PEÇA 1 – O XADREZ DA
CRISE
O
que se pretende demonstrar neste Xadrez é o seguinte:
1 –
O ritmo de saída da crise econômica dependerá das medidas que estão sendo
tomadas agora: o que será preservada da estrutura econômica atual; e qual a
posição do Brasil no comércio mundial pós-crise.
2 –
Quanto maior a demora em sair da crise, maior o desalento e maior a
instabilidade política futura.
3 –
Não há a menor possibilidade do governo Bolsonaro apresentar um plano
minimamente viável de saída para a crise. Ele é uma ameaça nacional pelo que
faz e pelo que deixa de fazer.
4
– Momentos de grande desalento, como os atuais, abrem espaço para duas
formas de reação: ou o exercício da solidariedade ou o discurso de ódio, com
alguma liderança oportunista acenando com inimigos fictícios para produzir
coesão. Tudo dependerá da maneira como será organizado o primeiro tempo do jogo
pós-Bolsonaro.
5
– O discurso do confronto, praticado pelos Bolsonaro, passa por profundo
desgaste, pela incapacidade de produzir qualquer política propositiva, e pelos
fracassos nas três frentes: econômica, social e política. Cada dia de vida do
governo Bolsonaro é um buraco a mais no caminho da recuperação nacional.
Bolsonaro está alijando o país do chamado concerto das Nações e produzindo um
desmonte em todas as instituições nacionais.
6
– Por outro lado, tirar Bolsonaro sem apresentar uma alternativa viável,
significará aprofundar o caos. E vive-se uma era de desmoralização generalizada
de todas as instituições. Da fase anterior, ocorreu a desmoralização dos
partidos políticos, pela leniência com o presidencialismo de coalisão e falta
de limites para os financiamentos de campanha; do Supremo Tribunal Federal e da
mídia, pelo endosso ao discurso de ódio, ao desrespeito à Constituição e pelo
uso oportunista da bandeira anticorrupção. O desmanche político
provocado pela Lava Jato conseguiu piorar ainda mais a representação
parlamentar. A crise dos dois partidos centrais – PT e PSDB – pulverizou ainda
mais o quadro partidários. Na primeira etapa, foram preservadas as Forças
Armadas, por não terem ainda sido testadas. Com Bolsonaro, o desgaste atingiu
também os militares.
Pela
primeira vez, na história, o Brasil corre o risco de desmanchar-se como Nação.
Na prática significaria a desmontagem final de qualquer ordem institucional, a
perda de comando sobre as forças policiais e militares, a perda de coordenação
do Supremo sobre a primeira instância e das casas do Congresso sobre o baixo
clero, a expulsão do chamado concerto das nações, o isolamento comercial.
PEÇA 2 – A INVIABILIDADE
DO GOVERNO BOLSONARO
Economia – Os
números são eloquentes. São 12,7 milhões de desempregados, Mais que isso.
Segundo a Pesquisa Pulso Empresa do IBGE, divulgada ontem, das 1,3 milhão de
empresas que estavam fechadas na primeira quinzena de junho. 522,7 mil não mais
reabrirão. Dessas, 518,4 mil são de pequeno porte, com até 49 empregados.
Significa que, no pós-pandemia, haverá 522,7 mil empregadores a menos e 522,7
mil pequenos empresários jogados na zona cinzenta da falta de emprego. E, com o
aumento do desemprego e a redução da renda, um mercado de consumo exangue.
Guedes
não mostra nenhuma estratégia de reativação da economia. Falhou no apoio às
empresas, na retomada do crédito, nas políticas de sustentação de emprego e
renda. Continua preso a um fundamentalismo econômico suicida, que está
inviabilizando a retomada dos investimentos em saneamento, ao pretender
liquidar da noite para o dia as empresas estaduais de saneamento, deixando os
municípios ao Deus-dará.
Sua
lógica é simples.
1.
Não dispõe de nenhuma capacidade operacional.
2.
Não consegue montar uma estratégia sequer de retomada, seja por insuficiência
de conhecimento, seja pela incapacidade de operacionalizar estratégias que
exigem competência gerencial e conhecimento da realidade.
3.
Vendo seu tempo se esgotar, desvia o foco para as tais reformas. Mercado e
mídia reagem pavlovianamente, desviando a pressão nas medidas emergenciais para
um discurso vago de reformas, que em nada amenizarão a derrocada atual da
economia. Discute-se como a economia se salvará enquanto as bestas de Bizâncio
querem discutir o que fazer depois da salvação.
