domingo, 21 de março de 2021

‘NEGACIONISTAS DO B’; POR FERNANDO BRITO

Ainda estão vivas na memória as explicações, frequentes em 2018, de que o lado estúpido, boçal, xucro, e desumano de Jair Bolsonaro era uma retórica eleitoral e que – a expressão foi usada na época, por Merval Pereira, o FHC da crônica política – seria contido, no poder, pelas “instituições”.

Era menos um raciocínio e mais uma auto-indulgência que a turma da que se diz liberal praticava para tentar demonstrar que a aliança com a barbárie poderia dar a um governo de direita a base política e social para que, afinal, se pudesse prosseguir no desmonte de direitos sociais e patrimônios nacionais que se interrompera (ou quase) nos governos petistas.

E, claro, proseguir-se na marcha de usurpação do poder político que um governante tosco lhes daria, legitimando a transferência para as tais instituições do poder do Executivo que, afinal, precisava ser contido.

Em escala muito menor, claro, depois dos espetáculos de selvageria explícito a que assistimos nestes 27 meses de (des)governo Bolsonaro, a ânsia desmedida desta gente ainda sobrevive e contam que criando resistências cenográficas vão poder ainda conter a Besta (de domar, claro, já desistiram) porque ela, afinal, vai hesitar em romper as correntes política e constitucionais que proíbem o caminho da aventura totalitária do ocupante do Planalto.

Está cada vez mais claro quem flerta com este perigo e tem toda a razão o artigo de hoje, na Folha, de Bruno Boghossian:

Ainda há quem espere mudanças. No auge da crise, o presidente do Senado disse que é hora de “sentar à mesa” e pediu “a coordenação do presidente da República”. O chefe da Câmara afirmou que é preciso “evitar essa agonia e esse vexame internacional”. Os dois estão atrasados.
No STF, Luiz Fux telefonou para o Planalto ao saber que Bolsonaro havia citado um cenário de estado de sítio ao ameaçar uma “ação dura” contra governadores que implantaram medidas de restrição. O autor da bravata disse que aquilo não era verdade, e o ministro se deu por satisfeito. Bolsonaro sabe que os negacionistas vão deixar por isso mesmo.

Preciosa a escolha da palavra pelo articulista: são, de fato, negacionistas (não importa se por ilusão ou ambição), porque negar que Jair Bolsonaro ponha a sua perpetuação no poder como a maior, senão única, preocupação que o move, sem qualquer limite é tão estúpido quanto acreditar que a Terra é plana.

E se não é por serem estultos, é por serem ambiciosos.

Nenhum deles, porém, é mais que o próprio Bolsonaro, que tem uma maneira bem herege e auto-referenciada no seu “Deus acima de Tudo”.

Tijolaço.

sábado, 20 de março de 2021

O BRASIL PODIA PARAR PELO DIESEL, MAS NÃO PELA COVID, BOLSONARO? FERNANDO BRITO

Se Jair Bolsonaro respondesse a perguntas de jornalistas, em lugar de “dar um chilique” e encerrar seguidamente suas entrevistas, bem que algum repórter poderia perguntar-lhe porque, em 2018, achava que o país podia ser paralisado por 10 dias, pelo bloqueio dos caminhoneiros para baixar o preço do óleo diesel, movimento que ele apoiou abertamente, mas não pode reduzir ao mínimo as atividades econômicas durante alguns dias para salvar milhares de vida.

Naquela ocasião, até a entrega de alimentos às cidades foi interrompida, o preço dos gêneros essenciais disparou, muita gente perdeu o “pão dos seus filhos” por não ter mercadoria para vender e tudo o mais com que hoje Bolsonaro invoca para opor-se ao remédio universalmente reconhecido como a única ação de curto prazo para deter a escalada da pandemia, que hoje levou mais 2.500 brasileiros.

Preocupado com os efeitos do apoio aberto ao bloqueio de estradas que infernizou o país, Bolsonaro acabou amenizando suas declarações.

Acabará fazendo o mesmo agora, numa situação inversa, porque as principais regiões metropolitanas do país estão fechando, embora façam malabarismo para fugir da expressão lockdown e “temperem” decisões corretas com flexibilizações absurdas.

É tarde pare evitar a hecatombe de março, que nos levou esta semana a quase 16 mil mortes e fechará o mês com nada menos de 60 mil vidas perdidas.

Mas, ainda que tardia, poderá impedir que isso se repita em abril e maio, nos levando a mais de 400 mil mortes e talvez, a meio milhão de óbitos até julho, quando finalmente teremos uma parcela de brasileiros vacinados grande o suficiente para fazer diferença nos danos da pandemia.

