sábado, 12 de fevereiro de 2022

O CORDEIRO BARROSO E O ‘LOBOLSONARO’ DAS URNAS, POR FERNANDO BRITO

Desculpem-me os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, mas são eles os culpados pela nova crise que Jair Bolsonaro está abrindo sobre a segurança do processo eleitoral.

Ao convidarem “especialistas” das Forças Armadas para o que seria um grande meeting técnico para aperfeiçoar a segurança das eleições já não tinham, depois da ameaça golpista de Sete de Setembro, o direito de se iludirem com a expectativa de que Jair Bolsonaro mandaria o Exército para este trabalho sem tentar transformá-lo em agente da confusão.

Não se acusa, claro, os profissionais recrutados para esta cooperação, mas a índole de quem os envia e a subordinação que estes têm não ser apenas à códigos e programas, mas aos ditames de seus superiores hierárquicos.

Os “esclarecimentos” fracos e gentis que a corte eleitoral deu às afirmações insidiosas de Jair Bolsonaro em sua live caberiam se fossem dados pelos militares, porque é a eles que caberia repor a verdade de que “são apenas pedidos de informações, para compreender o funcionamento do sistema eletrônico de votação, sem qualquer comentário ou juízo de valor sobre segurança ou vulnerabilidades”, como informou a nota do TSE.

Se é assim, caberia ao próprio Ministério da Defesa esclarecer que não foram, como disse Bolsonaro, “várias, dezenas de vulnerabilidades”. O Exército empurrou os esclarecimentos para o Ministério, que empurrou para o TSE, como se o presidente não tivesse dito que elas foram encontradas pelo “nosso pessoal”, frisando que ele era o “chefe supremo” das Forças Armadas inclusive nisso.

Mesmo quando as questões levantadas pelos militares forem respondidas, é claro que Bolsonaro não se dará por satisfeito, porque seu objetivo, com ou sem elas, é desacreditar as urnas que, provavelmente, lhes serão madrastas.

A conversinha do Ministro Luiz Roberto Barroso à época em que fez o convite, alegando que a presença das Forças Armadas na comissão eleitoral iria “esvaziar o discurso de golpe” é uma tolice.

Coisa de carneirinho que acha que vai convencer o lobolsonaro.

Tijolaço.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

SÃO PAULO SERÁ HADDAD X TARCÍSIO. FERNANDO BRITO

No brasão de São Paulo há a inscrição latina: non ducor, duco, “não sou conduzido, conduzo”.

Pois não é o que parece que acontecerá nas eleições paulistana de outubro, que serão conduzidas pelo confronto entre Lula e Jair Bolsonaro, cada um deles representado por um de seus mais próximos aliados, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, no 2° turno e, talvez, já mesmo no 1° turno, a depender de Guilherme Boulos, decidir manter sua candidatura a governador.

Não há outros candidatos em São Paulo para “puxar” votos para candidatos a presidente, isto é, não é a decisão sobre o candidato ao Governo do Estado que definirá o candidato ao Governo.

Não se votará em Sérgio Moro porque “Mamãe Falei” o apoia, nem em Dória porque tem o apoio de Rodrigo Garcia e nem em Ciro Gomes porque Guilherme Boulos venha a aceitar o apoio do PDT .

O “palanque”, em São Paulo, é o nacional, não o local, em maior grau, até, ato que acontecerá em todo o país.

E a direita paulista fechará, salvo um improvável desmoronamento completo do “Mito”, com Bolsonaro.

O recuo de Dória à disputa estadual pela reeleição, embora não totalmente impossível, é inviável, porque entrará no jogo como um derrotado,.

e o mesmo aconteceria com Márcio França, se viesse a concorrer sem compor-se com Haddad e o PT.

Pesquisas podem mostrar este quadro com menos definição, mas estão a indicar a esta tendência, que é parte da política perceber.

