sábado, 5 de fevereiro de 2022

O MARKETING DO MORO. POR FERNANDO BRITO

Em longa entrevista à Folha, o marqueteiro da campanha de Sergio Moro diz que seu “alvo” são os “bolsonaristas decepcionados”.

Com todo o respeito, é uma bobagem sem tamanho em matéria de estratégia.

Bolsonaro teve, em 2018, 55,13% dos votos válidos e 49,85% dos votos totais. Portanto, caso tenha perdido metade dos seus votos, os “bolsonaristas arrependidos são apenas 25% dos eleitores.

Para um candidato a presidente da República escolher falar para um quarto, apenas, dos eleitores é suicídio. Quem quiser provas, veja se Lula fala o tempo todo de Bolsonaro. Claro que não, na maior parte do tempo está fazendo crítica social e econômica do país, coisas que afetam 100% – ou quase – dos cidadãos.

Agrava-se isso quando se deixa de considerar a grande praga que assola quase todos os outros candidatos: o fato de terem dado seu aval ao ex-capitão. É como alguém vender a você um carro “bichado” e, tempos depois, vir te oferecer outro, garantindo que “aquele era ruim, mas este é bom”.

Dizer que vai tratar dos problemas econômicos e sociais e fazer isso dizendo que adotará “forças-tarefa” – versão policialesca das antigas “comissões de alto nível” típicas dos que não tinham soluções, porque “não dá para passar ao largo” é quase uma confissão de que aquelas questões são uma aborrecida necessidade quando se pretende essencialmente o poder.

Nada, porém, é tão sincericida quanto a frase “O Bolsonaro está no nosso espectro”.

Sim, é isso: está no mesmo campo, no mesmo grupo de pensamentos, no mesmo espectro ideológico, apenas apresentando-se de outra maneira, como se as grosserias e os modos chulos do atual presidente fossem o seu problema e não a postura odiosa e as políticas que nos levam ao caos.

Moro tinha um ponto eleitoralmente muito forte e que usou para ajudar Jair Bolsonaro: a sua imagem midiática de campeão da integridade. A ‘boca” no governo, o desejo frustrado de ir para o STF, os diálogos da Vaza Jato, a decretação pela Suprema Corte de que foi um juiz parcial e, finalmente, o fato de ter ido trabalhar para uma empresa norte-americana que se encarregou de enterrar os ossos das empreiteiras que a Lava Jato quebrou acabaram com esta imagem e “sobrou” disso a própria razão de toda a sua trajetória judicial: o ódio a Lula.

Será este, nenhum outro, o mote de sua campanha eleitoral, se ela for até o final. Seu argumento central é de que ele “será o melhor” meio de derrotar o ex-presidente e, por isso, seu antibolsonarismo só tem esta razão de ser.

E, claro, o ódio que tem do atual presidente por não ter dado o que ele queria, o que é tão evidente que até João Dória, do alto dos seus 3% de intenções de voto, manda recados de que lhe poderia dar: um cadeira no Supremo.

Tijolaço.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

OS MOVIMENTOS DOS SEM-VOTO. POR FERNANDO BRITO

A primeira semana política após a retomada das atividades do Congresso continuou a produzir as “flores do recesso” que o velho deputado Thales Ramalho introduziu no folclore político brasileiro: aquelas ideias que parecem ser arrasadoras, mas que, expostas às intempéries da realidade, não duram mais que alguns dias.

É o caso das conversas sobre “federações partidárias” a serem formadas, basicamente, pelo PMDB, ora com o PSDB, outra com o União Brasil.

Nenhuma das duas tem qualquer possibilidade de avançar, porque não existe, nos três partidos envolvidos, sequer a capacidade de partilharem, internamente, candidato comum à Presidência.

No MDB, a senadora Simone Tebet não une o partido e, fora dele, não tem potencial para fazer uma honrosa figuração como candidata a vice.

No PSDB, Doria não é aceito como candidato pelos tucanos não-paulistas: Eduardo Leite, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio e toda a velha guarda, embora Fernando Henrique Cardoso ainda mantenha aquela conversa de “candidatura do meu partido” que não convence nem seus vizinhos de prédio.

No União Brasil, mesmo com o apetite de Luciano Bivar para negócios, a candidatura de Sérgio Moro não avançou sobre o veto de ACM Neto, que sabe que não terá chance senão fingindo que não tem candidato presidencial e, ainda assim, se o ministro João Roma, como candidato bolsonarista, não lhe roubar votos demais.

Moro, aliás, cava a própria a cova por já estar assumindo publicamente que não terá apoio de partidos, quando diz que “apoio de entidades civis é ‘muito mais relevante’ que o de partidos políticos“.

Seus resultados nas pesquisas não permitem que ele dê uma de “esnobe” antes as forças políticas conservadoras, como tem feito, transformando MBL, “Vem pra Rua” e outros grupos virtuais de classe média em seus únicos apoios.