Tijolaço.

sexta-feira, 19 de março de 2021

BOLSONARO CUIDA DE CRIAR SEU SLOGAN: GENOCIDA; POR FERNANDO BRITO

Velho amigo deste blog o genial cartunista Renato Aroeira, em entrevista à TV247, mata a óbvia charada do que vão conseguir os lambe-botas do governo em iniciar processos pela “Lei de Segurança Nacional” quem chama Jair Bolsonaro de “genocida”: um tiro – e um tirambaço – em seu próprio pé.

Em primeiro lugar, porque são processos que, desde que o país saiba deles e se proveja assessoria jurídica de qualidade – quem tem, como os blogs progressistas que enfrentar processos de natureza política, sabe o quanto isso custa – não darão em coisa alguma.

Em segundo lugar, porque está tornando “popular” uma expressão e um conceito que, de outra forma, seriam quase ilegíveis para o grande público e passaram a ter uma leitura em que o próprio nome Bolsonaro passa a ser dispensável: escreva-se genocida e tudo estará dito e “improcessável”.

A menos que se queira, como ironiza Aroeira, prender e processar 10, 50, 100 mil “subversivos” perigosos como o youtuber Felipe Neto.

A esta hora, estão-se fazendo faixas, camisetas, adesivos e, sem o sujeito da expressão, nenhum deles dirá menos do que diz “Bolsonaro Genocida”.

Uma espécie de “Ele, não” 2.0, agora que todos já sabem porque “Ele, não”.

Porque ele, sim, é o maior responsável por um genocídio que já está chegando – semana que vem – a 300 mil mortos.

Tijolaço.

quinta-feira, 18 de março de 2021

O GENOCÍDIO É EVIDENTE E ESTÁ CONSOLIDADO. QUEM SERÁ CÚMPLICE? POR FERNANDO BRITO

O Estadão, para velhas gerações de jornalistas, era o “vetusto jornal” paulistano, sobre o qual de duas coisas se tinha certeza: a fleuma e o conservadorismo inabaláveis.

Afaste-se, por isso, qualquer suspeita de sensacionalismo da capa de hoje, onde o ‘COLAPSO’ em maiúsculas dimensiona graficamente o que se quer apresentar ao leitor.

Não se trata, portanto, de sensacionalismo ou – impensável ali – alarmismo esquerdista contra o Governo.

HÁ UM COLAPSO NACIONAL.

Mas é, ou deveria ser, alarme, pois o perigo – literal, vital – está por toda a parte e exige dos meios de comunicação que cumpram seu papel de gritar à população que a morte escapou de controle e o governo brasileiro só tem a oferecer o espetáculo dantesco de milhares morrendo enquanto um mau militar, estufado de vaidade e grosseria, desfila sua inutilidade apenas para “enquadrar” o sucessor – o miniministro Queiroga – na posição de seu “terceirizado”.

Porque só o silêncio e a afetada “neutralidade” que alguns fazem questão de manter podem dar sustentação à crueldade que tomou o comando do país.

O Brasil deliberadamente está sendo entregue a um morticínio e – é preciso que se diga com todas as letras – por dinheiro.

Não é “o pai de família ter um pão para levar para o filho”, como estes miseráveis alegam. Se é, porque o auxílio aos mais pobres, que todos sabiam desde o final do ano continuar a ser necessário, até agora nem sequer tem a regulamentação para ser pago?

É pouco, desgraçadamente pouco, mas é este pão, pelo qual o pai de família não pode por necessitar ser levado à morte asfixiante.

Há um genocídio e há genocidas, portanto e são os homens do “dinheiro uber alles“, aqueles para os quais o país é só e apenas fonte de enriquecimento.

Estão matando o povo que é a galinha dos ovos de seu ouro, a fonte de sua riqueza e contam com duas forças para isso: o Exército e o Mercado.

Este governo não se sustenta se os dois sinalizarem que não apoiarão mais a mortandade.

Se não sinalizam, tornaram-se cúmplices do monstro e suas falanges.

Tijolaço.

quarta-feira, 17 de março de 2021

MARANHÃO ASSINA CONTRATO DE COMPRA DE 4,5 MILHÕES DE DOSES DA VACINA SPUTNIK V

Compromisso foi firmado na manhã desta quarta-feira (17). Entrega deverá ser iniciada em abril.

Caso governo federal não declare interesse nas vacinas, o estado do Maranhão vai fazer a compra independente - Divulgação.

O governador do maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou na manhã desta quarta-feira (17) a assinatura de contrato que prevê a aquisição de 4.582.861 doses da vacina russa contra a Covid-19, Sputnik V.

