendo o estrago causado pela aproximação com um Presidente desastroso e temerário como Bolsonaro. A indignação com o vazamento do vídeo da reunião de 22 de abril foi devido ao fato de expor a humilhante subordinação dos ministros militares ao comando constrangedor de Bolsonaro.
Há o grupo dos interessados, dos dois mli e tantos  militares, muitos da ativa, convocados para cargos no governo. E os herdeiros da guerra fria, como esse inacreditável general Alberto Heleno.
As reportagens de Brasília refletem, em geral, opiniões de um desses três grupos. Mas não trazem o todo. Como são as discussões internas entre essas posições? Quais as pressões de lado a lado? Até que ponto o Alto Comando vai aceitar a defesa da Constituição que, de alguma forma, prejudique o protagonismo recente das Forças Armadas, que as fizeram merecedoras de benesses nas reformas da Previdência e nos cargos públicos?
É essa falta de informação que segura a cassação da chapa Bolsonaro.
Ontem, no editorial “Os democratas precisam conversar” O Globo comprovou a influencia da incógnita militar. Propôs uma grande frente nacional em defesa da democracia, como ocorreu após o impeachment de Collor. Ótimo! Conclamou todos os setores democráticos, da esquerda moderada à direita moderada para um pacto nacional. Maravilha! Denunciou o método chavista de Bolsonaro, de cooptar militares, muitos da ativa, para compromete-los com seu projeto de poder. Verdade! E encerrou com a verdadeira quadratura do círculo: “Esta via política não deve excluir Bolsonaro, que, por sua vez, precisa fazer um gesto pelo entendimento, a melhor alternativa também para ele e seu governo”.
É o chamado prego sobre vinil.
No Supremo Tribunal Federal, o Ministro Alexandre de Moraes aposta que Bolsonaro blefa ao invocar o apoio militar. Já Dias Toffoli e Celso de Mello temem a ascensão do fascismo.  Mas, independentemente do maior ou menor receio, sabe-se que o enfrentamento será inevitável.
Para Gilmar Mendes, o mais relevante, no momento, é desconstruir, junto ao Alto Comando das Forças Armadas, o discurso bolsonarista de que as decisões do Supremo, como a autonomia dos estados para decidirem sobre o isolamento, é inconstitucional; desconstruir a tese absurda de Ives Gandra de que o artigo 142 da Constituição conferiu às Forças Armadas o poder de defender a Presidência contra outros poderes; e rechear o inquérito 141, de Alexandre de Morais, com provas definitivas e irrefutáveis.
Enquanto isto, o receio dos Ministros é, em algum momento, um grupo de milicianos tentar invadir o Supremo e a Polícia não agir para contê-los.
Peça 5 – sem empate
O relevante é que parece ter caído a ficha geral do risco da prorrogação do governo Bolsonaro. Não há acordo possível. E não há empate. O STF e o Tribunal Superior Eleitoral têm que pagar para ver.
Há dois resultados possíveisO primeiro é as Forças Armadas respeitarem a Constituição e acatarem as determinações do Supremo. Nesse caso, encerra-se o drama brasileiro através do TSE e abre-se o espaço para um governo de transição comandado por Rodrigo Maia.
Se as Forças Armadas endossarem Bolsonaro, então não há o que discutir. Apenas se anteciparia um golpe inevitável.
Seja qual for a visão dos Ministros, há uma ampla solidariedade a Alexandre de Morais. E a convicção de que, nessa guerra entre a democracia e a barbárie, não há espaço para empate.
Do GGN

NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DO COMERCIANTE BURITIENSE ALMIR RAPOSA AOS 66 ANOS

O editor do TUBINEWS.COM vem, por meio desta nota, lamentar a morte aos 66 anos de ALMIR ARAÚJO DE SOUSA, mais conhecido pelo apelido familiar acrescido ao prenome de ALMIR RAPOSA, um comerciante prestativo, boa praça, amigo de todos, e prestar a nossa solidariedade à família, amigos e a comunidade buritiense.
Almir Raposa, era descendente de uma família numerosa, de pais lavradores, nascido no povoado Rio Preto, deste município, mais tarde migrou para cidade, onde se tornou um comerciante promissor, um homem leal e cumpridor dos seus compromissos, deixa a esposa Maria de Fátima e 03 filhos: Karina, Karol, Kilsa e netos.
Almir Raposa, foi acima de tudo um empreendedor, com muitos serviços prestados na sua área de atuação, um bom pai, um bom filho, e segue deixando um vazio imenso junto aos seus, com o seu falecimento prematuro em um leito de hospital em Chapadinha, vítima dessa pandemia que assola o mundo.
Nesse momento de dor e grande pesar, nos unimos a todos em orações, rogando pala interseção do Criador do Universo que os conforte por essa grande perda. Que Deus receba o Almir de braços abertos na sua nova morada.