Fora do circuito das supostas “federações”, Gilberto Kassab dedica-se a inventar candidatos a presidente que substituam o natimorto Rodrigo Pacheco e resiste a filiar Geraldo Alckmin e a ter de dividir com ele o comando do PSD, já majoritariamente engajado na candidatura Lula. Corre o risco, porém, de chegar atrasado para pegar as primeiras filas.

Estas lenga-lengas seguirão durante todo este mês, preparando o “março da salvação”, no qual as trocas partidárias vão se consumar, na janela legal de mudanças de filiação.

O PP não tem condições de fechar no apoio a Bolsonaro, o PL vai agregar a família e a “bancada-raiz” do bolsonarismo na esperança de que ela leve os seus e o Republicanos, primo-pobre da base bolsonarista, vai ser rasgado ao meio na candidatura presidencial.

Não há mais via alguma, agora é o “salve-se quem puder”.

Tijolaço.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

SINAIS DE NOVO AUMENTO DA GASOLINA. POR FERNANDO BRITO

O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, disse a Petrobras “não pode fazer política pública”.

Lula disse que a empresa não fará no futuro a paridade integral aos preços internacionais, porque diz que não pode “enriquecer um acionista americano [perto de 35% das ações da empresa] e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga mais caro por causa do preço da gasolina .”

O petróleo voltou ao centro das atenções à toa: o preço, hoje, do barril no mercado internacional deu um novo salto e ultrapassou os 90 dólares por barril e promete ir além dos 100, com as tensões na Ucrânia encarecendo a energia.

Desde o dia 11 de janeiro, quando a estatal anunciou seu último aumento, o preço subiu quase 10% e a queda do dólar, é de apenas 4%.

Tudo está apontando, para logo, num novo aumento dos combustíveis.

Os importadores, que se valem da redução do volume de refino da Petrobras, já estão chiando e falando em “desabastecimento”, para “cavar um novo reajuste nos preços.

Tijolaço.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A TRANSPOSIÇÃO DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Bem cedo, aqui, falei de como Bolsonaro age como um touro furioso na tentativa de ter sobrevida como presidente da República.

A comparação foi imprópria, o animal que se assemelha é o dragão de Komodo, aquele lagarto gigantesco da Indonésia que tem, em sua saliva, bactérias letais, capazes de matar apenas pelo contato com esta baba gosmenta.

Hoje, ao debochar de São Paulo, ao falar do desabamento de pistas da Marginal Tietê, disse, fazendo piada”, que “semana que vem a gente conclui a transposição do [rio] São Francisco. Em São Paulo, eu vi a transposição do Tietê”.

Para quem comemora morte, nem chega a ser tão estranho comemorar desabamentos, de estradas ou aqueles que mataram 11 pessoas em Franco da Rocha (provavelmente mais, pois há 7 desaparecidos ainda), dizendo que a gente que morava ali “não tinha visão de futuro”,

A saliva mortal de Bolsonaro também estava nas palavras que espalhou na cerimônia (exagerada e dispensável em meio a uma pandemia) de abertura do ano legislativo.

Suas falas transpõe pelo ar matéria infectante que atinge a parte da população que encontra no ódio o consolo para suas próprias frustrações.

Na boca de Bolsonaro, defesa da liberdade e imprensa é a das “fakenews” do Telegram, que se recusa a cumprir a lei brasileira e servir de plataforma de lançamento de mentiras e agressões, “harmonia entre os poderes” é só com a submissão completa de asseclas como Arthur Lira na Câmara ou “bananões” como Rodrigo Pacheco no e Senado e segurança é a liberação geral de armas para a sua turma.

Tijolaço.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

MORISTAS, AGORA, QUEREM QUE BOLSONARO OS SALVE. POR FERNANDO BRITO

Se quiser saber qual é a situação de um time de futebol num campeonato ou de um candidato nas eleições, repare no que dizem seus “torcedores”: “meu time não vai ser rebaixado porque se o Flamengo perder de quatro gols do Madureira e o Corinthians , em casa, ficar no zero a zero com o Anapolina, a gente sai do rebaixamento”.

Pois não é que hoje, Merval Pereira, decano do morismo imprensarial, sai-se com esta “combinação de resultados” para definir a chance de Sergio Moro na eleição presidencial e diz que suas chances estão numa desistência de Jair Bolsonaro em disputar a presidência:

“Tudo parece se encaminhar para uma vitória do ex-presidente Lula na eleição presidencial de outubro, a não ser que o inesperado faça uma surpresa.(…) Nem tão inesperada assim seria uma desistência de Bolsonaro, prevendo a derrota certa e sem chance de tornar-se, como Trump nos Estados Unidos de Biden, a liderança contra o PT sem foro privilegiado que o proteja. Eleito senador, Bolsonaro poderia liderar a oposição. Derrotado, pode ir para a cadeia. Sua saída do páreo mudaria a cena eleitoral.”