O imunizante será produzido pelo instituto russo Gamaleya em parceria com a farmacêutica brasileira União Química e, segundo estudos publicados na revista The Lancet, tem eficácia de 91,6% contra as formas sintomáticas da doença.

A princípio, o contrato prevê a aquisição das vacinas para compor o quantitativo total de vacinas a nível nacional, mas o governador declara que caso não seja interesse do governo federal, o próprio estado assumirá o negócio e a operação, e o início das entregas está previsto para abril.

"Se o Ministério da Saúde desejar, portanto, incorporar as vacinas ao Plano Nacional, nós iremos cumprir aquilo que a lei manda e não iremos oferecer qualquer oposição em relação a isso. Caso o Ministério da Saúde entenda que não vai utilizar a vacina Sputnik, nós vamos concluir todo o processo e vamos receber a vacina no Maranhão, exclusivamente”, explicou Flávio Dino, em vídeo divulgado em suas redes sociais (veja abaixo).

Dino declarou ainda que caso a entrega das vacinas seja feita exclusivamente ao Maranhão, elas serão destinadas aos grupos prioritários, em especial à área da educação:

“Nesse momento, sem dúvida, colocamos nas prioridades a situação da educação, porque as nossas crianças e os nossos jovens já estão muito tempo sem aulas presenciais. Vamos aguardar o posicionamento do governo federal. O contrato está assinado e ele prevê que essas entregas serão feitas em etapas, a partir do mês de abril, chegando até o mês de julho”.

A vacina russa já é utilizada em mais de 40 países, inclusive vizinhos como a Argentina / Agustin Marcarian/Reuters.

Os esforços para a compra de vacinas vêm desde 2020, quando o governo do Maranhão entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que os estados pudessem adquirir vacinas diretamente de outros países, levando em consideração o atraso do plano nacional de imunização e a emergência sanitária.

Em dezembro de 2020, o secretário estadual de Saúde, Carlos Lula, anunciou que o estado já dispunha de R$ 50 milhões reservados para a aquisição de imunizantes, mas esbarrava nas diretrizes do Plano Nacional, que não permitia a compra, além disso, criticou a posição de negação do governo federal a outras vacinas, a exemplo da Sputnik V.

Somente depois, neste mês de março de 2021, foi confirmado que a negação do governo Bolsonaro à vacina russa se deu por pressão dos Estados Unidos, à época governado por Donald Trump.

Leia mais em: EUA assumem pressão em Bolsonaro contra vacina russa, e Putin pediu ajuda a Lula.

No entanto, como os governadores do Nordeste declararam interesse em lotes da vacina ainda em 2020, poderão adquirir os imunizantes a preço menor do que o que será pago pelo governo federal.

Em entrevista para a CCN, o governador Wellington Dias (PT), do Piauí, declarou que governadores do Nordeste deverão pagar US$ 9,95 por dose em lote de 39 milhões de doses da vacina Sputnik V. Já o governo federal vai pagar US$ 13 por dose e com a limitação de compra de 10 milhões de frascos.

O vídeo completo com divulgação da assinatura de contrato de compra por parte do governador Flávio Dino pode ser visualizado abaixo.

Brasil de Fato.

terça-feira, 16 de março de 2021

TRAIDORES DO POVO SÃO TRAIDORES DA PÁTRIA, POR FERNANDO BRITO

Um país tem Forças Armadas para defender o seu povo, não para formar um clube de vantagens e cargos.

Com povo brasileiro em perigo, elas o estão defendendo?

Se estivéssemos perdendo quase três mil cidadãos a cada dia por bombardeiro inimigo, talvez (eu ia escrever certamente, mas já tenho dúvidas) o Exército Brasileiro estaria ensarilhando armas. Mas o Exército Brasileiro está mais preocupado com a preservação de um general patusco e incapaz, e com terceirizar para um civil colaboracionista o ônus do massacre que a população civil do Brasil está submetida.

Nem me ocupo da figura minúscula de Marcelo Queiroga, tão miúda que se presta a dar a cara, no dia mais terrível para os brasileiros, para dizer platitudes como “use máscara”, “use álcool em gel” e “precisamos salvar a economia”.

Você precisa salvar é vidas, seu oportunista sem caráter, que saiu de sua insignificância para ser o “sr. Ministro”.

Porque se tivesse caráter teria dito, ao menos dito, que era preciso mudar a rota do fracasso e não “dar continuidade” ao desastre Pazuello.

Mas ele é o capacho disponível para esta “desoneração” de responsabilidade dos generais que, na ânsia de engolir todo o poder, têm agora de vomitar os cargos que tomaram para si, mas não conseguiram digerir e administrar.

