terça-feira, 12 de abril de 2022

MILITAR VIRAR CHACOTA, MAIS UMA OBRA DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Na sua coluna no UOL, o jornalista Tales Faria é preciso no julgamento: “o presidente Jair Bolsonaro não tem conseguido sucesso na gestão da economia ou da saúde da população, mas saiu-se vitorioso na desmoralização dos militares, especialmente do generalato do país”.

Nos três últimos dias as notícias são um prato cheio para a chacota com os dirigentes das Forças Armadas: compra de Viagra, de remédios para a calvície e até de próteses penianas.

Outros governos, que os generais tanto odeiam, compraram-lhes armamentos, caças modernos, submarinos.

As desculpas médicas são deploráveis, porque até os meio-fios caiados dos quartéis sabem que, ainda que eventualmente necessários como terapia, não são para todos os militares, de todas as patentes, mas para a alta oficialidade.

Sigo com Tales:

Bolsonaro conseguiu promover um verdadeiro estrago na imagem dos militares, que vinha se refazendo nesses anos de respeito à democracia pós-ditadura. O presidente começou a desmoralizá-los, primeiro distribuindo cargos aos milhares no governo. Mostrou que, em troca de um acréscimo no soldo, a turma poderia se comportar da mesma forma que aquele grupamento político que tanto criticavam.

Mas é pior, senhores. Trata-se da sua desmoralização perante a tropa, como se fossem aproveitadores daquilo que a ela é negado, mesmo quando necessário.

Os cochichos, as risadas – até sem a sensibilidade devida a quem tem problemas de saúde, o que é perverso – os apelidos jocosos, a esta altura, proliferam nas casernas, ferindo a liderança de quem, como profissional de defesa, deveria ter o respeito e o permanente acatamento de seus subordinados.

É inevitável e péssimo que ocorra, mas quem quis a ribalta que não lhe pertencia tem de aguentar as luzes que se lança sobre quem quer subir ao palco que não lhe pertence.

Tijolaço.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

NÃO HÁ LEI PARA BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

A Advocacia Geral da União, num completo desvio de finalidade da sua função de defender o Estado brasileiro, bem poderia trocar seu nome para “Advocacia Geral do Jair”, fazendo par com o Ministério “Impudico” Federal na tarefa de blindarem o atual Presidente da República de qualquer consequência de seus atos.

Agora, pede o arquivamento da investigação sobre o patrocínio presidencial aos “pastores do MEC”, dizendo haver apenas uma “menção indevida” a Jair Bolsonaro no áudio em que o ex-ministro da Educação, Mílton Ribeiro, diz que atendê-los é um “pedido do Presidente”.

Em outro front, no Congresso, cuida-se de fazer alguns acertos para que senadores retirem suas assinaturas de apoio a uma CPI do MEC, para apurar estes e outros fatos, em troca do que deixo ao leitor imaginar.

A economia com que tratei esta natimorta CPI já era fruto da constatação de que, no Brasil de instituições corrompidas que há hoje, nada é capaz de furar a blindagem de impunidade que se construiu ao redor dele.

Nem mesmo um possível crime de morte encomendada, como sugerem as gravações da família do ex-PM miliciano Adriano da Nóbrega anima promotores e procuradores a investigar.

Nem aquela morte, nem as quase 700 mil outras que restaram da pandemia criminosamente “enfrentada” com Ivermectina, Cloroquina e outras prescrições charlatãs.

Esqueçam qualquer possibilidade de que Jair Bolsonaro venha a ser responsabilizado por estas e quaisquer outras barbaridades.

O sistema de Justiça no Brasil só voltará a existir com a sua saída do poder, isso se não for bem sucedido em continuar nele, mesmo derrotado eleitoralmente.

Tijolaço.

domingo, 10 de abril de 2022

A TERRA PLANA E O LADO ESCURO DA LUA. POR FERNANDO BRITO

É surpresa para ninguém a retirada de duas assinaturas de senadores do Podemos – os ex-moristas Oriovisto Guimarães e Styvenson Valentim – do pedido de instalação de uma PI para apurar a corrupção no MEC.

