Falta
gente, é verdade, para fazer do jornalismo um brado pela dignidade humana e um
libelo contra certa elite podre que acha que um país pode ser alicerçado na
humilhação de seus cidadãos.
Ajudar
com doações aos que têm fome, perfeitamente normal quando se trata de
indivíduos ou instituição humanitárias atuando sobre situações de emergência,
quando se transforma em política de Estado é a exclusão e a divisão oficial
entre os brasileiros: os que comem e os que comerão restos, se restos houver.
Pois
saiba Guedes que ainda há quem escreva, sem medo, que a elite que ele
representa é desprezível, como faz hoje Cristina Serra, na Folha.
Cristina
Serra, na Folha
Paulo
Guedes não falha. Sempre oferece variações sobre o mesmo tema, qual seja, sua
aversão às pessoas pobres. Mas, agora, ele se superou. Disse que as sobras e os
excessos dos almoços da classe média e dos restaurantes podem ser utilizados
para alimentar mendigos e desamparados.
Ele
enunciou tamanho absurdo sem corar, muito à vontade, sabendo que expressa ponto
de vista de setor bastante representativo da sociedade brasileira, do qual é
porta-voz. É a mesma visão de mundo por trás da famigerada “farinata”, ração
feita com produtos próximos da data de vencimento e que o então prefeito João
Doria tentou oferecer a famílias carentes.
É
isso também que explica as pedras pontiagudas sob viadutos para afastar pessoas
sem teto para bem longe da vista, medida revista pela prefeitura paulistana. O
incômodo com o pagamento de direitos trabalhistas às empregadas domésticas, o
desgosto de ver pobres viajando de avião, expresso em redes sociais, tudo isso
é ódio de classe. E encontra sua síntese em Paulo Guedes.
Incapaz
de formular uma política pública de combate à fome e à insegurança alimentar de
milhões de brasileiros, limita-se a oferecer-lhes migalhas. Para o ministro,
quem sobrevive nas bordas da sociedade tem é que comer o resto da mesa
abastada. Viajar para o exterior? Sonhar com filho na universidade? Viver “100
anos”? Ora, onde já se viu.
Guedes
achava que um auxílio de R$ 200,00 por mês seria suficiente para as famílias
enfrentarem a pandemia e não podia ser por muito tempo, “aí, ninguém trabalha
(…) e o isolamento [social] vai ser de oito anos porque a vida está boa”. A
imunidade de rebanho que fizesse o resto. E fez. Neste fim de semana, chegamos
aos 500 mil mortos. Essa marca inimaginável não é obra exclusiva do vírus. As
políticas excludentes e de base eugenista da dupla Bolsonaro-Guedes também
compõem a causa mortis desses brasileiros. Presidente e ministro assinam os
atestados de óbito.
Tijolaço.
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