segunda-feira, 3 de maio de 2021

É HORA DE PARTIR PARA A JUGULAR DO CARRASCO MOR! DE PAULO NOGUEIRA BATISTA JR, POR FERNANDO BRITO

Há cerca de um mês, escrevi aqui nesta coluna que o governo Bolsonaro estava nas cordas e poderia até cair. Alguns acharam que era delírio e que eu confundia a realidade com meus desejos. Em outras palavras, acusaram-me de wishful thinking, como se diz em inglês.

No entanto, o que aconteceu desde então parece confirmar o que escrevi: o governo está cambaleando e corre realmente o risco de não chegar até o fim do seu mandato. Bolsonaro vive o seu pior momento.

Os fatores fundamentais do enfraquecimento recente do governo são conhecidos. Destacaria o atraso e os embates na aprovação do orçamento de 2021, que provocaram verdadeira crise política, desgastaram o ministro da Economia e devem ter deixado um rescaldo de desconfiança entre o governo e a sua base parlamentar. Mais importante do que isso: as vitórias sucessivas de Lula no Supremo, que reforçaram dramaticamente o principal adversário político de Bolsonaro.

Mas o que pesa, sem dúvida, acima de tudo, é a criação da CPI da Covid no Senado, com composição desfavorável ao governo e Renan Calheiros na relatoria. Bolsonaro está visivelmente apavorado com o que pode sair dessa CPI. Pode ser a antessala do impeachment.

Não vamos nos enganar, entretanto. O governo não está morto! Tem muitos instrumentos de poder. E pode até se recuperar. Espero que os adversários políticos de Bolsonaro não cometam o erro que cometeram os adversários políticos de Lula em 2005. O leitor lembra do que aconteceu? Lula estava no seu ponto mais baixo com o escândalo do “mensalão”. O seu braço político principal, José Dirceu, teve que deixar o governo. Lula parecia liquidado.

Os seus adversários decidiram, se bem me recordo, não levar o impeachment adiante. Tinham medo do vice de Lula, José Alencar, que era um crítico ferrenho do sistema financeiro e dos juros altos. Alencar, embora empresário, estava à esquerda de Lula em matéria de política econômica. Melhor então deixar o Presidente sangrar até o fim do governo e derrotá-lo nas urnas em 2006.
Felizmente, Lula se recuperou e venceu Alckmin no segundo turno das eleições daquele ano. Partiu daí para um segundo período de governo que, contrariando a regra da “maldição do segundo mandato”, foi muito melhor do que o primeiro. Lula deixaria o governo em 2010 consagrado, com altíssimos índices de aprovação. Elegeu, sem grandes dificuldades, a sua sucessora, Dilma Rousseff, uma tecnocrata desconhecida do grande público. O povo queria votar na “mulher do Lula”. E votou.

Uma recuperação semelhante não poderia acontecer com Bolsonaro? Política é o reino da imprevisibilidade. Mas imaginem o seguinte cenário, que não é implausível. Com o avanço da vacinação no segundo semestre de 2021, a situação da epidemia começa a se normalizar e a economia se recupera um pouco. Bolsonaro pode então começar a cantar vitória de novo. Não vamos esquecer que o povo brasileiro tem expectativas bem rebaixadas, modestas mesmo. Pouco ou nada espera dos seus governantes. E outra: é preciso reconhecer que Bolsonaro, por detestável que seja, sabe falar a linguagem popular. Só há dois políticos de destaque no momento que sabem, de fato, falar com o povo. Lula e, infelizmente, Bolsonaro.

Por isso, é que digo e repito: é hora de partir para a jugular! Liquidar, ou começar a liquidar, este governo nocivo, destrutivo, antinacional e antipopular no seu momento de maior fraqueza, isto é, nos próximos, digamos, 3 ou 4 meses. E não me venham falar em “golpe”. Este governo, cometeu crimes de responsabilidade em série. Motivos para o impeachment, dentro da Constituição e da lei, são abundantes. Nunca um governo deu tantas razões para ter o seu mandato interrompido.

Falta o povo nas ruas? Então, vamos para a rua! A revolta é tanta, que muitos atenderão um chamado para a mobilização. Não podemos ficar em casa, acovardados, com medo da pandemia, assistindo passivamente o País ser destroçado.

Há motivos para temer o vice de Bolsonaro? Dizem alguns que o vice é “tóxico”. Mas não creio que ele ofereça perigo remotamente comparável ao que representa a continuação de Bolsonaro na Presidência. Mourão não foi eleito, não tem carisma, não tem liderança. Será provavelmente um presidente fraco, que se limitará a conduzir o país, em cenário de menos tumulto, até as eleições de fins de 2022. Posso, claro, estar redondamente enganado. Mas não creio.

Teme-se, também, que Mourão na Presidência venha a favorecer uma candidatura da direita tradicional, atualmente denominada de “terceira via”. Esse candidato da direita não-bolsonarista, o falso “centro”, teria provavelmente apoio de um governo federal presidido por Mourão. Mas e daí? Melhor Lula enfrentar um candidato desses, razoavelmente civilizado, do que correr o risco de perder para Bolsonaro.

O leitor lulista dirá: mas Lula é o favorito, Bolsonaro estará muito desgastado, Lula vencerá as eleições no segundo turno de qualquer maneira etc. Pode bem ser. Mas é um risco que não devemos correr! A reeleição de Bolsonaro talvez seja mesmo um evento de baixa ou média probabilidade – e mesmo isso é discutível – mas, em caso de materialização desse risco, o resultado é catastrófico para o País. Mais quatro anos de inépcia, ideias retrógradas, falta de projeto, perversidade e destruição do Estado, da sociedade brasileira e da própria Nação. Esse é o tipo de risco que não podemos correr.

