terça-feira, 19 de outubro de 2021

BOLSONARO SACODE MERCADOS PELO “AUXÍLIO” QUE NÃO VEIO, POR FERNANDO BRITO

Cancelado meia hora antes de seu anúncio solene no Palácio do Planalto, o lançamento do novo “Auxílio Brasil” foi deixado para não se sabe quando, embora tenha provocado estragos no mercado financeiro: dólar a R$ 5,58 – depois de ter alcançado os R$ 5,60 – e perda de mais de 3% na Bolsa de Valores, tudo foi cancelado e adiado sine die.

A conversa de que o adiamento deveu-se a dúvidas sobre como adequar a “furada do teto de gasto” à Lei de Responsabilidade Fiscal é para boi dormir, porque o programa poderia ter sido anunciado genericamente e esperar o detalhamento legal, nos próximos dias.

A provável razão é política, pois a equipe de Paulo Guedes é “tetista”, no sentido de teto, fervorosa, como o chefe, com a diferença que ele é antes tetista , no sentido de teta, acima de tudo.

Só que faz tempo que os simulacros de política econômica saíram de suas mãos e ele foi atropelado por um Centrão que fala a Bolsonaro que manter a teta é mais importante que manter o teto e é exatamente isso que ele quer ouvir.

Já Paulo Guedes prefere os autoenganos de dizer que “a economia está voando“, quando o que voa são a inflação e o câmbio.

É provável que logo saibamos dos bastidores desta crise que adiou os disparos das bombas V-2 que Bolsonaro prepara para sua blitzkrieg eleitoral. Como a equipe da Economia está louca para sair como “mártires da economia de mercado” degolados pela demagogia de Bolsonaro – há uma boa acolhida para todos eles no mercado financeiro – do que ficarem como cúmplices do desastre da incompetência deste governo, é provável que logo tenhamos inconfidências.

Já corre que o secretário especial do Tesouro, Bruno Funchal. já teria comunicado Guedes de que não aceita qualquer medida que libere de recursos driblando o teto de gastos, e certamente há outros que analisam o que será para suas carreiras ficarem como coveiros do teto de gastos.

O estrago, porém, já foi feito no mercado, que, mesmo depois do adiamento, quase nada recuou nos seus índices catastróficos. Não são bobos e sabem que Bolsonaro não pode recuar de seu número cabalístico de 400 reais. E que, para resistirem à pressão para que este valor seja ainda maior e chegue a mais pessoas, terá de brindar os deputados e senadores com mais emendas, para as quais não há dinheiro no Orçamento.

O Centrão, pela boca de Ciro Nogueira, já garantiu que o dinheiro será fora do teto e o mercado sabe que ele manda mais do que Guedes.

Mas calma que ainda não é tudo: há o embrulho dos combustíveis, no qual a Petrobras já acena com falta de abastecimento, os caminhoneiros prometem uma greve em que ninguém acredita para o dia 1°, e Bolonaro prometendo “resolver” o problema do diesel até o final da semana.

Tijolaço.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

DE VOLTA À ILHA DAS FLORES, POR FERNANDO BRITO

No final dos anos 80, um ganhava as telas o documentário “ficção e realidade” Ilha das Flores, do hoje famoso Jorge Furtado, era um chocante retrato do Brasil arruinado pelos anos de ditadura e pelo desastre do Governo Sarney, no qual famílias disputavam com os porcos os restos de comida no “lixão” da Ilha das Flores, no Rio Jacuí, em Porto Alegre.

Mais de 30 anos, é este filme que vem a memória quando se vê as cenas de homens e mulheres retirando restos de comida da caçamba de um caminhão de lixo em Fortaleza.

A diferença é que a Ilha das Flores de hoje está aparecendo em todos os lugares: no Ceará, em Pernambuco, no caminhão de ossos do Rio, nas carcaças de peixe e frango do Mercadão de São Paulo…

No texto genial de Furtado, a leitura dramática de Paulo José diz que “o que coloca os seres humanos depois dos porcos na prioridade de escolha de alimentos é o fato de não terem dinheiro nem dono”.