Saúde –
cada vez mais o início a retomada da economia se dará após o controle do Covid
19. A política de saúde é um desastre reconhecido. Bolsonaro desarticulou
qualquer papel coordenador do governo federal frente à pandemia. Falhou na
compra de medicamentos, na transferência de recursos, com a demissão de Luiz
Eduardo Mandetta desmontou a tentativa do Ministério de Saúde de articular
expectativas. Finalmente, colocou à frente do Ministério militares sem nenhuma
conhecimento da matéria. Futuramente, será denunciado, julgado e condenado em
tribunais internacionais por genocídio. Nos próximos meses, a exposição do
fracasso brasileiro dificultará cada vez mais acordos comerciais ou sanitários.
Meio Ambiente –
a militarização do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a
manutenção de Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente, e a
tentativa do vice presidente Hamilton Mourão, em simular atendimento das
demandas globais sobre a Amazônia, estão destruindo a política ambiental
brasileira. Em um setor que exige sinergia, articulação com governos de estado,
prefeituras, com ONGs, Mourão montou uma estrutura essencialmente militarizada.
E defende intransigentemente a ideia de que a preservação da Amazônia se dará
através da ocupação econômica da região. Só que não dispõe de um plano racional
sequer. Com isso, a a questão econômica se restringe à flexibilização da
fiscalização do garimpo, da pecuária e da exploração ilegal de madeiras, com um
discurso que engana bolsominions, mas não a opinião pública internacional, com
capacidade de checar as informações brasileiras através de outros serviços de
satélite e do testemunho das ONGs que atuam na Amazonia.
Comércio Exterior –
o Brasil se tornou um pária global, até em setores em que tinha excelência,
como saúde e meio ambiente. A atuação ideológica do Ministério das Relações
Exteriores, os atentados ao meio ambiente, o desrespeito aos direitos humanos,
gradativamente est isolando o país da União Europeia e promovendo atritos com a
China, principal parceiro comercial. As relações com Donald Trump tiveram como
consequência apenas submissão e concessões unilaterais do Brasil, sem nenhuma
contrapartida. Agora, com a provável derrota de Trump, os Bolsonaro perdem até
o acesso à presidência dos EUA.
Flexibilização precoce –
O boicote de Bolsonaro às políticas de isolamento, os erros de diagnóstico e
implementação do Ministério da Saúde, a profunda incompetência administrativa
de Guedes, geraram pressões pesadas sobre os governadores. Muitos deles cederam
e flexibilizaram o isolamento. Agora, vem a caminho uma segunda onda, com
implicações sociais, sanitárias e econômicas piores do que a primeira onda.
Haverá
a segunda rodada de isolamento em uma de uma economia destroçada.
Essa
soma de vetores lança uma nuvem tóxica sobre o país. Haverá desalento pela
frente, podendo resultar em dois caminhos opostos, a exemplo do que ocorreu nos
anos 30:
*
identificação irracional de algum salvador da pátria manipulando inimigos
imaginários como alvos;
*
exercício da solidariedade.
PEÇA 3 – OS CAMINHOS PARA
O PACTO
Ainda
não caiu a ficha dos grupos de poder – mercado, grandes empresas, mídia,
Supremo, partidos políticos – sobre a urgência de se articular a queda de
Bolsonaro e a montagem de um pacto de salvação nacional.
Ainda
há a visão oportunista de tratar Bolsonaro como acidente de percurso e se
voltar ao estágio anterior do estado de exceção, de sufocar os contrários e
impor a revogação da Constituição de 1988 através de maiorias eventuais no
Congresso.
O
caminho do pacto nacional é óbvio na formulação e difícil na ausência de
interlocutores de todos os campos. Consitiria nos seguintes passos:
1.
Definição dos pontos centrais do pacto, as ideias fundamentais, em torno das
quais há consenso, e uma trégua nas demais, que abrem espaço para conflitos. Há
consenso sobre as medidas emergenciais; e dissenso sobre o nível e profundidade
das tais reformas liberalizantes.
2.
Montagem de grupos de trabalho interpartidários, com representantes dos
principais partidos do centro direita ao centro-esquerda, para discutir
propostas justas e viáveis para os problemas da Previdência dos estados, da
nova legislação trabalhista, da renda mínima etc.
3.
O STF se assumir definitivamente como garantidor dos direitos Constitucionais e
implementar de novo o chamado império das leis e do direito.
4.
Partidos políticos de todos os espectros firmarem um pacto com o presidente da
Câmara Rodrigo Maia visando preservar a neutralidade no internato.
5.
Um duro trabalho de reconstrução das principais organizações públicas afetadas
pela insanidade bolsonarista, repondo os quadros técnicos de cada área.
Do
GGN