Tijolaço.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

BOLSONARO DIZ QUE ‘ALGO’ VAI ACONTECER E SALVAR O BRASIL. VEJA. FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro, em meio ao cercadinho de fanáticos que todos os dias se monta no Palácio da Alvorada, disse hoje que “nos próximos dias vai acontecer algo que vai nos salvar no Brasil”.

Não disse o que nem o porquê, exceto que “acredita em Deus”, o que não se sabe o que tem ver com isso.

Mas a frase anterior, que a ditadura “das canetas” é igual à ditadura das baionetas sugere que está certo meu bom amigo Tales Faria quando disse, no UOL, que, embora sem apoio para virar a mesa institucional, “a ameaça de que venha a promover um golpe ajuda a manter a solidez do núcleo de seu eleitorado -esse bolsonarismo mais raivoso – iludido de que um dia as instituições democráticas acabem fraquejando diante do “Mito”, que é como o chefe é chamado.”

Isso é o “lógico” da falta de lógica presidencial, a de alimentar crises permanentemente.

O problema é que Bolsonaro assume cada vez mais esta personalidade de líder fanático, uma espécie de Jim Jones que ninguém sabe até onde pode chegar, ainda mais que se encontra blindado por uma maioria parlamentar e um Ministério Público que lhe garante a impunidade.

Bolsonaro tornou o Brasil inteiro uma área de risco para seus cidadãos.

Tijolaço.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

FEDERAÇÕES ATÉ O FIM DE MAIO DEIXAM ELEIÇÃO PRESIDENCIAL EM ÁGUA MORNA. POR FERNANDO BRITO

A decisão de permitir o registro de federações partidárias até o dia 31 de maio vai prorrogar, por mais 110 dias, a definição das alianças para a campanha presidencial.

Não creio, entretanto, que a mais adiantada delas – PT, PSB, PCdoB e PV – leve todo este tempo para ser concluída, até porque ela paralisa, em parte, a movimentação de Geraldo Alckmin, provável vice da chapa de Lula e favorece uma indefinição que se transforma em arestas internas e externas ao PT.

Entre elas, a aliança já de primeiro turno com o PSD de Gilberto Kassab, cada vez mais próxima e admitida.

No MDB, são tantas as divisões que é praticamente impossível que consigam fazer uniões internas, que dirá externas, embora Simone Tebet possa ser uma candidata conveniente para partidos que não queiram ter candidatura que os desgaste.

Com o PSDB, improvável, até porque João Doria é irremovível do lugar de candidato e tem a legitimação formal das prévias internas.

A estagnação de Moro também não dá cacife ao Podemos, ao contrário. E como casa em que falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão, há entre os podemistas quem queira “empurrar” o ex-juiz para o União Brasil, para que os recursos do fundo eleitoral não sejam dissipados na campanha presidencial.

Mas no União Brasil, depois de um período de marchas e contramarchas, no qual Luciano Bivar ensaia querer o lugar de vice-presidência e ACM Neto bate o pé em não sujeitar sua campanha ao governo baiano ao desgaste da vinculação a Sergio Moro.

Quatro meses de pesquisas quase que totalmente estáveis vão minando as chances de um segundo pelotão de candidaturas – Moro, Ciro e Dória – vir a oferecer perigo a Bolsonaro e muito menos Lula. É possível que Simone Tebet, se o MDB lhe der as inserções partidárias na televisão, sim, tenha chances de se juntar a este grupo, o que não é ainda entrar no jogo sucessório.

Portanto, as chances de outras federações entrarem em pauta se limitam a pequenos partidos: o Cidadania com o PSDB, o que esbarra no desejo do senador Alessandro Vieira, que prefere Moro, por enquanto; e a Rede, na qual o senador Randolfe Rodrigues terá dificuldades em arrastar para um apoio a Lula, mas nem tanto em liberar o voto presidencial. O PSC tenta tratativas com João Doria, mas a bancada evangélica torce o nariz para isso.

O fato é que a prorrogação de 2 de abril para 31 de maio da data-limite para a formalização das federações, de modo geral, esfria a fervura das definições de alianças das campanhas presidenciais. E, portanto, deve estender também o tempo em que pouco ou nada muda.

