A Folha de S. Paulo, trouxe um destes retratos do Brasil de hoje que dói fundo na
alma.
Bruna
Pereira vai conversar com moradores pobres de Cuiabá, capital do Mato Grosso,
terra do próspero agronegócio, que se promove como “pop” na televisão, que
fazem fila diante de um açougue piedoso que distribui os restos do desossamento
de bois – ou outros o vendem – nos quais lascas de carne e gordura vão
alimentar a eles e aos filhos.
Nada
perto da “Picanha do Mito”, carne de gado da raça wagyu, de origem
japonesa, aquela dos 1.799,99 o quilo dos churrascos presidenciais, mas o que
lhes podem dar, o osso na sopa.
A
repórter, aparentemente jovem, não vê o gancho da reportagem, que vem lá ao
final do texto: Mato Grosso tem 10 bois para cada ser humano, mas muitos deles
não têm direito sequer a um fiapo de carne.
Mas
conta que a carne só sobe de preço, por conta das exportações em alta.
Criar
cotas de exportação – como fazem outros países quando seus produtos disparam
nos mercados de commodities, estabelecem cotas de exportação,
garantindo produto para o mercado interno – nem pensar. É coisa de comunista,
porque é o mercado que se regula, ainda que isso deixe gente disputando restos
de ossos.
Dez
anos atrás, a exportação era o destino de 14,5% da carne produzida no Brasil;
agora, este ano, de 24,5%. Traduzindo: um de cada sete quilos de carne bovina
brasileira era exportado em 2011 e agora, um em cada quatro quilos vai para
fora.
E,
claro, faz o preço da carne para consumo dos brasileiros sofra o duplo efeito
do aumento de preços e da queda de renda, que lhe reduzem o consumo ao menor
nível desde 1996, com 26 quilos por pessoa/ano: 72 gramas diárias para cada
pessoa por dia.
Tijolaço.
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