Claro que no site inominável do morismo, o inefável Diego Mainardi, além de prometer pular da Catedral de São Marcos se houver um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, adora a sugestão e entra na vibe de sugerir impunidade ao Mito como paga a uma desistência de candidatar-se.

A verdade é que deu chabu no Plano Moro e a sua minguada candidatura passou a servir apenas como sobrevida a Jair Bolsonaro, porque lhe serve ao propósito de atacar Lula, único discurso que o ex-juiz terá como bandeira de campanha.

O delírio merválico de que Bolsonaro poderia “liderar a oposição” e que se livraria das acusações simplesmente por estar numa cadeira no Senado é deste de se fazer embarcar num dos foguetes do Elon Musk, como este que vai se chocar com a Lua.

Mesmo se ele desistisse da candidatura e seguisse na presidência, as forças políticas e judiciais cairiam sobre ele impiedosamente.

Quem tem a desistência como opção de fuga não é ele, é o ex-juiz, que perderá menos com uma retirada do que com uma derrota anunciada.

Tijolaço.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

DELEGADO QUIS LIVRAR A PELE DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

A crer no que diz o delegado da Polícia William Tito Schuman Marinho, que relatou o caso da tentativa de falcatrua na compra das vacinas indianas Covaxin para concluir que, como “não tinha o dever de ofício” de mandar apurá-las, não cometeu crime de prevaricação.

O delegado esperava que a Constituição definisse que expressamente era seu dever de ofício “mandar apurar denúncias de malversações de dinheiro público”.

Está lá, fácil de entender, no Artigo 37, onde se diz que a administração pública “obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade (…)”. Não bastasse, no art. 85, inciso V, define como crime descuidar da “probidade na administração”. Se deixar que ela seja violada é crime, zelar por ela é dever, não algo opcional.

O delegado preferiu achar que mandar apurar a irregularidade na compra das vacinas não era “dever de ofício e, assim, que não se enquadra no crime de prevaricação. Mas o que acha do delegado do art. 143, que rege a administração pública: “art.143 – A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa”.

O presidente é autoridade? Teve ciência de irregularidade? Promoveu sua apuração? E de forma imediata?

Não? E daí?

Se a Justiça e o Ministério Público acatarem esta manifestação do delegado, nenhum chefe em qualquer nível de governo, se souber de alguma maracutaia, poderá dizer que apurar denúncias de corrupção “não está em suas atribuições”.

É difícil que isto prevaleça, mesmo com a mansidão da Procuradoria Geral da República.

Até porque é é algo que não terá progresso concreto, a não ser depois que Bolsonaro perca o escudo de proteção que o cargo lhe dá.

Tijolaço.

domingo, 30 de janeiro de 2022

A GERINGONÇA FUNCIONOU OUTRA VEZ. POR FERNANDO BRITO

Definidas 80% das 230 cadeiras do Parlamento, o Partido Socialista Português caminha para uma vitória expressiva e, até, para obter uma impensável maioria absoluta, que consolida o governo, do primeiro-ministro Antônio Costa, até agora sustentado por uma coligação a que os portugueses chamam de geringonça, que parece ter funcionado.

Ele ainda não admitiu abertamente que seu partido terá número para formar sozinho o governo e diz que o controle do Parlamente é “um cenário extremo não previsível”.

Já é previsível sim, porque o PSP tem 55% das cadeiras já preenchidas, embora com 42% dos votos, porque no sistema distrital do voto português, os votos não se somam como no Brasil, considerando-se apenas os que conquistam cadeiras nos distritos

A nota triste é que a extrema direita, com o “Chega” – o bolsonarismo de lá – será a terceira força política do país, com pouco mais de 7% dos votos.

Tijolaço.

sábado, 29 de janeiro de 2022

BOLSONARO É A CRISE. SOCIAL, ECONÔMICA E INSTITUCIONAL. POR FERNANDO BRITO

O “num vô” de Jair Bolsonaro ao depoimento ao qual foi intimado por Alexandre de Moraes não é a razão do novo capítulo da crise institucional que vive o país.

A razão é o desejo de Jair Bolsonaro em fazer das crises o seu método de manter-se no poder, já que método de governar seria reconhecer que há governo, o que daqui já se foi faz tempo.

Bolsonaro não gere a cooperação, gere o conflito, desde que se lançou a política, ainda dentro da caserna.

Seu ambiente é o da constante disputa do “quem é que manda aqui?” e seu argumento eximir-se dos fiascos sucessivos é o “não me deixam mandar”.

Quem? O Judiciário, a imprensa, a lei, a pandemia, os ambientalistas, os petistas, os esquerdistas, os “comunistas”, que se opõem ao povo, maciçamente representado em motociatas e desfiles de picapes climatizadas do agronegócio, tão reluzentes que se suspeita jamais terem visto barro.