E isso é uma grande vantagem para os que a lideram que, se pudessem, gostariam que as eleições fossem amanhã.

Tijolaço.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

KAMIKAZE NÃO GANHA GUERRA, MAS FAZ ESTRAGO. POR FERNANDO BRITO

Não haverá carnaval, por conta da Ômicron, mas há muita folia e desfiles de fantasias nos mercados financeiros.

Não há, senão por curto período, possibilidade de seguirmos em queda, ainda que moderada no câmbio, porque o fluxo de dólares, caudaloso em janeiro, não seguirá assim com a alta dos juros do Tesouro norte-americano, mesmo com as generosas taxas arbitradas aqui pelo Banco Central (que, aliás, avisou que as subirá mais e por mais tempo).

Nem este fluxo seguirá forte como foi na Bolsa, onde as compras externas (R$ 37,4 bilhões, em janeiro e primeira semana de fevereiro) fizeram a festa, ainda que modesta, dos investidores.

As projeções para o IPCA de janeiro, que o IBGE divulga na manhã desta terça feira andam perto de 0,6, o que elevará o acumulado em 12 meses para cerca de 10,5% e as previsões para fevereiro são de que este total permaneça por aí.

Mas e os planos de que lá para abril ou maio estas taxas baixem e apontem para uma prevista redução da inflação a 5%?

Noites de verão são boas para sonhar, e assim vamos, mas a ata da reunião do Copom, publicada hoje pelo Banco Central é preocupante por vários motivos.

O primeiro é o de o BC, ainda nos primeiros dias de fevereiro, “jogar a toalha”quanto ao cumprimento da meta de inflação de 2022, fixada em 5%, é absolutamente inusual, porque os fiascos em política monetária só são admitidos quando já estão evidentes e basta ver como foram subindo, ao longo do ano passado, as previsões inflacionárias oficiais.

Além do mais, as variáveis “boas” – queda mundial do preço das commodities – não estão acontecendo e as “ruins”, o possível descontrole fiscal do país , habitam as telas de todos os portais de notícias, com a “PEC Kamikaze” que tem o evidente apoio do Governo e é apenas o primeiro dos pacotes de bondades eleitorais que se repetirão até às vésperas da eleição presidencial.

O que se tem de informação sobre a atividade econômica do início do ano parece inverter o levíssimo otimismo dos dois meses finais de 2021 e vai se refletir numa piora ainda maior nas previsões de expansão do PIB. O otimismo do mercado fica numa alta de 0,3%, mas os já nem tão resguardados cochichos já consideram um recuo de até 1%.

E tome dinheiro para frear esta queda, o que é necessário mesmo. Mas não como tudo indica será feito, atabalhoada e superficialmente, com um “vota em mim, o rombo a gente vê depois”.

Kamikazes, como se sabe, fizeram muito estrago, mas não ganharam a guerra.

Tijolaço.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

ONDE ESTÃO AS OUTRAS NOTAS, MORO? POR FERNANDO BRITO

Fora da grande mídia, corre nas redes o embrulho da nota fiscal exibida por Sérgio Moro na live em que tentou provar que a empresa à qual, ficticiamente, prestou serviços enquanto trabalhava para a Álvarez e Marsal norte-americana nada tinha a ver com a Álvarez e Marsal que, no Brasil, gerencia a recuperação judicial da Odebrecht e da OAS, quebradas pela ação da Operação Lava Jato que o ex-juiz chefiava.

Dizendo estar “tudo direitinho, tudo bonitinho”, Moro exibiu o que seria uma nota de pagamento da empresa que “provisoriamente” arcaria com sua remuneração, a Álvarez e Marsal Disputas e Investigações, CNPJ 38.235.111/0001-50. Segurou até um cartaz com estas informações.

Mas, ao exibir uma nota fiscal do que seria um dos pagamentos, esta era de uma outra das 13 empresas em que a A&M se divide contabilmente, porque todas dividem o mesmo espaço físico em algumas salas da Rua Surubim, 577, em São Paulo.