Buriti (MA), 01 de junho de 2020.
Reginaldo Veríssimo
Editor do TubiNews

FALTA UM GESTO PARA SERMOS “70%” E ESTARMOS #JUNTOS, POR FERNANDO BRITO

Celso Rocha de Barros, hoje, na Folha, resume em poucas linhas a situação de fraqueza de Jair Bolsonaro que impediu, até agora, que ele desfechasse o golpe autoritário que sempre mirou:
As chances de sucesso de um golpe bolsonarista já foram maiores: quando tinham Moro e o lavajatismo na mão, quando tinham o dobro de aprovação popular, quando a reeleição de Trump parecia certa, quando ainda havia quem acreditasse em Paulo Guedes, quando Bolsonaro ainda não havia sido o pior governante do mundo no combate à pandemia. Mas mesmo um golpe fraco pode ser bem-sucedido se não encontrar resistência.
Na última frase está o cerne da questão: a nossa capacidade de resistência foi desmantelada, erodida, quase destruída pela era do ódio à política que marcou a maior parte desta década.
Para viabilizar-se uma frente política, como é absolutamente necessário hoje, é preciso romper esta prática que, afinal, é a responsável por ter acontecido o inconcebível: legitimar-se, pelo voto, a ascensão de um psicopata com pretensões golpistas, como se a democracia pudesse escolher seu algoz para dirigi-la.
Todos – partidos, políticos, mídia, ministério público, juízes, Polícia Federal – estão na raiz deste processo que hoje as deixou em impotentes diante deste monstro que pariram.
A reedição de frente democráticas, a que se refere a manchete de capa da Folha – “Manifestos pró-democracia buscam clima de Diretas Já após ataques de Bolsonaro” – não depende, como diz seu mais importante manifesto – o #Juntos – de ” deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum”.
Trata-se de recusar, também, os métodos que estas disputas tomaram e que nos levaram ao que temos, tal como naquele distante 1984 tratou-se de recusar o golpe militar – igualmente apoiado por muito dos integrantes do movimento, duas décadas antes – como forma de ascender ao poder.
Para chegarmos ao movimento das Diretas Já houve, antes, o processo de reintegração na vida brasileira daqueles que dela foram excluídos pelas leis do arbítrio. Sem a volta deles, os cassados e exilados, na plenitude de seus direitos, não teria havido o reencontro do país com a liberdade.
Hoje, como então, mais do que eles exigirem, todos exigiam, mesmo alguns de seus mais ferrenhos adversários.
Nos dias de hoje é preciso que se reconheça que há um personagem que só pode dar a esta frente democrática o vínculo popular que ela precisa ter. Ninguém duvida, a crer no número que intitula um destes movimentos – o Somos 70% – que a metade, ou quase isso, o tem como referência.
Sabe-se que retirá-lo da política foi a pedra de toque do nefasto processo que nos conduziu ao desastre em que nos encontramos e é preciso fazer cessar esta causa quando se quer pôr fim às consequências.
Não é possível reconstruir a democracia sem que se readmita, nos seus anos finais ao menos, o mais importante personagem de duas décadas de sua reedificação nos pós ditadura. Tratá-lo como um marginal é manter vivo o que gerou o monstro, o ódio doentio.
É tão forte o sentido disto que, sem citar-lhe o nome, todos sabem de quem se fala.
Formar ombro a ombro com os que ajudaram nas origens do nosso infeliz presente exige superar diferenças e rancores. E para isso acontecer, é preciso que seja mútuo, do contrário será falso.
Há que desfazer o nó central desta trama desastrosa que nos amarou e prendeu a um regime intolerável, se queremos desmanchá-la.
Do Tijolaço

