Contratações para cargos de confiança e promoções-relâmpago com aumento salarial são rotina para aliados de Bolsonaro.
Governo Bolsonaro e suas relações com os militares levaram a uma crise de imagem das Forças Armadas - Marcos Corrêa/PR
Pelo
menos sete filhos, filhas, pai, irmãos e parentes em geral de
militares com cargos no primeiro escalão do governo federal foram nomeados
a cargos públicos de confiança da administração federal desde o início do
governo de Jair Bolsonaro (sem partido), em janeiro de 2019.
No
último dia 9, o Brasil de Fato publicou reportagem que
mostra dez casos de suspeita de corrupção e crimes envolvendo
militares ligados aos Bolsonaro que foram denunciados desde 2019, quando o
ex-capitão do Exército assumiu a Presidência da República:
Publica-se,
agora, a lista de contratações do governo Bolsonaro que beneficiam ou
beneficiaram parentes de militares.
No
início da tarde da última segunda-feira, o Brasil de Fato entrou em
contato com o Exército Brasileiro a com o Ministério da Defesa, a quem estão
subordinadas as três Armas nacionais. A reportagem questionou se existe algum
tipo de protocolo ou procedimento interno para o preenchimento de vagas de
confiança no Poder Executivo por parte de parentes militares que ocupam o
primeiro escalão.
Questionou
também se o Exército ou a Defesa teriam algo a comentar sobre as contratações
citadas nesta reportagem. Ate a sua publicação, não houve resposta. Caso as
autoridades se manifestem, as informações serão colocadas nesta página.
1
- A filha de Eduardo Pazuello que precisava de auxílio emergencial e
foi contratada por Marcelo Crivella.
No
dia 23 de julho de 2020, Stephanie Santos Pazuello, filha do
então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi nomeada para o cargo de
supervisora da Diretoria de Gestão de Pessoas da Empresa Pública de Saúde do
Rio de Janeiro S.A, a RioSaúde, com salário bruto (sem contar
gratificações) de R$ 7.171.
À
época, o prefeito da capital fluminense era Marcelo Crivella
(Republicanos). Ele concorria à reeleição com o apoio de Jair Bolsonaro.
O cargo de confiança foi franqueado pela secretaria da Casa Civil da
prefeitura. O município, então, ao ser questionado sobre a contratação,
afirmou em nota que "Stephanie Pazuello não foi contratada por seu
parentesco com o ministro e sim por sua experiência na área e por sua formação
em administração".
Se
a justificativa municipal corresponde à verdade, fato é que os atributos
profissionais da filha do general que explicariam a contratação, por alguma
razão, não resultavam em sucesso financeiro, pelo contrário.
Tanto
é assim que, no dia 30 de julho de 2020 (sete dias após sua nomeação na
prefeitura do Rio), o nome de Stephanie constava em lista do governo
federal como solicitante do auxílio emergencial pago a trabalhadores informais
e pessoas de baixa renda para diminuir o impacto econômico da epidemia causada
pelo novo coronavírus.
A
informação consta nos sites da Dataprev, Caixa Econômica Federal e Portal
da Transparência, e foi publicada na época pelo jornal O Globo.
O
nome da filha de Pazuello chegou a ser aprovado pelo governo para receber o
auxílio, mas o valor não foi liberado porque os sistemas detectaram
inconsistências em seu cadastro.
2 - A filha do general Braga Netto que se formou em design e foi
nomeada
para ser gerente da Agência Nacional de Saúde
Também
em julho de 2020, uma semana antes da contratação da filha de Pazuello pela
prefeitura do Rio, Isabela Oassé de Moraes Ancora Braga Netto, filha do
ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, foi indicada para um cargo de
gerência na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com salário bruto
de R$ 13 mil.
Ela
se formou em design em uma faculdade privada do Rio em 2016 e já havia
tentado uma vaga no Exército antes de obter o cargo na ANS, mas
fora reprovada. Com a indicação de julho de 2020, ocuparia a gerência de
Análise Setorial e Contratualização com Prestadores, que trata da relação entre
ANS, planos de saúde e prestadores de serviços, como hospitais. Jamais havia
trabalhado na área.
A
indicação de Isabela, porém, gerou intensa repercussão negativa, uma vez
que, procurada por órgãos de imprensa quando o caso veio à tona, a ANS não
soube explicar os motivos que levaram à contratação da filha do ministro.
"No
dia de hoje, recebi a informação que a candidata desistiu de participar do
processo de nomeação, embora tenha atendido todos os requisitos para o
cargo", informou o diretor de desenvolvimento setorial da ANS, Rodrigo
Rodrigues de Aguiar, no dia 22 de julho do ano passado.
