sexta-feira, 21 de maio de 2021

A VENDA DA ELETROBRAS OU APAGÃO ELÉTRICO, O QUE VIRÁ PRIMEIRO? POR FERNANDO BRITO

O projeto de “pré-privatização” da Eletrobras, aprovado ontem na Câmara dos Deputados, felizmente, tende a ficar parado – ou em marcha lenta – no Senado, onde o rolo compressor bolsonarista não é tão forte quanto a máquina de maldades pilotada por Arthur Lyra.

Mas não é só por isso: para retardar o impacto da privatização nas tarifas de energia, o projeto coloca todo o peso da carga sobre o setor industrial – o que também acaba transferindo preços ao consumidor – e aposta no mesmo mecanismo furado a que Fernando Henrique apelou para “resolver” os problemas do apagão de 2001: a construção, a toque de caixa de usinas termelétricas a gás, que acabaram tendo de ser assumidas pela Petrobras e que vão na contramão da redução de emissão de gases com que o país se comprometeu.

E não é tudo: como o projeto define as áreas de implantação das térmicas – Norte, Nordeste e Centro -Oeste – em áreas com menor malha de gasodutos e adensamento de linhas de transmissão, tudo isso é custo de investimento e investimento é coisa que mingou no país em níveis apavorantes. A Folha, hoje, mostra dados que revelam que estes baixaram ao nível dos anos 60/70 , ainda que os juros negativos, em tese, devessem estar empurrando o capital para inversões produtivas.

Para por aí? Não, mesmo. Entramos na estação da seca com níveis muito baixos nos reservatórios e a sombria perspectiva de chegarmos ao final do ano com apenas 10 a 20% de reservas para a produção de energia, mesmo com uma demanda que se estagnou por conta da “marcha-lenta” da economia.

Professor da UFRJ, Adílson de Oliveira, especialista em energia, diz que estamos “em contagem regressiva para um apagão:

— Daqui a cinco ou seis meses, não teremos capacidade para abastecer o mercado. Só não estamos em racionamento agora por causa da pandemia de coronavírus, que deu uma estagnada na economia

As térmicas estã0 produzindo 26% da carga elétrica demandada pelo país, o dobro do que faziam no ano passado. São a fonte de energia que mais cresce, com 45,3% da potência instalada que entrou em operação no ano passado.

Nossa ainda maior fonte de eletricidade, a hidráulica, no ano passado, respondeu por apenas 1,23% da energia agregada ao pais.

A matriz elétrica brasileira, que já foi mais de 70% hidráulica, está em 58% e caminha para perder essa hegemonia nesta década, e é ela, disparado, a de geração mais barata e, por isso, a de menor custo.

Um novo governo, que esteja disposto a reverter o processo de desindustrialização brasileiro, terá de reverter este “meter o dedo” bolsonarista no setor de energia.

Tijolaço.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

O VÍRUS DA CORRUPÇÃO, POR ÉLIO GASDA

A tolerância à corrupção é consequência da escassa consciência de cidadania.

A corrupção é um crime com várias facetas (Evaristo Sá/AFP).

Quando ele está em campanha

Diz que vai resolver toda situação.

Depois de tá eleito adianta o seu lado

E dá uma banana para o meu povão

Perde a credibilidade, a moral e o pudor

Tira o pão da boca das crianças

Do aposentado e do trabalhador!

 

De norte a sul

De leste a oeste, meu irmão

Como tem político contaminado

Com o vírus da corrupção! 

(Bezerra da Silva).

Corrupção, crime antigo e atual. No Brasil, o lícito e o ilícito, o público e o privado se misturam desde o tempo do Império. Quando chegou ao Rio de Janeiro, dom João recebeu de "presente" uma bela casa, a melhor do Rio, do traficante de escravos Elias Antônio Lopes.

Esse, em contrapartida, recebeu privilégios da Corte.

220 anos depois, mesmo durante uma verdadeira pandemia, os escândalos dominam os noticiários: Consórcio internacional elege Bolsonaro como "Pessoa do Ano" em corrupção de 2020! Sua família e seu círculo mais próximos aparentam estar envolvidos em conspirações criminosas e vêm sendo regularmente acusados de roubar da população. O que dizer do "bolsolão", ou tratoraço, orçamento paralelo de R$ 3 bilhões para comprar apoio no Congresso? E do Ministério da saúde que paga até 185% a mais por produto contra Covid 19? Flávio Bolsonaro compra mansão de R$ 6 milhões, mesma soma investigada pelo Ministério Público - valor três vezes maior do que o patrimônio declarado pelo senador em 2018; gasto milionário do Exército com camarão, uísque e vinhos virou notícia nacional! Ministério da Saúde, na gestão Pazuello, fez contrato de R$ 29 milhões sem licitação com empresas suspeitas para reformar galpões. Os sócios da empresa estão envolvidos em escândalos.  

Corrupção é outro nome do bolsonarismo? Ocorrem graves retrocessos institucionais, principalmente com a perda da autonomia de órgãos como a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal. Governo corta verba do Coaf destinada a sistema contra a corrupção. Os ataques frequentes aos jornalistas e à sociedade civil é outra ameaça na luta contra a corrupção.

Corrupção, do latim, corruptio, significa deterioração, sedução. Antes de se falar em pecado original, expressão ausente na Bíblia, a tradição cristã dizia que o ser humano vivia numa situação de corrupção. Corrupção é ter um coração (cor) rompido (ruptus), pervertido. Na política, corrupção é o controle abusivo do poder e dos recursos do governo visando tirar proveito pessoal ou partidário. Corrupção sempre implica trocas entre quem detém poder decisório e quem detém poder econômico, visando à obtenção de vantagens ilegais para indivíduos ou grupos.