É que, como diz o chefe do Centrão, Ciro Nogueira, a corrupção, agora, “é virtual”.

E, portanto, como disse Janio de Freitas, “não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro”.

O país que arde na inflação, “está dando certo” com a “dobradinha centrão e militares” segundo o mesmo Nogueira.

Vivemos já nem na Terra Plana, mas no lado escuro da Lua, de onde não se pode ver o que se passa aqui.

Planos para o próximo governo? Deus, pátria e família, além de um presidente que alterna seus compromissos entre motociatas, cavalgadas e leitos hospitalares quando surgem notícias negativas.

Desculpe o leitor dominical, mas desanima tentar analisar o nonsense que, paradoxalmente, faz sentido e deve continuar para algo entre 25 e 30% dos brasileiros.

E ainda mais inacreditável que o bolsonarismo mais insano esteja nas faixas com maior renda e, incrível, com maior formação educacional.

Como tem sido afirmado aqui, não estamos diante de uma eleição normal, mas de uma chance de voltarmos a um grau de civilidade e de racionalidade sem o qual nem mesmo a divergência política pode acontecer sem tornar-se guerra.

Tijolaço.

sábado, 9 de abril de 2022

JANIO DE FREITAS: AS INSTITUIÇÕES ESTÃO DEVASTADAS. POR FERNANDO BRITO

Como no “tá tudo dominado” do funk, o Brasil já não se escandaliza com nada. Congresso e sistema judiciário, ainda que neste último surjam alguns gemidos do Supremo Tribunal Federal, vivem em completa anomia, onde padrões normativos de conduta e de valores enfraqueceram ao ponto de quase desaparecer.

Assistimos a um período onde se aceita do ( e no) governo, as maiores barbaridades, desde o achaque rastaquera de tomar o dinheiro de servidores de gabinete até o envolvimento com o crime organizado e suspeitas de execução de ex-parceiro marginais.

Até mesmo quando a imprensa publica, há quase um aceitar como “pitoresco” e “natural” que as instituições da República não reajam ao absurdo, como se fosse parte da hegemonia política a associação ao crime, inclusive os de morte.

Cumprida a missão de derrubar um governo eleito, o próprio Ministério Público Federal, que se apresentava – não dá trabalho recordar – como a vestal da Lei, intocável e intolerante, aceitou-se em berço esplêndido, no qual bale feito cordeiro.

Numa única frase, Janio de Freitas condensa a situação de nosso país: Não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro ao [que lhe é] devido.

São as entranhas brasileiras

Janio de Freitas, na Folha

Nenhum presidente legítimo, desde o fim da ditadura de Getúlio em 1945 —e passando sem respirar sobre a ditadura militar— deu tantos motivos para ser investigado com rigor, exonerado por impeachment e processado, nem contou com tamanha proteção e tolerância a seus indícios criminais, quanto Jair Bolsonaro. Também na história entre o nascer da República e o da era getulista inexiste algo semelhante à atualidade. Não há polícia, não há Judiciário, não há Congresso, não há Ministério Público, não há lei que submeta Bolsonaro ao devido.

As demonstrações não cessam. Dão a medida da degradação que as instituições, o sistema operativo do país e a sociedade em geral, sem jamais terem chegado a padrões aceitáveis, sofrem nos últimos anos. E aceitam, apesar de muitos momentos dessa queda serem vergonhosos para tudo e todos no país.

Nessa devastação, Bolsonaro infiltrou dois guarda-costas no Supremo Tribunal Federal. Um deles, André Mendonça, que se passa por cristão, na pressa de sua tarefa não respeita nem a vida. Ainda ao início do julgamento, no STF, do pacotaço relativo aos indígenas, Mendonça já iniciou seu empenho em salvá-lo da necessária derrubada.

