sábado, 10 de julho de 2021

O BRASIL PERDEU A PACIÊNCIA COM BOLSONARO. VEM MAIS AÍ, POR FERNANDO BRITO

A esta altura, é possível dizer que as pesquisas de aprovação de governo, intenção de voto e abertura de impeachment – esta publicada agora há pouco pelo Datafolha – já estão desatualizadas.

Jair Bolsonaro jogou gasolina – e parece que jogará ainda mais – na fogueira do descontentamento da população ao dar um passo que o coloca abertamente na posição em que há tempos se sabia que ele estava: a do golpismo, ao ameaçar, de forma expressa, a suspensão das eleições do próximo ano.

Dentro de alguns dias sairão pesquisas sobre a ameaça presidencial e ninguém tem dúvida de que a reprovação passará dos 80%, deixando apenas o núcleo do bolsonarismo a favor desta decretação de ditadura que ele propõe.

Nem mesmo entre o empresariado – único setor onde Bolsonaro ainda conta com apoio majoritário – não haverá quem seja capaz de verbalizar apoio a este arreganho autoritário, exceto (e talvez) as figuras deprimentes de aventureiros e sonegadores que macaqueiam ao seu lado.

E, ao inverso, tornar mais aguda a posição dos que não o apoiam, mas não o hostilizam abertamente.

Aliás, só agora começa-se a romper o medo de manifestar-se publicamente contra Bolsonaro, porque contra isso conta o fato de que se corre o risco de agressão física das falanges que acompanham o “mito”.

É portanto, que Bolsonaro tenha conseguido perder mais alguns pontos dos poucos que já tem em matéria de aprovação e em intenção de votos. E reduzir também o número dos que defendem a continuidade de seu governo até que cheguem as eleições.

Que, com Bolsonaro no poder, já ninguém pode ter certeza que cheguem.

Tijolaço.

O ADVOGADO WASSEFF É PAU MANDADO EXPRESSA A VOZ DE SEU DONO, FERNANDO BRITO

O presidente nacional da Ordem dos Advogados, Felipe Santa Cruz, anuncia que a Corregedoria da OAB vai abrir processo contra Frederick Wasseff pelas agressões e ameaças que fez à jornalista Juliana Dal Piva, ontem, através de mensagem – reproduzida acima.

Wasseff é advogado do presidente da República e de seu filho Flávio e está furibundo com as reportagens de Juliana, publicadas pelo UOL, sobre as rachadinhas, com documentos e áudios que tornam mais que evidente a sucção de dinheiro por pai e filho, recolhendo a maior parte dos salários dos parentes – deles e de Fabrício Queiroz – para engordar seus recursos pessoais.

O advogado é um perfeito representante do clã, expressando-se aos mesmos coices e intimidações em lugar de fatos e argumentos. E, como eles, nos seus mandatos, sempre metido em situações sombrias, como a de ajudar – ou compelir – Queiroz a homiziar-se num sítio particular, registrado como escritório de advocacia para ganhar imunidades legais.

Wasseff é matéria semelhante à que expele, nas suas falas, o seu constituinte presidencial.

A sua notoriedade, se atrai moscas, também o inutiliza. Afinal, onde ele está, está uma suspeita.

Tijolaço.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

BOLSONARO NÃO PRECISA DE AJUDA, ELE MESMO CONSTRÓI SUA PRÓPRIA QUEDA, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro está deliberadamente aumentando a tensão política, ao ponto de ter conseguido que o moderadíssimo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, saísse de sua mudez e fizesse hoje um pronunciamento, ainda que em mineirês, de advertência aos planos golpistas do presidente, ao dizer hoje, ao seus idólatras, que “corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, se não for aprovada a impressão dos votos que, já ficou claro para quem quiser ver que não é uma preocupação com segurança, mas uma forma de estimular a coação aos eleitores.

Mas não foi só: conseguiu que o normalmente flácido presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso emitisse uma nota dura, dizendo que trabalhar para impedir as eleições constitui-se crime de responsabilidade.

O chão está se desfazendo sob os pés de Bolsonaro – são insistentes os boatos de que logo virá à tona a gravação de seu encontro com os irmãos Miranda, no fétido caso das vacinas Covaxin – e ele se debate ameaçando arrastar para as profundezas de sua selvageria a democracia brasileira, embora tenha tido o apoio e a colaboração de muitos para levá-la à situação de anomalia e fragilidade em que se encontra hoje.

Ele apressa a crise, por isso, sabendo que seu apoio se dissolve como um pedra de gelo ao sol, exceto nos núcleos acanalhados para quem é, ainda, o “Mito” de que um regime autoritário e fascistoide ainda é possível na terceira década do século 21 como era nos anos 50 e 60, tempos da Guerra Fria, com o discurso de que o comunismo buscava “dissolver a família brasileira”.

Está há tempos se preparando para isso e um dos passos mais importantes foi remover o então Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva e os três comandantes da Força, colocando em seu lugar o soturno e ambicioso Walter Braga Netto, o inexpressivo Fernando Nogueira de Oliveira no comando do Exército e dois militares que lhe são simpáticos à frente da Marinha e da Aeronáutica.

Aliás, o fato de Braga Netto tê-los colocado a assinar a nota ameaçadora contra a CPI foi uma manobra que revela bem o caráter do atual ministro: não era para criticar Omar Aziz, era para exibir os oficiais que julga serem sua tropa em perfilados às costas do comandante Bolsonaro.