E tem mais o seguinte: quem quer assistir mais um ano e 8 meses de destruição, patrocinada por Bolsonaro e sua equipe de quinta categoria? Os primeiros dois anos e quatro meses já mostraram do que são capazes. Já não é suficiente?

Uma conjectura para terminar. A direita tradicional, que se apresenta como “terceira via”, só parece viável como segunda via. Tudo indica que o falso “centro” só é competitivo nas eleições de 2022 se Bolsonaro ou Lula saírem do páreo. Lula não conseguem mais tirar. Mas é uma ilusão imaginar que a turma da bufunfa já se conformou com nova presidência de Lula. Até aceitarão, se não houver remédio. Mas querem trabalhar outra candidatura, acredito.

Os cálculos eleitorais da direita não-bolsonarista favorecerão o impeachment? Que assim seja.

Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista “Carta Capital” em 30 de abril de 2021. O autor é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata. A segunda edição, atualizada e ampliada, começou a circular em março de 2021. E-mail: paulonbjr@hotmail.com;Twitter: @paulonbjr;Canal YouTube: youtube.nogueirabatista.com.br; Portal: www.nogueirabatista.com.br

Tijolaço.

domingo, 2 de maio de 2021

A FOLHA DE SÃO PAULO DIZ POR QUE GUEDES É TRATADO COMO ‘MENOS IMBECIL’? POR FERNANDO BRITO

A ombudsman da Folha, Flávia Lima levanta, sem ponto de interrogação à questão, e diz que é por quê “a cobertura que a imprensa faz de Paulo Guedes ainda é, no estilo e no tom, diferente daquela feita sobre as falas da ministra Damares Alves, ou do ex-ministro Abraham Weintraub”, foi assim que traduzi na pergunta aí do título.

E a resposta, de uma imensa obviedade, é a de que o extinto Posto Ipiranga sustenta, afinal, o “não-programa econômico” que, desde Fernando Henrique Cardoso, da direita brasileira: o “polidesmonte” do país.

Guedes é um “fundamentalista” do primarismo que ataca, por todos os lados, a única possibilidade que tem o Brasil de construir seu destino: é incluir, assistir, educar, criar, transformar o que poderia ser um dos maiores mercados de consumo do planeta associado a uma capacidade de produzir e, assim, gerar trabalho e renda que sirvam de combustível a tudo o que se listou.

A história é sempre a mesma: “o Estado atrapalha”, “a iniciativa privada faz melhor”, “para que produzir se é mais barato comprar” e outros simplismos do gênero, tratados como “verdades auto-explicadas”.

A rigor, o único objetivo econômico do país não é sequer o “ajustar as contas públicas” que se apregoa tanto, mas o de responder com cortes irracionais (além de desumanos) à perda de capacidade de gerar renda pública crescente do Brasil e, continuar com o processo de alienação de patrimônio palpável (privatização do que há) e potencial (concessões do que está maduro para ser) com a desculpa (sim, sempre verdadeira na penúria) de que não há aqui capitais para o investimento necessário.

É o moto contínuo do atraso e da pobreza, a vocação de gerente de um entreposto colonial que há séculos domina os grupos dominantes do Brasil.

Paulo Guedes não está fazendo nada que não seja cometer o crime de expressar com clareza o pensamento ridículo que habita, em silêncio ou travestido de fórmulas em “economês”: o de que somos o país onde as “regalias aos pobres” atravanca o desenvolvimento econômico: ora são os encargos sociais “no cangote” do empresário, ora é a doméstica que ia à Disney, agora o filho do porteiro na universidade.

A solução, genial, é o “ticket” da Saúde, para ir ao Sírio e Libanês e o “ticket” educação, que poria os filhos dos pobres na PUC.

A capacidade asnática de Guedes só não é maior do que a de uma elite que o sustenta.

Tijolaço.

 

"COMO O BRASIL FOI TOMADO POR IGNORANTES, MENTECAPTOS, OLIGROFRÊNICOS E BURROS DE TODO TIPO?" DIZ MÁRCIA TIBURI

A professora de Filosofia lembra que o país, com "intelectuais geniais e gente inteligente, culta e democática", é governador por "espantalho descerebrado".

(Foto: Mídia NINJA)

A professora de Filosofia Márcia Tiburi disse estranhar a razão pela qual o Brasil “foi tomado por ignorantes, mentecaptos, oligofrênicos e e burros de todo tipo."

A manifestação foi no Twitter (abaixo). "Para animar o domingo:como um país com intelectuais geniais em tantas áreas, um país de gente inteligente, culta e democrática, foi tomado por ignorantes, mentecaptos, oligofrênicos e burros de todo tipo? Como o Brasil se deixa governar por um espantalho descerebrado? Pensemos juntos!”.

A declaração foi tomada no mesmo dia em que o Washington Post diz que o Brasil recebe pouca ajuda para enfrentar a pandemia por causa dos insultos de Jair Bolsonaro a outros países.

A resposta aos pedidos de ajuda do Brasil "tem sido basicamente um encolher de ombros, uma crítica aos erros do Brasil – e uma ação limitada , até agora”.

Uma possível resposta ao tuíte de Márcia Tiburi é a ação organizada da velha imprensa para construir o ódio contra Lula e o Partido dos Trabalhadores.

Na véspera da eleição de 2018, o jornal O Estado de S. Paulo publicou editorial em que afirma que votar em Haddad ou Bolsonaro era “uma escolha muito difícil”.