Está evidente que do novo ministro exigiram, além da submissão às ideias imbecis do presidente da República, também a defesa daquele general que, por submeter-se a elas, tornou-se inseparável cúmplice da mortandade.

Que é maior do que a se noticia, pois estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro estão, claramente, represando os dados de um morticínio que, com toda a certeza, já passaram de 3 mil.

As “instituições” estão mentindo descaradamente, e mentira inútil, porque os cadáveres brotam aos borbotões.

A verdade é que não tem política de isolamento, não tem vacina e as pessoas responsáveis estão brincando com isso, estão brincando de dizer que há uma vacinação no Brasil, com vacinas de não sei quem e não sei quando.

Não há.

Há uma tragédia anunciada. Há meio milhão de brasileiros mortos no horizonte não distante.

Militares que desdenham disso, que não reagem a isso, não venham dizer como disse Mourão, que a responsabilidade é do Presidente.

Foram vocês que os colocaram lá e devem satisfações ao país. Digam não , freiem o monstro que vocês criaram.

Porque, ainda que seja o último suspiro dos que amam este país e seu povo, vocês pagarão por isso.

Tijolaço.

ASSUME UM NOVO MINISTRO DESTINADO A SER “PAPA-DEFUNTOS”, POR FERNANDO BRITO

Marcelo Queiroga assume o Ministério da Saúde para ser o papa-defuntos de Jair Bolsonaro.

Sua missão será a de melhorar, rapidamente, a estrutura de leitos de UTI, que deverão ser muito mais para abrigar os doentes que, em profusão, não cessarão de brotar do antro de contaminação que se tornou o Brasil destes dias.

Por uma razão muito simples: não poderá tomar nenhuma medida que bloqueie o contágio e a proliferação de casos, mas apenas cuidar que não faltem leitos para que morram – e a mortalidade nas UTIs anda acima de 60%.

Este foi o jogo que o Dr. Marcelo Quiroga topou: o mesmo que foi rejeitado pela Dra. Ludhmilla Hajjar: “Se você fizer lockdown no Nordeste vai me foder e perco a eleição‘, diz Bolsonaro à médica que recusou cargo, como noticia o Yahoo.

Nele, colocará um personagem indicado pelo filho Flávio, diz o Estadão.

No cooo de quem, a partir de amanhã, cairão 2.200 ou 2.300 mortos diários.

O Dr. Queiroga não vai ser ministro da Saúde, o que exigiria posicionar-se sobre isolamento social, medidas restritivas, lockdonws.

Ele vai liberar verbas para leitos de UTI, com fartura, para domar a rebelião dos governadores e secretários de saúde.

As taxas de ocupação das UTI, com seu número turbinado, cairão, embora o número de infelizes ali internados seja igual ou ainda maior.

É onde pode mexer o Dr. Queiroga, porque está interditado a ele interferir na dinâmica de propagação da doença e lhe será impossível alterar o cronograma falso e mentiroso de vacinação deixado por Eduardo Pazuello em sua deprimente despedida de general massacrado que posa de invicto, antes da fuga.

O Dr Queiroga, por isso, está destinado a um cargo em que será tão efêmero quanto o de Nélson Teich.

Desabará sob uma pilha de mortos.

Tijolaço.

segunda-feira, 15 de março de 2021

O LIVRO-CAIXA DOS BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

 

A reportagem de Amanda Rossi, Flávio Costa, Gabriela Sá Pessoa e Juliana Dal Piva, publicada hoje no UOL – assista a versão em vídeo ao final do post – não é um álbum de retratos de família dos Bolsonaro.

É um livro-caixa do negócio familiar a que o clã se dedicou, com sucesso e afinco, nas últimas três décadas.

Como nas rendas milicianas, o esquema de extorsão e de funcionários cujo trabalho era, essencialmente, receber os salários para repassar ao coletor Fabrício Queiroz, por transferências bancárias ou mesmo em dinheiro vivo não era um acaso, mas uma regra.

Tal e qual Bolsonaro faz com os filhos, os repórteres numeraram – 123 e 4 – os relatos dos casos, que contam, em trocados miúdos, a história do ” de grão em grão, a galinha enche o papo” do negócio que foi criar a Família Mito Ltda.

Com a decisão do Superior Tribunal de Justiça – ainda pendente de recurso no STF – de anular as quebras de sigilo determinada pela Justiça do Rio, é provável que nada disso venha a ser cobrado nos tribunais.