Não se sabe se o juízo amplo revelado nas pesquisas sobre Bolsonaro ser “pouco inteligente” se estenderá ao alto oficialato da ativa, já que os da reserva parecem inebriados pelos corredores do Planalto.

Acaso acham que pode ser viável uma quartelada no padrão Togo, Guiné Bissau, Mali num país da extensão e importância do Brasil? Nem na Bolívia deu.

E Bolsonaro acha que militares dispostos a um golpe o farão “pela Pátria” ou vão cobrar avidamente o butim da democracia esfacelada?

É melhor já ir se moderando, Bolsonaro, e deixar que termine seu período como presidente, algo muito maior do que você jamais sonhou quando planejava explodir latrinas de quartel para arrumar mais algum no soldo.

Tão maior que a sua pequenez o transforma no pior anão moral que já ocupou tanto poder.

Tijolaço.

CPI DA COVID MOSTRA QUE MILITARIZAÇÃO DA SAÚDE LEVOU BRASIL À TRAGÉDIA DE 530 MIL MORTES

Quando Pazuello assumiu, país registrava cerca de 15 mil mortes por covid e 230 mil casos. Quando saiu, os infectados eram 12,2 milhões e os mortos, 300 mil.

Fernando Frazão/Agência Brasil. Pazuello comandou o ministério por dez meses, período em que os mortos por covid se multiplicou por 20.

Em sua inquirição ao ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou que a gestão do ex-ministro e general Eduardo Pazuello representou uma “verdadeira intervenção militar” na pasta. O senador quis saber se essa “ocupação” levou algum beneficio ao serviço e se, com a militarização, o ministério da Saúde passou a trabalhar melhor. A resposta de Dias foi que “não teve nenhuma melhora”. O depoimento do primeiro ouvido da CPI que acabou detido, na quarta-feira (7), deixou claro, segundo senadores, que as principais decisões do ministério, inclusive em relação às vacinas, eram tomadas pelo coronel da reserva Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde na gestão Pazuello, o número 2 na hierarquia.

Alguns analistas, e também senadores da CPI, avaliaram que a ordem de prisão de Aziz foi precipitada. Dias pode ter omitido informações e ser acusado de suposta corrupção, argumentaram, mas a comissão detectou que a corrupção no Ministério não é pouca. Dias, que foi solto sob fiança em seguida, poderia ser um bode expiatório. Além disso, muitos depoentes mentiram de forma ainda mais acintosa do que Dias. Entre eles, a médica Nise Yamaguchi, apontada como membro do gabinete paralelo. Ou o próprio Luiz Domingueti, estranho personagem, cabo da Polícia Militar, que perambulou pela Esplanada dos Ministérios e foi recebido na própria pasta de Pazuello como um mercador de vacinas.

COM PAZUELLO, MILITARIZAÇÃO DA SAÚDE CRESCE

Desde a chegada de Pazuello, de confiança do presidente Bolsonaro, militares passaram a ocupar cada vez mais cargos em diversos níveis. O número deles chegou a 25 em junho do ano passado. Élcio Franco foi nomeado secretário-executivo com a chegada do general e sua “expertise” em logística. Por sua vez, Franco nomeou o tenente-coronel Alex Lial Marinho na Coordenação de Logística e o coronel Marcelo Blanco como assessor de Roberto Dias, que o citou como o homem que levou Domingueti à reunião no shopping para tratar da vacina indiana Covaxin. Por outro lado, os civis da área da saúde nomeados pelo então ministro general, em plena pandemia, eram defensores de tratamento precoce e outras formas de “combate” ao vírus fora dos protocolos científicos.

Pazuello comandou o ministério por pouco mais de dez meses. Ao chegar, em 15 de maio de 2020, no lugar de Nelson Teich, o país registrava 15 mil mortes e 230 mil casos de covid. Em 24 de março de 2021, quando Marcelo Queiroga falou pela primeira vez como ministro, eram 12,2 milhões os infectados e o número de mortos, 20 vezes maior, ultrapassava 300 mil brasileiros. “Missão cumprida”, disse Pazuello ao deixar o ministério. Hoje (9), são 530 mil.

ÉLCIO FRANCO

O ex-secretário executivo foi exonerado do ministério em março passado, mas nomeado assessor especial da Casa Civil menos de um mês depois. Na oitiva mais tensa realizada pela comissão até a última quarta-feira, o senador Randolfe Rodrigues afirmou que o dado mais importante levado por Dias à CPI foi que o depoimento apontou a responsabilidade final na contratação de vacinas contra a covid como sendo de Élcio Franco. O que quer dizer que, de acordo com Dias, o coronel estaria ligado ao caso da Covaxin, que implica a participação da “intermediária” Precisa Medicamentos. O coronel Franco passa a figurar “como foco das investigações da CPI”, afirmou o senador do Amapá, e será necessário ouvi-lo novamente.

“Estavam querendo o núcleo militar para tomar conta do galinheiro”, disse a senadora Simone Tebet (MDB-RS) durante o depoimento de Roberto Dias. Ela declarou acreditar que a CPI já tem “a materialidade” do crime relativo à Covaxin. “Estamos atrás da autoria. A Covaxin vai ser o grande calcanhar de Aquiles do governo”, acrescentou. “Eles (Pazuello e Élcio Franco) citaram ‘cláusulas leoninas’ da Pfizer, uma vacina cientificamente comprovada e hoje aplicada o mundo inteiro.”