Haddad era um professor universitária com atuação aprovada como ministro da Educação e uma administração municipal que elevou a cidade de São Paulo a grau de investimento.

Bolsonaro tinha quase 30 anos de atuação na Câmara dos Deputados e apenas dois projetos aprovados.

Tinha se destacado por manifestações agressivas em relação a mulheres e homossexuais.

Hoje o jornal volta a atacar Lula, e o considera símbolo da corrupção, embora se saiba que foi processado e julgado por um juiz incompetente, suspeito e parcial, conforme o Supremo Tribunal Federal - STF julgou recentemente.

Brasil 247.

sábado, 1 de maio de 2021

DIZ UM CERTO OBSERVADOR DO ALATO DE UM AVIÃO. “É POUCO, MAS É MEU”, POR FERNANDO BRITO

Não são tão poucos que permitam à direita convencional aspirar a aparecer com outra solução, nem tantos que possam manter o país na insensatez em que está mergulhado.

A quantidade de manifestantes bolsonaristas pró-golpe que se reuniu hoje em algumas capitais mostra que, petrificada pelo ódio fundamentalista e por um fanatismo religioso medieval, mostra que, o “núcleo duro” do bolsonarismo está longe de desaparecer.

Jair Bolsonaro, do alto do helicóptero das Forças Armadas, criam, está satisfeito como um pecuarista ao observar seu rebanho. Mingua, é fato, mas está marcado, amansado, obediente a seu berrante presidencial, seja qual for a loucura que diga.

Estão convencidos de que o comunismo está à porta, que a pandemia é ideológica, que a China está por invadir-nos e que Messias, o Bolsonaro, é o enviado de Deus.

Seu caminho é o da radicalização e a intolerância é seu estandarte.

Não existe a possibilidade de uma saída pela “não -polarização, pois a polarização está dada pelas forças que hoje dominam o poder político no país.

Tornou-se impossível – e as camisetas “100% Bolsonaro” o demonstram – ser “meio-bolsonarista”.

Como a ensinar que, para haver aqui um capitalismo selvagem, é preciso de selvagens no poder.

É por isso que vai se desfazendo a perversa e mortal armação que se fez para tirar o Brasil do caminho da razão.

Não há razão possível quando se desperta uma turba de insanos.

Não há terceira via possível a isso.

Tijolaço.

QUAL A SITUAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA NESTE 1º DE MAIO? POR MICHELE DE MELLO

Terceirização, uberização e desmonte das leis laborais conquistadas no século XX marcam o cenário atual.

Desemprego e informalidade são as duas realidades mais comuns para os trabalhadores durante a pandemia - Folha Litoral.

Primeiro de maio, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora mais do que um feriado, carrega um histórico de luta por direitos. Ao invés de celebrar, neste 2021, a classe trabalhadora tem ainda mais motivos para reivindicar. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), durante o último ano de pandemia, houve uma redução de 8,8% nas horas trabalhadas, o que representa a perda de 255 milhões de empregos de tempo integral ao redor de mundo, quatro vezes mais do que em 2019.

Nos primeiros quatro meses do ano, a tendência se manteve, com a diminuição de 3% das horas trabalhadas em todo o planeta, equivalente a 90 milhões de empregos.

No Brasil a situação não é diferente, o país entra em 2021 com uma taxa de desemprego de 14,2%, quase 14 milhões de desocupados, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para aqueles que ainda possuem alguma renda, a informalidade foi a saída.

Cerca de 34 milhões de trabalhadores, quase 40% da população economicamente ativa do Brasil, está no setor informal. São as pessoas que fazem bico, diaristas, ambulantes, pessoas que trabalham como freelancer, entre outras.

“A gente chega nesse 1º de maio, a nível mundial, com uma situação de bastante debilidade da classe trabalhadora do ponto de vista estrutural.  Algo que vem de um processo mais amplo de erosão do trabalho assalariado”, analisa o sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Festi.

RETROCESSOS

Na última terça-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro editou uma nova Medida Provisória autorizando a suspensão dos contratos de trabalho por até quatro meses, o adiamento do pagamento do fundo de garantia (FGTS) e a diminuição dos salários em até 70%. Em 2020, com uma MP similar, 1,5 milhão tiveram os salários reduzidos e 9,8 milhões os contratos suspensos.

A socióloga Tábata Berg identifica que a precarização se expressou um tripé: terceirização, uberização e desmonte das leis trabalhistas.

“A gente tem um desmonte progressivo da CLT, com propostas de reformas trabalhistas cada vez mais duras. Essa é a realidade para os trabalhadores em todo o mundo, mas é ainda mais perverso nesse contexto, com um contingente significativo de trabalhadores que nunca experimentaram direitos sociais e direitos trabalhistas”, aponta a também pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Trabalho informal é realidade para 39,6 milhões de brasileiros em 2021, segundo IBGE / Governo Santos.

DESIGUALDADE 

Se o panorama geral é negativo, ao fazer um recorte de gênero e raça é possível perceber que o cenário pode ser ainda pior. As mulheres negras são 60% da população desempregada, segundo o IBGE. Também são as que passam mais tempo buscando emprego, 24% de 3 a 6 meses, e 18% passaram até um ano.

Além disso, são as piores remuneradas, uma mulher negra ganha em médio R$10,95 por hora, enquanto as mulheres brancas ganham cerca de R$18,15 por hora trabalhada, já os homens brancos tiveram uma média de R$20,79 de remuneração, segundo levantamento de 2020 do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese).

Entre a juventude, quase um terço dos jovens brasileiros estão desempregados e 78% possui baixos salários ou contrários temporários.