Como já se mostrou aqui, é todas as empresas atuam em conjunto – ou promiscuidade, como se vê pela nota fiscal – receitas e despesas fluem entre os vários CNPJ, comforme convenha.

A nota, referente a “serviços prestados no mês de fevereiro” de 2021, o que sugere pagamentos mensais, registra um valor de R$ 811 mil brutos. Se eram “atrasados”, nada na nota o indica. Se este era o valor mensal, como a nota indica, o valor em 11 meses é muito maior que os R$ 3,5 milhões admitidos pelo ex-juiz. Tem apenas o 7 como número de nota, e é preciso saber desde quanto tempo a empresa havia emitido outras seis notas, o que é muito pouco, principalmente para quem lida com estes valores altíssimos.

O candidato do Podemos atribuiu a um “erro material” a emissão da nota pela empresa de engenharia do grupo, o que é um difícil de acreditar, ainda mais neste valor. Já a empresa dá outra versão à revista Veja: a contratação de Moro “teve sua prática originalmente estruturada no Brasil na A&M Consultoria em Engenharia e em seguida foi transferida para A&M Disputas e Investigações”.

Neste caso, deve existir um segundo contrato e outras remunerações, pagas pela A&M Disputas e Investigações. Outra – ou outras – notas, além de explicações sobre coo se deram os pagamentos e benefícios que recebeu nos Estados Unidos que, se foram através da empresa do ex-juiz, também tem a obrigação de ser registrado em notas fiscais.

Moro também não exibiu o contrato que lastrearia este pagamento e suas características e, assim, é impossível saber a que serviços e período se refere, ficando assim valendo o que está escrito na nota: pagamento de um mês, o de fevereiro, curiosamente pago ainda na metade do período (dia 17), o que é totalmente incomum.

Salvo se houver – como deve sugerir o Tribunal de Contas da União – uma investigação fiscal, Moro não é obrigado a mostrar quanto e como ganhou, é verdade. Mas, neste caso, seu discurso de “transparência” e “moralidade” está sujeito a tudo o que se disser dele.

Tijolaço.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

SÓ OS QUE ACHAM QUE SÃO RICOS PERMANECEM COM BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Bruno Boghossian, em ótima compilação de dados, mostra na Folha que, comparando-se pesquisas de intenção de voto, em vários segmentos da população. Lula inverteu, com sobras, a situação que Jair Bolsonaro tinha frente a Fernando Haddad em 2018.

Reuni, aí em cima, os gráficos que o jornal apresenta separadamente: entre os jovens (até 24 anos), o que foi uma desvantagem expressiva (35% Bolsonaro e 18% Haddad). hoje são acachapantes 54% para Lula contra 17% de Bolsonaro.

Na Região Sudeste, que tem 43% do eleitorado do país, onde Bolsonaro tinha, em 2018, mais que o dobro de Haddad (40 a 16%) agora é Lula quem dobre com folga a intenção de voto presidencial , com 43% contra 21% do atual presidente.

Entre os com escolaridade superior completa, onde – Deus nos perdoe – o “Mito” teve 3 por um 1 sobre Fernando Haddad (45% contra 15%), agora a situação quase se inverte: Lula tem 39% e Bolsonaro apenas 24%.

Esta “virada” vai se repetindo por quase todos os segmentos em que se disseque as pesquisas, menos dois.

Os evangélicos, ainda assim num virtual empate, ainda que com vantagem numérica para Lula e em outro, que está à espera de análises sociológicas: os que ganham mais de cinco salários mínimos por mês, que representam 14% da população. Entre eles, dependendo da pesquisa, a vantagem ainda é de Bolsonaro. Embora mais estreita que em 2018, ainda é grande, em algumas pesquisas, perto de ser o dobro.

Se tivesse de ser definido sumariamente, o reduto restante a Bolsonaro é o das classe B e C, o “empresário” (em geral trabalhador por conta própria), homem e de meia idade.