Segundo a CPI, Élcio Franco é o principal responsável operacional pelo “banho-maria” em que foi colocada a Pfizer nas negociações da vacina. Enquanto a Pfizer ficava no “banho-maria” e a CoronaVac era atacada pelo próprio presidente da República, as negociações pela Covaxin andavam rapidamente. O contrato com a Pfizer levou 330 dias para ser fechado, enquanto com o imunizante indiano consumiu meros 97 dias.

DOIS NÚCLEOS

À CPI, em 9 de junho, entre muitos pretextos, o ex-secretário executivo tentou justificar tratamento ao imunizante norte-americano com a seguinte frase: “Nem ela (Pfizer) confiava no que ela estava oferecendo pra gente”. Hoje, a vacina norte-americana é considerada a mais eficaz contra o Sars-Cov-2.

O depoimento de Roberto Dias deixou claro, segundo Randolfe Rodrigues em coletiva logo após a oitiva, que existiam “dois núcleos em disputa” no Ministério da Saúde: o que era dirigido por Dias e o comandado por Franco. “É uma disputa de poder, e eu diria, pelo controle dos esquemas de corrupção no Ministério da Saúde.”

Ouvida na quinta-feira (8), a ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunização (PNI) Francieli Fantinato disse que deixou o Ministério da Saúde por motivos pessoais, mas ressaltou: “Existe uma politização do assunto, por meio do líder da nação, que traz elementos que muitas vezes colocam (a vacinação) em dúvida”. “Para uma campanha de vacinação funcionar precisa ter vacina e campanha publicitária. Infelizmente, eu não tive nenhum dos dois.”

Rede Brasil Atual.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

OS SONHOS DA DIREITA LIBERAL BRASILEIRA E A SUCESSÃO PRESIDENCIAL, POR LUIS NASSIF

Jorge Bornhausen é um dos mais experientes políticos brasileiros. Assim como José Sarney e outros velhos caciques, tem a sabedoria da idade e a capacidade de recorrer a pesquisas para monitorar suas decisões

Os estudos passaram pelas seguintes questões:

É possível a terceira via?

O que pode ser feito antes do afunilamento das candidaturas, na reta final das eleições?

Qual perfil adequado do campeão branco?

As análises concluíam que é perfeitamente possível e provável a nova via, em 40% da população que não aceita a polarização entre Lula e Bolsonaro. É uma lógica conhecida: a polarização beneficia os dois lados; o anti de Bolsonaro fortalece Lula e vice-versa. Assim, se um dos dois cair, a rejeição ao remanescente garantiria a tal terceira via.

Bornhausen considera “perfeitamente possível e provável” a nova via, a partir do que ele considera sinais vindos da sociedade e dos partidos

* documento assinado por cinco pré-candidatos em defesa da democracia – João Dória Jr, Henrique Mandetta, Luciano Huck, Ciro Gomes e Amoedo e apoio de Sérgio Moro. Houve uma depuração, com a saída de Amoedo e Luciano Huck do jogo.

* Encontro de presidente de partidos em defesa da democracia.

* Declaração de Gilberto Kassab, presidente do PSD – que se transformou em grande partido – de quem não apoiaria a bipolarização.

Mesmo assim, há alguns eventos pela frente antes de definir claramente a estratégia dos liberais.

Aguardar regras do jogo, do processo eleitoral, que está em discussão no Congresso. A votação será até 30 de setembro e será publicada até 1o de outubro e passa por tentativas de impor distritão. Bornhausen não acredita em nenhuma mudança de natureza constitucional, como o voto impresso ou o distritão. A grande discussão, segundo ele, é em relação às sobras eleitorais – os votos de partidos que não foram aproveitados por nenhum candidato. Até 2018, havia uma regra que permitia as sobras apenas para partidos que atingissem consciente eleitoral. Houve modificações permitindo que todos os partidos se beneficiem das sobras. Mesmo com a proibição de coligações, manterá a enorme quantidade de partidos, diz ele. 

Segundo passo, janela de março, quando candidatos poderão mudar de partido. Se regra atual for mantida, eles irão procurar aqueles partidos em que poderão se eleger em cima das sobras. Se voltar a norma antiga, haverá aglutinação partidária.

Só a partir desses movimentos, haverá condições de se discutir frentes ou candidatos.

Até lá, a iniciativa será dos partidos políticos, que procurarão melhor forma de fortalecer sua chapa nas eleições estaduais. O governador favorito ao segundo turno é instrumento muito forte nas eleições presidenciais.

A POSIÇÃO DA DIREITA LIBERAL

Bornhausem confia, especialmente, nas pesquisas de Antonio Lavareda, do IPESP. Para definir o figurino ideal, Lavareda recorre a pesquisas com grupos focais selecionados entre pessoas que pertencem aos tais 40% contra a polarização.

Houve duas pesquisas sobre o perfil ideal, que identificou as seguintes características.

·      Moderado

·      Que governe para todos os brasileiros

·      Ficha limpa

·      Que se preocupe com pessoas

·      Que tenha experiencia política, administrativa e recupere a imagem do Brasil no exterior.

Dos cinco presenciáveis, Ciro e João Dória não se enquadraram no figurino. Dória devido à enorme rejeição que tem, especialmente em São Paulo. Com todo o trabalho em favor da vacinação, o percentual de paulistas que desaprova sua atuação na Covid-19 é do mesmo tamanho dos que aprovam. Segundo Bonhausen, a não ser que reverta essa desconfiança do eleitor, Doria poderá não ser candidato nem a Presidente, nem a nada.

As posições bélicas de Ciro Gomes também o desclassificam nessa seleção – aliás, nem precisaria de pesquisas para constatar isso. Mas, entre os liberais-conservadores pesa a posição de Ciro de ser a favor de um estado forte.