A falta de renda gera uma reação em cadeia, com o aumento da fome da pobreza. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), 118 milhões de mulheres latino-americanas passaram a viver em situação de pobreza em 2020 – maior índice dos últimos 20 anos.

O Brasil voltou a fazer parte do mapa de fome da ONU, quase 60% dos lares brasileiros realizam menos de três refeições ao dia, com 125,6 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.

Categoria de entregadores de aplicativos se mobilizou em diversas capitais e cidades brasileiras durante Breque dos Apps em julho de 2020/Jaqueline Deister.

MOBILIZAÇÃO

A devastação gerada pela pandemia no mundo do trabalho exigiria ainda mais radicalidade dos sindicatos e outras formas de organização da classe nesse 1º de maio. No entanto, o descontrole dos contágios e a alta letalidade do vírus no Brasil, impedem a realização de grandes manifestações de rua.

Para esse ano, as centrais sindicais convocaram debates online com o lema “a vida primeiro”.

Para ambos sociólogos, o panorama dramático se agrava com a crise econômica iniciada em 2018 e com ascensão de governos de extrema direita.

E desde então os setores mais precarizados tem dado o ritmo das agendas de luta. No Brasil, em outros países da América Latina e na Europa, os entregadores por aplicativo realizaram mobilizações massivas e, em alguns lugares, conquistaram melhores condições de trabalho.

Movimento dos Sem Teto realizou uma manifestação em São Paulo, na última sexta-feira (30), para denunciar as 400 mil mortes por covid-19 no Brasil / MTST.

“A gente tem um contexto de avanço da extrema direita, mas também tem muitos focos de luta, como os entregadores em todo o mundo têm se organizado e conseguido vitórias importantes. As lutas dos trabalhadores e trabalhadoras nesse 1º de maio vai ser diferente do século XX e já começa a se desenhar esse perfil”, aponta Tábata Berg.

Para Ricardo Festin, é importante retomar o trabalho de base e o diálogo entre o movimento sindical, social e estudantil para enfrentar o desmonte da concepção de trabalho consolidada nas décadas anteriores.

“É necessário pensar um novo programa que dê conta nesse novo mundo do trabalho, que supere uma nostalgia fordista. Como vamos pensar direitos sociais, políticos, que não retorne as formas de intensificação e exploração da classe trabalhadora. Como vamos atender as maiorias que são minorizadas”, conclui.

Brasil de Fato.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

1° DE MAIO CONTRA O GENOCÍDIO, A FOME, O DESEMPREGO E A DESTRUIÇÃO NACIONAL

19 milhões de irmãs e irmãos passam fome, enquanto Paulo Guedes achincalha trabalhadores e Bolsonaro compra o "centrão".

O desemprego atinge mais de 14 milhões de pessoas, em sua maioria mulheres e negros – Reprodução.

Por R$ 600 de auxílio para toda pessoa sem renda, vacina e distanciamento social para barrar o morticínio. Mais de 400 mil pessoas mortas. O desemprego atinge mais de 14 milhões de pessoas, em sua maioria mulheres e negros.

Mais de 28% da força de trabalho encontra-se subutilizada e mesmo entre as pessoas com ocupação remunerada, 39,5% estão na informalidade.

Parcelas significativas sobrevivem como podem, a exemplo do que acontece no nosso querido Nordeste onde 31% trabalham por conta própria, sem as garantias constitucionais mínimas. 

A fome voltou a humilhar e aterrorizar nossa gente. 19 milhões de irmãs e irmãos passam fome, enquanto Paulo Guedes achincalha trabalhadores e Bolsonaro compra os partidos do "centrão". 

Segundo levantamento do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça mais de 125 milhões de pessoas sofreram com a insegurança alimentar durante a pandemia.

O desespero toma conta das famílias, violentadas pelo aumento insuportável da carestia, principalmente dos preços dos alimentos. 44% das pessoas deixaram de comer carne. O preço proibitivo do botijão de gás força milhões aos riscos de queimaduras com uso de fogo a lenha.

O resultado da carestia é fome, desnutrição, endividamento, humilhação. 

O auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pela oposição em março de 2020 permitiu por alguns meses do ano passado que famílias e pequenos negócios se sustentassem na crise agravada pela pandemia.

Mas o austericidio do governo fiel ao dogmatismo da Faria Lima pelo teto de gastos cortou o auxílio, jogando milhões de pessoas e milhares de pequenas empresas à própria sorte. 

:: No Rio, ação de solidariedade vende gás a preço justo para moradores de ocupações ::

A retomada de um auxílio miserável de R$ 250 está longe de ser suficiente para aliviar essa ferida aberta da fome, da insegurança alimentar, do desemprego e da quebradeira das empresas. 

Bolsonaro e seus apoiadores do "centrão" e do capital financeiro atuam juntos no desfazimento do tecido social brasileiro.

O desmonte do Estado e os sucessivos cortes de gastos públicos fazem a festa de um punhado de rentistas e de novos bilionários, enquanto a maioria da população desce a escada do empobrecimento e da miséria, na escalada das desigualdades sociais. 

A sabotagem de Bolsonaro às orientações da ciência diante da pandemia e sua política de destruição nacional para atender aos interesses do capital financeiro produzem caos, angústia e pânico. 

:: Filhos de porteiros que estudaram graças a Fies e Prouni rebatem Guedes: "Absurdo" ::

Diante dessa tragédia humanitária é fundamental apontar um caminho que restabeleça a esperança do nosso povo, dessa brava gente que vive do seu próprio trabalho e que muitas vezes foi enganada pelas manobras, campanhas e golpes dos agentes da Faria Lima e de Wall Street.