A S TROPAS DE BOLSONARO EM AÇÃO, POR FERNANDO BRITO

As agressões descabidas aos manifestantes antibolsonaro e as cenas de confraternização de policiais com os bolsonaristaso diálogo de um deputado do PSL e um capitão, sobre queimar uma faixa de protesto e a proteção dada senhora histérica, de taco de beisebol e bandeira norte-americana a fazer ameaças – deveria deixar de cabelo em pé os generais da ativa na cúpula das forças armadas.
As polícias estaduais estão, à toda evidência, na iminência de quebrarem todas as cadeias de comando. Estão prontas para reprimir com violência qualquer protesto contra o governo, enquanto agem – já há semanas – ajudando a organizar e a abrir caminho para mas marchas da morte, antes exigindo a abertura do comércio e, agora, o fechamento do Supremo.
Se, nas polícias, a “bolsonarização” ocorre, em boa parte, pela via da milícia que a elas se tornou simbiótica, no Exército ela foi patrocinada pelo próprio comando, que franqueou ao ex-capitão quartéis e academias militares para que ele desfilasse ali sua estupidez e – algo que traz em sua própria carreira militar – e sua indisciplina.
Há muitos sinais de que os oficiais do comando do Exército estão pressionados por uma pinça que é formada pelo grupo de militares palacianos e governistas – e não são poucos, porque o governo está tomado por centenas deles – e uma baixa oficialidade que está ideologicamente contaminada pelo extremismo de direita.
E não apenas isso: segundo levantamento do Ministério da Defesa, feito a pedido do Estadão, mostra que militares da ativa já ocupam quase 2,9 mil cargos no Executivo. São 1.595 integrantes do Exército, 680 da Marinha e 622 da Força Aérea Brasileira (FAB).
A atitude do Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, ao acompanhar num helicóptero do Exército, a chegada de Jair Bolsonaro em sua exibição equestre e asinina na Praça dos Três Poderes não poderia ter sido mais inconveniente.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, neste momento, agarram-se a frangalhos de seus comandos. Estão sendo conduzidos, embora obrigados ao silêncio e usurpados em suas atribuições.
E vendo, sobretudo, 30 anos de desfazimento da imagem golpista das Forças Armadas, indo para o ralo com um projeto que seria, afinal, o de profissionalização dos militares.
Na ânsia de parecerem heróis, viraram vilões.
Do Tijolaço

domingo, 31 de maio de 2020

ATO ORGANIZADO PELA GAVIÕES DA FIEL UNE TORCEDORES DE TODOS OS TIMES CONTRA FASCISMO DE BOLSONARO

Ato na Paulista teve confronto entre grupos, mas PM só abordou, intimidou e jogou bombas nos manifestantes contrários ao presidente.
Gaviões da Fiel organizam ato na Avenida Paulista que uniu torcedores rivais em torno do repúdio ao fascismo e à escalada autoritária de Bolsonaro.
Um protesto organizado pela Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada do Corinthians, para dissolver uma manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e por intervenção militar no país, uniu torcedores de times rivais na Avenida Paulista, centro da capital paulista, no início da tarde deste domingo (31).
A avenida tem recebido apoiadores de Bolsonaro em praticamente todos os domingos, reivindicando o fim do isolamento social, protestam contra Doria e Moro e pedem intervenção militar contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.
Os primeiros manifestantes pela democracia começaram a chegar à Paulista por volta do meio-dia e, às 13h, centenas de pessoas já bloqueavam a via no sentido Consolação. Diferentemente de como atua em atos da direita, a Polícia Militar esteve presente em grande número, fez várias revistas e abordou muitos dos presentes.
Em comum com os protestos a favor do presidente nas últimas semanas, o ato das torcidas de hoje provocou grande aglomeração, já que, apesar de muitos usarem máscaras, as normas de distanciamento social recomendadas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus não foram respeitadas.

(foto: Arquivo Pessoal/Twitter)

Apesar da recomendação dos organizadores, aglomeração de pessoas foi grande. 
Os torcedores dos principais times de futebol como Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Fluminense, e Vasco caminharam em passeata, aos gritos de “Democracia”, até chegarem ao vão livre do Masp. Foram vistas ainda camisas de times como Juventus, Ponte Preta e até times da várza paulistana.
O ato pró-Bolsonaro inicialmente previsto para o local, foi deslocado para o outro lado da avenida.
PRESENÇA
O protesto das torcidas foi convocado nas redes sociais e nas muitas lives diárias organizadas durante durante a semana sobre os mais diversos temas. Abaixo, o vídeo “oficial” que chamou à participação das manifestações deste domingo. O filme lembra personagens importantes da chamada Democracia Corintiana, em que se destacaram o ex-jogadores Sócrates, Casagrande e Vladimir:
Os organizadores calcularam em cerca de mil pessoas no protesto. Destaque na linha de frente para a Gaviões da Fiel, Democracia Corintiana e a Porcomunas (do Palmeiras). “O futebol é o que une as pessoas nesse país, não poderia ser diferente em um momento como esse”, disse o autônomo Wagner de Souza, torcedor do Palmeiras, à reportagem da Folha de S.Paulo.
Ele estava acompanhado de algumas dezenas de palmeirenses, que afirmaram representar a torcida “Palestra Antifacista.”
TUMULTO
A polícia Interveio para separar uma confusão entre manifestantes ao lado da estação Trianon Masp. Uma bolsonarista atravessou a pista ameaçando atacar os participantes do ato pela democracia com um taco de beisebol. Apesar de o artefato ser considerado arma branca, ela não foi detida pela PM, nem seu taco foi retirado.
" senhora por favor vamos pra lá"
Ela carrega um taco de beisebol e uma bandeira americana como máscara.
Nós não vamos recuar!!! #Somos70porcento
Segundo relatos, foram disparadas pelo menos quatro bombas de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta contra os manifestantes pela democracia. Um fotógrafo da agência EFE ficou ferido.
Por volta das 14h, quando parte dos manifestantes já havia se dispersado, um pequeno grupo de apoiadores de Bolsonaro, vestindo camisetas da CBF, passou pela manifestação contrária ao presidente, fazendo provocações e dando início a nova confusão.
A tensão cresceu, principalmente porque a PM resolveu “empurrar” o ato das torcidas organizadas em direção à avenida Consolação, no fim da Paulista, ao mesmo tempo que os soldados nada faziam para interromper as provocações dos bolsonaristas.
Imagens do canal de notícias CNN Brasil mostraram que o ato pró-Bolsonaro continuou com tranquilidade, e contou ainda com um cordão de policiais formado para a proteção. Em entrevista ao canal GloboNews, o secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel Álvaro Batista Camilo, afirmou que foi preciso usar bombas de gás para dispersar manifestantes depois que um grupo começou a atirar pedras, mas não disse de que lado foram lançadas as pedras.
O coronel disse também que a PM vai analisar as imagens do protesto para identificar as pessoas que causaram o tumulto. “Não interessa o lado, aqueles que quebrarem ordem pública responderão perante a Justiça. Todas essas imagens estão sendo acompanhadas para que possamos responsabilizar essas pessoas no futuro”.
Da RBA