O “cara” que ascendeu, justamente, com Lula e que está falindo com Bolsonaro.

Eu disse que era uma análise sociológica? Desculpe, errei: é uma análise psicológica que merece a subelite brasileira.

Tijolaço.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

O MARKETING DO MORO. POR FERNANDO BRITO

Em longa entrevista à Folha, o marqueteiro da campanha de Sergio Moro diz que seu “alvo” são os “bolsonaristas decepcionados”.

Com todo o respeito, é uma bobagem sem tamanho em matéria de estratégia.

Bolsonaro teve, em 2018, 55,13% dos votos válidos e 49,85% dos votos totais. Portanto, caso tenha perdido metade dos seus votos, os “bolsonaristas arrependidos são apenas 25% dos eleitores.

Para um candidato a presidente da República escolher falar para um quarto, apenas, dos eleitores é suicídio. Quem quiser provas, veja se Lula fala o tempo todo de Bolsonaro. Claro que não, na maior parte do tempo está fazendo crítica social e econômica do país, coisas que afetam 100% – ou quase – dos cidadãos.

Agrava-se isso quando se deixa de considerar a grande praga que assola quase todos os outros candidatos: o fato de terem dado seu aval ao ex-capitão. É como alguém vender a você um carro “bichado” e, tempos depois, vir te oferecer outro, garantindo que “aquele era ruim, mas este é bom”.

Dizer que vai tratar dos problemas econômicos e sociais e fazer isso dizendo que adotará “forças-tarefa” – versão policialesca das antigas “comissões de alto nível” típicas dos que não tinham soluções, porque “não dá para passar ao largo” é quase uma confissão de que aquelas questões são uma aborrecida necessidade quando se pretende essencialmente o poder.

Nada, porém, é tão sincericida quanto a frase “O Bolsonaro está no nosso espectro”.

Sim, é isso: está no mesmo campo, no mesmo grupo de pensamentos, no mesmo espectro ideológico, apenas apresentando-se de outra maneira, como se as grosserias e os modos chulos do atual presidente fossem o seu problema e não a postura odiosa e as políticas que nos levam ao caos.

Moro tinha um ponto eleitoralmente muito forte e que usou para ajudar Jair Bolsonaro: a sua imagem midiática de campeão da integridade. A ‘boca” no governo, o desejo frustrado de ir para o STF, os diálogos da Vaza Jato, a decretação pela Suprema Corte de que foi um juiz parcial e, finalmente, o fato de ter ido trabalhar para uma empresa norte-americana que se encarregou de enterrar os ossos das empreiteiras que a Lava Jato quebrou acabaram com esta imagem e “sobrou” disso a própria razão de toda a sua trajetória judicial: o ódio a Lula.

Será este, nenhum outro, o mote de sua campanha eleitoral, se ela for até o final. Seu argumento central é de que ele “será o melhor” meio de derrotar o ex-presidente e, por isso, seu antibolsonarismo só tem esta razão de ser.

E, claro, o ódio que tem do atual presidente por não ter dado o que ele queria, o que é tão evidente que até João Dória, do alto dos seus 3% de intenções de voto, manda recados de que lhe poderia dar: um cadeira no Supremo.

Tijolaço.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

OS MOVIMENTOS DOS SEM-VOTO. POR FERNANDO BRITO

A primeira semana política após a retomada das atividades do Congresso continuou a produzir as “flores do recesso” que o velho deputado Thales Ramalho introduziu no folclore político brasileiro: aquelas ideias que parecem ser arrasadoras, mas que, expostas às intempéries da realidade, não duram mais que alguns dias.

É o caso das conversas sobre “federações partidárias” a serem formadas, basicamente, pelo PMDB, ora com o PSDB, outra com o União Brasil.

Nenhuma das duas tem qualquer possibilidade de avançar, porque não existe, nos três partidos envolvidos, sequer a capacidade de partilharem, internamente, candidato comum à Presidência.

No MDB, a senadora Simone Tebet não une o partido e, fora dele, não tem potencial para fazer uma honrosa figuração como candidata a vice.