A corrupção é um crime com várias facetas. É um problema intrínseco a todo sistema apoiado em fatores internos e externos ao indivíduo (política, economia, administração pública e questões culturais e estados afetivos da pessoa). A verdade é que a corrupção está na base do capitalismo e seus laços com o poder e o dinheiro. A imposição do Estado mínimo aponta para um aspecto do neoliberalismo: a corrupção regulamentada. A corrupção desponta como estratégia dos poderosos para conseguir ainda mais poder. O governo Bolsonaro apresenta isso de forma muito clara. Para ter apoio no Congresso distribui verbas entre parlamentares. De impunidade em impunidade, o mal assumiu o poder.

A Igreja ensina que "entre as deformações do sistema democrático, a corrupção política é uma das mais graves, porque trai, ao mesmo tempo, os princípios da moral e as normas da justiça social; compromete o correto funcionamento do Estado, influindo negativamente na relação entre governantes e governados; introduzindo uma crescente desconfiança em relação à política e aos seus representantes, com o consequente enfraquecimento das instituições. A corrupção política distorce na raiz a função das instituições representativas, porque as usa como terreno de barganha política entre solicitações clientelistas e favores dos governantes. As opções políticas favorecem objetivos restritos de quantos possuem os meios para influenciá-las e impedem a realização do bem comum de todos" (Compendio da Doutrina Social da Igreja, 411). "É um pecado social. A corrupção fede, o mal rouba a esperança" (papa Francisco).

A tolerância à corrupção é consequência da escassa consciência de cidadania. Políticos notoriamente corruptos são reeleitos. Tolera-se a corrupção como parte do sistema político e da cultura do jeitinho brasileiro. A sociedade tem um baixo grau de cultura cívica e alto grau de irresponsabilidade com o bem comum. Omite-se, lava as mãos e aposta em salvadores da pátria.

"A impunidade é segura quando a cumplicidade é geral" (Marques de Maricá). O desinteresse do cidadão para com as coisas do Estado e as desigualdades sociais são empecilhos na luta contra a corrupção. Igualdade, justiça social e honestidade são princípios fundamentais para erradicar a corrupção que governa o Brasil. O Governo que rouba é o mesmo que mata.

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: 'Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja' (Paulinas, 2001); 'Cristianismo e economia' (Paulinas, 2016)

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente do Tubi News/Dom Total. O autor assume integral e exclusivamente responsabilidade pela sua opinião.

Dom Total.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

COM CERCA DE 300 MIL MORTES PAZUELLO AINDA FALA EM ‘MISSÃO CUMPRIDA’, POR FERNANDO BRITO

Quando se perguntou ao ex-ministro Eduardo Pazuello qual a razão de sua saída do Ministério da Saúde, a resposta foi tão lacônia quando cínica:

-Missão cumprida.

É possível que alguém possa considerar assim o salto de 30 mil para 300 mil mortes uma “missão cumprida”. quando a luta entre a vida e a morte está sob seu comando?

Estranhamente, porém, nenhum senador reagiu a este absurdo. Era o caso e levantar, bater na mesa, exigir respeito a 270 mil pessoas que deixaram este mundo pela pandemia, o mínimo que se poderia fazer diante de tanta desfaçatez.

Esta é a palavra. Pazuello tratou de tudo como se fossem assuntos burocráticos, que requeressem trocas de memorandos, pareceres jurídicos (aliás, em falsas afirmações), detalhes, como se os brasileiros não estivessem morrendo como moscas.

Mas quem para perguntar em que galáxia ele achava que estava Jair Bolsonaro, que ergue cloroquina como troféu diante das emas do Alvorada, “nunca” lhe deu orientações sobre o uso da droga, aliás, nunca deu orientação alguma sobre nada que ambos faziam apenas um teatro para “memes” quando o presidente desautorizou a assinatura do aval federal para a Coronavac, que mandou anular sua assinatura e quando, com Pazuello, gravou e publicou a cena do “um manda e o outro obedece”, segundo ele, “para a internet.

A rigor, só quando pisou nos calos dos dois senadores amazonenses, Omar Aziz e Eduardo Braga, descrevendo um mundo irreal, onde o sufocamento dos manauaras tenha sido quase uma fatalidade, já que todas as providências foram tomadas em tempo recorda: dia 10, à noite, tomou conhecimento dos problemas, dia 11 tomou as providências e dia 12 despejou cilindro de oxigênio em Manaus.

Idem na questão da Pfizer (a “resposta” que não houve foram “reuniões”), a da Covax (era “cara e insegura”) e por onde andou sua arrogância gelada e desumana.

Espera-se agora que, na segunda parte da inquirição de Pazuello, os senadores não se acoelhem, como até agora, diante de seu papel asqueroso.

44o mil brasileiros mortos merecem que haja, ao menos, brio diante desta monstruosidade.

Tijolaço.

MINISTÉRIO DA SAÚDE FEZ CONTRATO DE R$ 29 MILHÕES SEM LICITAÇÃO COM EMPRESAS SUSPEITAS

Contratos foram assinados na gestão Pazuello, mas foram anulados pela AGU. Militar com cargo no Ministério da Saúde é suspeito de facilitar negócios para mesma empresa no governo Bolsonaro.

A AGU quer que a investigação continue para verificar se há indícios de conluio entre os servidores e a empresa contratada. (Arquivo MS)

Em novembro de 2020, em meio à pandemia, o Ministério da Saúde contratou sem licitação duas empresas para fazer reformas em seus imóveis no Estado do Rio de Janeiro. As obras foram consideradas urgentes – por isso a licitação foi dispensada – e orçadas em R$ 29 milhões.

 Os contratos foram firmados pelo superintendente do Ministério da Saúde no Estado do Rio, coronel George Divério, nomeado pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Depois de assinados, os contratos foram anulados pela Advocacia-Geral da União (AGU), que considerou que não havia razão para a dispensa de licitação. A história foi exibida nesta terça-feira, 18, pelo Jornal Nacional, da TV Globo.