Bem, se andamos um passo e estamos escolhendo os restos antes dos porcos, os brasileiros continuam sem dinheiro e sem ter quem cuide deles e lhes garanta o essencial para viver.

Não é possível compreender que, num país onde tanto se apela a Deus como provedor de soluções – que são humanas, não divinas – os homens que se arrogam em escolhidos divinos não terem uma palavra contra esta degradação humana, mais própria do Inferno.

Falta-nos a simplicidade magnífica do arcebispo e Prêmio Nobel da Paz, o sul-africano Desmond Tutu que, numa entrevista a Geneton de Moraes Neto, ao ser perguntado sobre “qual seria a primeira pergunta que o senhor gostaria de fazer a Deus, e tivesse a oportunidade de encontrá-lo cara a cara”, respondeu, sem titubear: “como é que o senhor tolera tanta injustiça e sofrimento”.

Tijolaço.

domingo, 17 de outubro de 2021

ADIAMENTO É UM PERIGO POLÍTICO PARA A CPI, POR FERNANDO BRITO

O adiamento da leitura e votação do relatório da CPI da Covid, que passou para a última semana do mês, é ruim sob todos os aspectos.

Não só revela que há divisões no bloco majoritário quanto à extensão das acusações que serão formuladas contra Jair Bolsonaro, seu ministros, seus filhos e outros personagens sombrios, como afeta a sua repercussão política das conclusões da Comissão, já fartamente conhecidas da população.

A falta de formalização dos resultados adia até as investigações que não serão previsivelmente retardadas pelo dócil Procurador Geral da República, Augusto Aras.

Há muitos outras que pertencem a foro estadual que devem começar ou avançar ainda neste final de ano e isso não é fácil diante dos dilatados prazos da Justiça e dos recessos judiciais do final do ano.

A grande vitória da CPI, em matéria política, foi alcançada pela revelação da conduta omissa e charlatã – esta até agora reiterada – do presidente da República. Deve-se evitar perdê-la no prolongamento exagerado que está acontecendo e que aqui já se havia apontado há um mês.

O mais provável, percebendo a resistência que não esperava, é que Renan Calheiros reduza o número de indiciados e que, em relação a Jair Bolsonaro, e ceda às pressões para que retirem-se as acusações por genocídio indígena, que não se revela apenas no combate falho à pandemia, mas em várias outras perseguições e violações a comunidades indígenas.

A superexposição de alguns senadores até há pouco desconhecidos também deve ser um obstáculo ao entendimento sobre o relatório, que procurarão em divergências e votos em separado (embora não contraditórios com o documento do relator.

Tijolaço.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

BOLSONARO CAI EM SEUS REDUTOS. A ECONOMIA É IMPIEDOSA, POR FERNANDO BRITO

Da leitura da extensa pesquisa Genial/Quaest, o que mais chama a atenção é a desagregação da base bolsonarista.

Hoje, apenas 52% daqueles que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2018 votariam outra vez no presidente, isto é, dois 58% que amealhou naquela eleição, teria hoje 30%, apenas.

Mas há mais dados, como os que reproduzo na ilustração: o salto na reprovação do seu governo nas regiões Sul, Norte e Centro Oeste, onde Bolsonaro é mais forte, foi acentuadíssima – 10, 18 e 13 pontos, respectivamente – o que vai muito além do que qualquer variação estatística pudesse explicar.

Igual é o crescimento da avaliação negativa em seu “reduto” evangélico”, que subiu sete pontos: de 35% para 42%. E, entre a população mais idosa (60 anos ou mais) também impressiona a queda: sua reprovação salta de 43% para 53%, passando a ficar no mesmo patamar das demais faixas etárias.

A razão disso é fácil de perceber quando se vê o comportamento entre os estratos de renda: a reprovação a Bolsonaro pula 10 pontos para cima.

