Quando
a gente acha, neste otimismo generoso que deve caracterizar quem crê na
democracia, que as elites brasileiras estão se vergando a realidade e
verificando que o país se volta para Lula como esperança de superar tudo o que
de desastroso e odiento se instalou no Brasil sob Bolsonaro, eis que surgem
suas vozes mostrando que, incorrigíveis, tudo o que lhes passa pela cabeça é
que, sem voto, possam chegar ao poder na garupa de quem, uma vez lá, possam
descartar ou manietar para que tudo possa continuar essencialmente igual, com a
diferença de que mais bem educado.
Quando
a gente acha, neste otimismo generoso que deve caracterizar quem crê na
democracia, que as elites brasileiras estão se vergando a realidade e
verificando que o país se volta para Lula como esperança de superar tudo o que
de desastroso e odiento se instalou no Brasil sob Bolsonaro, eis que surgem
suas vozes mostrando que, incorrigíveis, tudo o que lhes passa pela cabeça é
que, sem voto, possam chegar ao poder na garupa de quem, uma vez lá, possam
descartar ou manietar para que tudo possa continuar essencialmente igual, com a
diferença de que mais bem educado.
Em
2018, não fizeram isso com o próprio ex-capitão ora presidente, na esperança de
que ele fosse domado de suas inconveniências e amansado de seus arroubos autoritários?
Deu,
como é patente, num bicho tão xucro e perigoso que ameaça partir os cristais da
própria democracia, com os cascos a dar no vidro das eleições.
Agora,
quando as pesquisas eleitorais revelam que a população, sozinha, encontrou o
caminho para corrigir a quadra desgraçada de nossa história a que nos lançaram
com Bolsonaro, lá vem eles com os parquíssimos votos que seus preferidos podem
amealhar dizer, candidamente: “ah, não, mas Lula tem muitas resistências,
quem sabe não seria melhor outro, mais palatável…”
É
o que faz hoje no Estadão a
inefável Eliane Cantanhêde, a eterna “colunista da massa
cheirosa” com uma ideia “genial”:
Lula
abriria mão de ser candidato a Presidente e aceitaria ser vice de outro, não
importa quem fosse, para ser vice numa chapa encabeçada por alguém que ela, a
um ano e um tico das eleições, diz que virá dos “os líderes que o passado nos
lega e o futuro já nos oferece, nos três Poderes, nas organizações, na
iniciativa privada.”
“Com
Lula disputando a volta à Presidência, e com grandes chances, aprofundam-se a
polarização e esvaem-se as soluções. Com Lula trocando a vaga na chapa pelo
papel histórico de arquiteto e líder da união nacional, ele mantém sua
capacidade poderosa de atrair votos, mas desanuvia-se o ambiente, tira-se a
motivação de parte dos votos em Bolsonaro e abre-se a porta para uma nova era,
inclusive na economia.
Além de decisiva para o Brasil, a solução pode ser conveniente para o próprio
Lula. Ele tem milhares de motivos para ressentimento, mas seu maior troco é a
vitória, o reconhecimento, não a volta à cadeira que ocupou por oito anos (…)
Lula terá 77 anos em 2022 e 81 em 2026. Nada mal. Ele, porém, teve uma vida
difícil e tem sérios problemas de saúde, além de… viver um novo amor. O que
ganharia assumindo a rotina de presidente, com críticas, pedradas, cargos,
reuniões e chateações?”
Que
meigo! Como ela quer o bem do ex-presidente: o belo Palácio do Jaburu,
residência oficial do vice, linda casa com comida e roupa lavada, carro oficial
bacana e, sobretudo, nada para fazer e ficar curtindo seu amor outonal!
E
como conseguir essa maravilha? Simples, mercadejando a confiança que recebe do
povo brasileiro, manifestada nas pesquisas eleitorais, com qualquer outro – o
mais bem colocado tem intenção de voto cinco vezes menor que a dele! – e
ganhando em troca a “maré mansa” de quatro anos paradisíacos. De maneira mais
direta: vendendo as esperanças do povo brasileiro em troca de vantagens
pessoais.
Nada
que difira, aliás, do que fazem os políticos convencionais.
Vão
vendo como a colunista repete, tosca e melosamente, a fábula da raposa que
elogia o canto da gralha para que esta solte o queijo que traz no bico…
Mas,
se você apurar bem o ouvido verá que isso é, na verdade, o mudo “ele, não” que
a elite brasileira sempre tem na cabeça quando se trata de aceitar a ideia de
que o Brasil possa ser governado por um filho do próprio povo que, não importa
o que tenha já provado em fazê-lo traz, na testa, o estigma de não ser alguém
integrado ao pensamento medíocre de que o país não precisa apenas de um
gerente, mas de uma expressão de identidade, afirmação e estímulo.
Suavemente,
com todos os modos e generosidades, apoiam os vetos da extrema-direita a Lula e
a intolerância que eles próprios ajudaram a construir.
Tijolaço.