Perguntaram-me,
ontem, quais as chances de que Sergio Moro ultrapasse Jair Bolsonaro e assuma o
“duelo” com Lula no segundo turno e minha resposta foi quem com os dados da
realidade de hoje, essa não é uma hipótese provável.
E
o disse porque o ex-juiz tem uma representatividade e uma plataforma que está,
apesar do “teatro” ensaiado com o qual ele tenta se lançar a outros temas,
exclusivamente no antilulismo, do qual ele, como no velho comercial de TV, se
apresenta como “argumento”, o tal “la garantía soy yo“.
Embora
tanto ele quanto Bolsonaro sejam dois personagens medíocres, Moro tem mais
dificuldade, mesmo apelando para o simplismo do “senso comum” em descer ao
patamar da estupidez explícita que faz do então candidato e atual presidente o
Mito dos recalcados.
Seus
modos e falas complicados e sem paixão não geram proximidade, algo essencial em
quem se candidata a “fenômeno” como foi o ex-capitão em 2018.
Moro
também não conta com a capilaridade que Bolsonaro teve. Não tinha partido, é
verdade, mas tinha militares e policiais, ativos e aposentados (além da imensa
quantidade de pessoas ligadas, para o bem e para o mal a eles), como um
verdadeiro partido, com presença nacional e também a adesão, amplamente
majoritária, das igrejas evangélicas.
De
um jeito torto e antirrepublicano, o candidato teve um grande, um imenso
partido, maior e mais orgânico que qualquer um dos partidos políticos.
Moro
não o tem, embora tenha a a espuma da mídia, que tem poder, mas não
organicidade.
Como
não tem o governo e sua capacidade de influir sobre o voto – muito embora Jair
Bolsonaro – seja um desastrado no exercício deste poder, pela confusão e
estupidez de suas políticas, e pela insinceridade que emana de tudo o que faz,
inclusive do auxílio-emergencial, ao qual, pela demora em agir e pelas
confusões de sua implantação, conseguir desnudar o caráter eleitoreiro, mesmo
sendo uma ato de aceitação (quase) unânime de manobra eleitoral.
Moro
e sua trupe elitista nem isso conseguem, porque embora não se posicionem contra
uma emergência que grita nas ruas, com as pessoas catando lixo, demonstram que
o fazem a contragosto, cheios de ressalvas fiscais que deixam claro o “melhor
seria não dar”. Os “mercadistas”, como ele, lamentam mais o auxilio que a fome.
Lula,
como mostrou a entrevista que deu a Podpah na semana que passou, mal começou a
mover a engrenagem de empatia que tem com a população. Isso é o contrário do
que têm dito – ou desejado – muitos analistas, que acham que seu teto já foi
alcançado. Não foi e este sim é um teto que pode ser rompido com as
articulações que desenvolve com forças políticas que, mais importante do que
atraírem votos próprios, sinalizam a viabilidade de um novo governo sob sua
chefia.
As
escolhas políticas não são feitas pelo “ideal”, embora devam sempre ser feitas
pelas ideias. Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como
querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que
se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”, escreveu em
1850 Marx.
Talvez
devamos acrescentar que as escolhas são feitas, também, pelo perigo de ousar
quando o pescoço da democracia – aquela que nos permite corrigir erros –
estiver sob risco de quem quer, assim que puder, estrangulá-la sob um estado
policial.
Coisa
que Bolsonaro não puderam fazer a quatro mão, mas sonham em fazer cada um com
suas próprias.
Tijolaço.
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