É o resultado do agravamento da crise econômica: em três meses a parcela que indica a economia como o maior problema do país saltou de 28 para 44%. Ou 54%, se somarmos os 10% que apontam a pobreza e a desigualdade como principal preocupação.

69% acham que a situação econômica piorou e 62% creem que o governo não conseguirá domar a alta de preços.

O resultado disso é que a rejeição a Jair Bolsonaro alcançou um patamar altíssimo: 65% dizem que não votariam nele de jeito algum. contra 31% que admitem votar (20) ou “poder votar”(11).

A rejeição a ele vai se aproximando de ser o dobro da que teria Lula (38%), que tem muito mais certezas de voto (35%) e possibilidade de tê-los (18%), somando 53%.

Os candidatos mais fortas de dita “Terceira Via” – Ciro, Moro e Datena – seguem girando de um pico de 10% dos votos, muito abaixo dos 26% que Bolsonaro tem na média dos cenários testados e quatro vezes menos do que a pesquisa, na mesma média, indica que Lula teria: 45%, suficientes para vencer no primeiro turno.

Veja abaixo o gráfico da migração de votos entre o segundo turno de 2018 e as intenções de votos de hoje.

Tijolaço.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

PROJETO DE LIRA SOBRE ICMS É SÓ PROPAGANDA. POR FERNANDO BRITO

A Constituição Federal é clara sobre a autonomia do Estados para fixar seus impostos sobre circulação de mercadorias e serviços.

Ela estabelece explicitamente a competência estadual e, nas poucas intervenções que nisso se pode fazer, o papel é do Senado, jamais da Câmara.

É fundamento do regime federativo e, portanto, cláusula pétrea.

Ao pretender criar uma base de cálculo arbitrária ( a média de longo prazo dos preços) ela atinge em cheio a liberdade de fixação de alíquotas dadas aos Estados.

Foi criada apenas uma chicana para não parecer uma violação do texto.: a alíquota é libre, mas a base de cálculo é rebaixada.

Ainda que não fosse, seria ilegal pela competência exclusiva do Senado em criar regras nacionais de coleta de tributos estaduais: o projeto da Câmara teria o vício de iniciativa.

Se (dificilmente) for aprovada no Senado, do STF não passa.

É mera manobra política, para dar uma demonstração de carinho a Jair Bolsonaro, que culpa os Estados pelo aumento dos combustíveis. E, talvez, deixar o STF como “malvado” que não permitiu baixar o preço do combustível.

Tijolaço.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

EVANGÉLICOS PODEM TROCAR MINISTRO POR VICE, POR FERNANDO BRITO

Subiu um degrau a disputa pela aprovação de André Mendonça para a cadeira deixada vaga por Marco Aurelio Mello.

Jair Bolsonaro acusa Davi Alcolumbre de “estar jogando fora das quatro linhas da Constituição” ao retardar a votação da aprovação do seu indicado para o Supremo.

Mas, para quem deixou, durante três meses, Mendonça abandonado às feras senatoriais, a reação parece falsa e tardia.

Quem está brigando – menos por Mendonça e mais pela indicação de alguém ligado a pastores-políticos – são os líderes bolsoevangélicos que ameaçam com o inferno (e a não-reeleição) o senador do Amapá.

Alcolumbre dobrou a aposta e agora manda dizer que é capaz de segurar até 2023 a sabatina de Mendonça. O que, claro, não aconteceria, porque o novo presidente eleito teria o poder de retirar o nome bolsonarista e indicar alguém que julgasse mais conveniente.

O que, claro, não vai acontecer, porque o objetivo de Alcolumbre é “fazer” o novo ministro, provavelmente Augusto Aras.

O objetivo não é protelar a sabatina e o “vestibular” de Mendonça, mas assegurar a sua rejeição. O que, não duvide, agradaria a Bolsonaro.

Porque o senador sabe que há remotíssimas possibilidades de que Jair Bolsonaro retire o nome de Mendonça e promova um “racha” em sua base nos pastores evangélicos.