Mas pode, quem sabe, ser cobrado no voto. Assita:

Tijolaço.

domingo, 14 de março de 2021

PAZUELLO É ASSADO VIVO, MAS BOLSONARO TAMBÉM SE QUEIMA, POR FERNANDO BRITO

Se há algum momento em que Eduardo Pazuello foi claro em sua passagem pelo Ministério da Saúde foi naquele vídeo onde, ao lado de Jair Bolsonaro, resumiu seu papel no cargo: “um manda, o outro obedece”.

Agora, quando o presidente tenta dar a aparência de um “cavalo-de-pau” em sua política negacionista no enfrentamento da pandemia, o obediente general é sangrado em praça pública.

Embora tenha todo o merecimento necessário a isso, a “execução” sem honras do ministro – e perder estes galões o atira, inapelavelmente, ao cadafalso judicial – é só a porta de entrada de uma nova temporada de problemas para Bolsonaro.

A cardiologista Ludhmilla Abrahão Hajjar – que tem o aval público do Centrão – tem, com certeza, bem claro o exemplo do sucessor de Luiz Mandetta, que tentou contemporizar a medicina com a estupidez de Jair Bolsonaro e acabou por deixar o ministério menos de um mês depois de assumir.

Suas afirmações sobre a ineficácia da cloroquina são públicas e fortes e estão expostas na entrevista que deu à Folha de S. Paulo, em abril do ano passado:

Tanto a cloroquina como a azitromicina podem induzir essa arritmia [cardíaca]. A associação das duas torna-se isso ainda mais possível.(…)Eu jamais adotaria hoje a cloroquina na forma leve, de forma preventiva, sem ter evidência cientifica. Eu não mudaria a prática clínica baseada só em experiência. Cloroquina não é vacina. Está sendo vista como salvadora, e não é.

Dificilmente, claro, a possível ministra vá desdizer-se para contemporizar com Bolsonaro, que ainda esta semana recorreu à “prova” empírica do uso da cloroquina nos funcionários do Planalto para reafirmar a crença que ele transformou em milhões de comprimidos que apodrecem nos armazéns do Ministério.

Mas Ludhmilla tem uma pedra no caminho maior que um comprimido de cloroquina: a sua live, gentil e simpática, com a ex-presidenta Dilma Rousseff, que está sendo reproduzida furiosamente nas redes pelos bolsonaristas.

Manda, portanto, a boa prudência que se guarde certo tempo antes de considerar sua escolha definitiva.

Até porque, nesta história de “um manda o outro obedece”, Jair Bolsonaro talvez não queira ficar com o segundo papel.

Ou ele vai sair fazendo “autocrítica” do que diz a sua possível ministra sobre a sua atuação na pandemia?

Tijolaço.

sábado, 13 de março de 2021

MENINOS, EU JÁ VI, POR FERNANDO BRITO

Se há algo inverídico que se possa dizer sobre Jair Bolsonaro, é exatamente aquilo de que o chamam: o “Mito”.

O “Mito”, na construção das representações do pensamento humano, é aquele que enfrenta, sofre, é martirizado e, por isso, considerado profético e condutor.

Até a facada de Juiz de Fora, uma narrativa ainda confusa sobre o que foi um ato de um desequilibrado mental, Jair Bolsonaro nada tinha de semelhante a um Mito.

Ainda que, eleitoralmente pudesse sê-lo a partir daí – e não se têm histórias de mitos criados a partir do poder vigente (financeiro, midiático e militar) que se sustente frente à realidade, a prova real do desempenho deste “herói” deu, todos podem ver, com os burros n’água.

O mito vem para criar – ou recriar – uma era de afirmação e esperança.

E nisto Jair esmerou-se em ser um fiasco dos mais rematados.

Dos nossos pesadelos – miséria, pobreza, violência, a abolição da corrupção trazendo fartura e abundância, recessão, desemprego, desamparo – de qual deles nos conseguiu exorcizar?

Ao contrário e é inevitável que, quando vemos as calçadas coalhadas de miseráveis, o medo em todos os rostos, a apreensão em todos os brasileiros, a angústia em toda a gente pobre do Brasil, que nos recordemos que, anos atrás, não era assim.

Sonhava-se a casinha, o carro ainda que “caidinho”, a filha se formando, o forno de microondas, a casa ainda que seria sua, afinal…A vida melhor, ainda que não tanto, mas um pouco mais do que era.

Bolsonaro, como a ditadura, acenou com um “Brasil Novo” e entregou um país mais velho e rabugento.

Natural que, agora, visto que o que se tem é o Brasil sem esperanças, o que a memória popular vá buscar seja o Brasil com que se sonhava e que se entreviu.

A mítica, hoje, aponta mais para Lula que para Jair.

Já vi isso acontecer, muitas vezes ,numa direção ou noutra.