Enquadraram-se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o ex-Ministro Mandetta e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Mas os três enfrentam alto grau de desconhecimento. Segundo Bornahusen, Leite deu um lance de mestre, ao se apresentar como gay. Aumentou substancialmente o nível de conhecimento público com ele. Mandetta comunica-se muito bem, diz Bornahusen, mas não teve atuação no debate promovido pelo Estadão. Talvez por não ter feito media training, Ciro tem facilidade de falar, admite Bornhausen. Mas sua cabeça em economia é igual à de Brizola, Dilma.

Eduardo foi o melhor. Segundo Bornhausen, teve profundidade e, no debate, antecipou o grande lance que fez no mesmo dia, quando defendeu a liberdade de gênero no programa de Bial. Foi inteligente, uma jogada bonita, elogia Bornhausen. Rodrigo Pacheco tem estilo do político tradicional de MG, estilo Tancredo Neves e se enquadra nesse perfil.

A partir daí, o campeonato dependerá dos outros jogadores. Sua esperança é de que Lula e Bolsonaro se estraçalhem, e levem Ciro junto.

O FATOR MILITAR

Talvez nem o próprio Bornhausen acredite no que diz sobre as esperanças em relação à terceira via. O discurso otimista é essencial para manter a tropa unida. Mas, aí, entra-se em um terreno pedregoso, que é o fator militar.

Ontem, os três comandantes das Forças Armadas divulgaram uma nota de protesto contra declarações do presidente da CPI, Osmar Aziz, terminando com uma declaração: “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.

É uma declaração intencionalmente dúbia. Houve quem visse ameaças aos críticos, houve quem visse reafirmação da defesa das instituições contra “ataque leviano” – o que caberia a Bolsonaro.

Serviu para decifrar melhor os campeões brancos. O governador gaúcho Eduardo Leite visitou comandantes militares – provavelmente antes do episódio. E o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, comportou-se de modo pusilânime.

Esse quiproquó escondeu o essencial. Em sua declaração, Aziz alertou para setores, dentro das Forças Armadas, sem generalização. De fato, assusta a multiplicidade de oficiais da ativa e da reserva envolvidas com o golpe das vacinas. Fica claro que essa ligação com Bolsonaro está contaminando celeremente as Forças Armadas. Vários militares estão deixando o serviço ativo e montando empresas visando aproveitar as benesses do poder.

O modo dúbio com que o Alto Comando tratou o episódio Pazuello, além disso, enfraqueceu sua autoridade moral sobre a tropa.

Em suma, sabendo-se do profundo anti-lulismo da corporação, o episódio é mais um alerta para a necessidade de um pacto amplo que fortaleça a democracia.

GGN.

BOLSONARO “FORA DA CASINHA”, POR FERNANDO BRITO

Sem ter uma linha e defesa para o seu governo diante dos escândalos da CPI da Covid, Jair Bolsonaro vai soltando, o tempo todo, os fait divers com que tenta distrair as atenções soltando declarações estapafúrdias que, para seu azar, já não espantam ninguém pela sua repetição quase diária.

Ontem, foram duas.

A primeira é a de que Aécio Neves ganhou as eleições de 2014, o que ele sabe porque tinha gente “lá dentro” do Tribunal Superior Eleitoral, falando à Rádio Guaíba:

“Eu vou aqui dar um passo a mais no qual eu não ainda falei. Vou comprovar e vou mostrar para vocês como foram as eleições do 2° turno em 2014. Vocês vão ter uma surpresa no tocante a isso. O nosso levantamento, feito por gente que entende do assunto e esteve lá dentro (TSE), acompanhou toda votação (…). Eu não sou técnico em informática, mas pelo que ouvi, está comprovada a fraude em 2014. O Aécio foi eleito em 2014”.

Claro que as provas disso são apenas a promessa do “vou comprovar” que ele nunca comprovou e nem sequer exibiu o que se dizia serem provas. Talvez, quem sabe, ache outro Dominghetti para dizer. Provas, diz ele, mostra “se quiser”.

A outra foi a sugestão que deu para transformar em cultos as sessões do Supremo Tribunal Federal depois de confirmada a indicação de André Mendonça para a Corte, dizendo que o ministro-pastor , na reunião ministerial de ontem teria feito “quase a metade” das pessoas chorarem:

Ele (André Mendonça) falou por dez minutos sobre ele possivelmente no STF, o que ele achava do governo e também sobre sua convicção religiosa e levou mais da metade das pessoas presentes (umas 50) às lágrimas. Um homem humano, sério, humilde e que não abre mão das suas convicções, respeita todo mundo. É uma pessoa ideal para o Supremo, muito boa para o Supremo. E eu falei há um tempo atrás: como é bom se uma vez por semana, nessas sessões que são abertas no STF, começassem com uma oração do André (Mendonça).

É óbvio que uma Corte Suprema deve ser respeitada por todos, crentes ou não, evangélicos ou católicos, candomblecistas ou muçulmanos, ou quaisquer crenças.

Mas tudo isso é bobagem. Nem Aécio ganhou, nem Mendonça puxará orações.

O que se quer é questionar o voto e a Justiça, previamente.

Isto é, a intimidação, algo bem conhecido da milícia.

Este é o ponto central da atuação de Bolsonaro, não o governar o país. Isso não existe mais, é só campanha eleitoral.

Não se sabe se, no lugar do kit gay, não se colocará a possibilidade de que o Brasil seja levado a uma orgia hedonista, com cultos satânicos.

