O
projeto de “pré-privatização” da Eletrobras, aprovado ontem na Câmara dos
Deputados, felizmente, tende a ficar parado – ou em marcha lenta – no Senado,
onde o rolo compressor bolsonarista não é tão forte quanto a máquina de
maldades pilotada por Arthur Lyra.
Mas
não é só por isso: para retardar o impacto da privatização nas tarifas de
energia, o projeto coloca todo o peso da carga sobre o setor industrial – o que
também acaba transferindo preços ao consumidor – e aposta no mesmo mecanismo
furado a que Fernando Henrique apelou para “resolver” os problemas do apagão de
2001: a construção, a toque de caixa de usinas termelétricas a gás, que
acabaram tendo de ser assumidas pela Petrobras e que vão na contramão da
redução de emissão de gases com que o país se comprometeu.
E
não é tudo: como o projeto define as áreas de implantação das térmicas – Norte,
Nordeste e Centro -Oeste – em áreas com menor malha de gasodutos e adensamento
de linhas de transmissão, tudo isso é custo de investimento e investimento é
coisa que mingou no país em níveis apavorantes. A Folha, hoje, mostra dados que revelam que estes baixaram ao
nível dos anos 60/70 , ainda que os juros negativos, em tese, devessem
estar empurrando o capital para inversões produtivas.
Para
por aí? Não, mesmo. Entramos na estação da seca com níveis muito baixos nos
reservatórios e a sombria perspectiva de chegarmos ao final do ano com apenas
10 a 20% de reservas para a produção de energia, mesmo com uma demanda que se
estagnou por conta da “marcha-lenta” da economia.
Professor
da UFRJ, Adílson de Oliveira, especialista em energia, diz que estamos “em
contagem regressiva para um apagão:
—
Daqui a cinco ou seis meses, não teremos capacidade para abastecer o mercado.
Só não estamos em racionamento agora por causa da pandemia de coronavírus, que
deu uma estagnada na economia
As
térmicas estã0 produzindo 26% da carga elétrica demandada pelo país, o dobro do
que faziam no ano passado. São a fonte de energia que mais cresce, com 45,3% da
potência instalada que entrou em operação no ano passado.
Nossa
ainda maior fonte de eletricidade, a hidráulica, no ano passado, respondeu por
apenas 1,23% da energia agregada ao pais.
A
matriz elétrica brasileira, que já foi mais de 70% hidráulica, está em 58% e
caminha para perder essa hegemonia nesta década, e é ela, disparado, a de
geração mais barata e, por isso, a de menor custo.
Um
novo governo, que esteja disposto a reverter o processo de desindustrialização
brasileiro, terá de reverter este “meter o dedo” bolsonarista no setor de
energia.
Tijolaço.
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