Quando a abertura nos deu a chance de eleger um governador, assisti Leonel Brizola sair do opróbrio de 20 anos, quase, em que se o apontava – como se faz agora a Lula, pela eleição de Bolsonaro – como responsável pela ditadura, para tornar-se o vencedor tsunâmico das eleições no Rio de Janeiro.

Quando Lula, enfraquecido e “maldito” pelas eleições que perdeu em primeiro turno para o Fernando Henrique do “o real é mais forte que o dólar”.

Quando um escroque como Aécio Neves, por muito pouco, deixou de tornar-se presidente.

E, afinal, quando o tosco e bruto ex-capitão não era capaz de provocar o “ele não” no centro e nos liberais de punhos de renda, mais do que a posição de “isentões”, aquela do “uma escolha muito difícil”.

Por tudo isso, e com o perdão pelo uso da palavra que se tornou ofensa, quanto tem um papel tão bonito na história, ouso dizer que “Mito”. agora. é o senhor Luís Inácio Lula da Silva.

Lula é o Getúlio de 1950. É o JK 66. É o Lula 2002.

Paz e amor?

Sim, mas com muito menos ilusões.

É a certeza de que desenvolvimento é necessário, mas não basta.

Creio que sua primeira fala depois de inocentado – sim, ao contrário do que diz a mídia e ao lado do que diz a Constituição : “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória – Lula deixou bem claro que é a preservação do interesse e da soberania nacional e a primazia da justiça social que orientam seu pensamento agora e suas ações futuras.

Lula diz que não guarda rancores e nem planeja vinganças pelo seu martírios.

Não, mas eles lhe removeram as ilusões.

Como o fizeram a Vargas, no governo pós-50.

Se algo tem a ver com “Mito” no que estamos vivendo, positivamente não é Jair Bolsonaro.

Tijolaço.

sexta-feira, 12 de março de 2021

O ESPELHO DO PARASITA, POR FERNANDO BRITO

Nas vésperas de assinar a autorização para o pagamento do novo – e reduzido – auxílio-emergencial , Jair Bolsonaro criticou, falando ao cercadinho de apoiadores que o bajula na entrada e na saída do Palácio da Alvorada, programas de distribuição de renda: “Quanto mais gente vivendo de favor de Estado, mais dominado fica este povo“.

O mesmo sujeito que diz não serão dominados os que tiverem dez ou vinte mil reais para comprar as armas que ele liberou para quem pode.

Felizmente, Bolsonaro não tem razão e os R$ 250 reais que serão pagos a trinta ou quarenta milhões de brasileiros não farão deles gente dominada por quem lhe dá, de má vontade, o mínimo que as pessoas precisam para comprar uma humilde “mistura” para dar aos filhos.

É curiosa a visão desta gente que acha que o investimento do Estado nos pobres é “favor”.

Nas suas contas, talvez, também seja”favor” o gasto com a saúde pública, que consome cinco vezes mais que o auxílio emergencial que vai ser pago, no total de R$ 44 bilhões?

E é “favor” o gasto com educação, quatro vezes maior que o auxílio?

Não parece ser mais “favor” do que dar, ainda que precárias, saúde e educação ao povão, assegurar a qualquer brasileiro ter, ao menos, feijão e farinha para sossegar o choro dos pequenos e silenciar os roncos do próprio estômago.

É por isso que o auxílio emergencial não vai deixar traços na alma do povão, aquela onde a dignidade sobrevive debaixo de toda a humilhação que tem de suportar.

Não tem o sentido de direito, de reconhecimento de uma igualdade mínima, ao menos no direito de sobreviver.

Mas é da natureza do canalha só ver nos outros aquilo que ele próprio faz.

Quem há mais de 30 anos se tornou um parasita e criou filhos como larvas, que foram se nutrindo do tecido estatal, acha mesmo que todos são assim.

Tijolaço.

 

quarta-feira, 10 de março de 2021

BRASIL TEM 2.349 MORTOS POR COVID-19 EM 24 HORAS E SUPERA 270 MIL VÍTIMAS

Diante do colapso do Sistema de Saúde brasileiro, Fiocruz reforça necessidade de isolamento social.

Pela primeira vez, o país superou a marca de 2 mil mortes diárias; 15 capitais estão com ocupação de leitos de UTI acima de 90% - Foto: AFP.