 Segundo a reportagem, em novembro de 2020 Divério autorizou a contratação da empresa LLED Soluções para reformar galpões do Ministério da Saúde na zona norte do Rio. A obra custaria quase R$ 9 milhões.

 Dois sócios da LLED Soluções já tinham se envolvido em um escândalo em contratos anteriores com as Forças Armadas. Fábio de Resende Tonassi e Celso Fernandes de Mattos eram donos da CEFA-3, que em 2007 fornecia material de informática para a Aeronáutica. Mas, como uma investigação comprovou, o material vendido não foi entregue, causando prejuízo de mais de R$ 2 milhões aos cofres públicos.

 Em processo na Justiça Militar, Tonassi foi condenado à prisão, mas segue recorrendo em liberdade. A empresa CEFA-3 está proibida de celebrar contratos com o governo federal por 5 anos, até 2022.

 Mas esses mesmos sócios abriram uma empresa nova, a LLED Soluções, Instalações e Reformas Ltda., que durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro já fechou contratos no valor de R$ 4 milhões. O contrato da reforma dos galpões foi mantido em sigilo no portal do Ministério da Saúde na internet.

Dois dias depois de autorizar a reforma dos galpões, em novembro, o superintendente Divério autorizou, novamente sem licitação, a contratação de outra empresa para uma reforma completa na sede do Ministério da Saúde no Rio, por R$ 20 milhões. A empresa contratada foi a SP Serviços, inscrita como microempresa na prefeitura de Magé (Baixada Fluminense).

 A obra foi considerada urgente com os mesmos argumentos usados para a obra no galpão. O contrato previu iluminação automática de LED na fachada, por R$ 1 milhão, e reforma do auditório, com 282 poltronas novas, a R$ 2,8 mil cada uma.

 A SP Serviços foi contratada sem licitação em três oportunidades por empresas ou instituições públicas dirigidas pelo coronel George Divério, segundo o Jornal Nacional.

A AGU não aprovou as dispensas de licitação e os contratos foram anulados. A AGU quer que a investigação continue para verificar se há indícios de conluio entre os servidores e a empresa contratada. Os pareceres reconhecem que os prédios precisam de reformas, mas afirmam que agora só seria possível fazer obras ligadas à segurança.

Ao Jornal Nacional, a Superintendência do Ministério da Saúde no Rio declarou que atuou dentro da normalidade em relação à dispensa de licitação, que os processos foram anulados e encaminhados à Corregedoria-Geral do Ministério da Saúde e que atua com transparência e lisura nos processos.

 À TV Globo, a empresa LLED declarou que não tem nenhuma relação com a CEFA-3 e que é apta a participar de licitações, e a SP Serviços afirmou que teria condições de realizar a reforma da sede do Ministério da Saúde no Rio.
Dom Total.

terça-feira, 18 de maio de 2021

VOTO IMPRESSO DEIXARIA BOLSONARO SEM ARGUMENTOS PARA CONTESTAR VITÓRIA DE LULA, POR VIVALDO BARBOSA

É muito estranho vermos setores progressistas, de esquerda, democráticos e vinculados aos valores republicanos defender a urna eletrônica sem impressão do voto. O voto invisível.

Anuncia-se amplamente que em nenhum lugar do mundo, ou quase, esta urna sem impressão do voto é utilizada.

Assistimos, recentemente, na eleição americana, os eleitores colocarem a cédula na máquina, que lê o voto e o computa, e a cédula cair numa urna e lá ficar guardado.

Trump quis desacreditar as eleições e tentou contestar a vitória de Biden. Os votos foram recontados em quatro estados e Trump ficou falando sozinho.

Só conseguiu algumas dezenas de fanáticos celerados para invadir o Capitólio e saiu ainda mais desmoralizado. Os votos recontados celebraram a vitória de Biden, que saiu ainda mais legitimado.

No Brasil, nenhuma recontagem pode ser feita porque não existe voto para ser recontado. É invisível.

Muitos alegam que nenhuma fraude foi apontada em 25 anos.

Claro, não há o que apontar, ninguém vê nada, tudo depende da maquininha e das pessoas que preparam e operam a maquininha. O eleitor tem que confiar nos espíritos, ficar possuído de imensa fé.

Na chamada República Velha, a falava-se de “eleição a bico de pena”. A pena fazia as atas que proclamavam os eleitos.

Contra isto se fez a Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas. O voto passou a ser feito em cédulas, contadas e recontadas.

Com o avanço tecnológico, disseram-nos que a urna eletrônica eliminaria fraudes verificadas em muitos pontos do País.

Celebramos. Só que as fraudes, que efetivamente aconteciam em muitos lugares, podiam ser desmanchadas por recontagens sob o crivo de juízes da Justiça Eleitoral, muitas vezes dedicados.

E agora, com voto invisível? Nenhuma fraude pode ser apontada, muito menos apurada.

Na última eleição, o candidato a vereador na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, Diamante Negro, brizolista de tradição, líder de seu bairro populoso, agora candidato pelo PT, impressionava pelas movimentações que fazia, o candidato a prefeito se encantava com suas caminhadas.

No final, uma ninharia de votos. Estupefato e com reação indignada dos moradores do bairro, que reclamavam seus votos, correu à Justiça Eleitoral.

Lá mostraram pra ele uma folhinha da urna com seus minguados votos, nada mais podia ser feito.

Na República Velha, exibiam as atas feitas a bico de pena; agora, a folhinha da urna eletrônica.

Aliás, o prefeito bolsonarista eleito naquela cidade surpreendeu todas as expectativas, foi eleito da noite pro dia. Muitos dizem, na noite da contagem dos votos pela urna eletrônica.