STF E TSE TERÃO QUE ACELERAR A CASSAÇÃO DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

Por tudo isso, o STF e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) terão que rever sua agenda. A demora em decidir sobre os destinos de Bolsonaro servirá para alimentar ainda mais a serpente da guerra civil.

Por tudo isso, o STF e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) terão que rever sua agenda. A demora em decidir sobre os destinos de Bolsonaro servirá para alimentar ainda mais a serpente da guerra civil.

PREMISSA 1 – Bolsonaro não vai parar até dar o golpe ou ser deposto.

PREMISSA 2 – a cada dia que passar, sem reação, as milícias bolsonarianas se tornarão mais atrevidas. Ontem e hoje as manifestações em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal) foram de ameaças explícitas aos Ministros, especialmente a Alexandre de Moraes. Ou seja, o inquérito para coibir os abusos digitais está sendo enfrentado com ampliação da violência presencial. No limite, haverá atentados por parte de grupos paramilitares. Há pelo menos três manifestações nesse sentido, o grupo de Sara Winter, os neonazistas reunidos ontem na Paulista e associações de defensores de armas.

PREMISSA 3 – até por efeito demonstração dos Estados Unidos, se ampliarão as manifestações anti-Bolsonaro. Por isso, aumentam as possibilidades de grandes conflitos de rua, com envolvimento cada vez maior ds batalhões de choque das Polícias Militares, criando uma simbiose preocupante com os movimentos de ultradireita.

Hoje foi o ensaio do que virá pela frente. Bolsonaro comparecendo às manifestações, o Terça Livre dobrando a aposta contra o Supremo, Sara Winter juntando milicianos na frente da corte.

Por tudo isso, o STF e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) terão que rever sua agenda. A demora em decidir sobre os destinos de Bolsonaro servirá para alimentar ainda mais a serpente da guerra civil.

A próxima semana mostrará essa mudança no ritmo dos trabalhos.

Do GGN

CELSO DE MELLO ROMPE O ‘MIMIMI’ E ABRE RUPTURA COM BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Nada foi mais importante, nos últimos tempos, que a mensagem de Celso de Mello aos demais ministros do Supremo Tribunal Federal, que mencionei no post anterior, marca a ruptura total entre o STF e o governo Bolsonaro.

Ao acusar Jair Bolsonaro de executar um plano de tomada de poder semelhante ao de Adolf Hitler, o decano da Suprema Corte traçou uma linha de demarcação não só entre seus colegas como, também, em relação ao Parlamento.

Ao contrário do mimimi de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, o velho juiz agiu com altivez e, a meses de deixar a cátedra do Tribunal deu um sinal inequívoco de que a omissão será igual à cumplicidade com o avanço fascista.

Não lançou uma luva, deu uma bofetada, como a ocasião exige.

Mello porta-se como Churchill em lugar de Neville Chamberlain: ambos conservadores, mas um deixa claro que não há tergiversação ou pacto possível com o nazismo.

Pode, é certo, haver intuitos provocadores em alguns dos participantes dos atos antibolsonaro acontecidos hoje, mas eles correspondem nos ao sentimento das ruas e vão crescer.

A oposição de esquerda – e agora já existe uma oposição de direita definida – precisa assumir seu papel neles, com ou sem pandemia.