São projetos destinados a trazer a etapa definitiva ao histórico extermínio dos indígenas. O pedido de vista com que Mendonça interrompeu o julgamento inicial, “para estudar melhor” a questão, é a primeira parte da técnica que impede a decisão do tribunal. Como o STF deixou de exigir prazo para os seus alegados estudiosos, daí resultando paralisações de dezenas de anos, isso tem significado especial no caso anti-indígena: o governo argumentará, para as situações de exploração criminosa de terras indígenas, que a questão está subjudice. E milicianos do garimpo, desmatadores, contrabandistas e fazendeiros invasores continuarão a exterminar os povos originários desta terra.

Muito pouco se fala desse julgamento. Tanto faz, no país sem vitalidade e sem moral para defender-se, exangue e comatoso. Em outro exemplo de indecência vergonhosa, nada aconteceu à Advocacia-Geral da União por sua defesa a uma das mais comprometedoras omissões de Bolsonaro. Aquela em que, avisado por um deputado federal e um servidor público de canalhices financeiras com vacinas no Ministério da Saúde, nem ao menos avisou a polícia. “Denunciar atos ilegais à Polícia Federal não faz parte dos deveres do presidente da República”, é a defesa.

A folha corrida da AGU é imprópria para leitura. Mas, com toda certeza, não contém algo mais descarado e idiota do que a defesa da preservação criminosa de Bolsonaro a saqueadores dos cofres públicos. Era provável que a denúncia nada produzisse, sendo o bando integrado pela máfia de pastores, ex-PMs da milícia e outros marginais, todos do bolsonarismo. Nem por isso o descaso geral com esse assunto se justifica. Como também fora esquecido, não à toa, o fuzilamento de Adriano da Nóbrega, o capitão miliciano ligado a Bolsonaro e família, a Fabrício Queiroz, às “rachadinhas” e funcionários fantasmas de Flávio, de Carlos e do próprio Bolsonaro. E ligado a informações, inclusive, sobre a morte de Marielle Franco.

Silêncio até que o repórter Italo Nogueira trouxesse agora, na Folha, duas revelações: a irmã de Adriano disse, em telefonema gravado, que ele soube de uma conversa no Planalto para assassiná-lo. Trecho que a Polícia Civil do Rio escondeu do relatório de suas, vá lá, investigações. O Ministério Público e o Judiciário estaduais e o Superior Tribunal de Justiça não ficam em melhor posição, nesse caso, do que a polícia. São partes, no episódio de implicações gravíssimas, de uma cumplicidade que mereceria, ela mesma, inquérito e processo criminais. O STJ determinou até a anulação das provas no inquérito das “rachadinhas”, que, entre outros indícios, incluía Adriano da Nóbrega.

Desdobrados nas suas entranhas, os casos aí citados revelariam mais sobre o Brasil nestes tempos militares de Bolsonaro do que tudo o mais já dito a respeito. Mas não se vislumbra quem ou que instituição os estriparia.

Tijolaço.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

GUANALTO OU PLANABARA? QUAL PALÁCIO NEGOCIOU A MORTE DE ADRIANO? POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro comprou a versão de Fabrício Queiroz sobre a gravação em que Daniela Magalhães da Nóbrega diz que se negociaram cargos no Palácio do Planalto pela morte do seu irmão, o ex-PM miliciano Adriano da Nóbrega.

Em sua live, informa a Folha, o presidente disse que “pelo que tomei conhecimento, ela se equivocou, em vez de falar Palácio das Laranjeiras, falou Palácio do Planalto. Se equivocou no tocante a isso”.

A menos que o presidente esteja endossando a versão pelo que viu no Twitter, o presidente está admitindo que o vídeo de Queiroz é prova suficiente para ser assumida como verdade ou que teve contatos com seu ex-auxiliar encrencado para saber detalhes deste suposto aviso recebido por ele de Nóbrega que, é claro, deveria ter dito os motivos para que o ex-governador do Rio teria para “apagá-lo”.

Qual seria o motivo para Wilson Witzel querer Adriano Morto?

As ligações entre Adriano e os Bolsonaro são públicas e materializadas: Jair depôs em seu favor num Tribunal do Júri por homicídio; Flávio o condecorou com a Medalha Tiradentes, já preso, e contratou sua mulher e sua mãe em seu gabinete, como “fantasmas”.

Quais as ligações de Witzel com o miliciano ou com seus desafetos, para querer sua morte?

