Quando
Pazuello assumiu, país registrava cerca de 15 mil mortes por covid e 230 mil
casos. Quando saiu, os infectados eram 12,2 milhões e os mortos, 300 mil.

Em
sua inquirição ao ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto
Ferreira Dias, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou que a gestão
do ex-ministro e general Eduardo Pazuello representou uma “verdadeira
intervenção militar” na pasta. O senador quis saber se essa “ocupação” levou
algum beneficio ao serviço e se, com a militarização, o ministério da Saúde
passou a trabalhar melhor. A resposta de Dias foi que “não teve nenhuma
melhora”. O depoimento do primeiro ouvido da CPI que acabou detido, na quarta-feira
(7), deixou claro, segundo senadores, que as principais decisões do ministério,
inclusive em relação às vacinas, eram tomadas pelo coronel da reserva Élcio
Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde na gestão Pazuello, o
número 2 na hierarquia.
Alguns
analistas, e também senadores da CPI, avaliaram que a ordem de prisão de Aziz
foi precipitada. Dias pode ter omitido informações e ser acusado de suposta
corrupção, argumentaram, mas a comissão detectou que a corrupção no Ministério
não é pouca. Dias, que foi solto sob fiança em seguida, poderia ser um bode
expiatório. Além disso, muitos depoentes mentiram de forma ainda mais acintosa
do que Dias. Entre eles, a médica Nise Yamaguchi, apontada como membro do
gabinete paralelo. Ou o próprio Luiz Domingueti, estranho personagem, cabo da
Polícia Militar, que perambulou pela Esplanada dos Ministérios e foi recebido
na própria pasta de Pazuello como um mercador de vacinas.
COM
PAZUELLO, MILITARIZAÇÃO DA SAÚDE CRESCE
Desde
a chegada de Pazuello, de confiança do presidente Bolsonaro, militares passaram
a ocupar cada vez mais cargos em diversos níveis. O número deles chegou a 25 em
junho do ano passado. Élcio Franco foi nomeado secretário-executivo com a
chegada do general e sua “expertise” em logística. Por sua vez, Franco nomeou o
tenente-coronel Alex Lial Marinho na Coordenação de Logística e o coronel
Marcelo Blanco como assessor de Roberto Dias, que o citou como o homem que
levou Domingueti à reunião no shopping para tratar da vacina indiana Covaxin.
Por outro lado, os civis da área da saúde nomeados pelo então ministro general,
em plena pandemia, eram defensores de tratamento precoce e outras formas de
“combate” ao vírus fora dos protocolos científicos.
Pazuello
comandou o ministério por pouco mais de dez meses. Ao chegar, em 15 de maio de
2020, no lugar de Nelson Teich, o país registrava 15 mil mortes e 230 mil casos
de covid. Em 24 de março de 2021, quando Marcelo Queiroga falou pela primeira
vez como ministro, eram 12,2 milhões os infectados e o número de mortos, 20
vezes maior, ultrapassava 300 mil brasileiros. “Missão cumprida”, disse
Pazuello ao deixar o ministério. Hoje (9),
são 530 mil.
ÉLCIO
FRANCO
O
ex-secretário executivo foi exonerado do ministério em março passado, mas
nomeado assessor especial da Casa Civil menos de um mês depois. Na oitiva
mais tensa realizada pela comissão até a última quarta-feira, o senador
Randolfe Rodrigues afirmou que o dado mais importante levado por Dias à CPI foi
que o depoimento apontou a responsabilidade final na contratação de vacinas
contra a covid como sendo de Élcio Franco. O que quer dizer que, de acordo com
Dias, o coronel estaria ligado ao caso da Covaxin, que implica a participação
da “intermediária” Precisa Medicamentos. O coronel Franco passa a figurar “como
foco das investigações da CPI”, afirmou o senador do Amapá, e será necessário
ouvi-lo novamente.
“Estavam
querendo o núcleo militar para tomar conta do galinheiro”, disse a senadora
Simone Tebet (MDB-RS) durante o depoimento de Roberto Dias. Ela declarou
acreditar que a CPI já tem “a materialidade” do crime relativo à Covaxin.
“Estamos atrás da autoria. A Covaxin vai ser o grande calcanhar de Aquiles do
governo”, acrescentou. “Eles (Pazuello e Élcio Franco) citaram ‘cláusulas
leoninas’ da Pfizer, uma vacina cientificamente comprovada e hoje aplicada o
mundo inteiro.”
Segundo
a CPI, Élcio Franco é o principal responsável operacional pelo “banho-maria” em
que foi colocada a Pfizer nas negociações da vacina. Enquanto a Pfizer ficava
no “banho-maria” e a CoronaVac era atacada pelo próprio presidente da
República, as negociações pela Covaxin andavam rapidamente. O contrato com a
Pfizer levou 330 dias para ser fechado, enquanto com o imunizante indiano
consumiu meros 97 dias.
DOIS
NÚCLEOS
À
CPI, em 9 de junho, entre muitos pretextos, o ex-secretário executivo tentou
justificar tratamento ao imunizante norte-americano com a seguinte frase: “Nem
ela (Pfizer) confiava no que ela estava oferecendo pra gente”. Hoje, a
vacina norte-americana é considerada a mais eficaz contra o Sars-Cov-2.
O
depoimento de Roberto Dias deixou claro, segundo Randolfe Rodrigues em coletiva
logo após a oitiva, que existiam “dois núcleos em disputa” no Ministério da
Saúde: o que era dirigido por Dias e o comandado por Franco. “É uma disputa de
poder, e eu diria, pelo controle dos esquemas de corrupção no Ministério da
Saúde.”
Ouvida
na quinta-feira (8), a ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunização (PNI)
Francieli Fantinato disse que deixou o Ministério da Saúde por motivos
pessoais, mas ressaltou: “Existe uma politização do assunto, por meio do líder da nação,
que traz elementos que muitas vezes colocam (a vacinação) em dúvida”. “Para uma
campanha de vacinação funcionar precisa ter vacina e campanha publicitária.
Infelizmente, eu não tive nenhum dos dois.”
Rede Brasil Atual.
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