A urna eletrônica surgiu com muita publicidade pelos meios de comunicação. O cineasta Arnaldo Jabor, algo porta-voz do governo FHC no horário nobre de televisão, fez verdadeiras poesias de louvor à urna eletrônica.

Muitos externaram preocupação, a figura de Leonel Brizola à frente, com sua força política e moral, e tentaram agregar a impressão do voto à urna eletrônica.

Simples assim: o eleitor veria o voto dado, se estivesse de acordo, apertaria “confirma” e o voto cairia em uma urna.

Se houvesse contestação válida aos votos daquela urna, o juiz determinaria abrir e recontar os votos.

Como deputado federal batalhei muito para isto, ao lado de Brizola.

Técnicos e especialistas sempre apontavam as possibilidades de fraude. Mas o TSE se movimentava, o presidente na época, Nelson Jobim, à frente, nada conseguimos.

Mais tarde, deputados e senadores, que entendem mais de eleição do que juízes, aprovaram lei determinando a impressão do voto agregada à maquininha, com apoio do Presidente da República, que a sancionou.

O TSE escorregou, tergiversou, não aplicou a lei.

Levanta pretextos de custos, distorcidos, pois calculavam não apenas as peças agregadas, mas todo o custo da urna com impressão.

Acontece que os orçamentos da República são feitos pelo Congresso, não pelo Judiciário.

Aliás, o TSE construiu imenso prédio em Brasília, altamente luxuoso.

O Congresso fez mais duas leis e o TSE acionou a Procuradoria Geral da República para levar o caso ao STF, que considerou a lei inconstitucional.

De estarrecer: violaria o sigilo do voto.

Como, se o voto ficaria guardado na urna?

Aliás, a respeito, a Suprema Corte da Alemanha considerou que não imprimir o voto, e este ficar invisível, sem controle material, sem possibilidade de recontagem, viola os direitos do eleitor, fere o regime democrático e desacredita a República.

É séria e grave a preocupação com a urna eletrônica sem voto impresso.

De um lado, o mesmo grupo comanda o TSE na preparação e operação da urna e a mesma empresa ganha todas as licitações, quando são feitas. Ninguém os conhece, sem nenhuma responsabilidade pública.

Por outro lado, os que defendem a urna sem voto impresso são os setores conservadores “mais modernos”, com apoio dos meios de comunicação, que sempre tiveram atuação política nítida nos últimos tempos da vida brasileira.

Sempre de maneira contrária aos interesses populares e nacionais. E os que estão à frente do TSE impedindo a adoção do voto impresso já revelaram às escâncaras seus posicionamentos.

Agora, o Ministro Roberto Barroso acaba de fazer pronunciamento nacional (é incrível, mas um juiz se dirige à nação para se posicionar sobre processo eleitoral, usando recursos públicos para defender sua posição política).

Aliás, o Ministro Roberto Barroso assumiu posição muito incisiva votando pela manutenção da prisão do Presidente Lula na questão da prisão em segunda instância, coisa estranha que o STF criou no direito brasileiro contra texto da Constituição.

E mais incisivo ainda foi agora ao votar favorável ao Moro, decretado suspeito pelo Supremo, e pela continuidade dos processos contra Lula pela Lava Jato de Curitiba, considerados nulos.

Surge estarrecedora a posição de alguns da área progressista favorável à urna eletrônica sem voto impresso, ao lado do conservadorismo mais requintado.

E dizem ser contra porque Bolsonaro está defendendo a impressão do voto, como muitos da esquerda o fazem e já o fizeram.

Talvez, pela primeira vez, Bolsonaro defenda uma coisa com sentido. E dizem que Bolsonaro faz isto porque tem vínculos com a milícia, a impressão do voto beneficiaria a milícia.

Mas como, se o voto fica guardado na urna? O problema da milícia é grave, mas submeter as estratégias políticas progressistas à questão da milícia é pensar política de maneira muito estreita.

A impressão do voto agregada à urna eletrônica nos livraria de um problema delicado: como está pintando a derrota de Bolsonaro, com a recontagem ele e sua turma ficariam sem base para contestar a eleição de Lula.

Viomundo.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

JAIR BOLSONARO, O BURRO E O CAVALO PRESIDENTE. POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro, para variar, já cumpriu a sua cota diária de estupidez, dizendo que são “idiotas” os brasileiros que apelam para que as pessoas permaneçam em casa ou, podendo, façam isso.

É claro que o presidente trabalha com o instinto básico das pessoas, cansadas da pandemia, a ponto de termos, agora, índices de isolamento menores do que na primeira fase da pandemia, em março/abril do ano passado.

Como qualquer marqueteiro irresponsável, diz o que as pessoas, cansadas do sofrimento que a pandemia a todos impõe, querem ouvir, não o que elas devem ouvir para preservarem suas vidas e as de suas famílias. A atração pelo fácil, sabe-se, é o atalho certo para o erro.

Bolsonaro está menos submetido à critica pelas ações e omissões no combate sanitário e na questão das vacinas contra a Covid, em si, do que pelo menosprezo, a grosseria, o charlatanismo e pela indiferença com que trata a mortandade absurda pela pandemia.

Fomos, de fato, muito mal, ao ponto de recém-divulgado estudo do Ipea – um órgão de governo, por sinal – registra que “o Brasil registrou, em proporção de sua população total, mais mortes por covid-19 em 2020 do que 89,3% dos demais 178 países com dados compilados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”. Quando a comparação leva em conta a idade da população, proporcionalmente, o país fica pior que os de 94,9% dos mesmos 178 países.

Mas, procure-se entre todos estes países algum em que seu presidente ou chefe de governo tenha pronunciado 10% das frases idiotas e debochadas que disse o presidente brasileiro. Bolsonaro, na calda de ignorância em que vive mergulhado, não percebe ou não se importa com a repugnância que sua figura provoca no país, achando que a Nação é mesmo o amontoado de peruas, carolas, marombados, tios de churrasco e outros personagens que habitam seu universo.