Não se trata de uma discussão sobre as prerrogativas de se e como ele deveria prestar declarações em um processo judicial em que, na condição de investigado, poderia escolher entre comparecer ou não e, na condição de presidente, do direito que teria em determinar local, data e hora da oitiva.

Teve dois meses para fazê-lo e não o fez, e nem sequer levantou, senão na véspera, objeções a obedecer à ordem do ministro do STF.

O último lance da pantomima foi inacreditável: entregar um recurso faltando 11 minutos antes do depoimento. Achava que todos sairiam correndo pelos corredores do Supremo para acolher seu pedido com tom de ordem? Está claro que o horário foi estudado para, mesmo que houvesse vontade de atendê-lo, não fosse possível e ficasse claro sua recusa em prestar declarações sobre o caso.

Bolsonaro está “tocando reunir” para a legião de fanáticos e Moraes deu-lhe o pretexto para fazê-lo.

Quem quiser estudar o comportamento do presidente deve deixar da lado os tratados de política e examinar as atitudes dos valentões de botequim.

Bolsonaro é desta extração.

Tijolaço.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

COM 799 ÓBITOS, BRASIL SE TORNA 2° EM MORTES DIÁRIAS POR COVID. POR FERNANDO BRITO

Com 799 novas mortes registradas de ontem para hoje, o Brasil se tornou o país com o maior número de óbitos diários por Covid-19, superando as 673 da Rússia e as 573 da Índia.

O número de casos bateu novo recorde, segundo o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, com 270 mil casos novos, mesmo com a continuidade da “mentira oficial” sobre os registros da doença em São Paulo, onde a Secretaria Estadual continua acusando apenas 5% dos casos, quando o únmero real, pela população paulista, deve andar em quatro ou cinco vezes mais, pelo menos.

São Paulo sempre representou entre 20 e 25% dos casos do país e, agora, aparece com 5%.

Desculpem a repetição, mas trata-se de algo que está matando, internando e deixando pessoas com sequelas: não é possível que os governos (todos eles) estejam evitando decretar medidas restritivas, ao menos enquanto a pandemia está nestes níveis assombrosos.

É inacreditável o comportamento de que “isso vai passar logo” continue ignorando que se deixará um rastro de 20 ou 30 mil mortos a mais, ou que se continue insistindo em repetir que a Ômicron seja “quase inofensiva”, ao ponto de que o energúmeno que nos preside diga que ela é “bem-vinda” e o Ministro da Saúde dificulte a vacinação infantil.

Ser menos letal não é não ser letal, e o digam o fato de perdermos, num só dia, 800 vidas.

Tijolaço.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

DEPOIMENTO DE BOLSONARO A PF É TRAGICOMÉDIA DE ERROS. POR FERNANDO BRITO

Tem hora e endereço marcados.

14 horas, na na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal, localizada no SAIS, quadra 7, lote 23, Setor Policial Sul.

Vai ser um espetáculo para as câmeras de televisão e olhe lá se não teremos um grupo de agitadores para desagravar o primeiro presidente da República intimado para depor em uma unidade policial num inquérito onde ele mesmo é o alvo do possível crime. Ele havia prestado declarações sobre o caso Moro, mas recebendo o delegado no Planalto.

É o ápice de uma comédia de erros que começou numa das lives presidenciais onde, para sustentar sua história de fraude nas urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro exibiu um inquérito sigiloso da PF sobre uma tentativa de ataque aos computadores do Tribunal Superior Eleitoral.

Violação de sigilo explícita.

É duvidoso, porém, que as consequências disso sejam tratadas de forma tão primária pela Advocacia Geral da União, que atua na defesa de Bolsonaro.

No dia 29 de novembro, Bolsonaro foi intimado a prestar declarações, com prazo de 15 dias e podendo marcar a hora e o lugar para fazê-lo com discrição. Aceitou, mas pediu um prazo de 60 dias, alegando que “a agenda Presidencial, mormente neste período de final de ano, lhe impõe série de compromissos alguns deles em agendas externas que dificultam sobremaneira a sinalização de dia e hora no exíguo lapso ofertado pela Senhora Delegada de Polícia Federal”.

Viu-se, nas praias, como seu tempo era exíguo e sua agenda apertada.

Ainda assim, o ministro Alexandre de Moraes, à frente do inquérito, deu-lhe os 60 dias: os 15 já concedidos e mais 45, o que faz de amanhã a data limite.

Só que, ontem, já poucas horas antes de vencer o prazo, Bolsonaro mandou dizer que não só não marcaria hora para receber a PF como “declinava” do direito de prestar declarações.

Agora, Moraes marcou a tomada de depoimento e das duas uma: ou Bolsonaro, o valentão, vai e diz apenas que o povo tinha o direito de saber, ou Bolsonaro, o fujão, não aparece, “Não vou, e daí?”

