sexta-feira, 28 de maio de 2021

SEM O ‘ESTOQUE DE VENTO’ ATUAL, O APAGÃO ENERGÉTICO SERIA CERTEZA. MAS É AMEAÇA, POR FERNANDO BRITO

Na última quarta-feira, às 9 horas da manhã, as usinas eólicas do Nordeste tiveram seu pico histórico de produção: 10.612 megawatt. No dia, a produção média ficou perto de 9 mil megawatts/horas, 77,5% de toda a produção de energia elétrica do Nordeste.

Isso quer dizer que foram estocados, por conta do vento, perto de 900 milhões de metros cúbicos de água que deixou de ser vertida dos reservatórios das hidrelétrica apenas naquele dia.

É graças a isso que o Brasil ainda não tenha certeza de que terá um apagão, embora, como anuncia a Folha, tenhamos chegado a uma situação em que o Governo emite alerta de emergência hídrica em 5 estados e vai criar comitê para acompanhar setor elétrico .

Os que debocharam daquela frase de Dilma Rouseff sobre “estocar vento” com as usinas eólicas deveriam estar agora se penitenciando.

A situação só não é pior por conta da desaceleração econômica, que fez o consumo de energia estagnar em torno de 63 mil MWh médios desde 2016.

A água represada nos reservatórios do Sudeste e Centro Oeste – que respondem por 70% da capacidade nacional – está em 32% do volume no início da estação seca e é provável, sem uma mudança inesperada no regime de chuvas, vai ficar abaixo dos 10% en outubro/novembro, quando se inicia a estação chuvosa.

Para a economia, isso significa vários meses de bandeira vermelha aumentando as contas de energia e a inflação. Isso se não vierem novos aumentos para segurar o consumo e evitar um racionamento politicamente desastroso.

Então, é bom que o governo torça para que a temporada de ventos, fortes agora no Nordeste, sobretudo, ajude o Brasil a estocar vento na forma de água nas represas.

Tijolaço.

BOLSONARO VIROU PAJÉ DA GRANDE ALDEIA BRASIL, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro já não é só charlatão, agora é pajé.

Na sua live de hoje anunciou que os índios do Norte do Amazonas têm uma medicação infalível contra a Covid.

Na aldeia tribo Balaio, ninguém morreu; nos yanomamis só três, índios idosos , “provavelmente com comorbidades”.

Nenhum tomou cloroquina, mas beberam chá de “carapanaúba, saracura ou jambu”.

“Perguntei se algum tinha morrido. Responderam não. Foi antes da vacina? Disseram que sim. Perguntei por que não morreram. Eles tomaram chá de carapanaúba, saracura ou jambu.(…) Poderia essa querida CPI do Senado, que tem como presidente o senador Omar Aziz, convidar os índios para ouvi-los, para, quem sabe, levar os chás de carapanaúba, saracura ou jambu.”

Todos os três, há anos, são vendidos nas feiras de Manaus e em bancas de cascas e ervas do país inteiro.

A carapanaúba é casca de árvore de “amplo espectro” na cultura popular. Cura desde inflamações do útero e ovário, diabetes, problemas de estômago, câncer, é anticontraceptivo e age contra febre e reumatismo.

A “saracura” – que não é saracura, mas “sara-tudo”, ou murici (Bysonima intermedia) – serve para alívio de dor de dente e inflamações em geral.

E o jambu, é indicado como fortificante, estimulador de apetite, anti-inflamatório, remédios contra lombrigas, analgésico, diurético, anestésico bucal e estimulante sexual.

Não posso dizer que Bolsonaro é um Villas-Bôas porque, alem de ser uma ofensa aos irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo, três importantes indigenistas brasileiros e porque ele vai pensar que o nome é de seu patrono, Eduardo Villas Bôas, que enfiou o exército nesta encrenca.

Pensemos positivo, porém: Jair Bolsonaro salvou a humanidade! Podemos agora exportar os pacotinhos de feira mais caros que as bijuterias de nióbio que alimentam a mente (mente?) presidencial.

E encher as ruas de motoqueiros gritando: “O jambú é nosso”

Tijolaço.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

O BRASIL REAL NÃO ESTÁ NOS NÚMEROS DO BRASIL OFICIAL DE GUEDES, POR FERNANDO BRITO

Os números divulgados hoje pelo IBGE põem cada vez mais em descrédito os indicadores otimistas de emprego formal apresentados seguidamente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Ontem, Guedes mostrou supostos números que indicariam a criação de quase um milhão de empregos (958 mil) com carteira assinada de janeiro a abril, quase tantos quanto se criou nos melhores tempos de expansão da economia brasileira.

Hoje, o IBGE mostra que, ao contrário, o número de pessoas com carteira assinada caiu cerca de meio milhão entre o último trimestre de 2020 e os primeiros três meses de 2021.

Se considerarmos o período de um ano (antes e depois da pandemia, o número de trabalhadores registrados teve uma redução de 10,7%, ou menos 3,5 milhões de pessoas.

O argumento de Guedes que a “sensação de desemprego” vem do fato de que os informais estão sendo a origem dos índices de desocupação apurados pelo IBGE que indicam mais 880 mil pessoas desocupadas, totalizando 14,8 milhões na fila em busca de um trabalho no país.