Onde estão as investigações do Ministério Público e da polícia sobre isso?

A morte suspeita de um homem, criminoso que fosse, vai ser esclarecida por uma “treta” de internet?

Ou alguém acha que a irmã do morto, depois de ter ouvido Queiroz e Bolsonaro dizerem que “ela deve ter se confundido” não vai dizer mesmo que se confundiu? O que você diria se dois personagens dissessem que se confundiu? Claro, “eu me confundi, não foi Planalto, foi Guanabara, foi Itumbiara, foi o Palácio da Juçara…”

Onde está consignado o depoimento à polícia ou à Justiça de Fabrício ou Bolsonaro de que “tomaram conhecimento” de que se tramou o assassinato de um homem que, aliás, era amigo de ambos?

Estas alegações estão públicas há 48 horas e até agora nenhum delegado ou promotor cumpriu o seu dever de mandar abrir uma mísera investigação a respeito.

Porque Fabrício e, agora, Bolsonaro não são chamados a depor para saber como tomaram conhecimento de uma conspiração homicida, que detalhes têm e o que sabem a respeito?

Afinal, fizeram declarações espontâneas, no Faccebook, sobre o planejamento de um homicídio e isso não vai ser investigados?

Tijolaço.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

VEREADOR BANDIDO DO RIO É LIXO DA MARÉ BOLSONARISTA FÉTIDA. POR FERNANDO BRITO

A aversão deste blog pelo chamado “mundo-cão” não pode impedir que se reflita sobre o que é a aparição da imundície da atuação do tal Gabriel Monteiro, a quem a pose de machão-armado-desaforado valeu a eleição como o terceiro vereador mais votado do Rio de Janeiro.

Sei que leitores e leitoras do Tijolaço, até pelo mesmo nojo que me provoca, talvez não atinem com o que é este cidadão.

Gabriel tem origens no MBL, do qual se afastou por considerá-lo “pouco bolsonarista” e uma trajetória de abusos, de “sabe com quem está falando” e exibição de armas.

Sabe-se se agora que tudo em cenas “armadas”, usando seus assessores e armamento das “escolta policial” pagos com dinheiro público.

Valia-se, também, de uma aura de “cidadão do bem”, dizendo-se evangélico, filho de pastor, mas promovia orgias com meninas e mentia como um demônio ao explorar crianças pobres como fachada de seu farisaico perfil de “benfeitor”.

Não se dê a esta pústula, porém, mais responsabilidade do que ela tem.

É um, apenas um, dos detritos que a maré bolsonarista trouxe à vida pública.

Hoje a polícia, finalmente, foi parar em sua porta onde, dizem testemunhas, há dois arsenais: um de armas de todos os grossos calibres, outro de uma suposta coleção de vídeos de suas proezas de garanhão.

Ainda assim, nada do que encontraram significa algo perto da moderação com que a mídia trata as afirmações gravíssimas que foram feitas sobre a execução de um miliciano tramada dentro de um palácio, seja o do Planalto, seja o Guanabara, dependendo de quem o diz.

Gabriel Monteiro é um lixo, que será descartado até mesmo por uma Câmara Municipal abjeta, como é a do Rio.

O que tem de ser detido é o que o trouxe à tona, a ele e a outros, com a transformação da política em um espetáculo de selvageria.

Tijolaço.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

PUXA-SACOS: INDUSTRIAIS APOIARAM ‘DUDU’ PARA EMBAIXADA NOS EUA. POR FERNANDO BRITO

Inacreditável o que revela Jamil Chade, no UOL: um documento da Confederação Nacional da Indústria ao Senado brasileiro fazia coro à possível indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada brasileira em Washington, um dos mais importantes postos do Itamarati e lugar vital para nossas relações comerciais com os EUA.

Como se sabe, “Dudu” apresentou, na ocasião, um currículo espetacular: “já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos“. O interesse, todos sabiam, era fortalecer as ligações com os “chapéus de búfalo” da extrema direita norte-americana e com seu líder Steve Bannon.