Mas levar a uma possível rejeição de seu nome, na Comissão de Constituição e Justiça ou no plenário expandiria para outros senadores (e candidatos)a “maldição” evangélica sobre seus nomes.

Isso, é claro, vai acabar em “negócio”, pela impossibilidade de todas as partes em impor suas preferências. Se é que são suas preferências, pois Mendonça parece mais o candidato do morismo, o que o deixa como suspeito entre os próprios bolsonaristas.

Cada vez mais se suspeita que não teremos um “ministro terrivelmente evangélico”, mas um candidato a vice “terrivelmente pastor”.

Tijolaço.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

JURAS EVANGÉLICAS NÃO EMPURRARÃO BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Diz a Folha que Jair Bolsonaro faz ofensiva para reforçar laços com evangélicos e ruralistas de olho na reeleição.

Má estratégia, porque se trata – perdão pelo mau uso de palavras tão elevadas – de “pregar para convertidos”, pois visa dois setores onde, mal e mal, o atual presidente já tem apoio, ainda que minguante entre os evangélicos, tamanho o horror que seus apelos e seus métodos provocam em pessoas com valores espirituais, ainda que não seja o caso de alguns de seus líderes.

E isso sai caro, porque a radicalização agroevangélica de Bolsonaro implica em tomadas de posição que afasta muitos mais do que podem atrair.

O agronegócio é muito menor do que aparenta com suas picapes e chapelões. Isso é uma classe média que orbita o verdadeiro negócio, que está enfrentando problemas causados pelo memsmo fator que o faz prosperar: o comércio exterior.

Já se abordou aqui o encarecimento dos insumos agrícolas: os fertilizantes são importados, em dólar, as máquinas agrícolas subiram até 40% de preço, em função de alta no aço e no dólar e a eletricidade e nos combustíveis pesou na conta das lavouras que dependem de irrigação.

Não parece haver terreno fértil para a ampliação da área plantada do bolsonarismo, até porque há limites de quantidade populacional que a limita.

Entra os evangélicos, segundo as pesquisas, Bolsonaro tem perto de 30% de apoio. Bem menos que os 40% que chegou a ostentar, no início do governo mas, ainda assim, um número expressivo.

Difícil, entretanto, de subir, porque – apesar da grita de Silas Malafaia e outros pastores – não se tem notícia de que essa perda tenha sido por uma defecção de seus líderes, mas de seus fiéis, atingidos, como todos os outros brasileiros – pela degradação da economia.

Ou até mais, porque se sabe que o recorte das classes de menor renda entre os evangélicos tende a ser mais forte que entre a população como um todo.

Bolsonaro não está carente de declarações de amor a ruralistas e evangélicos, ao contrário, ele as faz todo dia. Mas declaração de amor sem política de governo não leva a lugar algum.

O que o presidente não faz – alias, o que ele faz, além de provocações – não substitui o que se espera(va) dele entre estes grupos.

Tijolaço.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

ALCOLUMBRE VENCE NO STF E MENDONÇA FRITA EM FOGO ALTO, POR FERNANDO BRITO

A decisão de Ricardo Lewandowski de que é assunto interno do Senado a marcação da sabatina de André Mendonça, até agora o indicado de Jair Bolsonaro para a vaga deixada por Merco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal era juridicamente esperada – o STF tem a tradição de não interferir nas questões que juga interna corporis das casas legislativa, mas isso não as exime de provocar efeitos políticos.

Alcolumbre ganha fôlego para procrastinar o exame do nome terrivelmente evangélico na Comissão de Constituição de Justiça que preside e que tem, na sua composição, um cenário menos problemático para a aprovação do nome do ex-ministro da Justiça que aquele que existe no plenário do Senado.