É, portanto, menos porque vai mal, mas porque evidencia-se mau, desumano e insensível que Bolsonaro vai derretendo entre todos os setores de classe média e o povão, no fogão da crise econômica.

E está prisioneiro de um duplo problema. Se os sinais de desaceleração da pandemia se confirmarem – o que acho improvável – Bolsonaro a rua contra si.

Mas se houver uma nova onda, será a terceira vez que ela o engolfará com a boca aberta a reboar asneiras.

Tijolaço.

NÃO VI OBSTÁCULOS EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS DA PFIZER PARA COMPRA DE VACINAS, DIZ GILMAR MENDES

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, se encontrou com o então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, no final de 2020 para discutir a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19.

O encontro foi um dos temas da entrevista que Mendes deu ao jornal O Globo. Na conversa, Pazuello citou as exigências da farmacêutica Pfizer para negociar o imunizante com o Brasil, no que Mendes afirmou não ver “grandes obstáculos”, uma vez que vários países também estavam fechando contrato com a empresa.

O ex-secretário da Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, também procurou Mendes para discutir o assunto, mas com uma postura diferente da adotada por Pazuello: a queixa do secretário era quanto a demora na compra das vacinas.

“Antes dele (Wajngarten) já tinham estado aqui o então ministro Pazuello com o ministro José Levi (ex-advogado-geral da União). Foi quando iríamos julgar o caso da vacinação obrigatória. Pazuello tinha falado das dificuldades que havia no contrato com a Pfizer, as exigências da arbitragem ou a exigência de que eles não fossem responsabilizados no Brasil”, disse Mendes.

“Depois, Wajngarten fez a mesma ponderação, só que em sentido contrário, dizendo: “Todos os países estão assinando esse acordo, por que que nós não estamos?”. Ele se queixou da burocracia. Numa segunda vez ele esteve aqui, mas já não falava da Pfizer, mas sim da Sputnik”, afirmou Mendes. “Ele pareceu ansioso como cidadão e como integrante do governo. Ficam sempre atribuindo a mim mais influência do que eu propriamente tenho, né? (Ele veio) mais a guisa de pedir aconselhamento: “Ah, o senhor podia conversar com a AGU. Isso precisa ser agilizado”. A mim me pareceu que ele estava preocupado que se deflagrasse o processo (de vacinação)”.

Mendes também comentou as declarações do presidente Jair Bolsonaro se eximindo de culpa pela pandemia de covid-19, afirmando que o STF deu atribuição a estados e municípios para adotarem medidas para combater a doença. “Essa é uma abordagem parcial do fenômeno. O que o tribunal tem dito é que, diante do quadro da pandemia, estados e municípios teriam a primazia de definir medidas de isolamento social para evitar a falta de leitos. É claro que também se percebeu que, na ausência de uma ação e coordenação da União, estados e municípios poderiam tomar essa deliberação. Nunca se excluiu a União desse processo. Se houve a exclusão, foi uma autoexclusão”.

GGN.

domingo, 16 de maio de 2021

MORE BRUNO COVAS E OS IDEAIS TUCANOS DOS ANOS 80, POR FERNANDO BRITO

Triste, sob todos os aspectos humanos – 41 anos, jovem, um filho ainda garoto deixado só – a morte de Bruno Covas, o prefeito de São Paulo ocorre num tempo em que, também, o velho PSDB morre também e deixa de ser o grande partido conservador brasileiro, desde que se descolou do PMDB, nos anos 80, sob o comando do avô de Bruno, Mário Covas, para pretender ser, como chegou a ser, no período Fernando Henrique Cardoso, o partido da versão brasileira do neoliberalismo, versão tardia da dupla Reagan/Tatcher, com o seu famoso “choque de capitalismo”.

Bruno era, talvez, o último e esmaecido ícone daqueles tempos, paradoxalmente ao lado do provecto FHC que, apesar disso, não soube segurar o leme e embarcou, numa vergonhosa omissão em 2018 e acabou por ficar, ali, cúmplice do bolsonarismo, como todo o partido. Apertado entre o Dória que Alckmin colocou no ninho em 2016, conseguiu sobreviver, dizia ele que anulando o voto, ao “BolsoDória” de 2018.

Fosse assim ou não, só venceu Guilherme Boulos ano passado porque a direita despejou-lhe votos, mas também porque a sua situação pessoal carreava-lhe simpatias.

O PSDB servia-lhe de uma casca, de uma memória progressista que o partido abandonou há 30 anos, quando passou a cortejar Fernando Collor de Mello, e só por causa do velho Covas não fez parte de seu governo desastroso.

É triste, porém, que ele se vá. Que, na verdade, eles se vão: o novo Covas, tão cedo partido e o velho Covas, que, naquele 1989, não se esqueceu que vinha dos trabalhadores do Porto de Santos e não hesitou e foi combater o Collor da vez.

Tijolaço.

O ‘REI DO ÓDIO’ TEM GADO, MAS OS ESTÚPIDOS NÃO VÊEM O MONSTRO QUE CRIARAM, POR FERNANDO BRITO

Já vem de meses a história do Cinderelo da centro direita, aquele que ia surgir esplendoroso e cujo destino seria calçar direitinho no desejo dos brasileiros de “nem Bolsonaro, nem Lula”, disparando nas pesquisas para vencer as eleições de 2022.

Já estamos quase na metade do ano e nada do Cinderelo e vai chegar o fim de 2021 sem que o distinto dê as caras. Até o Luciano Huck, um dos pretendentes a isso está deixando para trás a pretensão de ser a mais velha novidade na disputa eleitoral e aceitando a muito bem paga vaga do Faustão nos domingos globais.

O que surge parece e é piada: até Danilo Gentili e João Amoedo querem se lançar ao páreo.