Vindo dos Bolsonaro, não espanta, a não ser pela desfaçatez. Mas o empresariado brasileiro mostra, com isto, que não tem nenhuma noção de negócios que não seja movida pelo puxassaquismo e pela ideia de que lobbies junto a governos de plantão.

Que diferença para os Antonio Ermírio de Moraes, para os Cláudio Bardella, para os José Midlin, que hoje chorariam de vergonha ao verem os nossos “capitães de indústria” estarem ao mesmo nível do ex-capitão que nos, infelizmente, preside.

Dá para entender assim porque nossa indústria está minguando, por conta de uma elite empresarial que assistiu, silente, ver acabarem com dois de seus mais destacados ramos: a construção pesada e a naval, e como aplaude a Petrobras que vai se “livrando” da indústria petroquímica e de refino de petróleo, atirando o país da dependência de combustíveis caríssimos.

Tijolaço.

terça-feira, 5 de abril de 2022

GOVERNO CORRE ATRÁS DE FANTOCHE PARA A PETROBRAS. POR FERNANDO BRITO

Como é que se consegue fazer um cargo que, além de pagar R$ 260 mil mensais e bônus anuais, além de projetar nacionalmente qualquer administrador projetar-se nacional e internacionalmente chegar a uma situação em que os executivos estejam fugindo dele?

Pois, Jair Bolsonaro conseguiu.

Malu Gaspar, em O Globo, diz que Caio Paes de Andrade, Secretário de Paulo Guedes não preenche critérios legais para ser presidente da Petrobras, por não ser do setor nem ter os quatro anos na alta administração federal.

Na Folha, Alexa Salomão relata que “executivos com experiência e reconhecimento no setor de óleo e gás sondados para uma eventual indicação estão declinando do convite“. A razão, claro, é terem de aceitar a pressão intervencionista de Bolsonaro e, ainda, assumir um mandato tampão de oito meses à frente de uma empresa gigantesca.

O governo, diz o Estadão, tenta adiar a assembleia de acionistas, marcada para o dia 13, para resolver o embrulho que o chilique de Jair Bolsonaro com o general Joaquim Silva e Luna.

Pode ser que acabe saindo uma solução ‘prata da casa’, com alguém da diretoria que não tenha de passar pela dura triagem do compliance da companhia.

Talvez seja mesmo o melhor, porque facilita a sua tarefa de ser um fantoche bem-comportado do governo.

Pior será que lançar-se mão de algum aventureiro, que queira se mostrar o “salvador da pátria”, mirando agradar o mercado com a dissipação do patrimônio da empresa.

Tijolaço.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

GOVERNO TENTA SALVAR PIRES, MAS NEM MERCADO O QUER NA PETROBRAS. POR FERNANDO BRITO

As manchetes no O Globo e no Valor Econômico prenunciam a tempestade que vai marcar esta segunda-feira, com a pressão para que o lobista Adriano Pires – dono de uma consultoria com grandes petroleiras e empresas de gás na sua carteira de clientes – não tenha confirmada a sua indicação para presidir a Petrobras, já formalizada pela Presidência da República.

Dossiê da Petrobras sobre Landim e Adriano Pires assustou o ministro de Minas e Energia, diz o primeiro; Sucessão na Petrobras sofre uma reviravolta, completa o jornal de economia.

Rodolfo Landim, padrinho da indicação de Pires – ele próprio, que tem relações pessoais com Bolsonaro, e também indicado para presidir o Conselho de Administração da empresa – já desistiu e, é claro, ninguém acredita que é pelas razões que alega, a de que precisa dedicar-se ao Flamengo, clube que preside.

A realidade, porém, é que seu nome, além de receber oposição das empresas que são contratadas pelos acionistas minoritários teria, segundo O Globo, sido vetado pelos comitês internos de compliance da Petrobras, por razões muito semelhantes com as que pesam contra Adriano Pires: ligações com empresas associadas e com concorrentes da petroleira.

A avaliação é que o plano era ter Landim no comando da empresa, mas que o conselho seria menos vulnerável e lhe permitiria continuar a presidir o clube de futebol e, por isso, ele indicou Adriano Pires para figurar como presidente, dadas as ligações profundas entre ambos.