E abre caminho para Moares, querendo, determinar a sua condução, o que provavelmente não ocorrerá, pela repercussão que o fato alcançaria.

É difícil imaginar o que pode acontecer, até porque Alexandre de Moraes, até aqui, não parece deixar que o intimidem.

Nada disso, claro, vai muito à frente, porque o Judiciário, sob a maneirosa presidência de Luís Fux, não vai peitar o Planalto. Mas Moraes também não vai ficar quieto e já começou a agir, quando determinou o fim do sigilo do processo – exceto dados bancários e fiscais – tão logo seja colhido (ou não colhido) o depoimento presidencial.

Só não sei se Bolsonaro se aborrecerá com a polêmica, ele adora se mostrar valente em brigas em que o seu cargo não o deixa perder.

Tijolaço.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

BRASIL VOLTA A TER MAIS DE 500 MORTES/DIA POR COVID, SEM REAGIR. POR FERNANDO BRITO

Números preliminares de alguns estados mostram que, à noite, a contagem de mortos pela Covid-19 vai ultrapassar 500 óbitos em 24 horas.

Em cinco estados (São Paulo, 172; Goiás, 74, Minas Gerais, 62, Rio Grande do Sul, 57, Rio de Janeiro, 26), o número chega já a 391 mortos.

Estamos fingindo que a nova variante é “fraquinha” e, no entanto, as UTI vão lotando e as mortes subindo, como reflexo da ampliação monstruosa do número de infectados.

Não é uma questão de dizermos que isso só ocorre com quem não tem a vacinação completa, 30%, porque só isso dá um universo de 60 milhões de pessoas expostas.

Não há nenhuma medida de estimulo ao um isolamento que faça o número de casos desacelerar da disarada absurda em que está, mesmo com a subnotificação involuntária e a subnotificação criminosa, porque mente sem qualquer cerimônia.

Percorra as estatísticas e veja o escândalo que é São Paulo registrar “apenas” 13 mil casos ainda hoje. Com um terço dos habitantes, o Rio registrou (e com muitas falhas) o dobro, 26 mil e Minas Gerais, 36 mil!

Nós estamos apenas no começo deste drama, porque os casos fatais normalmente têm um “delay” de duas semanas para responderem ao aumento dos casos.

Nossos governantes estão prontos a dizer, de público, que consideram voltar a mil morte por dia uma perda “aceitável” de vidas?

Tijolaço.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

CONSPIRAÇÃO CONTRA CIRO E MAIA, MAIS UMA DOS ‘LAVAJATEIROS’. POR FERNANDO BRITO

As mensagens trocadas entre procuradores da Lava Jato conspirando contra Ciro Gomes e Rodrigo Maia, reveladas na CartaCapital, em reportagem de Glenn Greenwald e Victor Pougy, mostram mais do mesmo: a Força Tarefa de Curitiba era uma organização criminosa, paga com o dinheiro público, que perseguia (literalmente) objetivos políticos completamente estranhos ao seu papel institucional.

Caça-se “alguma coisa” para ser usada contra Ciro e seu irmão, Cid Gomes, e debatem como Sérgio Moro deve usar a Polícia Federal – ele já no Ministério da Justiça – para atacar o então presidente da Câmara por sua oposição ao “pacote anticrime” na formulação na qual foi enviado pelo ex-juiz ao Congresso.

Aliás, é preciso ver se as ganas de procuradores de fazer um “arrastão cível” contra Ciro não estão por trás da inexplicada “busca e apreensão” sofrida pelo presidenciável do PDT e por Cid.

A rigor, nada disso surpreende mais ninguém. A única surpresa é que esta turma não esteja, toda ela, respondendo processos éticos e seja exemplarmente punida, para que a corporação fique claramente advertida de que transgressões éticas e uso do poder de que institucionalmente dispõe não é uma brincadeirinha na qual possam se juntar como bando de escolares travessos, para dar vazão às suas preferências políticas e ódios ideológicos.

Se o Ministério Público quer voltar a ter o respeito que teve nos governos petistas, escolhendo pelo voto da categoria o Procurador Geral da República, precisa, antes, demonstrar que está disposto a expelir ou “encostar” os que fizeram dele trampolim para carreiristas irresponsáveis e criminosos.

Do contrário, mesmo com toda a sua boa vontade com a instituição, apesar do que ela – como negar que o apoio aos lavajateiros, no MP, era maciço? – Lula terá todas as legítimas razões para não se submeter a nomear um PGR escolhido pela corporação, tal como fizeram Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Até porque um Ministério Público que não pune seus integrantes que conspiram contra a lei não pode pretender ser fiscal de lei alguma.