Tempo para o ex-presidente do Senado esperar a troca de integrantes da Comissão e assegurar um resultado negativo, enquanto Mendonça terá de se sustentar com a solidariedade apenas formal de Bolsonaro e a dos “líderes” evangélicos Silas Malafaia e Marco Feliciano, para quem outro evangélico, mais “seu”, pode ser a indicação-solução.

O moralismo tolo de alguns senadores de oposição, que acham que Mendonça seria a chance da ressurreição do lavajatismo no Supremo é a última esperança de Mendonça, como se alguém pudesse ser defensor da honestidade quando não se peja de misturar religião e política e, pior, tornar-se aliado incondicional de Bolsonaro em troca de um posto elevado no sistema de Justiça.

Opa! O que digo eu? Não foi exatamente isso o que Sérgio Moro fez?

Tijolaço.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

BOLSONARO, O “JOVENCIDA”, É CONTRA VACINA ABAIXO DE 20 ANOS. ASSISTA, POR FERNANDO BRITO

“Só” 3 mil jovens morreram na pandemia, 0,5 % das 600 mil mortes registradas entre os brasileiros.

O númeor é grande, embora a taxa seja pequena, mas muito maior que a da de vários países desenvolvidos.

Bolsonaro, porém, acha que não é preciso vacinar os jovens e, se vacinam isso “é negócio”, aqui e no mundo inteiro, onde jovens não são excluídos da vacinação.

Ficou claro a que se deveu a proibição ordenada por Marcelo Queiroga de vacinar adolescentes, revertida pela pressão dos governadores de vários estados.

Economia: os jovens são muitos para vacinar e poucos vão morrer.

Insignificantes, se cada vida pudesse ser precificadas – e a dos jovens, por serem mais longas no futuro, teriam preço muito maior.

Disse, no post anterior, que não está mais em questão Jair Bolsonaro ser um monstro.

Ele próprio o confessa.

Assista o video do portal Metrópoles e evite pensar em seus filhos e seus netos para não alimentar sua fúria.

Tijolaço.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

BOLSONARO VAI DEPOR. PRA QUÊ? POR FERNANDO BRITO


Depois de um ano com o processo paralisado (por Luiz Fux) para discutir se o presidente da República deveria depor presencialmente ou por escrito no inquérito sobre se teria interferido na Polícia Federal durante a gestão de Sergio Moro no Ministério da Justiça, Jair Bolsonaro à beira da decisão, disse que irá depor.

Não tem a menor importância, porque, de lá para cá, ele já provou que interfere mesmo, e daí?

Pois não vazou documentos sob sigilo para reforçar sua cruzada sobre o restabelecimento da apuração manual dos votos, mandou afastar o delegado que denunciou crimes ambientais do ex-ministro Ricardo Salles? Não consegue travar todas as apurações da PF que têm por alvo sua família e seu círculo mais próximo?

Mas que não sejamos injusto. O queixoso Sergio Moro fez igual, e antes, quando era o todo-poderoso chefão da Lava Jato e dirigia, na prática, os trabalhos policiais.

Bolsonaro está num situação confortável e pode se dar ao luxo de um resultado de inquérito que o coloquem na situação de pressionar por mudanças na PF. Sempre poderá dizer que foi uma simples manifestação de crítica e não ordem. Vai dizer – e não sem razão – que Moro tratava a Federal como sua “propriedade” e não um órgão de governo.

Contará, para se sair bem, com a tolerância crônica do Procurador Geral da República. Se este claudicar, a maioria regida por Arthur Lira encarrega-se de fazer com que se suspenda a apuração e que o processo vá se juntar às dezenas que serão abertos se e depois de deixar a Presidência. Lá, nem fará volume, perto da montanha de culpas que lhe serão apontadas.

Aí está a questão: a menos de um ano da eleição presidencial, o único julgamento possível para Bolsonaro é o das urnas: o Judiciário e o Legislativo perderam todas as chances de fazê-lo e tolo é quem se ilude que isso ainda seja possível.

