Se
há algo inverídico que se possa dizer sobre Jair Bolsonaro, é exatamente aquilo
de que o chamam: o “Mito”.
O
“Mito”, na construção das representações do pensamento humano, é aquele que
enfrenta, sofre, é martirizado e, por isso, considerado profético e condutor.
Até
a facada de Juiz de Fora, uma narrativa ainda confusa sobre o que foi um ato de
um desequilibrado mental, Jair Bolsonaro nada tinha de semelhante a um Mito.
Ainda
que, eleitoralmente pudesse sê-lo a partir daí – e não se têm histórias de
mitos criados a partir do poder vigente (financeiro, midiático e militar) que
se sustente frente à realidade, a prova real do desempenho deste “herói” deu,
todos podem ver, com os burros n’água.
O
mito vem para criar – ou recriar – uma era de afirmação e esperança.
E
nisto Jair esmerou-se em ser um fiasco dos mais rematados.
Dos
nossos pesadelos – miséria, pobreza, violência, a abolição da corrupção
trazendo fartura e abundância, recessão, desemprego, desamparo – de qual deles
nos conseguiu exorcizar?
Ao
contrário e é inevitável que, quando vemos as calçadas coalhadas de miseráveis,
o medo em todos os rostos, a apreensão em todos os brasileiros, a angústia em
toda a gente pobre do Brasil, que nos recordemos que, anos atrás, não era
assim.
Sonhava-se
a casinha, o carro ainda que “caidinho”, a filha se formando, o forno de
microondas, a casa ainda que seria sua, afinal…A vida melhor, ainda que não
tanto, mas um pouco mais do que era.
Bolsonaro,
como a ditadura, acenou com um “Brasil Novo” e entregou um país mais velho e
rabugento.
Natural
que, agora, visto que o que se tem é o Brasil sem esperanças, o que a memória
popular vá buscar seja o Brasil com que se sonhava e que se entreviu.
A
mítica, hoje, aponta mais para Lula que para Jair.
Já
vi isso acontecer, muitas vezes ,numa direção ou noutra.
Quando
a abertura nos deu a chance de eleger um governador, assisti Leonel Brizola
sair do opróbrio de 20 anos, quase, em que se o apontava – como se faz agora a
Lula, pela eleição de Bolsonaro – como responsável pela ditadura, para
tornar-se o vencedor tsunâmico das eleições no Rio de Janeiro.
Quando
Lula, enfraquecido e “maldito” pelas eleições que perdeu em primeiro turno para
o Fernando Henrique do “o real é mais forte que o dólar”.
Quando
um escroque como Aécio Neves, por muito pouco, deixou de tornar-se presidente.
E,
afinal, quando o tosco e bruto ex-capitão não era capaz de provocar o “ele não”
no centro e nos liberais de punhos de renda, mais do que a posição de
“isentões”, aquela do “uma escolha muito difícil”.
Por
tudo isso, e com o perdão pelo uso da palavra que se tornou ofensa, quanto tem
um papel tão bonito na história, ouso dizer que “Mito”. agora. é o senhor Luís
Inácio Lula da Silva.
Lula
é o Getúlio de 1950. É o JK 66. É o Lula 2002.
Paz
e amor?
Sim,
mas com muito menos ilusões.
É
a certeza de que desenvolvimento é necessário, mas não basta.
Creio
que sua primeira fala depois de inocentado – sim, ao contrário do que diz a
mídia e ao lado do que diz a Constituição : “ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória – Lula deixou bem
claro que é a preservação do interesse e da soberania nacional e a primazia da
justiça social que orientam seu pensamento agora e suas ações futuras.
Lula
diz que não guarda rancores e nem planeja vinganças pelo seu martírios.
Não,
mas eles lhe removeram as ilusões.
Como
o fizeram a Vargas, no governo pós-50.
Se
algo tem a ver com “Mito” no que estamos vivendo, positivamente não é Jair
Bolsonaro.
Tijolaço.