A pandemia de covid-19 completa um ano na próxima quinta-feira (11). Nesta quarta (10), pela primeira vez, o Brasil superou as 2 mil mortes em um dia: foram 2.349 óbitos em 24 horas. Com isso, o país ultrapassou a marca dos 270 mil mortos, chegando a 270.656. Os números foram fornecidos pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

Esta quarta (10) também foi marcada por um grande número de novos casos: 79.876. Desde o início do surto no país, 11.202.305 brasileiros já ficaram doentes pela covid-19. Este é, com folga, o pior momento da pandemia no país. A média de mortes diárias, calculada em sete dias, está em 1.626, e a de casos, em 69.096.

De acordo com boletim extraordinário da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado na noite da última terça (9), a situação está se agravando com velocidade no país.

São 15 capitais e 13 estados com ocupação de leitos de UTI acima de 90%. Muitos estados estão em colapso, como Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Outros estão na iminência, como é o caso de São Paulo, que vive a maior crise pela covid-19 de todo o histórico.

Isolamento social urgente

Além de anunciar o colapso no país, a Fiocruz também reforçou no boletim a necessidade “imediata” da adoção em massa de isolamento social.

“Nos municípios e estados que já se encontram próximos ou em situação de colapso, a análise destaca a necessidade de adoção de medidas de supressão mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais", afirma a Fiocruz.

"Além disso, é necessário o reforço da atenção primária e das ações de vigilância, que incluem a testagem oportuna de casos suspeitos e seus contatos”, completa a nota.

BdeF.

terça-feira, 9 de março de 2021

VILANIA DE FACHIN É TÃO CLARA QUE DEVE FRACASSAR, POR FERNANDO BRITO

Não foram necessárias mais que algumas horas para que se tornasse tão evidente a manobra de Luiz Edson Fachin ao anular os processos de Lula em Curitiba para evitar a decretação da parcialidade de Sergio Moro que, ao que tudo indica, ela está fada ao fracasso.

Até a direita de punhos de renda está atônita, diante do fato de que é impossível negar que a finória canetada de Fachin visa, essencialmente, proteger Moro e sua trupe da escancarada parcialidade.

Essa é a principal razão, pois Fachin sabe que seria virtualmente impossível, salvo por um escândalo ainda maior do que o da Lava Jato, validar os processos de Curitiba em um ano e meio, repetir a condenação e, ainda, confirmá-la em segunda instância.

É a Moro, mais que a Lula, que a sua canetada beneficia, pois era inevitável que a condenação de Lula por Moro não resistisse ao julgamento de suspeição que, mesmo sem efeitos práticos, seria a condenação do ex-juiz, ainda que apenas moral.

Abalado, combalido, retirado, Moro ainda é – por falta de coisa melhor – uma das opções eleitorais da camorra que levou Bolsonaro ao poder e se viu destroçada por ele.

Mas depende, para isso, de que Lula esteja livre por uma “tecnicalidade” – a incompetência de foro – e não porque foi condenado por razões políticas pelo seu tribunal e seus procuradores, numa conspiração que culminaria com a eleição de Bolsonaro.

Tijolaço.

domingo, 7 de março de 2021

ISRAEL É “CAMPEÃO” DE VACINAS COM ACORDO QUE BOLSONARO NÃO QUIS ASSINAR, POR FERNANDO BRITO

Quem quiser consultar o acordo firmado entre a Pfizer e o Estado de Israel vai ver – bem, vai ver sem ler – vários trechos tarjados de preto, a exemplo deste aí em cima, a verdades sobre a exclusão de responsabilidades por eventuais efeitos adversos da vacinação, que já se tinha, então, a certeza de que só ocorreriam de maneira estatisticamente insignificante.

A tinta preta não esconde, antes revela, o que o texto contém.

Foi graças a isso e à promessa israelense de dar acesso aos dados médicos dos vacinados que o país conseguiu o fornecimento de doses em quantidade para vacinar sua pequena população – menos de 10 milhões de habitantes – em tempo recorde, através de seus sistema de saúde – uma espécie de SUS público privado, onde o plano de saúde é pago pelo Estado e oferecido através de quatro operadores privados – Clalit, Macabi, Meuchedet e Leumit – é gratuito e se paga um plus ( nada maior que 200 reais, na maioria dos casos) para serviços “extras”, os não cobertos pelas modalidades básicas.

O Brasil fez, em parte, o mesmo e permitiu a realização dos estudos de fase 3 – em grande número de pessoas – para a Pfizer e para a Janssen, tanto quanto para a Astrazêneca e a Sinovac, porque o país, pela quantidade de habitantes e pelos altos níveis de transmissão da Covid, era o melhor “campo de prova” para os testes vacinais. Critério que, aliás, Israel não atendia.