As lutas unitárias neste 1° de Maio precisam apontar nesse sentido. A urgência é pelo auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia, pela vacina para toda a população, pelo emprego e socorro aos pequenos negócios e por políticas públicas que garantam distanciamento social e impeçam aglomerações.

Essas medidas emergenciais unem as principais centrais sindicais neste dia internacional da classe trabalhadora.

As lutas para derrotar a extrema direita, o neoliberalismo e a continuidade da destruição nacional levada a cabo pelo governo Bolsonaro unem, também, partidos, centrais, movimentos e organizações das Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. Fora Bolsonaro. 

Que esse 1° de Maio nos sirva para refletir sobre a necessidade de um projeto unitário de reconstrução nacional que passa por descriminalizar os gastos e investimentos públicos, revogando o teto de gastos; fortalecer a atuação do Estado na economia a fim de promover pleno emprego,  combater desigualdades e planejar a reindustrializacão do Brasil modelada pelas carências do nosso país e da nossa gente e que rejeite a devastação ambiental e a agressão aos povos indígenas; restituir os direitos sociais, trabalhistas, previdenciários e sindicais golpeados depois do impeachment de 2016; promover a progressividade tributária com impostos sobre fortunas, altas rendas e patrimônios; promover uma agressiva política de investimentos em ciência, pesquisa e inovação tecnológica a serviço do bem estar da humanidade; fim das privatizações, fortalecimento das empresas públicas e forte atuação dos bancos públicos na garantia de crédito para pequenos produtores; reverter o desmonte da Petrobras e todos os retrocessos operados pela Lava Jato em conluio com o Departamento de Estado norte-americano. 

Esses e outros elementos de um projeto unitário precisam ser debatidos pela classe trabalhadora e suas organizações. Enquanto desenvolvemos nossas lutas em 2021 pelas urgências e necessidades mais sentidas pelo nosso povo, devemos buscar construir os laços e caminhos para derrotar a extrema direita e o neoliberalismo, nas redes, nas ruas e nas urnas.

Com a consciência dos corpos femininos, negros, indígenas, LGBTQI+ que compõem nossa diversidade com singularidades. Mas, sobretudo, com a consciência de classe daqueles e daquelas que nada mais dispõem a não ser a sua força de trabalho.

Pela vida, democracia, soberania e igualdade. Viva a classe trabalhadora. Viva a autodeterminação dos povos. Viva o 1° de Maio!

Brasil de Fato.

O FILHO DO PORTEIRO E PAULO GUEDES O SERVIÇAL DA ELITE, POR FERNANDO BRITO

Mais um “vazamento” do pensamento sincero do sr. Paulo Guedes mostra nas mãos de que tipo de gente estamos.

Mais um trecho de seu ‘momento botequim” do ministro na reunião quer teve com representantes dos planos de saúde. desta vez dizendo que “o filho do porteiro” teve direito ao Fies – fundo de financiamento ao ensino universitário – mesmo ‘tirando zero no vestibular”, que foi transmitida sem o seu conhecimento e da qual ele se defende como sendo “um momento infeliz”.

Não foi. Guedes é isso, um escravocrata, um remanescente do Brasil censitário, onde o direito das pessoas vem do berço ou da esperteza.

Do Brasil das castas, aquele que desprezam os trabalhadores e que creem que seus filhos são inferiores e que só podem progredir por truques e falcatruas.

Talvez creiam nisso por identificá-lo em suas próprias trajetórias.

Não ocorreu a Guedes atacar o ensino universitário privado por baixa qualidade, por sua ênfase – já na fase pré pandêmica – à virtualização do ensino, pela falta de espaço à discussão acadêmica e a produção de conhecimento, e por sua absoluta adequação à reprodução dos sistemas empresariais de treinamento de mão de obra, traduzidos na expressão “empregabilidade” com que “qualificavam” a formação superior, ainda que este “superior” contenha um imenso grau de ironia.

É preferível falar que isso acontecia apenas porque era para “o filho do porteiro”, aquele guri pobre que, enquanto é pequeno ainda recebe alguns doces, mas quando crece vira suspeito em potencial de tudo o que de mal ocorre no prédio.

O filho do porteiro segue sendo persona non grata no Brasil dos Guedes: é o que não se quer ver nos shoppings, no aeroporto, nas praias, na Universidade.

O Fies, em 2014, financiou a educação de 732 mil jovens. Em 2020, foram apenas 100 mil. Entre os 632 mil excluídos, quantos foram os filhos de porteiro?

E de tantas outras profissões do povão e de tantas famílias de classe média que não tinham como arcar com os preços do ensino superior.

A universidade pública também é maldita por ele que, devendo sua formação a uma delas, reproduz o discurso de Abraham Weintraub – hoje pendurado num cargo público milionário – de que ela é um antro de sexo e drogas: ” “Paulo Freire. Ensinando sexo para criança de 5 anos. Todo mundo… maconha, bebida, droga. Dentro da universidade.”

Paulo Guedes é um decrépito que torna decrépito um país. Habita, com todos os seus diplomas de Chicago, povoar a calçada de botequim que virou o governo brasileiro.

E cairá, de podre, como podre é.

Tijolaço.

400 MIL CULPAS PARA EXPIAR, POR FERNANDO BRITO

Não é notícia, porque era óbvio.

Nem por isso, é menos apavorante que tenhamos chegado a 400 mil mortes, um quarto delas acontecida nos últimos 36 dias.

