Entidades
dizem que ministro atua para beneficiar empresário que resiste a ordem judicial
para demolir de deck no rio.
Deck
do hotel do empresário Airton Vargas, o Lunabel, invade margens do Rio Caraíva,
no litoral sul da Bahia - Reprodução/Instagram.
Moradores
de Caraíva, distrito de Porto Seguro, no sul da Bahia, divulgaram nota
denunciando um suposto lobby do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em
favor de um dono de um hotel que resiste a uma decisão judicial para demolir um
deck com irregularidades ambientais.
Os
integrantes do Conselho Comunitário e Ambiental e a Associação dos Nativos de
Caraíva afirmam que o empresário Airton Vargas, conhecido como Lunabel, mantém
"relações e cumplicidades com o mais alto escalão do governo
federal". Eles citam especificamente seu encontro com Salles em maio deste
ano.
"Esta
situação não é aceitável em uma democracia que se supõe ser baseada no Estado
de Direito e no devido cumprimento do processo legal", afirmam.
"Pedimos ao Ministério Público que cobre o cumprimento da decisão e que
faça valer a Lei em Caraíva."
No
último dia 17, Salles teria se hospedado no hotel de Lunabel durante sua
estadia na região da Costa do Descobrimento. Na data, ele participou da inauguração de projeto ambiental da empresa
Naturalle, em Santa Cruz de Cabrália, município próximo à vila do sul
baiano.
As
entidades de Caraíva apontam que Lunabel descumpre ordens legais para demolir o
deck que construiu em seu hotel em 2004. A estrutura ultrapassa a margem do Rio
Caraíva e impede a passagem de pedestres. Desde a sua construção, ela é
questionada por moradores desde então.
No
site do Ibama, consta que, em julho de 2004, o fiscal do órgão, Hélvio Luiz
Côvre, foi ao local e multou Vargas em R$ 50 mil pela construção do deck. A
infração foi registrada no órgão em 11 de agosto de 2008. Como o caso foi
judicializado, a multa nunca foi paga.
Reprodução
de página de edição do jornal A Tarde, da Bahia, publicada em 2004, ano de
construção do deck / Reprodução/A Tarde.
Em
2004, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também
ordenou a demolição do deck. Três anos depois, em 2007, moveu ação civil
pública contra o empresário. Em 2010, a Vara de Eunápolis deu ganho de causa ao
órgão de preservação. O caso, no entanto, foi levado ao Tribunal Regional
Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília.
Os
moradores de Caraíva citaram decisão, de 3 de novembro de 2015, em que o TRF1
ordenou “a demolição do deck e a redução da volumetria do segundo pavimento
irregularmente alterado” e que a sentença “não se submeteria mais a nenhum
recurso dotado de efeito suspensivo ordinario". Na mesma data, a Advocacia
Geral da União (AGU) publicou parecer favorável à demolição
Quase
cinco anos depois, em cumprimento à decisão, em 25 de março de 2020, a sede da
Justiça Federal de Eunápolis solicitou à Prefeitura de Porto Seguro que
promovesse "a demolição do deck num prazo de 30 dias (...) tendo em vista
a flagrante ilegalidade e a recalcitrância do executado Airton Vargas em cumprir
a obrigação”.
Em
31 de março do ano passado, uma decisão da Prefeitura de Porto Seguro ordenou
novamente a Airton Vargas a "demolição imediata" do deck. O auto de
fiscalização foi anexado pelos moradores de Caraíva no manifesto.
Documento
da Prefeitura de Porto Segura (BA) atestando a ordem para demolição imediata /
Reprodução/ANAC e CCAC
As
entidades também apontam que o deck foi cercado por um arame cortante
eletrificado. Segundo os moradores, o equipamento traz risco de morte para
crianças e banhistas.
Foto registrada em agosto de 2017 mostra deck cercado com arame cortante
eletrificado / Reprodução/CCAC
A
defesa do empresário, em nota enviada à reportagem da
revista Carta Capital publicada em maio deste ano, alega ter obtido
autorização da Secretaria de Meio Ambiente de Porto Seguro em 2004 para o deck
e que não sabia dos processos movidos no Iphan e no Ibama.
Leia
a íntegra da nota
Caraíva,
Porto Seguro, 10 de junho de 2021
APELO:
Demolição imediata do deck edificado no rio Caraíva e acima da praia fluvial de
Caraíva
Vimos
pela presente carta solicitar às autoridades competentes, nos termos da decisão
da Prefeitura Municipal de Porto Seguro datada de 31 de março de 2020*, a
demolição imediata do deck edificado no ano de 2004 por Airton Vargas
(conhecido como “Lunabel”), localizado sobre o rio Caraíva e acima da praia
fluvial, em desafio as leis de proteção e preservação ambiental vigentes.
Em
publicação recente na mídia nacional ficou demonstrado que as relações e
cumplicidades de Airton Vargas com o mais alto escalão do Governo Federal,
atualmente com o Ministro do Meio Ambiente Ricardo Sales, (clique aqui para
ver), permitiram que ao longo dos últimos 17 anos fosse evitado o cumprimento
das múltiplas decisões judiciais que ordenaram a demolição do referido deck.
Esta
situação não é aceitável em uma democracia que se supõe ser baseada no Estado
de Direito e no devido cumprimento do processo legal.
Em
3 de novembro de 2015 o parecer de força executória do TRF1 em Brasília ordenou
“a demolição do deck e a redução da volumetria do segundo pavimento
irregularmente alterado” e que a sentença “não se submete mais a nenhum recurso
dotado de efeito suspensivo ordinario". Em 25 de março de 2020, a Justiça
Federal de Eunápolis solicitou a Prefeita de Porto Seguro que “promova a
demolição do deck num prazo de 30 dias (...) tendo em vista a flagrante
ilegalidade e a recalcitrância do executado AIRTON VARGAS em cumprir a
obrigação”. Em 26 de março de 2020, o Procurador Geral do Município de Porto
Seguro solicitou “a demolição do deck no prazo de 24 (vinte e quatro) horas”.
Pedimos
ao Ministério Público que cobre o cumprimento da decisão e que faça valer a Lei
em Caraíva.
Respeitosamente,
CCAC
- Conselho Comunitário e Ambiental e ANAC - Associação dos Nativos de Caraíva.
Visão aérea mostra deck impedindo passagem de
pedestres pela margem do rio / Reprodução/CCAC.
Brasil
de Fato.