A
revolução que a China está promovendo na economia global não é para implantação
do socialismo, mas de combate aos vícios mais perniciosos da financeirização
global. Está devolvendo a regulação que os mercados perderam nas últimas
décadas, gerando desequilíbrios de toda sorte.
Um
deles foi a financeirização das commodities. Em vez de refletir oferta e
demanda, as cotações passaram a ser submetidas a jogadas especulativas, com a
criação sucessiva de bolhas alimentadas por boatos, especulações e, mesmo,
notícias falsas, afetando diretamente a economia real.
Por
exemplo, houve uma tentativa de conter a produção de aço intensivo em carbono,
devido às novas metas ambientais. O movimento foi dramatizado pelo mercado,
elevando os preços devido a expectativas de redução da produção.
A
China passou a importar a inflação de commodities. Segundo a empresa de
pesquisa TS Lombard, de Londres, mostrou que os preços dos produtos
intermediários aumentaram 5,3% no ano, dificultando o repasse para o consumidor
final.
Por
esse descompasso, há tempos os fabricantes chineses alertam para o risco de
aceitar novas encomendas, devido à imprevisibilidade nas cotações de
commodities. Houve uma onda de paralisações temporárias da produção, afetando
principalmente fábricas no centro de manufatura do sul da China.
Recentemente,
a Modern Casting Ltda, uma das maiores fábricas de fornecimento de ferro e aço
fundido de Guangdong, comunicou a clientes sua incapacidade de atender os
pedidos recebidos devido ao aumento de preços. Reportagem do China Morning Post
mostrou que um fabricante reduziu a produção de 5 mil toneladas para 400
toneladas mês, podendo cair para 200 toneladas devido ao aumento nos preços de
commodities.
No
início do mês passado, a Comissão de Estabilidade Financeira e Desenvolvimento
da China, chefiada pelo vice-premiê Liu He, principal assessor econômico do
presidente Xi Jinping, mostrou preocupações sobre os riscos econômicos
potenciais associados aos altos preços das commodities e à inflação. Até abril,
o Indice de Preços ao Produtor registrava alta anual de 6,8%.
Ontem,
a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, agência de planejamento
econômico da China, anunciou que iria reprimir monopólios nos mercados de
commodities, as bolhas financeiras e a disseminação de informações falsas.
Anunciou que a China fortaleceria os controles de preços do minério de ferro,
cobre, milho e outras commodities em seu 14º plano de cinco anos (2021-25) para
lidar com as flutuações nos preços.
O
anúncio derrubou em 7% o contrato futuro de minério de ferro na bolsa de
Dalian, 20% abaixo do recorde histórico do início do mês. Houve queda também em
produtos manufaturados, como barras de reforço e bobinas laminadas a quente.
O
primeiro movimento foi o acompanhamento do mercado à vista e a doação de uma
atitude de tolerância zero com irregularidades encontradas.
O
efeito China é fulminante. Depois de conflitos com a China, o governo da
Australia previa que seu principal produto de exportação, o minério de ferro,
cairia de mais de US$ 200 para US$ 55 a tonelada. Além disso, a China tem
estoques estratégicos que poderão ser utilizados.
É
mais um capítulo na consolidação de um modelo estado-empresas privadas que
certamente acelerará o movimento de volta da regulação e do papel dos estados
nacionais.
GGN
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