No PSDB, Doria não é aceito como candidato pelos tucanos não-paulistas: Eduardo Leite, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio e toda a velha guarda, embora Fernando Henrique Cardoso ainda mantenha aquela conversa de “candidatura do meu partido” que não convence nem seus vizinhos de prédio.

No União Brasil, mesmo com o apetite de Luciano Bivar para negócios, a candidatura de Sérgio Moro não avançou sobre o veto de ACM Neto, que sabe que não terá chance senão fingindo que não tem candidato presidencial e, ainda assim, se o ministro João Roma, como candidato bolsonarista, não lhe roubar votos demais.

Moro, aliás, cava a própria a cova por já estar assumindo publicamente que não terá apoio de partidos, quando diz que “apoio de entidades civis é ‘muito mais relevante’ que o de partidos políticos“.

Seus resultados nas pesquisas não permitem que ele dê uma de “esnobe” antes as forças políticas conservadoras, como tem feito, transformando MBL, “Vem pra Rua” e outros grupos virtuais de classe média em seus únicos apoios.

Fora do circuito das supostas “federações”, Gilberto Kassab dedica-se a inventar candidatos a presidente que substituam o natimorto Rodrigo Pacheco e resiste a filiar Geraldo Alckmin e a ter de dividir com ele o comando do PSD, já majoritariamente engajado na candidatura Lula. Corre o risco, porém, de chegar atrasado para pegar as primeiras filas.

Estas lenga-lengas seguirão durante todo este mês, preparando o “março da salvação”, no qual as trocas partidárias vão se consumar, na janela legal de mudanças de filiação.

O PP não tem condições de fechar no apoio a Bolsonaro, o PL vai agregar a família e a “bancada-raiz” do bolsonarismo na esperança de que ela leve os seus e o Republicanos, primo-pobre da base bolsonarista, vai ser rasgado ao meio na candidatura presidencial.

Não há mais via alguma, agora é o “salve-se quem puder”.

Tijolaço.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

SINAIS DE NOVO AUMENTO DA GASOLINA. POR FERNANDO BRITO

O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, disse a Petrobras “não pode fazer política pública”.

Lula disse que a empresa não fará no futuro a paridade integral aos preços internacionais, porque diz que não pode “enriquecer um acionista americano [perto de 35% das ações da empresa] e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga mais caro por causa do preço da gasolina .”

O petróleo voltou ao centro das atenções à toa: o preço, hoje, do barril no mercado internacional deu um novo salto e ultrapassou os 90 dólares por barril e promete ir além dos 100, com as tensões na Ucrânia encarecendo a energia.

Desde o dia 11 de janeiro, quando a estatal anunciou seu último aumento, o preço subiu quase 10% e a queda do dólar, é de apenas 4%.

Tudo está apontando, para logo, num novo aumento dos combustíveis.

Os importadores, que se valem da redução do volume de refino da Petrobras, já estão chiando e falando em “desabastecimento”, para “cavar um novo reajuste nos preços.

Tijolaço.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A TRANSPOSIÇÃO DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

Bem cedo, aqui, falei de como Bolsonaro age como um touro furioso na tentativa de ter sobrevida como presidente da República.

A comparação foi imprópria, o animal que se assemelha é o dragão de Komodo, aquele lagarto gigantesco da Indonésia que tem, em sua saliva, bactérias letais, capazes de matar apenas pelo contato com esta baba gosmenta.

Hoje, ao debochar de São Paulo, ao falar do desabamento de pistas da Marginal Tietê, disse, fazendo piada”, que “semana que vem a gente conclui a transposição do [rio] São Francisco. Em São Paulo, eu vi a transposição do Tietê”.

Para quem comemora morte, nem chega a ser tão estranho comemorar desabamentos, de estradas ou aqueles que mataram 11 pessoas em Franco da Rocha (provavelmente mais, pois há 7 desaparecidos ainda), dizendo que a gente que morava ali “não tinha visão de futuro”,

A saliva mortal de Bolsonaro também estava nas palavras que espalhou na cerimônia (exagerada e dispensável em meio a uma pandemia) de abertura do ano legislativo.