E, agora, fixaram-se na ideia de que podem tirar da eleição o monstrengo que fizeram presidente em 2018, apostando no seu derretimento total ou num impeachment que, embora cheio de razões há muito tempo, só agora passa a interessar porque ele é um estorvo eleitoral e não tem condições para “entregar a encomenda” de vender patrimônio e retirar direitos sociais.

O vezo golpista de parte de nossa elite é mesmo incorrigível. E é tão burra que até um microcéfalo como Jair Bolsonaro a desmonta.

Não entende que Bolsonaro conta com ela com o que ela própria procura construir no eleitorado para ter chances em 2022: um ódio e uma exclusão política que não admite o convívio com forças progressistas e de natureza social que Lula encarna.

Será que pensam que as pessoas não percebem que a busca alucinada pelo tal “3ª via” é, a esta altura, nada mais tem a ver com a perspectiva de encontrar alguém capaz de vencer Bolsonaro, mas com quem possa derrotar, com o mesmo ódio antipetista, o ex-presidente Lula?

E que Jair Bolsonaro desarma esta estratégia não se tornando mais flexível e agregador, mas fazendo exatamente o contrário: firmando-se e afirmando-se cada vez mais o inimigo, o adversário, o cruzado do antilulismo?

O que, por exemplo, Ciro Gomes ganhou com sua estratégia de apresentar-se como “Lula, PT, de jeito nenhum”? Cair de 12 para 6% nas pesquisas? O que Dória deixando de ser o “odiador” paulista do Lula por tornar-se crítico acerbo de Bolsonaro, depois do BolsoDória de 2018? Mesmo com seu desempenho com a vacina – ainda que com as tiradas demagógicas – correto e digno de todo aplauso, perdeu seu eleitorado e qualquer viabilidade eleitoral, que lhe falta até para dominar seu partido.

A exibição a cavalo de Jair Bolsonaro hoje, diante de suas manadas fundamentalistas bem poderia ser o retrato do que ele fez com a direita brasileira: é o “macho” que a montou e a controla.

Até mesmo o ex-deus Moro, artífice-mor do desastre que culminou com sua eleição foi destruído e o que remanesceu de seus “eleitores”, na sua falta, migra para o ex-capitão.

E, se Bolsonaro está a cavalo, a direita está à pé, assistindo Lula comer pelas beiradas seus eleitores e até mesmo seus quadros políticos mais lúcidos, que já buscam uma política de alianças com petista que elhes assegure posições regionais e bancadas parlamentares, que é do que vivem por falta de organicidade, que um dia tiveram com os tucanos.

Direita orgânica quem tem – com o paradoxo de adorar agrotóxicos, na plantação e na vida social – quem tem é Bolsonaro.

Tijolaço.

sábado, 15 de maio de 2021

REJEIÇÃO A BOLSONARO REACENDE PRESSÃO POR SEU IMPEACHMENT, POR FERNANDO BRITO

É claro que, numa Câmara dos Deputados controlada com mão de ferro pelo Centrão, não há condições políticas de avançar, ao menos por enquanto, um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro e a maior prova é que o presidente da Casa, Arthur Lira, senta-se hoje sobre mais de uma centena de pedidos, sem que um só ande.

Mas a pesquisa Datafolha, publicada no início da tarde de hoje, registrando, pela primeira vez, um número de brasileiros que apoia o afastamento do presidente do seu cargo (49%) superior ao dos que consideram que o Congresso não deveria abrir um processo de impeachment (46%), mostra que a situação do ex-capitão nunca esteve tão frágil.

O perfil dos “fora, Bolsonaro”, basicamente, acompanha a divisão dos votos em Lula e na reeleição do atual presidente: mais forte entre as mulheres, os habitantes do Nordeste, entre os mais pobres e entre os jovens, enquanto o “Bolsonaro fica” predomina no Sul, entre os empresários e grupos evangélicos.

Os números, claro, deverão piorar com o andamento da CPI da Covid e a disposição parlamentar em “testar” a aceitação ao impedimento é sempre uma tentação para que, depois de garantir verbas para seus redutos, também queira se livrar da carga eleitoralmente pesada de estar com alguém tão rejeitado como o ‘ex-mito’.

A Folha, aliás, transcreveu o insólito lembrete do próprio Arthur Lira, semanas atrás, ao dizer que “remédios políticos no Parlamento” que deveriam acender “um sinal amarelo para quem quiser enxergar”.

Pois é, esta história de que “só Deus me tira daqui” que Bolsonaro anda repetindo não é muito prudente. Até porque Deus não está nem um pouco interessado em emenda parlamentar para arranjar verbas eleitorais.

Tijolaço.

PESQUISAS ELEITORAIS REMOTAS SÃO ENVIESADAS E FAVORECEM BOLSONARO, DIZ MARCOS COIMBRA DO VOX POPULI

Na última quarta-feira (12), o DataFolha divulgou uma pesquisa feita em caráter presencial em que o ex-presidente Lula (PT) dispara no primeiro turno com 41% das intenções de voto ante 23% de Jair Bolsonaro (sem partido). No segundo turno o petista venceria o atual presidente, marcando 55% contra 32% (leia mais aqui). O resultado divulgado, que diverge muito dos números de outras sondagens realizadas de maneira retoma (pela internet ou telefone), é explicado por Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, à TVGGN. Para ele, sondagens à distância não funcionam bem na realidade brasileira. São enviesadas e favorecem Bolsonaro, virtual candidato à reeleição, porque ele tem mais apoio entre os estratos socialmente mais favorecidos da população. “É óbvio que uma pessoa que aceitou responder um questionário que recebeu pelo computador já está vários degraus além do cidadão comum”, declara o sociólogo.