Porque eles vão crescer, seja pela rejeição à direita aos propósitos golpistas de Bolsonaro, seja pelo estresse em que está uma sociedade insegura e amedrontada, mas é preciso não deixar que descambem para uma violência juvenil, que levem água ao moinho da repressão.

Neste sentido, a mensagem de Celso de Mello, direta e inequívoca, mostra que há espaço para o caminho da legalidade e que ela não protege o golpismo nazista, mas o condena, inapelavelmente.

Do Tijolaço

UM ASNO A CAVALO EM DISPARADA E A LOCKED DE CELSO DE MELLO, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro deu hoje mais um passo para o golpe.

Talvez, porém, um passo em falso, porque está evidente que Bolsonaro está provocando o confronto, bem simbolizado na entrada a cavalo na Praça dos Três Poderes.

É evidente para todos que Bolsonaro tem consigo uma minoria. Expressiva, aguerrida, fanática, mas ainda assim uma minoria.

Contra ele, uma oposição que, até aqui, vinha tímida, clara e que, neste final de semana , colocou a cara com vários movimentos.

Que, nos dois últimos dias, se excitou com as imensas manifestações antirracistas nos Estados Unidos e acabou mostrando que, mesmo em meio à pandemia, a rua é o único lugar da política.

Preparem-se porque, em poucos dias, elas voltarão, mesmo com a flagrante opção da polícia – bolsonaristíssima – de reprimir as manifestações antigoverno, enquanto organiza e apoia as marchas fascistas, sem que elas tenham – ainda- nenhum .

De seu lado, a conversa fiada de Bolsonaro de dar “passos atrás”, se ainda convencia alguém, mostrou-se totalmente mentirosa.

Ele quer o confronto violento e, ao que parece, o terá.

Não adianta que Bolsonaro avance a cavalo seguido por sua tropa de zumbis, haverá resistência, e crescente.

A declaração do decano do STF, Celso de Mello, indica que será feita em nome da Justiça, com toda a legitimação que isso traz.

Sem meias palavras quanto à natureza nazista do que estamos vivendo:

“Guardadas as devidas proporções, o ‘ovo da serpente’, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) parece estar prestes a eclodir no Brasil”, diz ele. “É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar quando Hitler, após eleito pelo voto popular e posteriormente nomeado pelo presidente Paul von Hindenburg como chanceler da Alemanha, não hesitou em romper e em nulificar a progressista, democrática e inovadora Constituição de Weimar, impondo ao país um sistema totalitário de Poder”

É disso que se trata: da implantação de uma ditadura nazista.

Em plena epidemia, não demora que as ruas se encham.

Até agora, era apenas a legião de zumbis.

Não será mais ela, apenas.

Do Tijolaço

sábado, 30 de maio de 2020

A PÓS-HISTÓRIA É O RETORNO A PRÉ-HISTÓRIA, POR FERNANDO BRITO

Ao final da era Reagan-Tatcher e do aparente triunfo final do liberalismo, vestido de neo, um de seus ideólogos, o norte-americano Francis Fukuyama, lançou a “obra magna” daquele período: O Fim da História.

O mundo, agora, era unipolar: caíra a União Soviética, o socialismo passara a ser unanimemente aceito como arcaico, o modo de produzir e de viver era o da democracia formal e o da tecnologia, suficientes para garantir bens e direitos em abundância e abolir as disputas sociais.

Em consequência, abolir as disputas políticas e os instrumentos pelos quais, até ali, elas se expressavam, os partidos e ideologias. Um e outro foram expurgados como velharias e progressivamente perdendo o sentido que tiveram, ao longo do século 20, como molas propulsoras do desenvolvimento social. O grito de Cazuza, em seu clássico Ideologia, eu quero uma pra viver é, com a sensibilidade dos poetas, o grito desesperado de uma geração – a minha – que assistiu ao enterro do que passou a ser quimera.

A história, porém, é como a Hidra grega, rebrota. A noite que passou, nos Estados Unidos assolados pela dor, pelo desemprego, pela súbita evidência de que o passado, de outras formas e com outras gerações, ressurge para que siga em frente a longa marcha da civilização.

Ou os protestos que percorreram, como um rastilho de pólvora, os Estados Unidos não são netos das marchas pelos direitos civis dos anos 60, que projetaram a figura heroica de Martin Luther King como símbolo da luta contra o racismo?

Mas, como o neoliberalismo e e seu ferramental de mídia destruíram partidos, ideologias e política, esta erupção explode sem direção, confusa, pronta para ser instrumentalizada contra seu próprio sentido, como ocorreu aqui, anos atrás.

Trump, não se iludam, vai agarrar-se à bandeira do restaurador “de lei e da ordem”, como aqui se agarram os defensores da “ordem sem progresso”.