O governo israelense se lixou para as existência de limitadores de responsabilidade sobre a vacina, seja porque não havia razão para crer que alguém fosse “virar jacaré” por conta de vacinar-se, seja porque nenhum tribunal, em parte alguma do mundo, iria aceitar que uma farmacêutica gigante se livrasse de responder por efeitos adversos de uma vacina fornecida aos milhões, é evidente. Cláusula leonina, imposta à parte como condição para fornecimento essencial não sobrevive nem na Corte Suprema de Zâmbia.

O importante era ter vacina, e rápido.

Aqui, o governo não a queria e, por isso, agarrou-se às tais cláusulas de limitação de responsabilidade para rejeitar, várias vezes, o fornecimento de imunizantes e menos ainda lutou para que as cotas de fornecimento fossem aumentadas e antecipadas.

reportagem da Folha mostrando que Eduardo Pazuello recusou por três vezes as ofertas da Pfizer – que ainda podiam ser melhoradas em quantitativos e prazos é a prova destas afirmações e, pior, ratificada pelo fato de ter feito o mesmo com a vacina da Sinovac/Butantan.

Aí está a razão de que ter-se, hoje, 60% dos israelenses vacinados – e dois terços deles já com a 2a. dose – e termos chegado aqui apenas a míseros 4%.

Agora, Bolsonaro manda a “Missão Spray” para Tel-Aviv e, ao contrário das declarações, com o objetivo de recolher alguma xepa, sobras da vacinação que, lá, termina em duas semanas, até porque tem eleição dia 23 de março e Bibi Netanyahu de bobo nada tem. É mesmo possível que sobrem, porque o país tem pelo menos 50% de doses compradas além das necessárias para seus 10 milhões de cidadãos.

Ainda assim, óbvio que o volume é pequeno, mas qualquer coisa vale para não faltar com que seguir com a nossa Operação Conta-Gotas de vacinação.

Tijolaço.

quinta-feira, 4 de março de 2021

MESMO COM O AUXÍLIO EMERGENCIAL A AVALIÇÃO DO GOVERNO BOLSONARO A TENDÊNCIA É DESPENCAR, POR FERNANDO BRITO

Claro que carregado de “maldades”, como todas as propostas de alterações na Constituição que tivemos desde o início do período Temer – em matéria de economia, Bolsonaro é sua mera extensão – o pacote que libera recursos para o pagamento de uma nova etapa de auxílios emergenciais não tem nem a sobra do poder que teve, em 2020, para turbinar a claudicante atividade econômica brasileira.

A começar pelo valor que injetará na economia: R$ 44 bilhões, menos de 15% dos R$ 300 bilhões que sua versão anterior colocou em circulação. A intenção de Paulo Guedes, aliás, é conter o auxílio em volume ainda menor: R$ 30 a 40 bilhões.

A partir de abril, apenas, é que alguma reação no consumo poderá ser sentida, ainda que o processo inflacionário trabalhe, em direção contrária, para uma retração nas compras, como já é possível observar pela perda de dinamismo do setor de supermercados.

Mas a principal diferença será no campo da política.

O auxílio de 2020 criou uma base de apoio a Bolsonaro jamais sonhada entre as parcelas mais pobres da população, embora na classe média tenha perdido algo, pela condução estúpida da crise nacional.

Como, para aumentar a base eleitoral do auxílio, não se mudou, a princípio, os critérios de habilitação dos beneficiários, vai ser difícil que ele se concentre apenas nas parcelas que ocupam o subsolo da pirâmide de distribuição de renda no país, como ocorre com o Bolsa Família. Aumentar a clientela, porém, vai reduzir o efeito e o que se vai ter é a repercussão mais fraca do que a que teve, no final do ano, a redução de valor do auxílio.

Por isso o “picadinho” de 150 reais para os “sozinhos”, esta estranha condição.

Como, outra vez, o auxílio não tem natureza estruturante, a popularidade gerada pelo auxílio será, como aquela, fugaz.

Dois meses bastaram para que Jair Bolsonaro, daqueles momentos de “glória”, baixasse para os números que a Pesquisa do Idec – ex-Ibope – que você vê no gráfico.

Comparado com a última pesquisa Ibope, feita pela Confederação Nacional da Indústria, a aprovação ( bom+ ótimo) cai de 35% para 28%, enquanto a reprovação (ruim+péssimo) sobe de 33% para 39%.

E leve em conta que, quando foi realizada, na penúltima semana de fevereiro, a pesquisa ainda não reflete o que tivemos de agravamento da crise pandêmica nas duas últimas semanas.

Não há nada no horizonte econômico brasileiro que induza a pensar que tenhamos como sair para um período de crescimento, mesmo em níveis medíocres como os que tivemos no governo temer e no primeiro ano de Bolsonaro.

Estagnação, hoje, já é otimismo.

Tijolaço.