3
- O filho do general e vice-presidente Hamilton Mourão que teve o salário
triplicado assim que o pai foi empossado
No
dia 8 de janeiro de 2019, uma semana após a posse de Jair Bolsonaro e de
Hamilton Mourão como presidente e vice da República federativa do Brasil, o filho
do segundo, Antonio Hamilton Rossell Mourão, foi promovido a assessor
especial do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, que, por sua
vez, assumira o cargo no dia anterior, 7 de janeiro.
Antes,
ele era assessor empresarial da área de agronegócios do banco, com salário
de R$ 12 mil. Com a mudança de cargo, sua remuneração mensal triplicou,
indo a R$ 36 mil. O filho do general trabalhava no banco havia 18 anos, e
jamais recebera uma promoção que elevasse seu salário - de uma tacada só -
a um patamar sequer 50% maior ao anterior. O salto que o filho do vice deu na
carreira bancária após a nomeação do pai foi de três degraus de uma vez na
carreira, algo inédito em seu desempenho até então.
O
caso veio à público na época, e o vice-presidente apresentou uma
explicação: ele disse que seu filho foi escolhido pela competência e que ele já
devia ocupar um cargo de destaque na instituição há mais tempo, mas vinha sendo
boicotado "pelas administrações petistas" do governo federal.
Dois
dias depois, no entanto, o site Congresso em Foco publicou reportagem
demonstrando que o filho do vice havia sido promovido oito vezes ao
longo dos governos Lula e Dilma (2003-2016), em ascensão regular
da carreira. Procurado, Mourão não comentou o desmentido.
4
- A filha do general Villas Bôas que é assessora de Damares e ganha R$ 10 mil
por mês
Desde
novembro de 2019, Adriana Haas Villas Bôas, filha do general Eduardo Villas
Bôas - ex-comandante do Exército, portador de uma doença degenerativa que o
mantém sem movimentos em uma cadeira de rodas, mas que ainda assim é assessor especial da Presidência e por
isso recebe R$ 13,6 mil por mês, fora a aposentadoria por ser general
- está lotada como assessora do Ministério da Mulher, Família e
Direitos Humanos, comandado por Damares Alves, na Coordenadoria-geral de
Pessoas com Doenças Raras. Salário: R$ 10,4 mil mensais.
Ela
é formada em direito e, segundo o ministério que a emprega, foi contratada por
sua competência, e não por seu parentesco. A pasta também informa que a filha
do general "exerce sua função adequadamente" em Brasília.
5
- O comandante da Marinha que tem o filho e a esposa empregados em cargos de
confiança
O
almirante de esquadra e comandante da Marinha do Brasil, Almir Garnier Santos,
tem um filho empregado na Emgepron, uma estatal vinculada à Marinha e sua
esposa contratada em cargo comissionado na Presidência da República.
Selma
Foligne Crespio de Pinho, especialista em computação, se aposentou na Marinha
em abril de 2019. Em novembro do mesmo, ano foi contratada pelo governo de
Jair Bolsonaro em um cargo comissionado de assessora na Secretaria-Geral da
Presidência. Em junho do ano seguinte, foi promovida a diretora de Estratégia,
Padronização e Monitoramento de Projetos, cargo com salário bruto de R$
29,5 mil.
Já
o filho do almirante, o advogado Almir Garnier Santos Júnior, recebe R$ 10,9
mil mensais da Emgepron (Empresa Gerencial de Projetos Navais), estatal
vinculada à Marinha. Segundo a empresa, sua nomeação a um cargo de confiança
não guarda qualquer relação com seu parentesco com o atual chefe da Armada
brasileira.
6
- O filho de general que era estagiário e foi nomeado para cargo de
R$ 11 mil
O
general de Brigada Alcides Valeriano de Faria Junior foi indicado, no início do
governo de Jair Bolsonaro, para ocupar o cargo de subcomandante de
interoperabilidade no Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos, algo
inédito na história do Exército Brasileiro.
Menos
de um ano depois, outro ineditismo veio a ocorrer com um membro da mesma
família. O filho do general, o jornalista então recém-formado Lucas Faria,
passou de estagiário da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) para um cargo
por indicação de assessoria da emissora com salário de R$ 11 mil.
De
acordo com a tabela de remuneração da estatal, um jornalista que
ingressa por meio de concurso público na EBC, sem indicação,
recebe um salário inicial de R$ 7 mil a menos que o filho do
general.
7
- O coronel que ganhou cargo na Petrobras e é pai do servidor que fez relatório
falso sobre a covid no TCU
O
pai do servidor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques – investigado no Tribunal de Contas da União (TCU) por
produzir um relatório falso que questionava o número de mortes por covid-19 no
país – ganhou cargo na Petrobras durante a atual gestão do governo
federal.
Seu
nome é Ricardo Silva Marques, coronel do Exército Brasileiro. O militar foi
nomeado gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras
em abril 2019. O coronel aposentado serviu junto com Jair Bolsonaro em brigada
paraquedista do Exército Brasileiro, e são amigos desde então.
Vivian Viríssimo – Brasil de Fato.