Jorge
Bornhausen é um dos mais experientes políticos brasileiros. Assim como José
Sarney e outros velhos caciques, tem a sabedoria da idade e a capacidade de
recorrer a pesquisas para monitorar suas decisões
Os
estudos passaram pelas seguintes questões:
É
possível a terceira via?
O
que pode ser feito antes do afunilamento das candidaturas, na reta final das
eleições?
Qual
perfil adequado do campeão branco?
As
análises concluíam que é perfeitamente possível e provável a nova via, em 40%
da população que não aceita a polarização entre Lula e Bolsonaro. É uma lógica
conhecida: a polarização beneficia os dois lados; o anti de Bolsonaro fortalece
Lula e vice-versa. Assim, se um dos dois cair, a rejeição ao remanescente
garantiria a tal terceira via.
Bornhausen
considera “perfeitamente possível e provável” a nova via, a partir do que ele
considera sinais vindos da sociedade e dos partidos
*
documento assinado por cinco pré-candidatos em defesa da democracia – João
Dória Jr, Henrique Mandetta, Luciano Huck, Ciro Gomes e Amoedo e apoio de
Sérgio Moro. Houve uma depuração, com a saída de Amoedo e Luciano Huck do jogo.
*
Encontro de presidente de partidos em defesa da democracia.
*
Declaração de Gilberto Kassab, presidente do PSD – que se transformou em grande
partido – de quem não apoiaria a bipolarização.
Mesmo
assim, há alguns eventos pela frente antes de definir claramente a estratégia
dos liberais.
Aguardar
regras do jogo, do processo eleitoral, que está em discussão no Congresso. A
votação será até 30 de setembro e será publicada até 1o de outubro e passa por
tentativas de impor distritão. Bornhausen não acredita em nenhuma mudança de
natureza constitucional, como o voto impresso ou o distritão. A grande
discussão, segundo ele, é em relação às sobras eleitorais – os votos de
partidos que não foram aproveitados por nenhum candidato. Até 2018, havia uma
regra que permitia as sobras apenas para partidos que atingissem consciente
eleitoral. Houve modificações permitindo que todos os partidos se beneficiem
das sobras. Mesmo com a proibição de coligações, manterá a enorme quantidade de
partidos, diz ele.
Segundo
passo, janela de março, quando candidatos poderão mudar de partido. Se regra
atual for mantida, eles irão procurar aqueles partidos em que poderão se eleger
em cima das sobras. Se voltar a norma antiga, haverá aglutinação partidária.
Só
a partir desses movimentos, haverá condições de se discutir frentes ou
candidatos.
Até
lá, a iniciativa será dos partidos políticos, que procurarão melhor forma de
fortalecer sua chapa nas eleições estaduais. O governador favorito ao segundo
turno é instrumento muito forte nas eleições presidenciais.
A
POSIÇÃO DA DIREITA LIBERAL
Bornhausem
confia, especialmente, nas pesquisas de Antonio Lavareda, do IPESP. Para
definir o figurino ideal, Lavareda recorre a pesquisas com grupos focais
selecionados entre pessoas que pertencem aos tais 40% contra a polarização.
Houve
duas pesquisas sobre o perfil ideal, que identificou as seguintes
características.
· Moderado
· Que
governe para todos os brasileiros
· Ficha
limpa
· Que
se preocupe com pessoas
· Que
tenha experiencia política, administrativa e recupere a imagem do Brasil no exterior.
Dos
cinco presenciáveis, Ciro e João Dória não se enquadraram no figurino. Dória
devido à enorme rejeição que tem, especialmente em São Paulo. Com todo o
trabalho em favor da vacinação, o percentual de paulistas que desaprova sua
atuação na Covid-19 é do mesmo tamanho dos que aprovam. Segundo Bonhausen, a
não ser que reverta essa desconfiança do eleitor, Doria poderá não ser
candidato nem a Presidente, nem a nada.
As
posições bélicas de Ciro Gomes também o desclassificam nessa seleção – aliás,
nem precisaria de pesquisas para constatar isso. Mas, entre os
liberais-conservadores pesa a posição de Ciro de ser a favor de um estado
forte.
Enquadraram-se
o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o ex-Ministro Mandetta e o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Mas os três enfrentam alto grau de
desconhecimento. Segundo Bornahusen, Leite deu um lance de mestre, ao se
apresentar como gay. Aumentou substancialmente o nível de conhecimento público
com ele. Mandetta comunica-se muito bem, diz Bornahusen, mas não teve atuação
no debate promovido pelo Estadão. Talvez por não ter feito media training, Ciro
tem facilidade de falar, admite Bornhausen. Mas sua cabeça em economia é igual
à de Brizola, Dilma.
Eduardo
foi o melhor. Segundo Bornhausen, teve profundidade e, no debate, antecipou o
grande lance que fez no mesmo dia, quando defendeu a liberdade de gênero no
programa de Bial. Foi inteligente, uma jogada bonita, elogia Bornhausen.
Rodrigo Pacheco tem estilo do político tradicional de MG, estilo Tancredo Neves
e se enquadra nesse perfil.
A
partir daí, o campeonato dependerá dos outros jogadores. Sua esperança é de que
Lula e Bolsonaro se estraçalhem, e levem Ciro junto.
O
FATOR MILITAR
Talvez
nem o próprio Bornhausen acredite no que diz sobre as esperanças em relação à
terceira via. O discurso otimista é essencial para manter a tropa unida. Mas,
aí, entra-se em um terreno pedregoso, que é o fator militar.
Ontem,
os três comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota de protesto contra
declarações do presidente da CPI, Osmar Aziz, terminando com uma declaração:
“as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que
defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.
É
uma declaração intencionalmente dúbia. Houve quem visse ameaças aos críticos,
houve quem visse reafirmação da defesa das instituições contra “ataque leviano”
– o que caberia a Bolsonaro.
Serviu
para decifrar melhor os campeões brancos. O governador gaúcho Eduardo Leite
visitou comandantes militares – provavelmente antes do episódio. E o presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco, comportou-se de modo pusilânime.
Esse
quiproquó escondeu o essencial. Em sua declaração, Aziz alertou para setores,
dentro das Forças Armadas, sem generalização. De fato, assusta a multiplicidade
de oficiais da ativa e da reserva envolvidas com o golpe das vacinas. Fica
claro que essa ligação com Bolsonaro está contaminando celeremente as Forças
Armadas. Vários militares estão deixando o serviço ativo e montando empresas
visando aproveitar as benesses do poder.
O
modo dúbio com que o Alto Comando tratou o episódio Pazuello, além disso,
enfraqueceu sua autoridade moral sobre a tropa.
Em
suma, sabendo-se do profundo anti-lulismo da corporação, o episódio é mais um
alerta para a necessidade de um pacto amplo que fortaleça a democracia.
GGN.
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