Suas falas transpõe pelo ar matéria infectante que atinge a parte da população que encontra no ódio o consolo para suas próprias frustrações.

Na boca de Bolsonaro, defesa da liberdade e imprensa é a das “fakenews” do Telegram, que se recusa a cumprir a lei brasileira e servir de plataforma de lançamento de mentiras e agressões, “harmonia entre os poderes” é só com a submissão completa de asseclas como Arthur Lira na Câmara ou “bananões” como Rodrigo Pacheco no e Senado e segurança é a liberação geral de armas para a sua turma.

Tijolaço.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

MORISTAS, AGORA, QUEREM QUE BOLSONARO OS SALVE. POR FERNANDO BRITO

Se quiser saber qual é a situação de um time de futebol num campeonato ou de um candidato nas eleições, repare no que dizem seus “torcedores”: “meu time não vai ser rebaixado porque se o Flamengo perder de quatro gols do Madureira e o Corinthians , em casa, ficar no zero a zero com o Anapolina, a gente sai do rebaixamento”.

Pois não é que hoje, Merval Pereira, decano do morismo imprensarial, sai-se com esta “combinação de resultados” para definir a chance de Sergio Moro na eleição presidencial e diz que suas chances estão numa desistência de Jair Bolsonaro em disputar a presidência:

“Tudo parece se encaminhar para uma vitória do ex-presidente Lula na eleição presidencial de outubro, a não ser que o inesperado faça uma surpresa.(…) Nem tão inesperada assim seria uma desistência de Bolsonaro, prevendo a derrota certa e sem chance de tornar-se, como Trump nos Estados Unidos de Biden, a liderança contra o PT sem foro privilegiado que o proteja. Eleito senador, Bolsonaro poderia liderar a oposição. Derrotado, pode ir para a cadeia. Sua saída do páreo mudaria a cena eleitoral.”

Claro que no site inominável do morismo, o inefável Diego Mainardi, além de prometer pular da Catedral de São Marcos se houver um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, adora a sugestão e entra na vibe de sugerir impunidade ao Mito como paga a uma desistência de candidatar-se.

A verdade é que deu chabu no Plano Moro e a sua minguada candidatura passou a servir apenas como sobrevida a Jair Bolsonaro, porque lhe serve ao propósito de atacar Lula, único discurso que o ex-juiz terá como bandeira de campanha.

O delírio merválico de que Bolsonaro poderia “liderar a oposição” e que se livraria das acusações simplesmente por estar numa cadeira no Senado é deste de se fazer embarcar num dos foguetes do Elon Musk, como este que vai se chocar com a Lua.

Mesmo se ele desistisse da candidatura e seguisse na presidência, as forças políticas e judiciais cairiam sobre ele impiedosamente.

Quem tem a desistência como opção de fuga não é ele, é o ex-juiz, que perderá menos com uma retirada do que com uma derrota anunciada.

Tijolaço.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

DELEGADO QUIS LIVRAR A PELE DE BOLSONARO. POR FERNANDO BRITO

A crer no que diz o delegado da Polícia William Tito Schuman Marinho, que relatou o caso da tentativa de falcatrua na compra das vacinas indianas Covaxin para concluir que, como “não tinha o dever de ofício” de mandar apurá-las, não cometeu crime de prevaricação.

O delegado esperava que a Constituição definisse que expressamente era seu dever de ofício “mandar apurar denúncias de malversações de dinheiro público”.

Está lá, fácil de entender, no Artigo 37, onde se diz que a administração pública “obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade (…)”. Não bastasse, no art. 85, inciso V, define como crime descuidar da “probidade na administração”. Se deixar que ela seja violada é crime, zelar por ela é dever, não algo opcional.

O delegado preferiu achar que mandar apurar a irregularidade na compra das vacinas não era “dever de ofício e, assim, que não se enquadra no crime de prevaricação. Mas o que acha do delegado do art. 143, que rege a administração pública: “art.143 – A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa”.