Tijolaço.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

PENDURADO NO DÓLAR E NA INFLAÇÃO, GUEDES AGONIZA. POR FERNANDO BRITO

A desvalorização do real, impulsionada pela inflação e pelo câmbio era, até agora, um retrato de incompetência do governo e do chefe de sua política econômica, Paulo Guedes.

Agora, ao menos no discurso que se espalha na opinião pública, Guedes passa a ser pior que isso: é alguém que se beneficia, direta e pecuniariamente, como beneficiário dessa desvalorização.

Guedes, o inútil, passou a ser vilão, por mais que mercado e grande imprensa fazem um “abafa”, como se sua empresa de fachada no exterior fosse apenas “inconveniente”.

Ainda que tratada como “narrativa” da esquerda se torna mais ácida quando o dólar chega a R$ 5,48 e atinge máxima em cinco meses e isso coincide com uma brutal elevação do preço do petróleo, tornando iminente uma nova elevação do preço dos combustíveis e mais gás na disparada da inflação, pronta para deixar para trás a marca dos 10% ao ano.

Como se não bastasse o preço do botijão do gás de cozinha, atingiu o maior preço deste século em setembro, vendido a R$ 98,70 e a gasolina, o maior valor , em termos reais, desde fevereiro de 2003.

Etudo fica pior ainda quando se considera que se espera que o fim dos estímulos financeiros nos EUA e, talvez já no início de 2022, uma elevação da taxa de juros do Tesouro norte-americano, empurrando para cima os nossos, na vã competição para tornar atraentes os minguantes investimentos estrangeiros.

Paulo Guedes está pendurado por um fio, que ameaça ser cortado pelo o câmbio e pela taxa de inflação crescente e teimosa e apoiado por um suporte frágil de um mercado menos confia dele do que teme quem possa ir para o seu lugar.

Um ministro da Economia vive de credibilidade e, sem ela, não é difícil entender que, politicamente, Guedes está moribundo.

Tijolaço.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

MÍDIA TENTA, MAS NÃO ADIANTA BLINDAR PAULO GUEDES PORQUE FOI CARIMBADO NA TESTA, POR FERNANDO BRITO

É inacreditável a tentativa de blindagem da grande mídia ao escândalo de Paulo Guedes, ministro da Economia, e Roberto Campos Netto, presidente do Banco Central, serem, ao mesmo tempo em que exercem suas funções públicas, dirigentes de empresas offshore em paraísos ficais no Caribe.

O Globo nem mesmo publica a notícia e deixa o assunto para sua subsidiária, o G1, que trata do caso como apenas um “conflito de interesses”, quando é, escancaradamente, uma violação da lei que rege o exercício das funções públicas (Lei 8.112, artigos 117 e 132). Agora, no final da noite, a Globonews limitou-se a destacar alguns trechos da Piauí.

O Estadão dá uma pequena chamada, dizendo que chefes de Estado são acusados de esconder milhões em paraísos fiscais e, em duas matérias, nem sequer cita o ministro e o presidente do Banco Central Brasileiro.

É isso o que chamam de “jornalismo profissional”? Deus me livre, viva o amadorismo, então.

Notem que são jornais que, nos editoriais, dizem-se em oposição a este governo e desancam a política econômica de ambos.

Mas não acham errado o dinheiro lá fora, em paraísos fiscais, mesmo depois do governo brasileiro ter feito, desde o governo Dilma e, até concluir-se no Governo Temer, um programa de repatriação de capitais no qual, pagando-se o imposto devido, fortunas guardadas lá fora poderiam ser legalizadas, em condições vantajosas, e trazidas para dentro do Brasil.

Só a Folha dá manchete, ainda assim para uma reportagem da revista Piauí, que integra seu grupo empresarial e, ao lado do Poder360, da Agência Pública e do site Metrópoles são aos brasileiros que estiveram num consórcio que reúne jornais do prestígio do The New York Times, Washington Post, The Guardian e dezenas de outros de credibilidade mundial.