Tijolaço.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

AS ELEIÇÕES DE 2022 E A DISPUTA PELO GOVERNO LULA. POR PAULO NOGUEIRA BATISTA JR

Começo o ano tratando da principal fonte de esperança para todos que se preocupam com nosso país – as eleições presidenciais de 2022. Há muita incerteza, claro, mas o favoritismo do ex-presidente Lula é evidente. Esse favoritismo desencadeou, ou ameaça desencadear, uma disputa por espaço dentro de um possível ou provável novo governo Lula. Abordarei, primeiro, o quadro eleitoral como se apresenta hoje. Em seguida, farei algumas conjecturas sobre a disputa pelo governo Lula.

O quadro eleitoral

Para colocar o tema das eleições em perspectiva, talvez seja útil retroceder no tempo, digamos, seis ou sete meses, para meados de 2021.

Qual era a situação naquela época? Lula já aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto, mas com duas ressalvas importantes. Primeira, havia a expectativa, alimentada intensamente pela mídia, de que se pudesse viabilizar uma “terceira via”. E, segunda ressalva, existia a percepção de que Bolsonaro, que atravessava um ponto baixo, iria se recuperar politicamente.

A terceira via, como se sabe, não decolou. O fiasco do lançamento da candidatura Moro parece ter sepultado esse caminho. Digo “parece” porque, em política, as previsões são sempre altamente temerárias. Mas como apostar que, em menos de 10 meses, ainda seja possível tornar competitivo Moro ou algum outro nome? Possível, talvez. Provável, não.

O fortalecimento de Bolsonaro também não se materializou. Ao contrário, as suas dificuldades políticas aumentaram – uma modificação crucial em comparação com o quadro de 6 ou 7 meses atrás. Em meados de 2021, o professor Marcos Nobre, da Unicamp, um qualificado analista da cena política brasileira, sustentava que Bolsonaro seria um candidato “fortíssimo” à reeleição. Eu mesmo, sem chegar a esse extremo, alertei aqui nesta coluna para o risco de que Bolsonaro viesse a se fortalecer até as eleições.

Essa expectativa de recuperação de Bolsonaro se baseava em previsões que não se confirmaram, pelo menos não até agora: a) a melhora do quadro econômico; b) a diminuição do ônus político representado pela pandemia; e c) o uso da máquina governamental e dos instrumentos de poder pelo presidente no exercício do cargo, ponto para o qual alertou o próprio Lula.

Não aconteceu ainda. O nível de atividade econômica, medido pelo PIB, estagnou desde o segundo trimestre de 2021. O desemprego cedeu, mas pouco, permanecendo em nível muito elevado. Os postos de trabalho gerados foram sobretudo empregos informais, de menor remuneração e pior qualidade. Para os analistas da conjuntura econômica, o mais surpreendente foi a persistência da inflação. A inflação alta corroeu o poder de compra dos salários. Desemprego e carestia – receita para o insucesso político.

O avanço da vacinação ocorreu, salvando vidas. Mas esse sucesso não foi, nem poderia ser, creditado ao governo federal. A CPI da pandemia, com grande cobertura da mídia corporativa, que tentava sem sucesso abrir caminho para uma terceira via, desgastou Bolsonaro, colando nele a imagem de responsável pela maior parte das mais de 600 mil mortes. A ideia de que os brasileiros esqueceriam gradualmente a tragédia e suas vítimas não se confirmou, felizmente. E o novo surto da doença desde dezembro, resultante da chegada da variante ômicron, mantém viva a questão da pandemia e a da irresponsabilidade e incompetência do governo Bolsonaro no seu enfrentamento.

Quanto ao uso da máquina e dos instrumentos de poder, o que se observou foi uma desorganização crescente do governo. Bolsonaro conseguiu comprar a sua sobrevivência, evitando o impeachment, mas foi incapaz de atuar de maneira coordenada e eficiente. Caiu nas mãos do “centrão”, que sabe defender suas pautas específicas, mas não dá norte a governo nenhum. As tentativas de Bolsonaro de “fidelizar” a sua base radical, com declarações e medidas estapafúrdias, aumentaram a sua rejeição e agravaram o seu isolamento.

Assim, o favoritismo de Lula cresceu e parece possível, ainda que talvez não provável, uma vitória no primeiro turno. Crescem as adesões à sua candidatura, com apoios que transcendem a esquerda e a centro-esquerda. Quase diria que, a exemplo de Getúlio Vargas na eleição de 1950, Lula pode vencer “sem sair de São Borja”.

Mas não vamos exagerar. Como dizia Nelson Rodrigues, pensando na copa do mundo de 1950, a goleada é a véspera da tragédia.

A disputa pelo governo Lula

O que provavelmente ocorrerá agora é um deslocamento da atividade política para uma disputa de espaço dentro de um futuro governo Lula. Não adianta, leitor, dizer que isso é prematuro. O processo já deve ter começado.