É o maior número já apontado pela série histórica das pesquisas do IBGE: 14,7% dos brasileiros, quase um em cada oito, procuram emprego sem encontrá-lo.

É claro que alguns setores, como o e-commerce, podem ter gerado vagas pelas mudanças dos perfis de consumo nas classes alta e média, mas basta ir ao comércio convencional para ver quantas vagas foram aniquiladas. Idem no turismo, nos bares e restaurantes, no transporte e em todos os outros setores que sofrera, sofrem e estão sujeitos a sofrer mais com a possibilidade de uma nova onda.

O mundo otimista de Paulo Guedes se dissolve em qualquer estatística de calçada.

Tijolaço.

A PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS SERÁ O GOLPE DO SÉCULO, POR LUIS NASSIF

O projeto de lei de privatização da Eletrobras é um dos golpe mais ruidosos já registrados nas privatizações brasileiras. A Eletrobras tem capacidade de gerar 30,1% da energia e detém 44% das linhas de transmissão do País.

A privatização da Eletrobrás também significa a privatização da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). / Foto: Maria Hsu/Chesf.

A Eletrobras sempre teve um papel regulador de preços no mercado, atuando em duas pontas. Uma delas, nas licitações de energia e a outra na oferta de energia contratada barata (aquela que é vendida para distribuidoras).

Exemplo claro ocorreu depois que foi desenvolvido o novo modelo do mercado de energia, ainda no período da então Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff.

No mal-sucedido modelo de liberação do mercado, no governo FHC, a Eletrobras foi incluída na relação do Plano Nacional de Desestatização (PND). Com isso, deixou de investir em novos projetos.

No modelo Dilma, havia uma licitação para a construção de novas usinas. Vencia o melhor preço oferecido no kwh – ou maior deságio em relação ao preço teto.

Segundo Nelson Hubner, um dos técnicos mais respeitados do setor, até 2003, sem a participação da Eletrobras, em apenas 2 lotes de licitação houve algum deságio significativo, entre 20% e 30%. Ainda assim, por razões bastante subjetivas. Uma delas foi a Copel, em uma linha de transmissão no Paraná; a outra a Cemig, em Minas Gerais. Em todas as demais licitações, não houve deságio sobre o preço base.

A partir da entrada da Eletrobras no jogo, o deságio médio de todas as licitações foi mais de 30%.

Com a redução, considerou-se que a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) estava calibrando mal o preço teto. Foi feita uma revisão que reduziu mais ainda o preço teto.

No leilão seguinte, julgou-se que iria diminuir o deságio, já que aumentou o preço de referência. Mas ocorreu um novo aumento do deságio.

Dois anos depois, houve a licitação do trecho Norte-Sul 3, com concorrência maior. O deságio ficou acima de 60%, dando uma ideia das margens extraordinárias praticadas pelas empreiteiras.

O maior exemplo foi na licitação das grandes elétricas estruturantes do Amazonia, inicialmente Santo Antônio e Jirau e, depois, Belo Monte.

Em Santo Antônio, a Odebrecht se associou com Furnas. Como tinha feito todos os estudos do inventário, partia com grande chance. Houve uma reunião no MInistério de Minas e Energia, tentando uma maneira de promover uma competição que derrubasse os preços.

Não havia nenhum grupo grande privado para participar. Decidiu-se que a Petrobras não participaria do leilão, mas haveria uma disputa entre os diversos grupos para levar a Eletrobras como parceria.

Conseguiu-se montar dois consórcios, o de Furnas-Odebrecht e o Chesf-Eletronorte com mais um grupo de empresas privadas menores. A Odebrecht venceu. O preço teto era de R$ 115 o mwh – apontado como exageradamente barato pelo mercado. No entanto o preço final foi de R$ 78,00. Em 30 anos, significou uma economia de R$ 30 bilhões nas tarifas.

A PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS

O projeto de lei de privatização da Eletrobras é um dos golpe mais ruidosos já registrados nas privatizações brasileiras.  A Eletrobras tem capacidade de gerar 30,1% da energia e detém 44% das linhas de transmissão do País

O Estado continuará com participação societária na Eletrobras, mas sem direito sequer a um assento no Conselho.

Mais que isso, em todos os países desenvolvidos, hidrelétricas já amortizadas são de controle do Estado, devido ao fato de fornecerem energia barata, essencial para a competitividade da economia e a universalização dos serviços.

Hoje em dia a Eletrobras dispõe de grandes usinas já amortizadas e contratos d elongo prazo com as distribuidoras de energia, garantindo um freio no preço das tarifas.

A privatização irá descontratar a energia. Significará que haverá o pagamento por uma nova outorga, que recairá sobre a conta do consumidor.

Em 2014, por questões políticas a Cemig, CESP e Copel se recusaram a aceitar a renovação das outorgas nos moldes propostas pelo governo. Significaria a renovação da concessão, mas mantendo o custo baixo das hidrelétricas já amortizadas, tendo uma margem de lucro de 10%.

Recusaram. Depois, tiveram que adquirir as concessões, pagando R$ 12 bilhões, obviamente repassado ao consumidor. A tarifa operacional, que era de 29,45 reais, saltou para 107,51 reais, inclusive nos contratos para o mercado regulado.

