Logo
após a fala de Vladimir Putin, ontem, escreveu-se
aqui que ele poderia “escalonar sua ofensiva, porque o simples reconhecimento
das duas repúblicas não o obriga a nada” embora indique “para uma
improvável ofensiva sobre aqueles territórios” : “Ele [Putin] estica
a corda e deixa claro que não fará novo recuo até que o Ocidente acene com
alguma proposta de limitar a presença da Otan na Ucrânia, como parece ser o seu
desejo.
Putin
joga xadrez, seus adversários parecem jogar damas.
Era
tão evidente isso que foi o que, ao menos nas primeiras 24 horas, aconteceu.
Putin jamais daria ao Ocidente o que EUA e Otan queriam: imagens de colunas de
tanques, às centenas, com a chama dos disparos na ponta de seus canhões”.
Não
quer dizer que esteja descartada alguma ação militar incisiva, mas dificilmente
ela seria espetacular.
Lembrem-se
que esta guerra, como todas as modernas, tem a propaganda como artilharia mais
eficaz.
Não
há nada nas sanções anunciadas por Biden e por países europeus que sejam um
grande problema para o Governo russo: proibir transações financeiras de bancos
russos nos Estados Unidos é como usar uma peneira para conter água, sustar um
gasoduto – sanção
também há muito prevista – é um tiro no pé da economia alemã e
europeia, totalmente dependente do suprimento de gás russo.
Da
mesma forma, mandar armas para a Ucrânia, com o nível de sofisticação que
armamentos têm hoje é inócuo, porque exceto equipamentos básicos, não há
pessoal habilitado a manejá-las com eficiência e é, neste momento, impensável
que tropas da Otan e, especialmente, dos EUA vão se engajar em combates no
solo.
No
mais, pensar em ataques aéreos ao solo, com mísseis e helicópteros, é
desalentador: além de conduzir o conflito para um combate sem limites, e não há
a supremacia absoluta no ar que houve nas últimas guerras travadas pelos EUA,
contra o Iraque, no Afeganistão e na Síria. Disparar um míssil contra território
russo e abrir-se a um disparo equivalente contra quem o disparou.
O
Ocidente podia ter deixado “por menos”, sem nada ou muito pouco de prejuízo
estratégico. A Ucrânia pode querer fazer parte da Otan, mas se a Otan tivesse
dito “não”, numa atitude prudente de deixar uma cortina “neutra” nas fronteiras
russas, nada na lei internacional tornaria um direito esta associação. Mais
adiante, com a crise já instalada, evitar uma atitude hostil, como a do “é
mentira e eles vão invadir a qualquer momento” teria deixado Putin na obrigação
de dar consequência à sua declaração de que as tropas se recolheriam.
Capitaneados
por Joe Biden, com visíveis intenções de reforçar-se internamente depois do
fiasco da retirada do Afeganistão, deixaram Putin conduzir como queria a
situação.
E,
claro, nada tem a ver com a Ucrânia e a segurança e autonomia de seus povos.
Tijolaço.
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