Bruno
Boghossian, na Folha, escreve artigo de leitura obrigatória para os que
pensam serem os uivos de Jair Bolsonaro apenas estertores, ruídos da respiração
do governo moribundo, que já se abandona a ser consumido pelo Centrão e que,
por isso, já não oferece perigo, por não ter forças para mais que seus
arreganhos, pavorosos mas inúteis, pois desprovido de força real para virarem
atos de força.
Ao
contrário, são sinais de perigo que devem ser considerados e provocar os
cuidados que se deve ter diante de um animal peçonhento, que dispõe das garras
e dentes das armas e do veneno do ódio, que injetou-se, faz tempo, na sociedade
e nas instituições.
Daí
porque “diálogo institucional” ou tentativas de “moderar a serpente” são
perigos a que não se pode dar ao luxo de permitir-se ao que resta dos poderes
públicos democráticos. De Bolsonaro, é obrigatório manter distância prudente e
entender que os que se aproximarem, se não perfurados por suas presas, estarão
presos em suas pavorosas constrições golpistas.
do plano golpista de Bolsonaro
Bruno
Boghossian, na Folha
O
plano de Jair Bolsonaro para 2022 nunca dependeu das provas inexistentes de
fraude que ele prometia apresentar. Há outro elemento-chave em sua longa
campanha para desacreditar o sistema de votação eletrônica e abrir caminho para
a contestação das eleições em caso de derrota: a incitação à desordem.
No
comício digital transmitido pela TV do governo na quinta (29), Bolsonaro falou
quatro vezes no risco de agitações públicas provocadas pela desconfiança em
relação às urnas. Disse que “o povo” pode se revoltar, mencionou um período de
inquietação pós-eleitoral e afirmou que alguns grupos estariam dispostos a
“realizar ações contrárias ao pleito”.
Não
é premonição, é incentivo. Com o megafone da Presidência, Bolsonaro tenta criar
um ambiente de dúvidas e convencer uma parcela não desprezível de apoiadores a
participar de mobilizações a favor de suas teses. O objetivo é criar a
impressão de que rejeitar o resultado das urnas não é um projeto pessoal, mas
uma demanda popular.
O
presidente busca um estímulo adicional a esse tumulto e trabalha pela
reativação do antigo pavor de seus eleitores em relação ao PT. Em sua última
transmissão ao vivo, ele repetiu a tese de que a suposta tramoia nas urnas é
parte de um complô para levar Lula de volta ao poder.
Se
realmente acreditasse que a eleição será roubada, Bolsonaro não deveria se
importar com o eventual beneficiário da trapaça –seja Lula, João Doria ou o
Cabo Daciolo. Fica claro que seu objetivo não é denunciar nenhuma
irregularidade, mas provocar reações nas ruas, nas polícias e nos quartéis contra
o rival petista.
A
desordem é a ferramenta ideal para o projeto de Bolsonaro em 2022 porque não
depende de uma maioria que concorde com seus ataques ao resultado das eleições.
Se for derrotado, ele só precisa fabricar barulho e alguns episódios de violência,
com um punhado de homens armados na retaguarda. Pode não ser suficiente para
conseguir o golpe, mas deve ajudar a manter o bolsonarismo vivo como força
política.
Tijolaço.
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