O número de vidas perdidas no Brasil já é igual ao que países beligerantes na 2ª Guerra Mundial, como a Itália e o Reino Unido, somados os civis e militares.

Infelizmente, fomos levados a um ponto onde não choca mais a sociedade quantidade de mortos que merece esta comparação destas.

Temos um país menos humano, menos solidário, mais “e daí?” para nossos irmãos e irmãs que se foram sem direito sequer a sentir sua mão apertada pela última vez.

Quem achar pieguice, pense no que seria com seu parente, com seu amigo, com ele próprio.

Mas não basta a dor, porque este crime não terminou, está em curso e num curso vertiginoso de perto de 2,5 mil vidas por dia.

E é preciso, se não é por humanidade, ao menos por medo das consequências que terá o negacionismo que rege o País, parar os que estão levando o país a pagar um sobrepreço inaceitável em mortes.

São muitos, mas todos agem sob a inspiração de um: Jair Messias Bolsonaro.

É por ele que generais covardes se vacinam às escondidas, que médicos obtusos despejam cloroquina e ivermectina nos seus pacientes, que gente insensível propaga o “vem pra rua”, que ladrões abomináveis desviaram dinheiro público destinado a assistir a população.

A CPI da Covid não pode ser tratada – e parece que não vai – como um inventário frio de erros e acertos. Não é um “equívoco” deixar uma pessoa morrer e não pode ser deixar-se que morram centenas de milhares.

Não precisa ser um Nuremberg; precisa ser mais, porque a abominação que examina não está derrotada, como o nazismo estava ali, com seus milhões de mortos às costas.

O monstro de hoje está vivíssimo. E perigosíssimo.

Tijolaço.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O QUE VALE PARA DANIEL SILVEIRA VALE PARA O GENERAL DO CLUBE MILITAR? POR FERNANDO BRITO

Não é porque um dia envergou a farda do Exército Brasileiro que um sujeito adquire imunidade para falar asneiras e brandir o rebenque no rosto dos cidadãos deste país.

O que o senhor Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, diz em artigo que publica na página da entidade é uma vergonha, sobretudo, para as Forças Armadas, porque as iguala a uma seita fundamentalista das mais irracionais, inadmissível em instituições públicas, que devem representar todos os brasileiros e não alguns que professam um credo que os divide em anjos e demônios.

O senhor Barbosa se pretende um pregador político-religioso e vai além, partindo para uma imitação inaceitável do que fez o deputado Daniel Silveira, o brutamontes que acaba de ser transformado em réu por agressão aos poderes da República.

Exagero?

O texto – onde Barbosa usurpa o direito de opinião de seus colegas, ao chamá-lo de “Pensamento do Clube Militar “, sem que, ao que se saiba, não tenha sido coletivamente aprovado – começa com declarações que parecem extraídas das prédicas de Edir Macedo ou Silas Malafaia: “O Brasil é “a Pátria do evangelho! Natural, portanto, que o poder das trevas queira destruir nossa Nação” e que ” bastou a eleição de um Presidente que acredita em Deus para que todo o inferno se levantasse contra ele.”

De onde tirou o Sr. Barbosa o direito de chamar de integrantes do “inferno” os que se opõem a Jair Bolsonaro?

Em seguida, compara a “Marcolas e Fernandinhos beira mar (sic)” os senadores que comandam a CPI da Covid – que, para ele, se destina a “culpar o Presidente por aquilo que não o deixaram fazer. Ou por não usar as máscaras utilizadas por alguns para se esconder da população”. Detalhe, identifica-os sem dar seus nomes, covardemente, para não tomar o merecido processo no lombo.

Chama a população de covarde por aceitar “o cerceamento de suas liberdades pétreas passivamente” e a imprensa, por noticiar “fake news”, donde que pode intuir que verdades vêm é dos gabinetes do ódio e das falanges que as propagam.

Diz ainda que acovardam-se os senadores, “por conveniência de terem seus processos engavetados, são nossos Senadores que não iniciam processos contra aqueles Ministros que cometem crimes de responsabilidade, como escrito na Constituição oficial vigente (sic)“, referindo-se ao impeachment dos ministros do STF pedido por bolsonaristas e sugerido pelo próprio Presidente.

E, ao fim, incita a um golpe invocando o artigo 142 da Constituição Federal que, é claro, não tem nenhuma previsão de intervenção militar no Legislativo e no Judiciário: “se neste cenário atual, o Poder Executivo, único dos três poderes que está sendo obrigado a seguir a constituição a risca, que utilize o Art. 142 da Constituição Federal (vigente) para restabelecer a Lei e a Ordem.”

Fazendo o tipo “valentão covarde”, tão em voga nestes tempos, diz que de deve parar de usar algemas “nos trabalhadores que querem ganhar o sustento dos seus lares” (o que só a sua cegueira vê, e se as passe a utilizar “nos verdadeiros criminosos que estão a serviço do Poder das Trevas.”

Quem são, general? Fale os nomes, para que eles possam interpelá-lo na Justiça, ou seu destemor não vai a isso? Daniel Silveira, ao menos, teve a coragem de fazê-lo.

Aguarda-se a ação da Procuradoria Geral da República: vão dar ao general reformado o mesmo tratamento que teve o “brucutu”? Ou a noção de República do sr. Barbosa não é a de que os cidadãos são iguais perante a lei e o seu pijama lhe dá direitos quase divinos sobre os outros, inclusive o de ofender e xingar e ameaçar as instituições?

Tijolaço.