Do ponto de vista dos meus queridos amigos da “turma da bufunfa”, o que interessa é domesticar ou colonizar o futuro governo, garantindo que o Lula 3 seja o mais parecido possível com o Lula 1 – período em que Palocci era o ministro da Fazenda e Meirelles, o presidente do Banco Central. Vamos ser sinceros: no Lula 1, o que aconteceu foi um plágio descarado. A política de Palocci era uma cópia pura e simples da política do seu antecessor, Pedro Malan. Faltou pagar direitos autorais.

Lula aceitará repetir o script? Há diferenças importantes, para melhor e para pior, entre a situação de 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, e a de 2022. Destaco duas delas.

No campo econômico, a fragilidade externa da economia era muito maior em 2002, o que dava o mercado um poder maior de chantagem sobre o presidente eleito. As contas externas estavam deficitárias, a economia dependia de capital externo e as reservas internacionais eram baixas. Hoje, o setor externo da economia está bem mais robusto. O superávit comercial é alto, o déficit em conta corrente, baixo, a dependência de financiamento internacional, pequena. E, mais importante, as reservas internacionais são confortáveis, graças ao esforço de acumulação realizado nos governos Lula e Dilma.

Por outro lado, no campo institucional, a margem de manobra do futuro presidente é mais estreita. Com a aprovação da lei de autonomia do Banco Central, o eleito herda o presidente, Roberto Campos Neto, e a maior parte dos diretores da instituição, cujo poder foi aumentado pelo marco cambial aprovado pelo Congresso. Nos primeiros dois anos do novo governo, o Banco Central permanecerá sob controle dos dirigentes atuais.

Não acredito que Lula tentará reverter a lei de autonomia. Seria uma batalha árdua no Congresso e de resultado incerto. Resta saber se Lula, eleito, concordará em nomear para o ministério Fazenda ou da Economia alguém indicado ou aprovado pelo “mercado”, leia-se, pelo capital financeiro – a exemplo do que fez Dilma depois da sua reeleição em 2014.

Veremos. Não tenho informações privilegiadas, ressalto. Mas não parece plausível que que Lula, voltando ao poder consagrado por mais uma vitória eleitoral, vá começar o governo de cabeça baixa. Talvez decida quebrar o ministério da Economia em três, restabelecendo o Ministério do Planejamento e o da Indústria e Comércio. Na Fazenda, o ministério mais importante, colocará provavelmente alguém da sua estrita confiança, mas que não provoque tumulto no mercado financeiro.

Com o Banco Central autônomo, estabelecerá um modus vivendi, ancorado na autoridade que lhe conferirá a eleição. Lula dá nó em pingo d’água. Por que não saberia administrar os financistas e tecnocratas do Banco Central?

Tijolaço.

domingo, 23 de janeiro de 2022

O LEILÃO DE MORO. POR FERNANDO BRITO

Não é só na bolada que recebeu da multinacional Alvarez & Marsal – tutora judicial das empresas que a Lava Vato quebrou – que o dinheiro anda assombrando a vida do ex-juiz Sergio Moro.

Ele flerta e balança com a dinheirama de R$ 1 bilhão que a União Brasil terá em seus cofres para a campanha eleitoral e, para isso, deixa “pendurados” o Podemos, partido que foi montado para esperá-lo como candidato a presidente.

Até o seu “site oficioso” de Moro, aquele da turma do Diogo Mainardi, admite que, nas conversas sobre a filiação de Moro ao União Brasil, o assunto é dinheiro. Moro, dizem, estaria insatisfeito com a “falta de investimento” do partido e que Luciano Bivar, ex-senhorio de Jair Bolsonaro no PSL, estaria fazendo ‘jogo duro’ com uma aliança com o ex-juiz, querendo a vaga de vice.

“Na prática, Bivar quer ser o vice de Moro na União Brasil. Ou seja, quer uma chapa puro sangue, o que inviabiliza qualquer acordo com o Podemos.
A discussão sobre eventual mudança de legenda foi precipitada pela passividade do Podemos na campanha de Moro. Além da dificuldade para montar palanques regionais, o partido não tem investido na divulgação da candidatura, ainda pouco conhecida.(…).
Falta apoio político e financeiro. Embora o núcleo da campanha esteja buscando doações no mercado privado, apoiadores acham estranho que o multimilionário Oriovisto, fundador do grupo Positivo [e senador pelo Podemos], não tenha oferecido ajuda.
Outro ricaço, o senador Eduardo Girão até ajudou financeiramente para o ato de filiação e fez alguns discursos em defesa de Moro, mas, na semana passada, viajou aos EUA com a bolsonarista Carla Zambelli.”

Já sem ilusões sobre o amor de Moro, parte do Podemos parece querer leiloá-lo, numa coligação de traídos.

Moro tem dado sinais de que quer o acerto com Bivar, mas tem que resolver o problema de dar um “perdido” no Podemos.

E, depois, sem ter mais o poder de um juiz criminal, escapar do laranjal do Bivar.