Para defender sua tese de que pesquisa remota não funciona no Brasil, o sociólogo usa como exemplo um levantamento recente que apontou Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, à frente de Bolsonaro, Lula, do ministro da Economia Paulo Guedes, do vice-presidente Hamilton Mourão e Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. “Basta este resultado, do Mandetta pau a pau com o Lula, e ganhando do Bolsonaro, para você esquecer essa pesquisa”, defende Coimbra.

A disparidade dos resultados entre pesquisas remotas e presenciais está relacionada à desigualdade social do país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 46 milhões de brasileiros não têm acesso à rede mundial de computadores e mais de 41 milhões não têm celular. “Em um País como o nosso, a pesquisa presencial é a única maneira de ouvir o que pensa o conjunto da população”, afirma Coimbra. Ele analisa que levantamentos remotos só servem para comprovar que Bolsonaro está em alta na classe média e alta.

A possível chegada de uma terceira onda da pandemia de coronavírus pode, novamente, suspender a realização de pesquisas de campo e favorecer o líder extremista de direita nos próximos resultados. “Inventou- se que era possível fazer pesquisa remota no Brasil”, mas ele espera que o “padrão de pesquisa brasileira”, ou seja, pesquisas presenciais, retorne com mais força.

DESEMPENHO DE LULA EM 2022 E TERCEIRA VIA

Na entrevista ao jornalista Luís Nassif [assista abaixo], Coimbra avalia que Lula deve se consolidar e melhorar seu desempenho nas próximas pesquisas, enquanto a tendência para Bolsonaro é se fragilizar e piorar. Quinze anos após a sua última empreitada nas urnas, na reeleição em 2006, “Lula vai poder se reencontrar com uma parte grande do eleitorado brasileiro que gostava dele antes e se reapresentar para um eleitorado mais jovem”, afirma. Há espaço, portanto, para Lula crescer, o que reduz as chances de uma terceira via. Vídeo:

GGN.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

EX-MINISTRO EDUARDO PAZUELLO GANHA O DIREITO A UM SILÊNCIO COMPROMETEDOR, POR FERNANDO BRITO

Como se esperava, Eduardo Pazuello ganhou o direito de, querendo – e sempre que quiser -, silenciar diante das perguntas dos senadores da CPI.

Um ganho para Bolsonaro, uma derrota para o general e para o Exército.

Serão horas de humilhação e, ainda pior, de improvável autocontrole do ex-ministro, porque a garantia que o ministro Ricardo Lewandowski lhe deu foi para calar diante de perguntas onde pudesse produzir provas contra si e, portanto, assim se caracterizará qualquer questão que o faça calar.

Numa palavra: cada tema, cada situação, cada ação governamental, cada ato do Ministério diante do qual ele se cale tem, implicitamente, o valor de uma suspeita, o peso de uma silenciosa mentira, a covardia de enfrentar um problema.

Vai haver problemas em perguntas que, a rigor, não podem ser consideradas passíveis de auto-incriminá-lo, mas que incriminem a outros.

Por exemplo: “o senhor recebeu orientação do Presidente da República ou de qualquer outra pessoa estranha ao governo sobre o “tratamento precoce”? “O senhor sabia das articulações de Fábio Wajngarten para a compra de vacinas da Pfizer”? O que o senhor acha da presença do presidente da República em aglomerações, sem uso da máscara? Como o senhor se sente diante de mais de 430 mil (ou 440 mil, até quarta, dia do depoimento) pessoas”?

Calar será uma vergonha, dar uma resposta fria, uma desfaçatez.

Ainda haverá Manaus e Manaus, será um momento de humilhação constrangedora, porque Pazuello viveu lá e tem (ou tinha) pretensões eleitorais no Estado.

Talvez mesmo caiba dizer que a quarta-feira será um dia de um desastre de proporções amazônicas para o general que, mesmo em silêncio, será visto como o algoz que obedece ao que um psicopata manda.

Tijolaço.

QUEM A GLOBO CHOCA ESCONDENDO FAVORITISMO DE LULA?; FERNANDO BRITO

Se o distinto amigo e a cara amiga acham que o “choca” aí do título é relativo a “chocar”, no sentido de escandalizar, esqueça.

A Globo esconde o favoritismo de Lula na pesquisa Datafolha , da qual a emissora só publica rejeição crescente de Jair Bolsonaro, sem uma palavra quando ao favoritismo que o mesmo levantamento atribui a uma candidatura do ex-presidente, quase aplicando um “capote” ao escancarado candidato à reeleição.

Chocar, aí, é o que ela tenta fazer à espera de que ecloda de um ovo um providencial candidato de direita que não seja o Frankenstein que colocou no Planalto na esteira do lavajatismo.

Como jornalismo, é abjeto, por esconder da população um fato relevante, a pesquisa de opinião que a própria Globo sempre usa como métrica eleitoral.

Na política, e uma estupidez, porque tudo o que Lula não quer é ir para a vitrine.

Duvida?

Visitem as páginas das redes sociais do ex-presidente e vejam se ele faz algum “carnaval” com os números do Datafolha.

Zero.

Não é o marketing e não é, como já se apontou aqui, o “dedo do Duda (Mendonça)”, nem a mão de João Santana, que estão construindo esta vantagem cada vez mais larga.

Lula sabe que seu favoritismo cresce naquilo que o velho Brizola chamava de “o processo social”, não no Jornal Nacional.

Tudo o que ele não quer é ser “posto em campanha” marqueteira, mas em campanha política.

A hora de sua exposição será, no que depender dele, adiada o quanto puder e, quando soar, será soada por ele, do jeito que sempre fez e sabe fazer, o de juntar as pessoas.

Aglomerar, como se diz nestes tempos, hora que ainda não chegou.

Lula não vai se oferecer, vai ser buscado.