Os gaúchos têm expressão “fora da casinha” e essa é uma perfeita definição para o atual presidente.

O embate de 2022 é menos entre ideologias que entre sanidade e loucura.

Tijolaço.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

PROPOSTA DE REFORMA TRIBUTÁRIA ENVIADA PELO GOVERNO ONERA MAIS A CLASSE MÉDIA, DIZ EX-PRESIDENTE DO BACEN

Gustavo Loyola afirma que reforma tributária não tem caráter distributivo e torna a vida mais difícil para parcelas da classe média sem um propósito.

Ministro da Economia, Paulo Guedes, durante ato da entrega da segunda fase da Reforma Tributária, no Congresso Nacional (Edu Andrade/ME).

A reforma tributária pode agrava a desigualdade social, ao onerar mais a classe média do que os mais ricos. É a avaliação de Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e atual sócio da Tendências Consultoria Integrada. O especialista se diz frustrado com o texto e afirma que os governos sempre mandam reformas com  'gordura' para o congresso.

"Tem uma questão complicada porque tem contribuinte com maior capacidade para ter dedutibilidades, outros não... mas a verdade é que no mínimo, no mínimo, se tornou a vida mais difícil para parcelas da classe média sem um propósito. Eu pelo menos não entendi bem o propósito disso", disse Loyola durante Live nesta terça-feira, 6, sobre reforma tributária organizada pela FAS Advogados.

Além disso, de acordo com o ex-banqueiro central, a reforma não tem um efeito distributivo. De acordo com ele, se a reforma não elimina a ideia de que os ricos pagam menos impostos no Brasil - ele citou a manchete do Estadão de hoje - é sinal que ela teria que ser mais integrada e entrar mais diretamente na tabela progressiva e não ter alíquotas "flats" sobre determinados rendimentos.

"Não me parece que o efeito distributivo desta reforma seja grande. É como já disse antes: o que importa mais é como o governo realiza despesas. Não adianta tributar mais os ricos e gastar tudo para redistribuir esse dinheiro para beneficiar aquele próprio segmento que você tributou", criticou Loyola.

'GORDURA' NA REFORMA

Ao comentar a nova proposta de reforma tributária, Gustavo Loyola disse que um de seus muitos equívocos, especialmente na proposta de tributação dos dividendos, é a restrição da mobilidade do capital. Segundo Loyola, o capital tem que estar disponível para ser aplicado onde ele tem maior retorno econômico.

De acordo com ele, a tributação sobre dividendos no mundo real afeta a maneira como a empresa se financia; capital próprio versus capital de terceiros. "Embora do ponto de vista teórico seja igual, na vida prática você cria um incentivo ao aumento da utilização de capital de terceiros. Isso pode não ser necessariamente um mal, mas muda a estrutura", observou Loyola.

"A tributação não deve, de maneira nenhuma, restringir a mobilidade do capital. Então, se o acionista quer tirar dinheiro da empresa que trabalha no setor A para investir no setor B, ele tem que ser livre para fazer isso sem um custo adicional e não ter, como incentivo, que criar dentro dessa empresa original uma nova linha de negócios por não poder tirar dali os recursos para investimentos em outro segmento", disse Loyola.

"Ao meu ver, eles cometeram um equívoco ao tributar o dividendo distribuído de pessoa jurídica para pessoa jurídica. E aquela sistemática que eles governo colocaram lá não é suficiente", disse o ex-presidente do BC. 

A despeito de tecer várias e sérias críticas à nova proposta de reforma tributária e apontar os pontos do projeto que considera equivocados, o ex-presidente do BC e atual sócio da Tendências Consultoria Integrada, Gustavo Loyola, entende que ela poderá ser alterada no Congresso.

"A experiência no Brasil mostra que o governo sempre manda reformas para o Congresso com alguma gordura e a gente já viu ai alguns sinais do governo de que pode recuar como, por exemplo, na questão da alíquota do IR sobre pessoa jurídica. Ele admite que a dedução e 5% pode ser já de imediato", 'ponderou Loyola. Para ele, dentro dessa reforma, há muito espaço para corrigir seus problemas.

Ainda segundo o economista, ao amarrar o projeto de reforma tributária à correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, de algum forma, amarrou o Congresso. Isso porque agora o Congresso tem maiores dificuldades de não aprovar a reforma porque isso significaria deixar de corrigir a tabela do IR que, do ponto de vista político, é negativo para os parlamentares.

"Com isso, o governo buscou aumentar a chance de aprovação. Mas o meu julgamento é o de que a reforma deixa a desejar. Foi muito aquém do que poderia ter sido e deixou de focar em reformas que seriam mais essenciais para o Brasil nesse momento", disse.

Loyola participou nessa terça-feira, 6, de webinar sobre reforma tributária organizada pela FAZ Advogados.

Dom Total e AE

terça-feira, 6 de julho de 2021

PESQUISA IPSOS DEMONSTRA QUE A “3ª VIA” VIROU PÓ, POR FERNANDO BRITO

Se estiver correta a pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Democratas, o resultado correto não é o 58% para Lula e 25% para Bolsonaro que a Veja noticia.

Se forem excluídos – como são – os votos nulos, brancos e o os indecisos, se não forem para nenhum candidato ou divididos entre eles igualmente, a percentagem de Lula chega a 68,8%, contra 31,2% do atual presidente.

Uma vitória estrondosa, mas que aconteceria, segundo a pesquisas, não aconteceria, porque Lula chegaria, com 48% dos votos totais, a 56,47% dos votos, mais do que suficiente para vencer no primeiro turno.

