Três
semanas atrás, escreveu-se aqui que assistíamos à “lulificação” da direita sem rumo.
O
processo, depois da foto de Lula e Fernando Henrique Cardoso, publicada ontem –
e outros acontecimentos já o antecipavam – está agora evidente e poucos duvidam
que outros – na política partidária e fora dela – seguirão o ícone do
tucanismo.
O
neologismo “lulificação” não foi usado casualmente, porque não se poderia ter
usado outro, o “lulou”.
Lulificar-se é
a descrição de um estado, de uma condição transitória provocada por condições
de temperatura e pressão do ambiente político, não uma conversão pessoal,
ideológica e, portanto, com algum grau de estabilidade, de longa permanência.
O
que ocorre, pelo menos por enquanto, é algo bem diferente de uma aliança
política, ou mesmo político-eleitoral, que demandaria programa, compromissos ao
menos pontuais, partilha de poder.
Tudo
isso pode acontecer, mas não é o que, agora, está em pauta.
O
caso, aí, é o de um ponto único, essencial: o retorno a uma situação política
de normalidade, pois a que temos – até mesmo pela ausência de viabilidade
eleitoral de qualquer candidatura de centro-direita ou de direita “civilizada”
– está sob as rédeas de um sujeito com sinais autoritários e psicopáticos mais
do que evidenciados.
Ou
melhor, exponenciados pela situação de crise pandêmica à qual o governo
brasileiro respondeu com negacionismo e incompetência.
Esta
normalização das disputas políticas num ambiente democrático. que tantas vezes
fugiu aos brasileiros desde o fim do regime autoritário – lembremo-nos que o
sucederam Sarney e Collor – é condição essencial para a disputa de projetos de
poder que, é claro, tocam-se como os punhos de Lula e FHC na foto: um
cumprimento sem contágio.
A arguta Cristina Serra, na edição de hoje da Folha, diz que “esse encontro é como um ajuste de placas tectônicas que, até bem pouco tempo, estavam em choque e, ao que parece, encontraram algum ponto de acomodação”.
Sim,
é o de que é preciso fazer naufragar, absorver e desintegrar a ameaça da
selvageria. da ditadura e do império da morte, da qual Bolsonaro é a encarnação
horripilante.
Tijolaço.
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