O presidente é autoridade? Teve ciência de irregularidade? Promoveu sua apuração? E de forma imediata?

Não? E daí?

Se a Justiça e o Ministério Público acatarem esta manifestação do delegado, nenhum chefe em qualquer nível de governo, se souber de alguma maracutaia, poderá dizer que apurar denúncias de corrupção “não está em suas atribuições”.

É difícil que isto prevaleça, mesmo com a mansidão da Procuradoria Geral da República.

Até porque é é algo que não terá progresso concreto, a não ser depois que Bolsonaro perca o escudo de proteção que o cargo lhe dá.

Tijolaço.

domingo, 30 de janeiro de 2022

A GERINGONÇA FUNCIONOU OUTRA VEZ. POR FERNANDO BRITO

Definidas 80% das 230 cadeiras do Parlamento, o Partido Socialista Português caminha para uma vitória expressiva e, até, para obter uma impensável maioria absoluta, que consolida o governo, do primeiro-ministro Antônio Costa, até agora sustentado por uma coligação a que os portugueses chamam de geringonça, que parece ter funcionado.

Ele ainda não admitiu abertamente que seu partido terá número para formar sozinho o governo e diz que o controle do Parlamente é “um cenário extremo não previsível”.

Já é previsível sim, porque o PSP tem 55% das cadeiras já preenchidas, embora com 42% dos votos, porque no sistema distrital do voto português, os votos não se somam como no Brasil, considerando-se apenas os que conquistam cadeiras nos distritos

A nota triste é que a extrema direita, com o “Chega” – o bolsonarismo de lá – será a terceira força política do país, com pouco mais de 7% dos votos.

Tijolaço.

sábado, 29 de janeiro de 2022

BOLSONARO É A CRISE. SOCIAL, ECONÔMICA E INSTITUCIONAL. POR FERNANDO BRITO

O “num vô” de Jair Bolsonaro ao depoimento ao qual foi intimado por Alexandre de Moraes não é a razão do novo capítulo da crise institucional que vive o país.

A razão é o desejo de Jair Bolsonaro em fazer das crises o seu método de manter-se no poder, já que método de governar seria reconhecer que há governo, o que daqui já se foi faz tempo.

Bolsonaro não gere a cooperação, gere o conflito, desde que se lançou a política, ainda dentro da caserna.

Seu ambiente é o da constante disputa do “quem é que manda aqui?” e seu argumento eximir-se dos fiascos sucessivos é o “não me deixam mandar”.

Quem? O Judiciário, a imprensa, a lei, a pandemia, os ambientalistas, os petistas, os esquerdistas, os “comunistas”, que se opõem ao povo, maciçamente representado em motociatas e desfiles de picapes climatizadas do agronegócio, tão reluzentes que se suspeita jamais terem visto barro.

Não se trata de uma discussão sobre as prerrogativas de se e como ele deveria prestar declarações em um processo judicial em que, na condição de investigado, poderia escolher entre comparecer ou não e, na condição de presidente, do direito que teria em determinar local, data e hora da oitiva.

Teve dois meses para fazê-lo e não o fez, e nem sequer levantou, senão na véspera, objeções a obedecer à ordem do ministro do STF.

O último lance da pantomima foi inacreditável: entregar um recurso faltando 11 minutos antes do depoimento. Achava que todos sairiam correndo pelos corredores do Supremo para acolher seu pedido com tom de ordem? Está claro que o horário foi estudado para, mesmo que houvesse vontade de atendê-lo, não fosse possível e ficasse claro sua recusa em prestar declarações sobre o caso.

Bolsonaro está “tocando reunir” para a legião de fanáticos e Moraes deu-lhe o pretexto para fazê-lo.

Quem quiser estudar o comportamento do presidente deve deixar da lado os tratados de política e examinar as atitudes dos valentões de botequim.

Bolsonaro é desta extração.

Tijolaço.