O mais bem colocado, Sergio Moro, fica com 5%.

Nos cenários de segundo turno que a pesquisa revela, desmonta-se qualquer historinha de que um “terceira via” não teria possibilidades maiores de derrotar Bolsonaro. Ciro e Moro, com irrisória vantagem, empatam estatisticamente com o presidente e o resto da turma perde, de lavada.

E haveria o dobro de brasileiros que não se animariam a decidir entre Bolsonaro e qualquer outro candidato: se com Lula os nulos e indecisos chegam a 17%. Em disputas entre outros e Bolsonaro, a indecisão e a anulação do voto subiriam para uma patamar entre 41% e 51%.

Depois de meses de insistência de que Lula não seria o candidato ideal para vencer Bolsonaro, como argumentavam mas, ao contrário, só o voto em outros candidatos poderiam evitar a vitória do ex-presidente no primeiro turno e com grande vantagem, um poderoso antídoto para qualquer loucura golpista.

Tijolaço.

A INFLAÇÃO É PIOR QUE CPI PARA BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

O pastel de carne seca do boteco aqui ao lado subiu de preço, a consulta do dentista aumentou e o camelô do pão de forma, de quem sou freguês, também reajustou.

Tudo isso hoje, no “extraoficial”, mas teve dos aumentos “brabos” também entre aqueles que saem no jornal: o da eletricidade, na quinta, e hoje o da gasolina, do diesel e do gás de botijão.

Começa-se a perceber o efeito perverso de uma inflação significativa – neste momento, mais de 8% no acumulado em 12 meses: a tendência aos preços “pulverizados” também serem reajustado e, neste caso, com pouca parcimônia: para aumentar estes itens, a coisa é logo para lá de 5 ou 10%.

As expectativas das instituições financeiras para a inflação já subiram para 6,1% no ano e, francamente, isso é otimismo. A inflação de julho, conhecida em agosto, vai ficar perto dos 10% e isso, mesmo com a retração da renda da população, desencadeia um processo de remarcações de preços difícil de ser administrado, mesmo com um comportamento menos agudo da inflação de alimentos.

Sem contar o fato de que temos gargalos em todas as áreas da indústria, desde a falta de componentes até a alta de todos os materiais intensivos em ferro e aço, que já estão apertando o colarinho da indústria de construção civil, a que mais bem vinha se recuperando e levando o pouco alento que se conseguia no emprego.

Custos, preços e inflação bem se poderiam chamar de a outra sigla CPI que está corroendo a popularidade de Jair Bolsonaro.

Tijolaço.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

EX-CUNHADA DE BOLSONARO DIZ QUE ELE DEMITIU SEU IRMÃO POR RECUSA EM ENTREGAR SALÁRIO

 Andrea Siqueira Valle aponta envolvimento direto de Jair Bolsonaro na “rachadinha”. Foto: Reprodução.

Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Jair Bolsonaro, afirmou em gravação que ele demitiu seu irmão, André Siqueira Valle, após ele se recusar a entregar a maior parte de seu salário como assessor.

À época deputado federal, Jair exigia grande parte dos salários dos parentes da ex-esposa, Ana Cristina Siqueira Valle, que trabalhavam em seu gabinete.

Ele é apontado como envolvido direto no esquema da “rachadinha”.

Segundo Andrea, o irmão foi retirado do cargo por não entregar o valor combinado, cerca de 90% do salário.

A ex-cunhada foi a primeira de 18 parentes de Ana Cristina nomeada nos gabinetes da família Bolsonaro.

“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, relata.

André Valle foi assessor do deputado Jair entre 2006 e 2007.

Andrea relata que sabe de “muita coisa” que pode “ferrar a vida” de Jair, Flávio e Ana Cristina, sua irmã.

A ex-cunhada do presidente ainda disse, sem citar nomes, que mandam ela ficar “quietinha”.

Ela ainda implicou Guilherme Hudson no esquema, tio dela e da irmã, Ana Cristina.

Ele é coronel da reserva do Exército e, segundo Andrea, recolhia o dinheiro dos salários.

“O tio Hudson também já até tirou o corpo fora porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e me buscava no banco era ele”.

Andrea confessou que participou do esquema e tentou fazer contato com a irmã, Ana Cristina, Flávio Bolsonaro e o tio, coronel Hudson, mas ninguém quis atendê-la.

“Porque assim, eu procurei a Cristina, o tio, liguei para o gabinete do Flávio para saber o que tinha que fazer, fiquei com medo de complicar as coisas para eles, ainda pensei neles”.

“Na hora que eu estava aí fornecendo também e ele estava me ajudando porque eu ficava com mil e pouco e ele ficava com sete mil reais, então assim, certo ou errado agora já foi, não tem jeito de voltar atrás”, finaliza. Veja o vídeo:

DCM.

CELULAR DE DOMINGHETTI REVELA “MÁFIA DA VACINA”, POR FERNANDO BRITO

Os fragmentos de conversas de Whatsapp já retirados do aparelho celular do cabo da PM mineira Luiz Paulo Dominghetti, que foi apreendido em seu depoimento à CPI da Covid e que o Fantástico revelou esta noite não deixam qualquer sombra de dúvidas de que havia um esquema mafioso de venda de vacinas no qual a transação sugerida com o Ministério da Saúde seria a “jóia da coroa”, senão da venda de imunizantes, pelo menos dos golpes realizados a este pretexto.

Há várias vendas, preços e comissões discutidos no pequeno lote de mensagens já extraídas do total de 900 pastas de diálogos no aparelho. E nelas surge um novo militar envolvido, de nome Guerra que cuida de “alinhar” algum esquema para negócios.