Há inúmeros exemplos de liberalização de mercado levando à alta da energia.

Nos Estados Unidos, 73% das hidrelétricas são estatais. Em Quebec, Canadá, a exploração é estatal, o que permitiu ao estado uma enorme competitividade. A empresa é obrigada a suprir as necessidades do estado com tarifas razoáveis. A sobra poder ser vendida para os EUA a preços mais elevados.

Nos EUA, quase todo o país é coberto por Administradores do Mercado de Energia, uma espécie de agência controlada pelos estados, donas de ¾ dos ativos de transmissão em suas áreas de atuação.

GGN.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

O PGR AUGUSTO ARAS DEFENDE SALLES EM TROCA DE VAGA NO STF, POR FERNANDO BRITO

É fácil de entender que a teimosia do Procurador Geral da República, Augusto Aras, em tentar bloquear o inquérito que apura o envolvimento do ainda ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem toda a relação com um lance final por sua indicação para a vaga que se abrirá com a aposentadoria compulsória do Ministro Marco Aurélio Mello.

O objetivo, claro, é retardar a investigação, até porque a transferência da relatoria de Alexandre de Moraes para Cármem Lúcia nenhum tipo de benefício traria para o ministro antiambiental.

Ricardo Salles, na prática, já é o ex-ministro do Meio Ambiente.

Sua presença no cargo expôs ainda mais as fragilidades de Jair Bolsonaro: no exterior (ainda mais pelo fato de que o caso policial nasceu de uma comunicação do governo dos EUA) e no plano interno, como ficou claríssimo na reclamação do vice-presidente da República, Hamílton Mourão, sobre a ausência do Ministério do Meio Ambiente na reunião do Conselho da Amazônia.

Salles está praticamente clandestino, sem ter o que falar ou fazer, sem ninguém mais que obedeça – até por prudência – suas ordens no MMA, no Ibama ou no ICM-Bio.

Teve a defesa solitária de Bolsonaro no dia seguinte à operação policial, quando o chamou de ” um excepcional ministro” e culpou os “xiitas ambientais” do Ministério Público por sua encrenca contrabandista.

Mas está em péssima posição entre os demais ministros, entre os militares e no próprio Supremo, onde Aras não deve conseguir sucesso.

Salles, além de tudo, tem a confissão – espontânea e gravada – de que usaria a pandemia para distrair as atenções e “passar a boiada” pela porteira do “parecer-caneta” dos atos de liberação aos agentes da devastação.

Bolsonaro tem feito a si mesmo de surdo e perdeu a chance de degolar Salles logo após as medidas de busca e apreensão ordenadas pelo STF. Poderia ter alegado surpresa; já não o pode mais.

Pior, ninguém ficará surpreso se a teia dos negócios de Salles alcançar outros integrantes do governo e, até, da família presidencial.

Fogo, quando começa a arder, é difícil de apagar. A incineração de Salles vai atingir muitas áreas vizinhas ao presidente antes que se consiga apagá-la.

Tijolaço.

O DILEMA DO COMANDANTE DO EXÉCITO, A PUNIÇÃO É A BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

Compreende-se a cautela com que o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, conduz a punição de Eduardo Pazuello pela transgressão disciplinar, evidente e provocadora, de ir discursar ao palanque de Jair Bolsonaro, domingo, no Rio de Janeiro.

Nomeado por ele para o comando da Arma há dois meses, o general sabe que não se tratou de um ato pessoal de Pazuello apenas, mas de uma convocação política feita pelo Presidente para que o “nosso gordinho” estivesse lá, galgando mais um degrau do que pretendia mostrar ser o “seu” Exército, como fizera antes ao convocar para isso o Ministro da Defesa, Braga Netto, a quem deu a mesma tarefa, uma semana antes.

Netto, porém, é da reserva e pode, embora jamais devesse, comparecer a manifestações políticas. Agora, com Pazuello, Bolsonaro vai um passo além e transgride o limite legal com um oficial que, por tudo, já se lhe mostrara “pau para toda obra”, inclusive para afrontar seus colegas com a resistência em passar à reserva.

Paulo Sérgio, porém, sabe que – embora com respeito absoluto aos prazos regulamentares – terá de tomar a atitude disciplinar que o cargo de comandante lhe impõe, o Alto Comando deseja e a opinião pública e a mídia lhe exigem.

Mas não ignora que, quando a tomar, será criticado e contestado pelo seu comandante em chefe, o presidente da República.

É exatamente isso que pretende Bolsonaro, que enxerga o Exército como um lugar de camaradagem e espírito de corpo, não como uma instituição baseada na hierarquia e na disciplina.

E que tem, é notório, um histórico de sabotagem a ambas.

O dilema do general-comandante, portanto, é que terá de decretar por lealdade ao Exército, uma punição disciplinar que, na prática, atinge o presidente e, por isso, se submeter à punição política que receberá por ter sido um militar que respeita os regulamentos.