Tijolaço.

sábado, 22 de janeiro de 2022

OS 100 ANOS DE NASCIMENTO DE LEONEL BRIZOLA E ONDE ELE AINDA NOS TOCA MAIS FORTE. POR FERNANDO BRITO

Vacilei vários dias antes de acertar o tom em que devia escrever sobre o centenário de Leonel Brizola, neste sábado.

Como não sou historiador ou sociólogo, mas – depois de 20 anos de convívio diário, creio que já tenho o direito de dizê-lo – um companheiro de suas lutas só posso dar o testemunho do que vi.

E vi, ao contrário do que muitos pensam, um homem gentil e tolerante.

Teimoso, sim, mas nunca inflexível e avesso a dialogar, até mesmo com um guri pretensioso como eu era aos vinte e poucos anos de idade.

Só não brigamos nunca porque ele tinha uma enorme paciência. E, para meu orgulho pessoal, uma enorme confiança naqueles que percebia movidos pelas ideias, não necessariamente iguais às dele, até porque eu tinha 36 anos a menos e uma história de vida infinitamente menor.

Brizola, como ele próprio se definia, era um “empírico”. Certa vez, disse-me que ideologia era como uma bússola, indispensável quando o céu estava coberto por nuvens, mas quase dispensável quando se podia ver o chão e o horizonte e por eles nos guiarmos.

Isso se traduzia quando escrevíamos parte dos 600 “tijolaços” – seus artigos, publicados como matéria paga nos jornais – sem ter sequer ideia do que seria dito, ao começarmos. “Nós somos os reis do improviso”, comemorava ele a enxurrada de palavras que lhe vinha, quando ditava os textos que eu anotava ou quando emendava – e muito – o que eu lhe levava escrito.

Dá saudade, sim, embora na época eu praguejasse pelas noites de sexta-feira inapelavelmente perdidas: depois de escrever, eu ia à gráfica, providenciar a fotocomposição do texto e depois ainda entregar a arte pronta para o jornal, o que significava chegar em casa com o dia já raiando.

Foi, talvez, o melhor que dele recebi: o aprendizado de que a vida devia ser austera, como antes já me ensinara meu avô, no Iapi de Realengo, um subúrbio operário do Rio de Janeiro.

Ou melhor, o segundo melhor, porque o melhor foi o da sintonia permanente com aquilo que representava os sonhos do nosso povão.

Brizola nunca esteve do lado errado da História, por mais que frustrações e mágoas pudessem torná-lo amargo e vingativo. “Somos aprendizes, porque socialista mesmo é o povo”, dizia.

O que não o impedia de andar na contramão do senso comum, de enfrentar a burrice ruminante e os emburrecedores contumazes.

Havia uma churrascaria abandonada na encosta do Morro do Cantagalo, pelo qual havia escalado uma imensa favela, que já se derramava sobre Ipanema. Queriam fazer de lá um futuro cassino; Brizola a transformou numa escola e num centro de convivência.

Brizola entendia de Carnaval como eu de astrofísica, mas acabou com a mutreta do monta-desmonta das arquibancadas da Sapucaí, contra a Globo e seu boicote.

Diziam, contra os Cieps, que “escola não era pensão” e não há hoje quem ouse abrir a boca contra as escolas de horário integral e uma alimentação e cuidados para nossas crianças.

Havia um furor de apoio a Sarney, com o Plano Cruzado; Brizola sujeitou-se a virar boneco de Judas em Sábado de Aleluia para dizer que aquilo era uma farsa eleitoral e foi Sarney quem ficou maldito pela traição.

Nunca deixou que o medo da incompreensão o impedisse de agir.

Brizola jamais deixou de enfrentar o “senso comum”, quando via razões para isso, e nem mesmo com Lula, quando este adotou uma linha moderadíssima, no início de seu primeiro governo.

Era 2003, ano anterior a sua morte e Brizola tinha pressa, talvez a mesma que Lula tenha hoje, quando se desdobra em garantir o apoio para que, no Governo, tenha o poder de agir com a rapidez que, 20 anos atrás, talvez pudesse dispensar.

Brizola amargou 15 anos de exílio. Lula, um ano e meio de prisão. Os dois souberam na carne o que é sofrer o peso da injustiça e do ódio político e, até por isso, o repelem.

Brizola chegou ao governo do Rio de Janeiro no ano do centenário do nascimento de Getúlio Vargas. Que Lula volte ao governo neste ano do centenário do nascimento de Brizola e teça mais um ponto nesta longa costura do fio da História, que trama e tece o inevitável futuro deste país imenso, ao qual sempre quiseram anão.

Melhor presente de aniversário, isso sei eu, o velho líder não quereria: o de ver a força do povo triunfar e reassumir as rédeas de seu próprio futuro.

Obrigado por tudo, Brizola.

Tijolaço.