sábado, 30 de maio de 2020

A PÓS-HISTÓRIA É O RETORNO A PRÉ-HISTÓRIA, POR FERNANDO BRITO

Ao final da era Reagan-Tatcher e do aparente triunfo final do liberalismo, vestido de neo, um de seus ideólogos, o norte-americano Francis Fukuyama, lançou a “obra magna” daquele período: O Fim da História.

O mundo, agora, era unipolar: caíra a União Soviética, o socialismo passara a ser unanimemente aceito como arcaico, o modo de produzir e de viver era o da democracia formal e o da tecnologia, suficientes para garantir bens e direitos em abundância e abolir as disputas sociais.

Em consequência, abolir as disputas políticas e os instrumentos pelos quais, até ali, elas se expressavam, os partidos e ideologias. Um e outro foram expurgados como velharias e progressivamente perdendo o sentido que tiveram, ao longo do século 20, como molas propulsoras do desenvolvimento social. O grito de Cazuza, em seu clássico Ideologia, eu quero uma pra viver é, com a sensibilidade dos poetas, o grito desesperado de uma geração – a minha – que assistiu ao enterro do que passou a ser quimera.

A história, porém, é como a Hidra grega, rebrota. A noite que passou, nos Estados Unidos assolados pela dor, pelo desemprego, pela súbita evidência de que o passado, de outras formas e com outras gerações, ressurge para que siga em frente a longa marcha da civilização.

Ou os protestos que percorreram, como um rastilho de pólvora, os Estados Unidos não são netos das marchas pelos direitos civis dos anos 60, que projetaram a figura heroica de Martin Luther King como símbolo da luta contra o racismo?

Mas, como o neoliberalismo e e seu ferramental de mídia destruíram partidos, ideologias e política, esta erupção explode sem direção, confusa, pronta para ser instrumentalizada contra seu próprio sentido, como ocorreu aqui, anos atrás.

Trump, não se iludam, vai agarrar-se à bandeira do restaurador “de lei e da ordem”, como aqui se agarram os defensores da “ordem sem progresso”.

A ânsia por civilização tem de ser combustível para a mudança, não desculpa para a barbárie.

PS: Não tinha visto ao escrever, mas a capa da Time é simplesmente o resumo da história, veja:

Do Tijolaço

0 comments:

Postar um comentário