O contrário, porém, seria mais grave. Relevar o ato inaceitável de Pazuello será perder o respeito do Alto Comando do Exército e deixando que se dissemine, em toda a tropa – e também na Marinha e na Aeronáutica – que só há um comandante militar no Brasil: o ex-capitão que nunca soube o que é disciplina militar.

Tijolaço.

CHINA DÁ MAIS UM PASSO DE CONTROLE DA FINANCEIRIZAÇÃO DESENFREADA, POR LUIS NASSIF

A revolução que a China está promovendo na economia global não é para implantação do socialismo, mas de combate aos vícios mais perniciosos da financeirização global. Está devolvendo a regulação que os mercados perderam nas últimas décadas, gerando desequilíbrios de toda sorte.

Um deles foi a financeirização das commodities. Em vez de refletir oferta e demanda, as cotações passaram a ser submetidas a jogadas especulativas, com a criação sucessiva de bolhas alimentadas por boatos, especulações e, mesmo, notícias falsas, afetando diretamente a economia real.

Por exemplo, houve uma tentativa de conter a produção de aço intensivo em carbono, devido às novas metas ambientais. O movimento foi dramatizado pelo mercado, elevando os preços devido a expectativas de redução da produção.

A China passou a importar a inflação de commodities. Segundo a empresa de pesquisa TS Lombard, de Londres, mostrou que os preços dos produtos intermediários aumentaram 5,3% no ano, dificultando o repasse para o consumidor final.

Por esse descompasso, há tempos os fabricantes chineses alertam para o risco de aceitar novas encomendas, devido à imprevisibilidade nas cotações de commodities. Houve uma onda de paralisações temporárias da produção, afetando principalmente fábricas no centro de manufatura do sul da China.

Recentemente, a Modern Casting Ltda, uma das maiores fábricas de fornecimento de ferro e aço fundido de Guangdong, comunicou a clientes sua incapacidade de atender os pedidos recebidos devido ao aumento de preços. Reportagem do China Morning Post mostrou que um fabricante reduziu a produção de 5 mil toneladas para 400 toneladas mês, podendo cair para 200 toneladas devido ao aumento nos preços de commodities.

No início do mês passado, a Comissão de Estabilidade Financeira e Desenvolvimento da China, chefiada pelo vice-premiê Liu He, principal assessor econômico do presidente Xi Jinping, mostrou preocupações sobre os riscos econômicos potenciais associados aos altos preços das commodities e à inflação. Até abril, o Indice de Preços ao Produtor registrava alta anual de 6,8%.

Ontem, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, agência de planejamento econômico da China, anunciou que iria reprimir monopólios nos mercados de commodities, as bolhas financeiras e a disseminação de informações falsas. Anunciou que a China fortaleceria os controles de preços do minério de ferro, cobre, milho e outras commodities em seu 14º plano de cinco anos (2021-25) para lidar com as flutuações nos preços.

O anúncio derrubou em 7% o contrato futuro de minério de ferro na bolsa de Dalian, 20% abaixo do recorde histórico do início do mês. Houve queda também em produtos manufaturados, como barras de reforço e bobinas laminadas a quente.

O primeiro movimento foi o acompanhamento do mercado à vista e a doação de uma atitude de tolerância zero com irregularidades encontradas. 

O efeito China é fulminante. Depois de conflitos com a China, o governo da Australia previa que seu principal produto de exportação, o minério de ferro, cairia de mais de US$ 200 para US$ 55 a tonelada. Além disso, a China tem estoques estratégicos que poderão ser utilizados.

É mais um capítulo na consolidação de um modelo estado-empresas privadas que certamente acelerará o movimento de volta da regulação e do papel dos estados nacionais.

GGN

terça-feira, 25 de maio de 2021

O “EXÉRCITO” DE BOLSONARO É O DA SUA MILÍCIA, POR FERNANDO BRITO

Editoriais e analistas políticos, nos jornais, repetem o evidente: Jair Bolsonaro aposta num golpe, na ruptura do que resta das estruturas democráticas do país, como forma de continuar no poder.

Até Edson Fachin, que até há pouco legitimava todo a qualquer atropelo da Lava Jato, passou a dizer que, “se concedermos” no “mínimo essencial” da democracia, “não haverá Judiciário amanhã”.

A questão é que – apesar dos generais que pensaram cavalgá-lo quando o empurrá-lo para o poder e que descobriram tornarem-se, ao contrário, suas cavalgaduras – as Forças Armadas e, muito especialmente, o Exército, não serão pontas de lança de uma aventura golpista.

O Exército Brasileiro, apesar de todo o sabujismo que desenvolveu em relação a ele, não é o que ele chama de “meu” exército.

O exército “dele” foi o que ele fez desfilar em Brasília e no Rio de Janeiro: suas falanges de núcleo miliciano.

O psicanalista Paulo Sternick, em ótimo artigo hoje, em O Globo, os enumera: ” seguidores fanáticos, civis e militares (de baixa patente e policiais), que julgam deter o monopólio do patriotismo, e milicianos dispostos a matar ou morrer por subterrâneas causas”.

“Então, como se daria uma tentativa de golpe sem as Forças Armadas, no caso de uma inconformidade pela perda do poder? Remember Capitólio? Alegar fraude e não reconhecer a derrota? Apelar para ameaça do comunismo, ou “retorno” da corrupção, tocando o terror para convocar os militares?"