Parece que Paulo Guedes escolheu bem o nome de sua empresa caribenha: Dreadnoughts, que significa encouraçado, os navios blindados que eram o terror dos mares até a 2a. Guerra Mundial, quando as grossas chapas de metal passaram a não vale nada diante do crescente poderio das bombas e foguetes.

Pois é também assim que a blindagem midiática será em relação a esta vergonha: inútil.

Paulo Guedes era, até agora, o ministro da inflação. Agora, é o ministro dos milhões no Caribe.

Tijolaço.

domingo, 3 de outubro de 2021

‘PANDORA PAPERS’ ENCONTRAM ‘POSTO IPIRANGA’ NO CARIBE. POR FERNANDO BRITO

Tem empresa offshore em paraíso fiscal?

-Tem, no Posto Ipiranga tem!

Pois é, tem empresa de Paulo Guedes nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido esconderijo de capitais suspeitos. É a Dreadnoughts International, o que euivaleria a “encouraçado” ou “blindado”, presidida por ele em pessoa, o que é crime para quem ocupaca cargo do Governo.

Se é crime para alguém que é nomeado assessor de quarto escalão e é sócio gerente de uma padaria, é, em escala gigantesca, para quem é dono de uma empresa com capital social registrado de 10 milhões de dólares, tendo como sócias miniritárias a mulher e a filha.

Já o presidente do Banco Central “independente”, manteve, até manteve, até agosto do ano passado, outra offshore, no Panamá em sociedade com a mulher e outra pessoas que, provavelmente, é sua filha.

Um mês antes, ele e Guedes assinaram uma resolução que dispensa, pra enviar até US$ 1 milhão para o exterior, o registro da remessa no próprio Banco Central, multiplicando por dez o limite até então permitido.

Ou seja, eles próprios se autorizaram a fazer remessas de dinheiro para paraísos ficais sem registro no Banco Central.

A proibição da Lei 8.112, no artigo 117, é expressa e taxativa – [inciso] X – participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; – e a pena única é a de demissão (art. 132).

Há uma chusma de empresários – inclusive os da Prevent Senior – com várias empresas em paraísos ficais, mas sobre Guedes e Campos Netto, além das questões éticas (se é que isso ainda existem) pesam proibições legais incontornáveis.

Não se sabe qual a reação do Ministério Público e da Comissão de Ética Pública – mansos até ao extremo com este governo, mas o líder da oposição na Câmara já anunciou a propositura de uma ação pública por improbidade no Supremo Tribunal Federal.

A lei ainda existe no Brasil?

Tijolaço.

sábado, 2 de outubro de 2021

ALIANÇA NÃO É HUMILHAÇÃO E PAUTA É A SOBREVIVÊNCIA DO POVÃO, POR FERNANDO BRITO

Há dias os jornais dizem que os atos de hoje – indo pra a Candelária, já-já – “testam aceno da esquerda a presidenciáveis e partidos de oposição“, como diz a Folha de S.Paulo, hoje.

Para usar a palavra que o bolsonarismo trouxe à moda, isso é uma simples narrativa.

O neo-oposicionismo é quem precisa acenar à população, motrando que está disposto à formação de uma frente, algo a que a esquerda jamais se recusou, desde que num ambiente leal e, nem diria fraterno, desarmado.

Mas quando “presidenciáveis e partidos de oposição” – e assim o fazem Doria, Mandetta, Ciro e outros – dizem que seu objetivo é “tirar o Lula (Ciro Gomes), que o “antipetismo será linha predominante” da campanha (Doria) e que Lula é uma “figura nefasta” tanto quanto Jair Bolsonaro (Mandetta) e o patético MBL e seus aliados levam um boneco do ex-presidente em roupas de presidiário para seus atos esvaziados, dizer que são “acenos” da esquerda o que falta à formação de uma frente antibolsonaro é tripudiar sobre a inteligência alheia.

Seus telhados são excessivamente vítreos para que atirem pedras assim: apoiaram ou se omitiram frente a esta figura que, desgraçadamente, está no poder. Não fazer disso obstáculo à frentes políticas não significa que se vá cantar de galo com o pouco milho que têm.