Tilolaço.

quinta-feira, 31 de março de 2022

O HIPÓCRITA E O TARTUFO TIVERAM O SEU DIA. POR FERNANDO BRITO

João Doria aproveitou o seu dia.

Montou a “Operação Olha que eu me Mato”, que produziu logo cedo aquela história melodramática de que ia deixar de ser candidato, trancar-se no Palácio dos Bandeirantes e, como um monge recluso, dedicar-se apenas a despachar os papéis do Governo paulista. A candidatura presidencial, que tantos queriam lhe tomar, ele a atiraria como quem joga um manto amado aos cães e vai viver em trapos, ainda que, no caso, os trapos sejam das melhores grifes.

Mas, oh! Chocado com a cena, o povo (o de dentro do Palácio e o das bocas em geral) recolhe o manto, põe-no às costas do desapegado príncipe, para que ele enumere o que fez pelo reino e como é sábio, equilibrado e que, portanto, merece ser rei. A um canto, o perverso Duque do Sul, remói-se: dará mais trabalho a ele e Conde das Alterosas tomarem o lugar do galante Agripino.

Sérgio Moro também fez o seu carpe diem. Largou seu lugar na casa modesta do Podemos, onde a mesada era curta e o dinheiro para investir fazia-se pouco e foi para o suntuoso castelo do Conde de Bivar, onde lhe prometeram farta mesa, embora em aposentos modestos de candidato a deputado federal, mas sempre protegido pelo foro privilegiado, imune ao que diz serem os impiedosos ataques dos inimigos lulistas e dos vingativos bolsonaristas, aos quais tempos atrás servira.

A caricatura é, infelizmente, pouco distante dos fatos.

João Doria ganhou os maiores espaços da mídia para anunciar, solenemente, nada. Tudo ficou como estava na véspera, mas ele criou um clima onde, batendo os lábios, soltou o brado piegas: “Sim, sim, serei candidato à Presidência da República pelo PSDB”.

Moro, o magnânimo, proclama, com ar nobre: “abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”. Mas todos sabem que ele resolveu, entre outras razões, para não ter de abrir a mão com gastos de campanha, que lhe escasseavam no Podemos.

O hipócrita e o tartufo tiveram seu dia no palco. Agora, voltam para a penumbra.

Não fazem mais parte do enredo essencial.

Tijolaço.

quarta-feira, 30 de março de 2022

FRAUDE A GALOPE? POR FERNANDO BRITO

Por volta das 06h20 da manhã de ontem, Jair Bolsonaro deixou o Hospital das Forças Armadas, depois de ter passado a noite internado com um mal-estar forte.

Hoje de manhã, debaixo de sol forte, galopava um cavalo branco no Rio Grande do Norte, para promover sua candidatura.

Quem quiser que acredite que um homem que não passa três meses sem baixar enfermaria pode, em pouco mais de 24 horas, passar do leito à sela, neste meio tempo ainda “passando o cerol” no Ministro da Educação e no presidente da Petrobras.

É evidente que a internação foi mais uma das fraudes a que Bolsonaro sempre recorre quando quer despertar piedade e, com isso, ocultar-se de suas responsabilidade políticas e administrativas.

Mas isso não foi a pior anomalia de sua viagem eleitoreira.

Voltou a ameaçar o processo eleitoral, dizendo que “não serão dois ou três que definirão como serão contados os votos”:

“Podem ter certeza que, por ocasião das eleições de 2022, os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos”, disse, em referência a Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE; Edson Fachin, o atual; e Alexandre de Moraes, que será presidente nas eleições, segundo relata a Folha de S. Paulo.

Quem será que vai contar os votos? Os generais? Os pastores do MEC? O Queiroz?

A verdade é que Jair Bolsonaro vive de fazer bravatas e ameaças num comportamento, tenho cansado de dizer aqui, destes de valentão de porta de botequim.