Há uma coerência em tudo o que Jair Bolsonaro fez na liberação de armamentos – em parte limitada pelo Supremo, mas só em parte – e, nos tempos mais recentes, no desmonte da capacidade de que os comandantes das Forças Armadas conservem alguma independência e autoridade sobre suas tropas e sua obsessão em manter sob sua influência (sua, da família e de seu principal parceiro militar, o general Augusto Heleno) o Gabinete de Segurança Institucional, a Abin e comando da Polícia Federal.

Bolsonaro fez um ousado movimento com a convocação – prontamente obedecida – para que Eduardo Pazuello fosse quebrar a disciplina militar e deixar o comandante do Exército numa situação crítica.

Seu silêncio é prudente e deve mesmo acompanhar o processamento regular da punição por indisciplina, mas traz o risco de que seja entendido como aceitação de que Bolsonaro pode acabar com a disciplina militar com o mesmo estalar de dedos com que chamou Pazuello para seu palanque.

Tijolaço.

BOLSONARO DECRETA SILÊNCIO NO EXÉRCITO SOBRE PAZUELLO, POR FERNANDO BRITO


Estadão informa que Jair Bolsonaro “telefonou diretamente para o general Braga Netto (Defesa) proibindo a divulgação de qualquer nota ou manifestação pública a respeito do caso. A ordem foi cumprida e o Exército, que informou mais cedo aos jornalistas que iria se pronunciar, cancelou o envio do comunicado à imprensa.”

Assim, não se sabe se o comando do Exército cumpriu o seu dever de abrir processo disciplinar sobre o fato de Eduardo Pazuello ter ignorado o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército e ter atendido o chamado direto do presidente da República para participar do ato político dos motociclistas do Rio de Janeiro.

Está evidente que um ato disciplinar oculto deixa de ser um ato disciplinar porque, sendo escondido, não é capaz de disciplinar ninguém.

O general Paulo Sérgio Nogueira tem completa autonomia legal e administrativa para abrir uma apuração de infração disciplinar de Pazuello, sem precisar de autorização presidencial ou mesmo de Braga Netto. As informações são de que, após consulta ao Alto Comando do Exército, já o fez, com três dias de prazo, como manda a lei, para a apresentação de defesa.

A “ordem” do Planalto, porem, anula na prática a decisão e faz ao Exército o pior dos males: o disse-me-disse, a intriga, a incerteza.

Nada pior que estar sendo tratada como “secreta” uma eventual advertência por ato praticado publicamente, transmitido pela televisão.

Serve apenas para tornar a transgressão impune e a punição inútil, porque “abafada”.

Isso só ocorrerá se com uma punição de advertência simples, restrita aos boletins internos reservados e, assim, sem o exemplo para tropa.

Se o comandante do Exército aceitar calado isso, perderá o respeito de seus colegas do Alto Comando e de seus subordinados.

Se recusar-se e exercer sua autonomia disciplinar sobre seu comandado, pode perder o cargo, mas não a honra e a dignidade do posto.

Tijolaço.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

EDUARDO PAZUELLO SERÁ PUNIDO E ENVIADO A RESERVA APÓS IDA À MANIFESTAÇÃO COM BOLSONARO

Decisão da punição foi tomada pelo comandante-geral do Exército, Paulo Sérgio Nogueira.

Pazuello infringiu o artigo 45 do Estatuto Militar, que proíbe a participação de oficiais da ativa em atos políticos.

O general e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, será enviado a reserva, após participar de uma manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, no último domingo (23). A informação é da jornalista Marília Sena, do Congresso em Foco.

A decisão da punição foi tomada pelo comandante-geral do Exército, Paulo Sérgio Nogueira. Pazuello infringiu o artigo 45 do Estatuto Militar, que proíbe a participação de oficiais da ativa em atos políticos. A decisão, segundo as informações, é delicada, pois Bolsonaro poderia reverter a punição de Nogueira e criar uma crise com os militares.

Folha de S.Paulo também noticiou, ontem, que generais da cúpula da Força conversaram por telefone sobre o que ocorreu no Rio de Janeiro e dizem, em conversas reservadas, que Pazuello tomou uma “decisão descabida” e “enxergaram uma transgressão a normas básicas do Exército”.

A transferência de Eduardo Pazuello a reserva é dada como certa, já que os integrantes do Alto Comando avaliam que a ida do general da ativa ao palanque político do presidente passa uma “mensagem negativa a patentes inferiores”.

CPI DA COVID

Os senadores que integram o grupo majoritário da CPI da Covid também questionaram a participação do ex-ministro da Saúde, sem máscara, durante a aglomeração promovida por Bolsonaro. Para eles, o general, que prestou depoimento na última semana, fez uma “afronta à comissão“.

Na próxima quarta-feira (26), o presidente da CPI, o senador Omar Aziz (MDB-AM) vai votar novos requerimentos de convocações e a expectativa é que Eduardo Pazuello seja reconvocado a prestar depoimento.

Na semana passada, ao responder ao relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), Pazuello mentiu em diversos momentos, omitiu informações para blindar Bolsonaro e, indiretamente, trouxe a tona fatos que incriminam o presidente da República.

O senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI, classificou como um “deboche” à população e um ato para tentar desmoralizar a CPI a aglomeração realizada no Rio de Janeiro. Já o o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que o ex-ministro da Saúde disse que o depoimento será somado ao ato de ontem. “O general Eduardo Pazuello fez hoje uma escolha de ser o primeiro personagem declaradamente indiciado da CPI.”

 Rede Brasil Atual

domingo, 23 de maio de 2021

DEUSANIRINHO PATROCINA PROJETO DENTE DE LEITE DO BRAGUINHA, NO BAIRRO BACURI EM BURITI DE INÁCIA VAZ

Deusanirinho entregando chuteiras a uma criança.

Realizou-se no Recanto Fazendinha no Bairro Bacuri, em Buriti, grande evento em prol do futebol mirim, que contou com a presença de todos os seguimentos da sociedade buritiense, trata-se do projeto esportivo de futebol denominado Dente de Leite, desenvolvido por Francisco Braga Filho, agente administrativo, 47 anos, conhecido como Braguinha, ex-jogador do Flamenguinho. O projeto nasceu em 2010, é desenvolvido junto as crianças e adolescentes da comunidade do Bairro Bacuri, com um número estimado em 50 garotos, com idade entre 8 e 17 anos, teve como parceiro inicial o veterano Banana (professor Fábio). Festa muito concorrida.

Braguinha, Foto: Cabocos da bola (Anísio Mídia)

Neste sábado, 22 de maio, BRAGUINHA fora surpreendido por força de relevante ação social que presta junto ao futebol buritiense. DEUSANIRINHO que leva o nome do seu genitor José Deusaniro de Faria Freitas, se deslocou de Brasília, onde é radicado, para pessoalmente sentir as emoções e a energia positiva dos seus conterrâneos. Deusaniro Júnior, como seu pai é um amante do futebol, e num gesto solidário promoveu o evento e fez significativa doação de equipamentos esportivos para o projeto Braguinha continuar sua trajetória do bem.

Deusanirinho ladeado com Adoniran Teixeira e outros.

Deusanirinho se solidarizou com o projeto levado a cabo por Braguinha, sensibilizado pelos apelos dos irmãos Teixeira, Ivan Mauro principalmente e Adoniran, por reconhecerem que ações com esta magnitude é que o Brasil, o Maranhão e Buriti precisam, pois verdadeiramente impulsiona, valoriza e desenvolve o crescimento do futebol local, sem falar que oferta outro sentido à vida desta garotada, inclusive evitando o caminho curto que leva as drogas, ceifa a vida de tantos brasileiros, um gatilho para violência urbana fruto dessa desassistência do estado, infelizmente sempre crescente em nosso país.

Materiais doados

O Dente de Leite tocado por Braguinha recebeu das mãos de seu novo parceiro Deusanirinho um reforço e tanto, os materiais doados são os seguintes: coletes, 02 jogos de camisas com seus respectivos calções, para sub 13 e sub 17, 04 camisas e 02 pares de luvas para goleiro, 25 chuteiras, meiões, 03 bolas, 02 apitos, 01 bomba para encher às bolas, garrafa térmica para água, 01 par de redes, 01 kit socorro com a medicação gelol para aplicar nas contusões e outros componentes, por fim, 03 sacolões para guardar o material. De forma que o projeto ganhou material para usar por um bom tempo de trabalho.

Zenandes entregando chuteiras.

O evento foi grandioso, com direito a oração do ex-goleiro Chico Coco, falação e lanche farto a vontade, registre-se que tudo dentro das diretrizes sanitárias impostas pela pandemia, que por ausência de vacinas, teima em engatar uma terceira onda, mais terrível ainda que a primeira e a segunda, que pelos números de ontem já matou 448.208 grandes brasileiros. Braguinha relatou que não sabia o que dizer, mas pelo visto deu aula em Antonio Flora, agradeceu ao velho ídolo desportista Deusaniro, o pai, dirigente a época do Flamenguinho, do qual vestira a camisa durante longos anos,  por sempre lhe amparar nos momentos difíceis, inclusive pagando sua escola em segredo para não melindrar os demais companheiros. Daí Braguinha começou a chamar para perto de si, os seus parceiros de trabalho, como Dias, Gisleno, Diá, Neguite, Sandro, Banana, dentre outros.

Braguinha emocionado.

Braguinha por um momento se emociona, veio as lágrimas mas incentivado pelos amigos presentes se refez e retomou o discurso de gratidão, agradeceu a todos aqueles que colaboram com o seu empreendimento social, lembrou dos seus bons tempos de jogador ao lado de Alan Borges, segundo ele o melhor ponta esquerda daquele momento, bem como a tristeza do encerramento de sua carreira no futebol amador, em decorrência da fratura de sua perna, que ainda hoje não ficou bom, necessitando do suporte de uma velha e boa bengala, finaliza rogando a Deus para um dia se curar e aposentá-la de vez.

Deusaniro na sua fala aos presentes.