Tijolaço.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

PAZUELLO ARRASTA O EXÉRCITO PARA A SUA COVARDIA, POR FERNADO BRITO

O caráter fraco, a incompetência, a desídia, a indiferença ao sofrimento humano e a covardia de Eduardo Pazuello já estão, a esta altura, suficientemente evidentes e materializadas em seus atos e omissões. Sobretudo, nos dois últimos que praticou: o expediente sórdido de apelar a uma visivelmente falsa alegação de Covid para adiar o depoimento à CPI e, agora, a autorização para que a Advocacia Geral da União impetre, em seu nome, habeas corpus preventivo, para ficar calado ao, finalmente, aproximar-se o dia de sua oitiva pelos senadores.

O mais constrangedor, agora, é o que ele atira sobre a sua condição de militar e sobre o Exército no qual é um dos altos oficiais.

Ainda que se aceite, com um bom litro d’água para engolir que era uma “missão” e não um arranjo político a sua ida para o cargo de ministro da Saúde, sem qualificação alguma para isso e capacidade político-administrativa grau zero para o momento sanitário difícil em que vivemos, mesmo assim Pazuello é um anão moral.

Primeiro, constrangeu sua arma a não pedir, tanto no exercício do cargo de Ministro quanto depois de sua infeliz passagem por ali, passagem para a reserva. Nem do ponto de vista da carreira – seja do posto, seja dos ganhos – lhe faria algum mal: está no ápice de sua trajetória possível, porque oficiais-intendentes, como ele, não podem ir além das três estrelas de generalato que já tem.

Por mais que se lhe faça a franquia de trajar roupa civil, ele é um fardado, da ativa.

Em seguida, levou o comandante do Exército a afirmar ao presidente do CPI, senador Omar Aziz, que seu subordinado não podia comparecer à audiência por “estar em quarentena” por ter tido contato com oficiais contaminados pelo vírus, mas o que se via ela ele passeando sem máscara nos corredores do Hotel de Trânsito do Exército e recebendo ministros para “combinar” o depoimento. Agora, com o pedido de HC, que torna evidente que tudo não passava de uma manobra, deixa seu comandante numa situação para lá de canhestra, por ter se tornado, mesmo provavelmente não querendo, cúmplice de uma fraude.

O pior, porém, é o fedor nauseante da covardia, que fez o próprio vice-presidente e também general Hamilton Mourão dizer que ele “não pode se furtar a comparecer e prestar lá seu depoimento”.

Porque o general poderá ganhar o direito ao silêncio, mas não o direito de não comparecer e muito menos o de escapar de repetir que “tem o direito de ficar calado” e, a cada uma destas ser acusado de covarde, fujão, medroso e a receber o desafio à sua própria presumível condição de oficial combatente.

E se responder às perguntas da minguada “tropa de choque” do bolsonarismo na CPI e calar-se perante os outros senadores vai escapar de ser chamado de “trigrão e tchuchuca” dependendo de quem fala com ele vai reclamar que um general do Exército.

Por isso, a covardia de Pazuello não é a rendição de um indivíduo: é a exposição de seus companheiros de farda e de posto.

Tijolaço.

BOLSONARO AUMENTA O PRÓPRIO SALÁRIO E DE UM GRUPO DE MINISTROS EM QUASE 70%, E´O 'TETO DUPLO'

Portaria publicada no final de abril e editada pelo próprio presidente Bolsonaro permite que os salários de algumas autoridades furem o teto e ultrapassem o valor de R$ 66 mil.

Entre os beneficiados com a nova portaria, Bolsonaro deve ter o aumento mais modesto Foto (Marcos Corrêa/PR)

Um grupo seleto de servidores, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão e ministros militares, terá aumento de salário de até 69%, estourando o teto de R$ 39.293,32 do funcionalismo. Com a regra, editada pelo presidente Bolsonaro, os salários de algumas autoridades podem passar de R$ 66 mil. As informações são da Folha de São Paulo.

A portaria foi publicada no dia 30 de abril pela Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia e entrou em vigor neste mês, com efeito nos salários a partir de junho. O impacto fiscal anual da medida é estimado pelo governo em aproximadamente R$ 66 milhões, mas pode variar.

Conforme a Folha, a portaria inova ao criar uma espécie de teto duplo, uma vez que o limite da remuneração incidirá de forma separada para cada um dos vínculos no caso de aposentados e militares inativos que retornaram à atividade no serviço público. Na prática, o teto total mensal para esse grupo privilegiado passa a ser de R$ 78.586,64.

Entre os beneficiados com a nova portaria, Bolsonaro deve ter o aumento mais modesto. O presidente recebe R$ 30,9 mil de salário e mais R$ 10,7 em outros benefícios, mas é feito um corte de R$ 2.300 para que o teto seja obedecido. Agora, a remuneração atingirá R$ 41,6 mil, uma alta de 6%.

General da reserva, o vice-presidente Hamilton Mourão terá reajuste de 63%. O abatimento de R$ 24,3 mil para respeitar o teto não deve mais ser feito. Assim, a remuneração mensal passa de R$ 39,3 mil para R$ 63,5 mil, diferença de 62%.

O ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, terá o maior reajuste entre os militares do primeiro escalão federal. O desconto mensal de R$ 27 mil poderá ser incorporado, elevando o salário mensal para R$ 66,4 mil, incremento de 69%.

Já o ministro da Defesa, Walter Braga Netto,  terá aumento de R$ 22,8 mil, totalizando R$ 62 mil por mês, 58% a mais. Número 1 do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno deve passar a receber R$ 23,8 mil a mais, totalizando R$ 63 mil, alta de 60%.

Titular do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, com elevação de R$ 17,1 mil, indo a R$ 56,4 mil por mês (aumento de 44%).

O Ministério da Economia informou à Folha que 70% das mil pessoas que serão beneficiadas pela regra são médicos e professores. O teto duplo vale para profissionais dessas áreas que acumulam funções.

 A pasta afirma que a portaria adequa o cálculo do teto a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU).

Dom Total.