Ao
final da era Reagan-Tatcher e do aparente triunfo final do liberalismo, vestido
de neo, um de seus ideólogos, o norte-americano Francis Fukuyama, lançou a
“obra magna” daquele período: O Fim da História.
O
mundo, agora, era unipolar: caíra a União Soviética, o socialismo passara a ser
unanimemente aceito como arcaico, o modo de produzir e de viver era o da
democracia formal e o da tecnologia, suficientes para garantir bens e direitos
em abundância e abolir as disputas sociais.
Em
consequência, abolir as disputas políticas e os instrumentos pelos quais, até
ali, elas se expressavam, os partidos e ideologias. Um e outro foram expurgados
como velharias e progressivamente perdendo o sentido que tiveram, ao longo do
século 20, como molas propulsoras do desenvolvimento social. O grito de Cazuza,
em seu clássico Ideologia, eu quero uma pra viver é, com a
sensibilidade dos poetas, o grito desesperado de uma geração – a minha – que
assistiu ao enterro do que passou a ser quimera.
A
história, porém, é como a Hidra grega, rebrota. A noite que passou, nos Estados
Unidos assolados pela dor, pelo desemprego, pela súbita evidência de que o
passado, de outras formas e com outras gerações, ressurge para que siga em
frente a longa marcha da civilização.
Ou
os protestos que percorreram, como um rastilho de pólvora, os Estados Unidos
não são netos das marchas pelos direitos civis dos anos 60, que projetaram a
figura heroica de Martin Luther King como símbolo da luta contra o racismo?
Mas,
como o neoliberalismo e e seu ferramental de mídia destruíram partidos,
ideologias e política, esta erupção explode sem direção, confusa, pronta para
ser instrumentalizada contra seu próprio sentido, como ocorreu aqui, anos
atrás.
Trump,
não se iludam, vai agarrar-se à bandeira do restaurador “de lei e da ordem”,
como aqui se agarram os defensores da “ordem sem progresso”.
A
ânsia por civilização tem de ser combustível para a mudança, não desculpa para
a barbárie.
PS:
Não tinha visto ao escrever, mas a capa da Time é simplesmente o resumo da
história, veja:
Do Tijolaço
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