Deusaniro por sua vez não se fez de rogado, também mandou sua mensagem, em certa passagem ele diz: “este projeto aqui não tem nenhum cunho partidário, não há nenhum interesse da minha parte de cor partidária, mas sim, se nesses quatro anos possamos não fazer gol contra de propósito, aplaudir os acertos, críticas construtivas no momento certo, mas todos nós se conjugar o verbo somar e junto aqui com todos os vereadores, presidente da Câmara, secretários, cidadãos, vamos juntos irmanados construir um Buriti melhor, as crianças meus votos que sejam boas jogadoras, mas acima bons cidadãos”, termos em que Deusanirinho encerra sua fala agradecendo a todos os presentes.

O PROBLEMA DA ECONOMIA BRASILEIRA É A SOLUÇÃO, SE AS ELITES ENTENDEREM O ÓBVIO, POR FERNANDO BRITO

O Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Luana Araújo e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participa da cerimônia de lançamento da Campanha de Conscientização sobre Medidas Preventivas e Vacinação contra a Covid-19, e o lançamento da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19.

Tempos atrás, o jornal O Globo tinha uma seção que se chamava “Conte algo que não sei”.

O bordão vem à mente diante de extensa reportagem de hoje de Fernando Canzian que é manchete da Folha de S. Paulo: “País mais pobre e informal torna recuperação incerta“.

Verdade que o país está mais pobre e mais informal, mas isso não é, aparentemente, um “problema” para as elites econômico-sociais do Brasil, porque a “solução” que advogaram e advogam tem sido sempre a de ampliar a pobreza e a informalidade, apontando os gastos públicos e os direitos trabalhistas e as obrigações tributárias (portanto, a formalidade) como travas ao nosso desenvolvimento.

Não são e nunca foram e está ainda bem fresco em nossa memória como não houve contradição entre progresso econômico e avanços no campo social e trabalhistas, mesmo que – é verdade – desacompanhados de um processo de justiça nos impostos, algo que enfrenta veto absoluto de mente estreita de boa parte de nossas elites.

Os “adoradores do bezerro de ouro” fiscal (claro que apenas pelo lado da despesa) se recusam a ver que injetar dinheiro mais que necessário nesta imensa massa de pobreza é a óbvia solução para a bulimia econômica que deixa o país submergir na letargia. E não encaram a informalidade como um potencial de formalidade, mas como apenas como a manutenção de um “departamento estanque” da atividade econômico, que passa longe do que interessa ao grande mundo de dinheiro e “resolve” o problema no exército de reserva que lhe barateia salários e remunerações.

Ontem, assistindo ótimo trabalho que o igualmente ótimo Caco Barcellos coordena no programa Profissão Repórter, da Globonews, duas passagens impressionaram quando foram ouvidos os problemas dos que perderam o auxílio emergencial da primeira etapa da pandemia.

Na primeira, um rapaz descreveu o que fez com os extintos R$ 600: erguer dois cômodos para deixar de ficar amontoado na sala da casa da mãe de sua mulher. Se você quiser falar em economês, ele transformou o subsídio em “Formação Bruta de Capital Fixo”, que é onde entra a construção nas contas do PIB. Aquele dinheiro rodou nas engrenagens da economia como não giraria se tivesse sido aplicado em subsídios aos fabricantes e comerciantes de insumos para a construção civil. Que, aliás, tiveram um desempenho excelente durante aqueles meses da construção civil, mesmo com os imensos aumentos de preço que tiveram: o Índice Nacional de Custo da Construção, apurado pela Fundação Getúlio Vargas, passou de 4% no acumulado de 12 meses em abril de 2020 para 13% em abril de 2021.

Na segunda, o triste retrato do que é o desalento ocupacional que quadruplicou, na prática, do 1,5 milhão de pessoas, em 2014, para 5,7 milhões em 2020. Uma pessoa conta como desistiu de “distribuir currículo” inutilmente, todos os dias, durante meses e, agora, contenta-se com os “bicos” que eventualmente consegue, raros e miseráveis. Mas que, apesar de tudo, tem o sonho de ser “registrado” – ter um emprego de “carteira” – um dia.

Há tanta ânsia pela formalização que, no ano da pandemia, 2020, 2,7 milhões de brasileiros buscaram a alternativa de se tornarem microempreendedores individuais (MEI), para formalizarem suas atividades, terem previdência e poderem emitir notas, saindo da “clandestinidade” laboral.

Portanto, existem as condições para que o “País mais pobre e informal” tenha sim, uma recuperação mais rápida e consistente, se a inclusão dos pobres e informais no Orçamento brasileiro for o gatilho para descomprimir a mola de crescimento econômico que o arrocho fiscal, a queda nos investimentos públicos e, depois, a pandemia, apertaram até não mais poder.

É claro que é preciso por fim ao festival de apropriações indevidas dos recursos públicos pela politicagem, pelos altos salários de categorias privilegiadas e por limites a isenções de tributos indevidas e distorcidas. Mas o país precisa acreditar no trabalho, no progresso, na possibilidade de uma vida melhor, onde a calçada fria não é o seu destino.

Pois também nisso acho que cabe o “conte algo que não sei”. Já o fizemos, e fizemos tendo bem pouco. Muito menos que agora.