OS CONFLITOS ENTRE A ESQUERDA E A NOVA DIREITA PROGRESSISTA, POR LUIS NASSIF

Ontem à noite, o discurso do presidente Joe Biden foi a pá de cal no modelo de desmonte do estado norte-americano, iniciado na era Reagan.

Ontem à noite, o discurso do presidente Joe Biden foi a pá de cal no modelo de desmonte do estado norte-americano, iniciado na era Reagan.

Fio uma inversão completa nos objetivos da política econômica, algo que nem Barack Obama – mais à esquerda – conseguiu. Não mais foco em Wall Street, mas na classe média, que construiu os Estados Unidos. Defesa dos pobres, das crianças, do aumento do salário mínimo, da economia verde, da solidariedade nacional, da proteção às famílias, da universalização da educação. Ao mesmo tempo, o chamamento para a compra de produtos americanos e para a mobilização do país para a disputa tecnológica e econômica com a China.

É um capítulo a mais, e o mais significativo, da mudança radical do ultraliberalismo que dominou o mundo nos últimos 40 anos.

Enquanto Biden alertava para o custo da saúde nos EUA, Paulo Guedes propunha a privatização do SUS em encontro fechado.

Os reflexos sobre o Brasil se darão em cima de dois grupos, ambos disputando as chamadas pautas progressistas: a esquerda progressista, que tem como base o PT; e a nova direita progressista, um grupo de pessoas de boa vontade, que tenta empoderar o centro-direita com teses politicamente corretas, tentando reescrever um liberalismo menos selvagem, mas mantendo a hegemonia do mercado. 

Em muitos pontos, há concordância, especialmente nas proposições de boa vontade. O conflito surge nos temas em que se exteriorizam disputas de poder e pelo orçamento.

OS PONTOS DE CONFLITO

Sindicatos

Setores modernos no país ainda não entenderam o papel essencial dos sindicatos no fortalecimento dos setores em que atuam. A rigor, apenas o pai do neoliberalismo brasileiro – Fernando Collor – deu-se conta da relevância dos grandes pactos setoriais, entre empresas, sindicatos, fornecedores, nas câmaras setoriais que criou.

Muitos setores embarcam em um paradoxo suicida: aceitam mudanças que podem trazer benefícios individuais a cada empresa, sem se dar conta das perdas para o setor em geral, pela superficialidade das análises.

Nos Estados Unidos houve o enfraquecimento gradativo dos sindicatos. Quando teve início a transferência da produção para a China, os industriais americanos não tinham aliados para impedir a sangria. Daí a ênfase do novo presidente Joe Biden, no re-fortalecimento do movimento sindical como parte de um esforço geral de recuperação do mercado e da produção interna americana.

Por aqui, ocorreu o mesmo fenômeno. Até alguns anos atrás, era possível acompanhar pactos entre a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) com centrais sindicais, especialmente na crise de 2008. Com a ascensão do governo Temer teve início o desmonte da estrutura sindical. E as indústrias perderam seus grandes aliados.

Da parte das esquerdas, há dificuldade dos sindicatos em entender a nova ordem e definir alianças horizontais fora da bolha, ou em mudar o modelo de atuação para abrigar os setores informais da economia. Ou mesmo em mudar as regras de disputa para abrir espaço para uma co-gestão com outras forças, inclusive de oposição.

EDUCAÇÃO PARTICIPATIVA

No final do segundo governo Lula, as Conferências Nacionais produziram alguns ensaios de pactos que poderiam ter mudado a história do país. Um deles foi o pacto pela educação, no qual ONGs empresariais, movimentos sociais, sindicatos de professores, associações de secretarias de educação começaram a formar um consenso que poderia consolidar um futuro partido da educação – como existe o partido da saúde, suprapartidário.

Aceitava-se que os professores tinham que ter melhores salários, melhores condições de ensino e, a partir daí, serem avaliados e cobrados. Depois, se diluiu e a centro-direita educacional tucana se curvou ao estilo yuppie autoritário de Maria Helena Guimarães, e sua suposta racionalidade gerencial. É impossível qualquer política de qualidade – em empresas, ou em setores sociais – sem a participação dos que entregam o produto final.

O apoio da nova direita progressista ao enquadramento da educação em atividade essencial – diluindo a influência dos sindicatos e até o exercício da greve – é o indício mais evidente dessa miopia típica do gerencialismo burocrático. Nenhuma empresa, pública ou privada, consegue implementar programas de qualidade sem conquistar coração e mentes dos trabalhadores da ponta.

Da parte das esquerdas, ainda há uma enorme resistência aos sistemas de avaliação.

GERENCIALISMO BUROCRÁTICO

Um exemplo simples, colhido também na área de educação. As escolas rurais garantem o ensino a populações vulneráveis, do campo. Mas também reduzem as notas do estado no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Fechando as escolas rurais, o Estado piora seus indicadores sociais, deixa de cumprir seus compromissos em relação aos Índice de Desenvolvimento Humano, mas melhora o IDEB. E, com a melhoria do IDEB, melhora os indicadores de eficácia financeira e o governo sai consagrado.

ORÇAMENTO

Outro ponto hipócrita são os discursos solidários a favor do combate à miséria, à desigualdade, a favor das políticas distributivas, desde que não se inclua o pobre no orçamento. Cria-se um vício insanável, de colocar como meta das políticas públicas – especialmente educação e saúde – a redução dos gastos, de fazer o mesmo com menos – e não de fazer mais com mais.

Não é possível discutir recursos para a área social sem analisar os impactos das políticas monetária e fiscal e da Lei do Teto. É discutir consequência sem causa. Não adianta o bom mocismo de criticar as disparidades de renda sem se debruçar sobre o modelo tributário e sobre a distribuição dos tributos, recaindo sobre o consumo (e, por causa disso, sobre classes de menor renda) e isentando os altos ganhos.