Depois, quando a coisa aperta vem como um “gente, eu estou passando mal…”

Tijolaço.

terça-feira, 29 de março de 2022

MEC: O PECADO MORTAL FOI A FOTO NA BÍBLIA. POR FERNANDO BRITO

De quinta-feira, quando prometeu “por a cara toda no fogo” pelo Ministro da Educação, Milton Ribeiro, o que mudou para Jair Bolsonaro para “aceitar” sua demissão e estar preocupado em que o pastor-ministro desapareça o mais rápido possível?

A meu ver, como já escrevi aqui ontem cedo, foi o aparecimento da “Bíblia Promocional”, estampando as fotos sorridentes do próprio, do pastor Gilmar e do prefeito que bancou a edição, segundo se informa, de 70 mil exemplares para distribuição farta.

A promoção de figuras políticas na Bíblia, para muitos evangélicos, é uma profanação.

E é destas que nem precisam de explicação para mostrarem a promiscuidade entre política e fé.

É por isso que Silas Malafaia e Marco Feliciano partiram para cima de Ribeiro quando foram publicas as “fotos bíblicas”

“VERGONHA TOTAL ! Ministro da educação em foto como a esposa em Bíblia de pastor lobista do MEC . TEM QUE SER DEMITIDO PARA NUNCA MAIS VOLTAR !”, escreveu Malafaia, seguido por Marco Feliciano: “É de um amadorismo sem tamanho um ministro de Estado, permitir sua foto nas páginas de uma Bíblia, e pior, saber que será distribuída em evento político! ”

É a preocupação que a história se espalhe entre o rebanho.

Conhecendo os personagens, não pode deixar de vir à mente o que está escrito em Mateus, 7 (3-5): “E por que reparas tu no argueiro (cisco) que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? / Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? / Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.”

Tijolaço.

segunda-feira, 28 de março de 2022

MAIS UM: BOLSONARO DEMITIRÁ GENERAL DA PETROBRAS, DIZ FOLHA. FERNANDO BRITO

A repórter Julia Chaib, da Folha, publica que “o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, recebeu nesta segunda-feira (28) a comunicação de que deixará o comando da estatal”.

Não é inesperado, embora deva levar ainda alguns dias, para que o cadáver político do general não se amontoe ao de Milton Ribeiro, o ex-ministro da Educação.

Mas a informação que vem em sua reportagem é de apavorar: “Em seu lugar, deve assumir Adriano Pires, atual diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura”.

Pires é um dos mais ferrenhos inimigos da ideia do controle estatal sobre o petróleo e, há poucos dias, escreveu, no Poder360, que “Solução final para preços dos combustíveis é privatizar a Petrobras.”

Ele é um sujeito reacionaríssimo, participa do malsinado Instituto Millenium e esteve na Agência Nacional do Petróleo no período em que, durante o governo FHC e fez campanha aberta para abolir a lei da partilha do pré-sal e a obrigatoriedade de 30% da participação da empresa brasileira na exploração daquelas jazidas ultraprofundas.

Mesmo apenas por alguns meses, Pires é uma ameaça para a sobrevivência da grande empresa brasileira e para sua recuperação para o povo brasileiro.

Tijolaço.

domingo, 27 de março de 2022

BOLSONARO CONSEGUE UM COMÍCIO PRÓ-LULA NO DIA DE LANÇAR CANDIDATURA. POR FERNANDO BRITO

Fiquei aqui me perguntando se valia comentar o discurso do “bem contra o mal” de Jair Bolsonaro no lançamento de sua candidatura.

O essencial já havia dito antes dela acontecer, porque só o que ele tem a oferecer é ódio e Bolsonaro só o confirmou ao levantar a bandeira do “inimigo interno” que precisa ser exterminado:

“O nosso inimigo não é externo, é interno. Não é luta da esquerda contra a direita, é do bem contra o mal. E nós vamos vencer essa luta, porque estarei sempre na frente de vocês“.

Nada além da ditadura, que ele glorificou na pessoa do torturador Brilhande Ustra, seu “amigo”, e fez insinuações sobre o “seu” exército:

“Se para defender a nossa liberdade e a nossa democracia, eu tomarei a decisão contra quem quer que seja e a certeza do sucesso, é que eu tenho um exército ao meu lado. Ele é composto por cada um de vocês. Poderemos até perdemos algumas batalhas, mas não perderemos a guerra por falta de lutar. Vocês sabem do que estou falando”.