Tijolaço.

sábado, 22 de maio de 2021

EM CARTAZ, NO RIO, “OS TARADOS DO ASFALTO’, POR FERNANDO BRITO

Tendo Jair Bolsonaro como “macho-alfa”, motociclistas desfilarão no Rio, da Barra ao Aterro do Flamengo, em apoio a quem consideram seu líder.

É segundo eles, “um passeio”, não uma manifestação, até porque não são capazes de apontar uma razão para o ato.

O que poderia ser? Coloroquina ampla, geral e irrestrita? Queremos pistolas e fuzis? “Sai de casa, seu maricas imbecil?”.

Hell’Angels, “Anjos do Inferno”, a comparação não é má, embora eles sejam. Ou, pelo menos, tentem ser, com caras de mau, tatuagens “sinistras”, adolescentes senis, ou quase.

Quase não haverá mulheres, quase todas na garupa dos “centauros”.

Que se danem as pessoas que estão morrendo de fome, os coitados que enchem as ruas cariocas, não estamos aqui para mitigar o sofrimento humano, mas para proclamar a “superioridade dos fortes”.

Essa é a política da selva, não a da civilização.

Pobre povão, que achou que as motos eram seu ganha-pão como entregadores ou mototaxistas, zunindo entre os carros sem pensar nos perigos.

Outras motos rolam, roncando grosso, contra o miado fino daquelas onde aprendem que a vida é abandono, sofrimento e dor.

Tijolaço.

OS LIMITES DA FOTO FHC & LULA, POR FERNANDO BRITO

Três semanas atrás, escreveu-se aqui que assistíamos à “lulificação” da direita sem rumo.

O processo, depois da foto de Lula e Fernando Henrique Cardoso, publicada ontem – e outros acontecimentos já o antecipavam – está agora evidente e poucos duvidam que outros – na política partidária e fora dela – seguirão o ícone do tucanismo.

O neologismo “lulificação” não foi usado casualmente, porque não se poderia ter usado outro, o “lulou”.

Lulificar-se é a descrição de um estado, de uma condição transitória provocada por condições de temperatura e pressão do ambiente político, não uma conversão pessoal, ideológica e, portanto, com algum grau de estabilidade, de longa permanência.

O que ocorre, pelo menos por enquanto, é algo bem diferente de uma aliança política, ou mesmo político-eleitoral, que demandaria programa, compromissos ao menos pontuais, partilha de poder.

Tudo isso pode acontecer, mas não é o que, agora, está em pauta.

O caso, aí, é o de um ponto único, essencial: o retorno a uma situação política de normalidade, pois a que temos – até mesmo pela ausência de viabilidade eleitoral de qualquer candidatura de centro-direita ou de direita “civilizada” – está sob as rédeas de um sujeito com sinais autoritários e psicopáticos mais do que evidenciados.

Ou melhor, exponenciados pela situação de crise pandêmica à qual o governo brasileiro respondeu com negacionismo e incompetência.

Esta normalização das disputas políticas num ambiente democrático. que tantas vezes fugiu aos brasileiros desde o fim do regime autoritário – lembremo-nos que o sucederam Sarney e Collor – é condição essencial para a disputa de projetos de poder que, é claro, tocam-se como os punhos de Lula e FHC na foto: um cumprimento sem contágio.

A arguta Cristina Serra, na edição de hoje da Folha, diz que “esse encontro é como um ajuste de placas tectônicas que, até bem pouco tempo, estavam em choque e, ao que parece, encontraram algum ponto de acomodação”.

Sim, é o de que é preciso fazer naufragar, absorver e desintegrar a ameaça da selvageria. da ditadura e do império da morte, da qual Bolsonaro é a encarnação horripilante.

Tijolaço.

MULTA NÃO DETERÁ ‘VARIANTE BOLSONARO’, MAS DÁ BOM EXEMPLO, POR FERNANDO BRITO

É claro que Jair Bolsonaro não vai responder à autuação que recebeu por provocar aglomeração – e sem máscara – no Sindicato dos Produtores Rurais de Açailândia, no Maranhão e será multado à revelia.

Ou melhor, vai responder com xingamentos políticos e defendendo a “liberdade de contaminar” contra o “comunismo da máscara”, decretado pelo governador Flávio Dino, a quem já chamou de “comunista gordo”.

Mas vai, no que puder, tentar fazer muito mal ao Maranhão, porque é assim que reage a quem tenta fazê-lo cumprir a lei.

Fez com que se castigasse o servidor do Ibama que o multou por pesca ilegal e, não satisfeito, jurou de morte a Área de Proteção Ambiental de Tamoios, que quer desproteger para instalar hotéis de luxo e cassinos.

Por conta das multas que tomou por excesso de velocidade na Rio-Santos, tentou e tenta acabar com os radares rodoviários.

Jair Bolsonaro é perigoso porque é uma variante maligna do vírus do autoritarismo, que tem de ser isolada para não continuar contaminando a vida brasileira com os efeitos mortais de sua irresponsabilidade.

Talvez as autoridades maranhenses não consigam deter a variante indiana, que chegou lá de navio e que está sendo bloqueada por todos os meios. Mas à “variante bolsonaro”, com multas não deterá. O tratamento é mais longo, vai até outubro de 2022. E a cura virá com doses maciças de voto.

Tijolaço.