A ânsia por civilização tem de ser combustível para a mudança, não desculpa para a barbárie.

PS: Não tinha visto ao escrever, mas a capa da Time é simplesmente o resumo da história, veja:

Do Tijolaço

quinta-feira, 28 de maio de 2020

SAIBA COMO CONTESTAR RESULTADO DO CADASTRO DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

A contestação só pode ser feita uma vez
Aplicativo da Caixa para pedido do auxílio emergencial
Ontem (27) a vice-presidente de Governo da Caixa Econômica Federal, Tatiana Thomé, apresentou um tutorial sobre os procedimentos que o cidadão deve seguir para contestar pedidos negados ou retificar informações.
As pessoas que tiveram o pedido de auxílio emergencial considerado inconclusivo devem fazer um novo cadastro no site ou no aplicativo Caixa Auxílio Emergencial.
Segundo a vice-presidente de Governo da Caixa, Tatiana Thomé, o pedido de novo cadastro deve ser preenchido em duas situações: quando o requerimento é considerado inconclusivo (quando o cadastro não consegue ser avaliado) ou quando o benefício é negado. Nos dois casos, o usuário pode corrigir informações mais de uma vez, mas a análise e a liberação do benefício depende da Dataprev, estatal de tecnologia que verifica as informações em 17 bases de dados.
Quem teve o benefício negado, mas discordou dos motivos, pode contestar a análise no site ou no aplicativo da Caixa. Nesse caso, não é possível corrigir os dados. Apenas confirmar as informações prestadas e pedir uma nova análise. Diferentemente da apresentação de um novo pedido, a contestação só pode ser pedida uma vez.
MOTIVOS
A vice-presidente da Caixa apresentou a lista dos principais motivos pelos quais o cadastro é considerado inconclusivo. Entre as razões, estão a marcação como chefe de família sem indicação de parentes, não ter informação de sexo masculino ou feminino nas bases do governo (ou sexo masculino numa base e feminino em outra) e incorreção no número do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou da data de nascimento de pessoas da família.
Também aparecem como motivos a informação de membros da família com indicativo de morte e usuários que declararam membros da família no primeiro pedido e não declararam no segundo ou declararam não ser chefes de família no primeiro pedido e informaram sustentar a família no segundo cadastro.
O aplicativo e o site da Caixa informam o motivo pelo qual o pedido foi indeferido. No entanto, segundo Tatiana, a contestação e a nova solicitação com retificação de dados só podem ser feitas em quatro circunstâncias: quando o requerente tem vínculo empregatício, casos de morte na família, recebe algum benefício (seguro-desemprego, seguro-defeso ou benefício da Previdência Social) ou renda mensal familiar superior a três salários mínimos ou meio salário mínimo por pessoa.

Caso o aplicativo ou o site informem outro motivo, a contestação ou a retificação de dados num novo cadastro não poderá ser feita. A vice-presidente da Caixa explicou que os dados informados pelo cidadão para iniciar o novo cadastro deverão ser iguais aos da Receita Federal. As últimas versões do aplicativo permitem o uso de documentos como carteira de motorista, carteira de trabalho e passaporte para o cadastro. Nas primeiras versões, só era possível apresentar a carteira de identidade.

A tela de abertura do aplicativo exige CPF, nome completo, data de nascimento e nome da mãe. Caso o usuário tenha mãe desconhecida nos dados da Receita, deverá marcar a opção, que aparece no aplicativo. As regras de pedido e de contestação são definidas pelo Ministério da Cidadania. A Caixa apenas executa o pagamento.
Do Imparcial