O tal Coronel Guerra está identificado e é um coronel reformado que exercia cargo em outro ministério civil.

O conteúdo do telefone de Dominghetti, nesta segunda feira, vai vazar feito água em cano furado.

Cano de esgoto.

Tijolaço.

domingo, 4 de julho de 2021

A 3ª VIA VIROU UM BECO SEM SAÍDA, POR FERNANDO BRITO

Folha analisa hoje a situação da tal ‘3ª via’, três meses depois do documento que a pretendeu colocá-la no mapa da sucessão, estar capenga e definhante como alternativa eleitoral para 2022.

Dos seis presidenciáveis que a compunham, dois – Luciano Huck e João Amoedo – pularam fora do barco, alegando razões pessoais. João Doria segue no seu voo baixo, planando nos 5% de intenções de voto – tanto quanto teve Geraldo Alckmin em 2018. Eduardo Leite, que afinal descobriu uma “não-questão” sexual – sem o menor jeito para ser “candidato identitário”- que lhe deu espaço nacional, porque os 11,7% com que aparece entre os eleitores de seu estado, o RS, certamente não o credenciam como administrador de sucesso.

Melhor que Doria, porém, que teria, na mesma pesquisa, apenas 6,3% dos votos dos paulistas para presidente.

Luiz Mandetta, que poderia surfar na onda da CPI, sai dela com uma imagem “meia-boca”, na qual consegue apenas o perdão por ter se afastado do negacionismo, mas jamais teve a coragem de enfrentá-lo. Sua situação eleitoral é um problema: não tem fôlego nacional e nem estadual, onde tem o obstáculo de seus patronos eleitorais (a família Trad) e nenhum protagonismo próprio.

Resta Ciro Gomes que, neste momento, acusa ter a metade dos votos obtidos em 2018, quando atingiu 12% e escolheu o caminho suicida de ser o “antipetista”, onde impera Jair Bolsonaro, com quatro vezes mais intenções de voto que ele, com seus 7%. Não lhe rendeu nada, nestes meses e dificilmente renderá. Sua candidatura não mostrou força para “puxar” a adesão da direita, com a qual conta para estar no confronto de 2° turno com Lula que, espertamente, recusa-se a polarizar com seu ex-ministro.

Os três meses de busca pela ‘3ª via’, portanto, só viram seus pretendentes retrocederem. Nem mesmo as perdas de Jair Bolsonaro, neste período, os beneficiaram.

Entre outras razões, porque adotaram a tática do “qualquer um serve desde que não seja o Lula”.

E é justamente por isso que não são vistos como o antibolsonaro que deseja o povão.

Tijolaço.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

DEU NO TIJOLAÇO, “MISTER M” DA PRECISA FAZ ‘DEPOIMENTO’ VIA SBT

Depois de obter um habeas corpus para calar diante da CPI, Francisco Maximiano, o dono da Precisa Medicamentos fez um “depoimento” unilateral em vídeo, e o enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito e ao SBT, emissora de TV do quintal bolsonarista, ainda mais depois que foi colocado à testa do Ministério das Comunicações o deputado Fábio Faria, genro de Silvio Santos.

Nele, acusa de mentirosos os irmãos Miranda, que dizem ter denunciado a Jair Bolsonaro as suspeitas de corrupção na compra da vacina indiana Covaxin.

O argumento é o de que seriam apenas “erros formais” na fatura de pagamento do primeiro lote da vacina, embora seja incompreensível que uma fatura de US$ 45 milhões pudesse ser feita com tanta distração que exigisse duas correções.

O ponto central de sua defesa, porem, é a alegação de que a “invoice” malandreada com um “pagamento antecipado” e em nome de uma empresa que não constava no contrato como vendedora, só teria sua primeira versão entregue no dia 22 de março ao Ministério. Dois dias depois, portanto, do encontro entre Luís e Luís Ricardo com o presidente da República.

O documento, não se sabe a razão, não teria sido incluído no “pacote” de downloads enviado via Dropbox, um site de envios público na internet.

Tecnicamente, se houver perícia, é possível verificar se esta versão é consistente, inclusive porque uma pasta de documentos enviados por este meio pode ser alterada e ter arquivos excluídos, temporária ou definitivamente.

Além do mais, ao baixar arquivos por esta via, os computadores do Ministério da Saúde vão gerar data e horário da criação de arquivo-cópia e isto pode ser auditado.

Mesmo sem perícia, porém, um detalhe chama a atenção.

Além de provar que o arquivo – anteriormente apontado como falso pelo Planalto, via Onyx Lorenzoni e Élcio Franco – é verdadeiro, confirma que foi criado pela Madison (que iria receber o dinheiro em nome da Bharat Biotech) produziu a fatura “errada” no dia 19, enviou-se por e-mail e, por tratar-se de uma sexta-feira, a Precisa só encaminhou o documento dia 22, sendo, portanto, impossível que Miranda a tivesse no dia 20, para mostrar ao presidente.

Bem, supondo que a fatura fosse enviada da Bharat Biontech, na Índia, ou da “portinha” que é a Madison, em Cingapura, no “final do expediente” preguiçoso de uma sexta feira, às 17 horas, hora local, isso corresponderia a 8:30 da manhã, no caso da Índia, ou a 6 horas da manhã, no caso de Cingapura. No próprio ‘depovídeo” Maximiniano mostra que lhes chegou no mesmo dia 19, às 4:26 da manhã, o que aquele fuso horário explica.