CONSUMIDORES X ACIONISTAS

Estatais estratégicas

Uma das maiores distorções atuais é a não compreensão do papel das empresas estatais, especialmente em setores estratégicos. Por tal, entendam-se setores que impactam a economia como um todo, ou que produzam insumos estratégicos essenciais.

Por exemplo, Correios, energia, bancos de desenvolvimento, saneamento público, Sistema Único de Saúde.

Os progressistas de mercado não conseguem medir retorno social ou econômico. A única métrica é a lucratividade, porque se reflete na distribuição de dividendos. E muita distribuição de dividendos significa menos investimento.

Com a pandemia, essa lógica perversa será revertida.

Mas ainda há um longo caminho a percorrer até que a racionalidade se imponha sobre os enquadramentos políticos.

GGN.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

FALTA DO CENSO TEM RAZÃO ELEITORAL QUE LIMINAR NÃO RESOLVERÁ, POR FERNANDO BRITO

O destino do censo demográfico brasileiro, independente da decisão do ministro Marco Aurélio Mello tem lógica, é ficar – e olhe lá – para 2022.

É provável que a decisão – liminar de tutela antecipada – caia e, ainda que isso não aconteça, que se crie um impasse: sem previsão orçamentária, como o IBGE fará as despesas necessárias para sua realização?

O país, é claro, precisa do Censo, mas para tem censo, com o perdão do trocadilho, para que ele aconteça precisa-se de um governo com um mínimo de senso, o que não é, definitivamente, o que temos hoje.

Na elaboração e na aprovação do Orçamento, em lugar de espírito público, houve uma corrida desesperada por montar uma base de apoio fisiológica e, para isso, foi-se leniente ou cúmplice de um alucinado assalto aos cofres públicos, para financiar obras e programas que atendessem aos interesses paroquiais dos parlamentares.

Não foram os recursos do Censo os cortados, foram todos os destinados a políticas públicas, em todas as áreas, exceto, talvez, a militar.

E essa por motivações idênticas às que determinaram os arreglos com os parlamentares.

E veremos adiante porque o Censo foi um dos primeiros a sofrer a degola orçamentária.

O dano está feito e o próprio Sindicato dos Servidores do IBGE diz que não há mais como realizar a pesquisa este ano: “O IBGE não pode tirar o Censo da cartola sem garantia de recursos e cumprimento do cronograma necessário para a pesquisa”.

Não se governa nem com decretos, nem com liminares. Governa-se com políticas públicas – que os serviços oficiais de estatística, como o do Censo, devem alimentar de informações e diretrizes.

Um governo sem políticas públicas, como este, não precisa delas e, por isso, desde sua posse, vem tratando o IBGE a migalhas de pão e goles d’água, porque não quer números que reflitam a realidade, mas que louvem a administração.

É só você ver a “reengenharia” que fizeram no Caged (cadastro de empregados e desempregados) para registrar um crescimento no número de trabalhadores que ninguém mais vê, muito menos as pesquisas do IBGE.

Infelizmente, o que vai acontecer – com ou sem liminar do STF – é não haver o censo demográfico de 2021.

O governo Bolsonaro não quer que se veja a realidade brasileira, degradada e empobrecida, porque ela é o mais violento libelo contra a desgraça que representou para o país. Não antes de 2022, quanto tentará prosseguir em sua desgraçada trajetória.

O corte de verbas é conveniente ao governo brasileiro e a escuridão estatística é vital a Jair Bolsonaro.

Tijolaço.

terça-feira, 27 de abril de 2021

VEM AÍ PARA QUEM QUISER VER O “MINISTÉRIO DAS EMENDAS DO CENTRÃO”, POR FERNANDO BRITO

A troca do cargo de Secretário do Tesouro, do qual sai Waldery Rodrigues – notório arrochador de despesas públicas – e entra Bruno Funchal, que já mostrou ser flexível ao ponto de dizer não espera que Jair Bolsonaro faça “populismo” com recursos públicos com a aproximação das eleições, é só o primeiro capítulo da lenta degola de Paulo Guedes já vem sendo submetido e que vai começar a se tornar pública.

Ontem, em seu programa no Youtube, o jornalista Luís Costa Pinto antecipou este e, ainda, o próximo passo: a provável indicação do seu inimigo figadal, Rogério Marinho, a quem chama de “ministro fura-teto, para chefiar a recriação do Ministério do Planejamento, que vai assumir a natureza de “Ministério das Emendas Parlamentares”, pois vai se dedicar essencialmente em garantir a liberação e execução das emendas parlamentares.

Quem vai assumir a “quase metade” da Economia é chamado de “chefe de gangue” por Guedes e, portanto, pode-se adivinhar como será o convívio de ambos.

Como as despesas discricionárias -as não-obrigatórias – estão praticamente reduzidas a zero, o conflito entre Fazenda (porque também o Ministério da Economia, ao menos na prática, vai se reduzir à mera função arrecadatória, ainda mais que com a recém-concedida autonomia do Banco Central) e o “MEP” de Marinho vai ser um traço permanente e contínuo da administração dos recursos públicos.

Por mais que o “mercado” seja indulgente com o governo Bolsonaro, tolerando dele o que jamais aceitaria de um governo minimamente comprometido com o povo brasileiro, um arranjo destes não pode funcionar e dar segurança e coerência à administração econômica do país.

Isso, claro, se Paulo Guedes resistir à sua própria estupidez.

Tjolaço.