quarta-feira, 27 de maio de 2020

OPERAÇÃO FAKENEWS MIRA O CORAÇÃO DO BOLSONARISMO, POR LUIS NASSIF

A análise dos celulares e computadores permitirá reconstituir mensagens do próprio Bolsonaro e dos filhos.
A operação da Polícia Federal contra os fakenews mirou o coração do bolsonarismo. Hoje em dia, a manifestação mais expressiva do movimento são as quadrilhas virtuais. Cometem assassinatos de reputação contra adversários, contra ministros de Bolsonaro. Através dessas redes articulam-se manifestações públicas e, provavelmente, organizam-se as milícias reais, estimuladas pelas declarações de Bolsonaro e pela liberação das armas.
A análise dos celulares e computadores permitirá reconstituir mensagens do próprio Bolsonaro e dos filhos.
A operação mostrou uma ação articulada do Supremo Tribunal Federal, com Celso de Mello e Alexandre de Moraes atuando em pinça. Ao liberar o vídeo da reunião ministerial, Mello escancarou as ameaças contra o STF. Escancarando, deu o álibi para a operação de Alexandre de Moraes contra os mais notórios alimentadores de fakenews.
Mais. O inquérito do STF é visto como inconstitucional em vários pontos. O presidente da corte, Dias Toffolli, abriu o inquérito de ofício, sem ser provocado, entregou a relatoria a Alexandre Moraes, sem sorteio, e passou a funcionar como inquérito guarda-chuva sob o comando direto do STF, sem participação do Ministério Público. Pode o STF recorrer a instrumentos jurídicos em sua própria defesa. Mas a legislação não prevê a figura do inquérito guarda-chuva, embaixo do qual pode-se colocar qualquer denúncia.
Mesmo assim, as ameaças de Bolsonaro à democracia, e o aumento das agressões ao Supremo, inspiraram uma aliança inédita entre todos os Ministros do Supremo e ação combinada entre Celso de Mello e Alexandre de Moraes. Ontem, o próprio Luis Roberto Barroso, no discurso de posse no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ressaltou os riscos representados pelas fakenews.
Ao liberar o vídeo da reunião ministerial, Celso de Mello permitiu a exposição clara das ameaças saindo dos intestinos do governo, através do Ministro da Educação Abraham Weintraub.  E forneceu o álibi para a operação das fakenews, no dia seguinte à investida da Polícia Federal sobre o governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro
É mais um inquérito que irá bater direto no mais alucinado dos filhos de Bolsonaro, Carlos, comandante em chefe do Gabinete do Ódio e pautador maior do bolsonarismo.
Esses ataques não pouparam Ministros do próprio governo, Ministros do STF, qualquer forma de crítica a Bolsonaro. A análise dos computadores permitirá mapear as milícias reais, os grupos bolsonaristas que estão se armando, sob inspiração do Presidente e seus filhos.
Mesmo que os inquéritos específicos sobre fakenews não prosperem, a análise dos equipamentos dos milicianos permitirá mapear crimes muito mais graves.
Do GGN

terça-feira, 26 de maio de 2020

COMEÇAMOS PELA DAMARES, IREMOS ATÉ O WEINTRAUB? POR FERNANDO BRITO

Damares Alves não acertou em cheio, mas chegou perto de sua premonição, exposta no chiqueiro ministerial do dia 22 de abril, de que governadores e prefeitos iriam ser presos.
É bom que os ministros do STF, que estariam desistindo de processar Abraham Weintraub, reflitam o que significa permitir que essa súcia fascista faça e aconteça, impune.
A era Sergio Moro torceu e deformou Ministério Público e a Polícia Federal e, agora, quem deles têm o controle é Jair Bolsonaro.
E, por trás deles, como uma sombra ameaçadora, Forças Armadas que estão usurpadas por um grupo de generais que se prestam a um papel jamais exercido por militares no Brasil: o de operarem como balconistas de cargos para dar a segurança ao presidente de que não haverá impedimento pelos meios legais, comprando um tampão de deputados que o evitem.
De outro lado, continua a operar, cada vez com menos disfarces, o SMI – “Serviço Miliciano de Informações” – dos Bolsonaro, com o “rachuncheiro” Flávio Bolsonaro dizendo que um ‘tsunami’ que está por vir contra o governo de Wilson Witzel, alegando que tem esta informação por um “papo de botequim”.
Papo de botequim, sabemos depois do vídeo da pocilga ministerial, costumam ser, nestes tempos, reuniões de governo.
O Estado brasileiro está inteiramente aparelhado pelo projeto estúpido-autoritário de Jair Bolsonaro e ninguém, seja quem for, está livre da ofensiva da máquina policial que, antes com Moro e agora com Jair, é quem define os rumos do país.
Do Tijolaço