Não haverá uma frente universal entre partidos e organizações que – umas sempre, outras só desde ontem – se opõem em graus diferentes e com objetivos diferentes ao atual presidente. Nem agora, nem nas eleições e, talvez, nem num segundo turno das eleições.

Isso não quer dizer que não possam e não devam partidos e organizações que têm este alinhamento produzirem ações concretas, como os atos de hoje, desde que estejam dispostas a distensionar a relação de inimigo que todas elas mantêm com os partidos de esquerda e, sobretudo, Lula e o PT.

Até porque um governo de reconstrução democrática do Brasil precisará deste entendimento mútuo e respeitoso.

O mais importante é que o processo político social que, desde maio deste ano, induziu manifestações cada vez maiores contra o atual Governo foi o que atraiu estas forças para se integrarem a estes atos de rua. E o processo eleitoral, com o desenho que as pesquisas esboçam, fará esta aproximação ser muito maior e mais produtiva.

Se virão, decididamente, ou se sua presença é essencial ao que isso representará lá na frente, quando chegarmos mais próximo das eleições são coisas distintas do que é preciso fazer agora para que a marcha dos partidos e movimentos populares tenham representatividade no povão.

A crise econômica é, agora, uma ameaça maior do que o golpe político – que perdeu força com a radicalização do bolsonarismo – para o nosso povão.

O corte de classe média e alta da partidos no Brasil, com o esvaziamento dos sindicatos e dos movimentos comunitários, dificulta a tradução política destas lutas para o povão.

Para este, sim – e já – , a esquerda tem de fazer acenos e demonstrar que é das suas manifestações que depende a sua sobrevivência com dignidade.

Um faixa ou um cartaz, hoje, fala com menos eloquência do que uma etiqueta de preço no supermercado.

Tijolaço.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

CHARLATANISMO COM DINHEIRO PÚBLICO, POR FERNANDO BRITO

Mais documentos e mensagens comprovando que médicos estavam sendo pressionados a receitar medicação ineficaz contra Covid surgem, agora na operadora de saúde Hapvida, aquela que anuncia na TV ter “cuidados de mãe” com seus segurados.

Os médicos eram coagidos a “bater metas” de prescrição do Kit Covid, ao ponto de alguns deles terem de fingir ter receitado os produtos, retirar da farmácia dos hospitais e guardar, deixando que o paciente saísse com um receituário adequado ao que desejavam prescrever.

A reportagem está no jornal O Globo.

É, como na Prevent Senior, caso de polícia e de exclusão de suas concessões de operação pelo Governo, através da ONS.

Sim, porque este curandeirismo, esta charlatanice, é, afinal, praticado com dinheiro público, pois as despesas supostamente médicas feitas por planos de saúde, são pagas, por empresas e por pessoas, à custa de impostos que são deduzidos do valor devido.

O Diretor Corporativo de Emergências da Hapvida, Alexandre Wolkoff, encaminha aos médicos da empresa um áudio em que diz que deixa bem clara a “obrigação” da prescrição de cloroquina:

— Eu peço para vocês. A liderança de cada unidade, a diretoria médica, os regionais precisam liderar isso. A gente precisa subir a prescrição de cloroquina. Então, eu peço que vocês… não é só para Manaus, só para uma unidade ou outra, mas para todos as unidades, a gente (tem que) ter um aumento significativo da prescrição do kit Covid. Cada diretor médico da unidade é diretamente responsável por esse indicador.

O resultado das receitas era controlado por uma planilha e quem ficava “abaixo da meta” era, segundo dizem os médicos do plano, ameaçado com troca e de plantões e transferências.

Estamos diante do maior escândalo da medicina brasileira, totalmente dominada por corporações empresariais às quais a grande maioria dos profissionais não tem meios de resistir. E, pior, muito sequer desejam resistir.

Tijolaço.