O que faria uma empresa reter da manhã de sexta-feira até segunda às 10:21 um documento que era só encaminhar para fazer o processo andar e olhe que era um processo de US$ 45 milhões? Preguiça da Precisa diante do necessário para receber a “bolada” de sua comissão na compra?

Como diz Omar Aziz, “chapéu de otário é marreta”.

E se não havia a “invoice”, que indícios poderiam ter sido levados a Bolsonaro a ponto de lhe provocar o explosivo “rolo do Ricardo Barros” dito aos irmãos Miranda que mantém há uma semana a família presidencial morrendo de medo de que esteja gravado?

Além do mais, a “invoice” enviada neste e-mail fala em “Proforma Invoice” com a expressão “requested”, o que é “solicitada”, solicitação indica correção de uma primeira versão inadequada, até porque uma empresa de exportação sabe perfeitamente que uma fatura seria necessária desde o início. E, notem na reportagem de O Globo, no dia 24 de junho, que há TRÊS e não duas “invoices” no processo, indicando que houve, portanto, uma original, errada, e duas correções.

O vídeo do sr. Francisco Maximiano tem toda a pinta de virar um “áudio do Dominguetti”, desfazendo-se por suas próprias contradições. Talvez por isso, em momento nenhum ele mostra seu rosto, o que já, de cara, é motivo para que se desconsidere os argumentos de um covarde. Mas isso não vai acontecer e é possível que e tenha consumado aquilo do que o HC do Supremo protegia Francisco Maxmiano: produzir provas contra si mesmo.

O piada é pronta: Maximiano, o “Mister M” da Precisa.

PGR NÃO PODE SER ‘SALTITANTE’, DIZ WEBER SOBRE CASO DA PREVARICAÇÃO DE BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

A ministra Rosa Weber, do STF, recusou a proposição da Procuradoria Geral da República para deixar para após as conclusões da CPI a investigação sobre possível prevaricação de Jair Bolsonaro diante das denúncias levadas a ele pelo deputado Luís Miranda sobre irregularidades na compra das vacinas indianas Covaxin.

O adiamento havia sido sugerido pela PGR em posicionamento perante a notícia crime apresentada pelos senadores Randolfe Rodrigues, Fabiano Kontarato e Jorge Kajuru, pelo fato de não ter o presidente mandado abrir uma apuração sobre o caso.

A posição da Procuradoria – ou de Augusto Aras, ainda que camuflada pela assinatura de seu subprocurador geral, Humberto Jacques – foi duramente questionada por Weber, que a chamou de “saltitante”. Isto é: dúbia e escapista:

(…)não há no texto constitucional ou na legislação de regência qualquer disposição prevendo a suspensão temporária de procedimentos investigatórios correlatos ao objeto da CPI. Portanto, a previsão de que as conclusões dos trabalhos parlamentares devam ser remetidas aos órgãos de controle não limita, em absoluto, sua atuação independente e autônoma.

A ministra diz que a circunstância de que a notícia crime ter surgido quando o mesmo fato está sendo investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito não tira da PGR ” sua atribuição
de formar opinião sobre o delito noticiado, para o que pode se valer de investigações preliminares ou, a depender do acervo indiciário que lhe aporta, rumar diretamente para sua conclusão a respeito da natureza criminosa dos fatos (seja ela negativa, com o arquivamento das peças; seja positiva, com o oferecimento de denúncia)”.

E devolveu o processo a Aras com uma ordem: decida que vai investigar, se vai denunciar ou se vai mandar arquivar, que depois falo eu o que será feito.

Tijolaço.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

BANDIDOS X BANDIDOS, PICARETAGEM E ESPERTALHÕES ESTE GOVERNO ESTÁ CHEIO, POR FERNANDO BRITO

A CPI da Covid, diante da possibilidade de uma nova sessão de “cinema mudo”, como a exibida ontem com o “depoimento” silencioso do sr. Carlos Martins – Wizard não é parte de seu nome, mas a marca dos cursos de inglês que vendeu há sete anos, o que provocou protestos da marca – antecipou para hoje o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira, policial militar mineiro que diz ter recebido um pedido de Roberto Ferreira Dias, diretor exonerado do Departamento e Logística do Ministério da Saúde, para acrescentar um dólar de propina numa suposta compra de 400 milhões de doses da vacina Astrazêneca numa oferta paralela à do laboratório anglo-sueco.

No cronograma anterior, seria a vez de Francisco Maximiano, dono da também suspeitíssima Precisa Medicamentos, intermediária da frustrada compra de 20 milhões de doses – e com mais 60 milhões delas planejadas -, mas este provavelmente ficaria em absoluto silêncio, com o habeas corpus concedido ontem pela ministra Rosa Weber.

A esta altura – e sobretudo depois do surgimento da “bomba” Luís Miranda – está claro que se está mergulhando num submundo imundo que tenho comparado a um esparramo de baratas quando se abre uma tampa de esgotos.

É preciso cuidado redobrado, porque o mercado “paralelo” de vacinas, aquele mesmo que era buscado para “iniciativa privada”, alegando que isso era para “ajudar o Brasil” é um antro de picaretagem e de espertalhões.

Sim, é preciso expô-lo, ainda mais quando se trata de evidenciar o que faz um governo bandido a ponto de não se importar com a vida de centenas de milhares de brasileiros. E, como no velho latinismo Simila Similibus Curantur, também só se descortina a bandidagem com as brigas entre ela.

Daqui a pouco vamos ver como isso acontece, numa sessão da CPI que tem tudo para ser explosiva.

Tijolaço.