NOTA DE PESAR PELA MORTE EM SÃO LUÍS DO FUTEBOLISTA BURITIENSE CHICO REGO


segunda-feira, 25 de maio de 2020

“BOLSONARO É MUITO MAIS ESTÚPIDO QUE TRUMP”, DIZ FINANCIAL TIMES

O populismo de Jair Bolsonaro está levando o Brasil ao desastrepor Gideon Rachman, no Financial Times.
Em uma visita ao Brasil no ano passado, conversei com uma importante financista sobre os paralelos entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Essa resposta me surpreendeu, pois o presidente dos EUA geralmente não é considerado um intelecto imponente.
Mas minha amiga banqueira foi insistente. “Olha”, disse ela. “Trump administrou um grande negócio. Bolsonaro nunca foi além de capitão do exército.”
A pandemia de coronavírus me lembrou dessa observação.
O presidente do Brasil adotou uma abordagem surpreendentemente semelhante à de Trump — mas ainda mais irresponsável e perigosa.
Ambos os líderes ficaram obcecados com as propriedades supostamente curativas da droga antimalárica hidroxicloroquina.
Mas enquanto Trump está apenas tomando o remédio, Bolsonaro forçou o Ministério da Saúde brasileiro a emitir novas diretrizes, recomendando o medicamento para pacientes com coronavírus.
O presidente dos EUA brigou com seus consultores científicos. Mas Bolsonaro demitiu um ministro da saúde e provocou a demissão de seu substituto.
Trump manifestou simpatia pelos manifestantes anti-bloqueio; Bolsonaro particiou de seus comícios.
Infelizmente, o Brasil já está pagando um preço alto pelas palhaçadas de seu presidente — e as coisas estão piorando rapidamente.
O coronavírus atingiu o Brasil relativamente tarde. Mas o país tem a segunda maior taxa de infecção do mundo e a sexta maior taxa de mortes por Covid-19.
O número de mortes no Brasil, responsável por aproximadamente metade da população da América Latina, agora está dobrando a cada duas semanas, em comparação com a cada dois meses no Reino Unido.
A composição econômica e social do Brasil significa que o país será severamente atingido à medida que a pandemia se acelera.
O sistema hospitalar em São Paulo, a maior cidade do Brasil, já está perto do colapso.
Com grande parte da população vivendo em condições precárias e sem poupança, o desemprego em massa pode levar à fome e desespero nos próximos meses.
Mas, é justo culpar Bolsonaro? O presidente, que assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2019, obviamente não é responsável pelo vírus — nem pela pobreza e precariedade que tornam a Covid-19 uma ameaça ao país.
Ele também não foi capaz de impedir que muitos governadores e prefeitos do Brasil imponham bloqueios em suas regiões.
Mas incentivando seus seguidores a desrespeitar os bloqueios e minando seus próprios ministros, Bolsonaro é responsável pela resposta caótica que permitiu que a pandemia saisse do controle.
Como resultado, os danos à saúde e à economia sofridos pelo Brasil provavelmente serão mais severos e mais profundos do que deveriam ter sido.
Outros países que enfrentam condições sociais ainda mais difíceis, como a África do Sul, tiveram uma resposta muito mais disciplinada e eficaz.
Se a vida fosse um conto de moralidade, as travessuras de coronavírus de Bolsonaro levariam o Brasil a se voltar contra seu presidente populista. Mas a realidade pode não ser tão simples.
Não há dúvida de que Bolsonaro está com problemas políticos. Seus índices de popularidade caíram e agora estão abaixo de 30%; cerca de 50% da população desaprova seu comportamento na crise.
O apoio que ele desfrutou dos conservadores tradicionais — que estavam desesperados para colocar no passado o Partido dos Trabalhadores, de esquerda — agora está desmoronando.
Sergio Moro, seu popular ministro da Justiça que luta contra a corrupção, renunciou no mês passado.
As alegações de Moro sobre os esforços do presidente para interferir nas investigações policiais foram suficientemente explosivas para provocar a Suprema Corte a abrir uma investigação que poder levar ao impeachment de Bolsonaro.
Mas o impeachment no Brasil é tanto um processo político quanto um processo legal.
Os delitos que levaram à remoção de Dilma Rousseff como presidente em 2016 foram bastante técnicos.
Foi mais significativo que Dilma Rousseff tenha atingido um índice de aprovação de 10% nas pesquisas e a economia sofrido uma recessão profunda.
As avaliações de Bolsonaro ainda estão muito acima do nadir de Dilma.
E, embora a economia esteja indubitavelmente caminhando para uma profunda recessão e um aumento no desemprego, sua retórica anti-lockdown pode lhe dar alguma proteção política.
Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, diz: “O que Bolsonaro quer fazer é se desassociar da crise econômica que se aproxima.”
As medidas de isolamento social que Bolsonaro contesta podem realmente ajudá-lo politicamente.
Poderiam impedir as manifestações em massa que deram o impulso para o impeachment de Dilma Rousseff.
E tornarão mais difícil para os políticos tramarem e negociarem nas proverbiais “salas cheias de fumaça” — um processo necessário para produzir um impeachment bem-sucedido. Tramar pelo telefone não é o mesmo.
Alguns políticos podem achar que mergulhar o Brasil em uma crise política é indecoroso, no meio de uma pandemia.
No entanto, a unidade nacional não surgirá enquanto Bolsonaro for presidente.
No estilo populista clássico, ele vive da política da divisão.
O Brasil já é um país profundamente polarizado, onde as teorias da conspiração são abundantes.
As mortes e o desemprego causados ​​pela Covid-19 são exacerbados pela liderança de Bolsonaro.
Mas, perversamente, um desastre econômico e de saúde poderia criar um ambiente ainda mais hospitaleiro para a política do medo e da irracionalidade.
Do Vi o mundo