Mas a irrelevância do discurso presidencial fica a cargo da interpretação da mídia, onde ele perdeu, disparado, para a repercussão da inócua tentativa de proibir manifestações contra ele durante um festival.

Reclamando de um suposto e inexistente “showmício”, seus advogados conseguiram, grátis, um imenso comício pró-Lula, com direito a farta cobertura da mídia nacional.

No dia do “lançamento” da candidatura, apanhou feio para o “Fora Bolsonaro” supostamente proibido, mas que se reproduziu no festival de música que, a pedido de seus advogados, se quis reprimir.

Bolsonaro falou para seus fiéis (interprete como queira a palavra). Seus advogados, além de citarem a empresa errada, o que desconfigura qualquer ilegalidade dos vários “fora bolsonaro” que povoaram a exibição de hoje dos artistas, fizeram que a oposição a ele falasse para o país inteiro.

Cada vez mais, a população entende a violência que terá esta campanha. E vai saber evitá-la.

Tijolaço.

sábado, 26 de março de 2022

BIDEN PREGA DERRUBADA DE PUTIN E ESCALA A GUERRA NA EUROPA. POR FERNANDO BRITO

Na sua escalada verbal contra a Rússia, o presidente dos Estados Unidos passou de qualquer limite a que um chefe de Estado deve se impor e, além de chamar Vladimir Putin de “carniceiro” disse que ele “não pode permanecer no poder”.

Por mais condenável que seja a ação russa, não há possibilidade de que, hoje, o presidente da mais poderosa nação do planeta peça abertamente a derrubada do presidente de outro país, ainda mais outra potência nuclear.

Foi tão desastrada a fala de Biden que, logo depois, segundo o NYTimes, a Casa Branca saiu a dar explicações de que o presidente dos EUA não havia sugerido “uma mudança de regime” na Rússia, mas que o sentido era o de que “Putin não pode exercer poder sobre seus vizinhos ou a região”.

O fato objetivo é o de que não deve haver no mundo pessoa mais feliz com Vladimir Putin que Joe Biden.

Fraco, inexpressivo, enfrentando uma fortíssima queda de popularidade, devastado por uma inflação altíssima (8%) para os padrões de seu país, e uma figura nula perante o mundo – todo o seu suposto empuxo ambientalista do início do mandato tinha se esvaído -, Biden agarrou-se à crise ucraniana e a oportunidade de ir além da retórica belicista da Guerra Fria.

Ajudam-no uma Europa fraca, sem líderes – Boris Johnson metido em escândalos, Olof Scholtz, frágil e inexperiente, e Emmanuel Macron, à beira de uma eleição difícil – e a China mais cautelosa do que sempre é, às voltas com uma nova onda da Covid, fechando cidades e preocupada com a perda do vigor da economia.

Até para as pessoas menos acostumadas aos jogos de palavras da diplomacia está ficando evidente que Biden não tem o menor interesse em uma saída negociada, que pare a guerra e a morte, mas que cinicamente se vale das cenas de morte e horror da Ucrânia para, ainda que com sinais evidentes de decrepitude, surgir como “campeão do mundo livre”.

Ainda que isso o faça forçar os limites de um conflito que pode, com um mero apertar de botão, evoluir para uma guerra mundial, de proporções devastadoras.

A mídia, quase que unanimemente, repete que os russos estão militarmente atolados e que os cidadãos do país estão quase que sublevados contra Putin, que estaria, portanto, à beira de cair. Isso justifica, claro, forçar a barra por uma “vitória final” sobre o regime russo que desconsidera todo o poder que ele tem e que, por mais que nos choquem as cenas de destruição na Ucrânia, não chega nem perto do cenário que o uso de armas nucleares deixaria. Quem duvidar, olhe as fotos de Hiroshima e Nagazaki.

A propósito, ninguém chamou o então presidente dos EUA, Harry Truman, de “carniceiro”.

Tijolaço.